ano

Já faz um bom par de anos que acalento a ideia de fazer o Caminho de Santiago.  É um pequeno sonho que se avoluma como uma peregrinação necessária a realizar antes que as rótulas se desgastam de vez para tal empreitada de caminhante.

Gostaria particularmente de partilhar com os meus bons amigos, o que julgo ser uns nove dias de introspecção mas também de descoberta e até de alegria pela liberdade que o caminho proporciona. Não é apenas um acto de fé e espiritualidade e quase um chamado por atender, um cimentar dos alicerces da Vida, uma busca do significado das coisas intimas. A vida é um caminho e o Caminho de Santiago será também um marco da vida que é quero abraçar.

Porém há para já duas dificuldades a vencer: as contingências do estatuto de pai de crianças pequenas não me permite para já esses nove dias egoístas, talvez em parte porque não aguentaria de saudades, nem me sentiria bem sabendo que perdia mais de uma semana da infância tenra dos meus rebentos; e conseguir convencer alguém a acompanhar-me nesta empreitada sem data marcada. O primeiro obstáculo o tempo resolve, mas o segundo só o meu poder de persuasão e argumentação me poderão ajudar. Talvez o M. e o M. sejam capazes de fazer esta prece comigo dentre de uns quantos anos…

Que a estrada se abra à sua frente.
Que o vento sopre levemente às suas costas.
Que o sol brilhe morno e suave em sua face.
Que a chuva caia de mansinho em seus campos.
E até que nos encontremos de novo,
que Deus lhe guarde na palma de suas mãos.

Prece irlandesa

Recentemente um mexerico familiar fez-me pensar seriamente acerca da justiça da vida per si. No fundo sei que o conceito de justiça divina e Karma não são tão transparentes, e que muitas vezes a luz do nosso olhar materialista, o justo é até algo de nefasto.

Na minha infância tinha um vizinho um par de anos mais velho que era um fedelho insuportável, minorca, extremamente conflituoso e manipulador. Para piorar, ele e o irmão mais novo eram as principais crianças que eu convivi fora da escola durante um par de anos. Era frequente ele dar uma boa tareia ao irmão quatro anos mais novo, por acesso de ciúmes e dizer que fora o pobre tinha caído sozinho.

Muitas foram as ocasiões que o tal menino me quis atribuir as culpas por brinquedos partidos ou as negras que o irmão apresentava. Seria em criança o que eu hoje designaria por demónio encarnado, porém na altura eu procurava sempre que possível a sua companhia. Tentava ser seu amigo por ter falta de ter com quem brincar e também, confesso, para poder admirar fantástica cidade de Legos que o miúdo exibia no seu quarto como o seu maior tesouro e que quase cobrava bilhetes pela sua exibição.

Quando me mudei de casa lá pelos sete anos, nunca mais ouvi falar neste miúdo egocêntrico e de má índole, pois não me deixou muitas saudades ou boa recordações.
Hora hoje passadas cerca de três décadas vim a saber que o tal fedelho se tornou um dos principais ricalhaços do nosso país pois se casou com uma das herdeiras de uma das maiores empresas portuguesas cotadas em bolsa.

Porém o repudio inicial de que aquele pequeno *traste* e ambicioso puto se tenha dado bem na vida, deixou que os meus pensamentos fluíssem da inveja inicial e de juízos de valor baseados numa imagem de três décadas que pode até estar deturpada, para reconhecer que se calar aquele miúdo até se tornou em alguém de boa formação e num personagem melhor. Se em cinco anos podemos mudar radicalmente a nossa vida, acho que em trinta poderemos virar numa espécie de madre Teresa de Calcutá ou num Estaline. Tudo depende do que queremos e quais as oportunidades aproveitamos.

