ano

Ontem foi um dia particularmente subterrâneo. A grande cidade reservava-me os prazeres do metropolitano, numa estação particularmente clara e hospitalar em que as escadas-rolantes vomitavam gente da sua garganta sem fim.

O Metro tem um fascínio particular sobre mim. As profundezas da terra transformam os vulgares citadinos em toupeiras mutuantes que transpiram medo e suam trabalho e pressa. O ambiente artificil da claridade falsa denota o espirito intemporal onde é sempre noite e tudo e todos estão em transito, indo para algum destino qualquer – qual o teu destino estranho?
Para onde vais e de onde vens?
Quem és tu que olhas para mim?

O time warp entre as estações é um vazio sem luz e sem lembranças.

No Bairro alto E. Ma. B. e C. estavam uma companhia exemplar apesar de batermos à porta de locais fora dos roteiros tristes. Foi divertido e uma novidade onde o alcool sangrou claro e doce…

A saudade e dúvidas apertam… A irmã falou-me nas suas esperanças renovadas que já não eram sem tempo. As curvas acabaram e estamos a chegar à recta. Seu esposo já tem raíz defenida e o Capuchinho Vermelho rui e sorriu.

A azáfama é diária e logo pela manhã chegam. São incansáveis e tentam fugir à miséria do país em que nasceram, uma pátria distante em que eram doutores que pedinchavam a sua sobrevivência e sentiam a fome nos estômagos dos filhos.
Aqui não são ninguém, quase inumanos, servindo como mulas de carga mas que ganham o sustento de toda a sua família para que não passem fome. Sonham em trazer a sua esposa e filhos quando juntarem mais umas centenas de contos que lhes sai do suor do parco salário que lhes pagam.

Estive novamente naquele santuário observando dois rebentos que chutavam a bola enquanto a gretada avó os guardava. Eram felizes… Ali o tempo não me toca e o espirito recarrega de sonhos e esperança o cigano malfadado.

Felizmente há amigos com que podemos contar. B. é um deles. Ma. e E. ainda estão grogues e Bob andou a assustar a vizinha.

Falei com a minha mana e o meu cunhado. Realmente as coisas estão a ruir como um castelo de cartas. Apesar disso é bom ouvir vozes amigas.

A lei de Murphy que tandos danos faz sempre se abateu sobre mim. Felizmente nada como um bocado de bom humor para colmatar os rios de azar.

Ma. e E. estão a trepar as paredes e Bob vai ficar sozinho enquantos os animais com 300 milhões de anos entregam a sua alma ao criador.

A Fauna que vejo no dia-a-dia está cada vez mais a afectar-me por me não afectar. Como é simples passar a ignorar e a hostilizar pelo desprezo aquelas pobres almas que se arratam nas tristesas que a big city reserva para nós. Estarei a tornar-me naquele ser plástico que usa a sua redoma social e desvia o olhar impávido? Talvez… ou tavez esteja a roer a minha própria alma por me seitir excluido e escorraçado nas raízes que sinto na minha terra Natal.

Ostracismo? Antipatia? Condenado à sombra longe da luz. Onde os cavaleiros de luz não me podem socorrer, nem os anjos chegam. Numa cave de miséria e de sofreguidão.

Volta…

Ontem estive com Marie. Fazia quase 8 anos que não via a minha primita francesa. Ça va?
Ela e o namorado, um gaulês de gema foram uma companhia muito agradável, apesar do Bertrand não entender patavina do português. Mas afinal as sardinhas assadas são uma linguagem universal…

É estranho como o tempo às altera alguns traços às pessoas. As expressões físicas e a personalidade mantêm-se.

Conto já as horas … A grande cidade vai dar a vez a um fim-de-semana que promete.

Viva la vita!

A noite de ontem foi cheia de supresas. Parece que descobri um pouso fixo na grande cidade num local calmo e até típico. Custa a crer que não tem um catch

O fim de semana que ainda vem lonje pode já estar ocupado com um belo programa…

60 anos é uma data bonita. Pergunto-me se chego aos 60 e se chegar se ainda vou estar capaz de aproveitar a vida. Não gostava de me tornar um velho senil, mas o gosto que tenho na vida não me permite pensar de forma diferente.
E mãos à obra que hoje vai ser complicado

Tenho muitos planos para este fim de semana e tão pouco tempo para os concretizar… Se ao menos me conseguisse dividir…

Estou de novo pronto para mais um sacrifício de viajar a distancia entre a grande cidade e a minha cidade natal. A mala que transporto não me deixa criar raízes e é como se eu estivesse numa fronteira entre dois mundos, viajando na vida como um cigano.

Afinal a minha psicose não está assim tão evoluída.
Como dizem sou um psicótico . comtido que apesar de sonhar acordado e ter muitos desequilíbrios não uso gabardina e procuro senhoras descuidadas para expor o meu falo, nem acredito que os marcianos comunicam comigo e que vivem nas canalizações do aquecimento.
Não tenho nenhum prazer especial na tortura e decapitação de gatinhos, nem em visitar os cemitérios durante a noite nas expectativa de encontrar um corpo feminino fesquinho.
Dentro em breve vou percorrer a grande cidade com um brilho no olhar e quem sabe se trocares o teu olhar com o meu sintas um arrepio. Quem sabe…