Pensando melhor, a ideia que alguém é milionário ou famoso não é propriamente sinonimo de sucesso e muito menos de felicidade. Mais do que as aparências formadas e dos estereótipos repetidos vezes sem conta nos media, não acredito que esse seja o sucesso da vida.
Agora até me sinto envergonhado por achar que aquele filho da puta não merecia ter dado o golpe do baú. Tamanha mesquinhes

O paradigma de ser feliz, acredito cada vez mais, não passa pelo que possuímos, pelo poder ou reconhecimento que alcançamos, esses vectores da exterioridade do que projectamos, mas sim pela simples felicidade interna que criamos para nós e para os outros. Nós podemos ser felizes mesmo na mais abjecta miséria, mesmo que isso seja quase criminoso de se dizer e provavelmente ainda mais de se alcançar e realizar. Tenho ainda na memoria presente a felicidade e doçura que muitos desgraçados que vi nas minhas viagens turísticas à América do Sol ou ao lindo mas paupérrimo S.Tomé e Príncipe.

Ser grato por ser amado e amar a vida e os outros com paixão é felicidade.

Talvez o tempo fluía como sempre e o nosso envelhecimento nos induza na aparência que se esgota mais depressa. Talvez o pulsar do nosso coração seja mais lento e por isso os segundo esvoaçam mais rapidamente.

Muitos anos se passaram desde que escrevi aqui pela primeira vez. Muitas boas recordações estão aqui escritas neste diário, muitos pensamentos e medos aqui são descritos. Talvez um pouco abandonado e em repouso este baú de memórias.

Gostaria eu de lhe dar muitas passagens novas, muitos artigos recentes. Mas não é por falta de conteúdo ou vivências que se tem mantido este diário a ganhar pó, mas sim pelo procrastinar provocado de quem vive um emprego de horários rígidos. Desculpas evidentes de quem não consegue alimentar a criatividade da escrita e o escrevinhar laborioso e persistente que a caneta exige. Quem sabe para breve terei esse ócio necessário para tempos de satisfação de prosa escrita.

Tirando António Costa que mal abriu a boca, o PS e a esquerda em geral têm dado um triste espectáculo da sua verdadeira natureza, que às vezes chega a roçar e a entrar na pura obscenidade. No PS, a gente de um lado e outro usa (com poucas variantes) a velha “língua de pau” de 1975, que nos fez rir durante 30 anos. Ninguém fala de política: da situação do mundo, da “Europa” ou sequer de Portugal. Ninguém fala da estratégia conveniente ou aconselhável para o partido, mas nos méritos e deméritos dos dois putativos candidatos, na “lealdade” e “gratidão” ao chefe ou nos triunfos que Costa infalivelmente trará consigo. O que estas parlapatices da hipocrisia, do oportunismo e da má-fé podem interessar ao cidadão comum é coisa que não interessa aos “notáveis” que a televisão convida ou escrevem doutoralmente para um jornal qualquer.

Nunca a “classe partidária” mostrou com maior clareza a sua vacuidade e o seu egoísmo. Trata sempre a situação do país como se tratasse do futuro de uma fábrica de sapatos: será que a baixa das vendas é irreversível ou temporária? Será que a concorrência vai aproveitar a oportunidade? Será que os lucros não são suficientes para investir e alargar o mercado? Não seria bom “lançar” um novo modelo, para aproveitar a moda? E não seria bom mudar de director? Sem o pormenor irrelevante dos “sapatos”, que diferença se consegue encontrar entre essa benemérita fábrica e um PS, que pretende reformar a “Europa” e salvar Portugal? Nenhuma ou tão ténue que não se distingue. Os campeões do socialismo não passam de uma empresa vulgar, com exclusivos critérios comerciais, tal qual como as gaba o famigerado “neo-liberalismo”.

Fica ainda a poeira da extrema-esquerda. A extrema-esquerda não sabe o que há-de fazer à vida. Gostava, como um adolescente, de ser rica e “famosa”, e de arranjar um namorado. Mas nada infelizmente a recomenda, excepto uma condenação genuína do estado do país. Só que a terapêutica que se propõe aplicar mataria o doente e 80 por cento dos portugueses percebem isso muito bem. Claro que muitas pessoas do Bloco ou do PCP, como o simpático e confuso João Semedo, merecem a nossa estima. Mas, como se sabe, a mistura entre os bons sentimentos e o espírito de missão tende a criar fanáticos; e o fanatismo leva rapidamente à intolerância e à intriga. O buraco de víboras em que se tornou o radicalismo português, além de paralisar o PS e o regime, não serve para nada e envenena o ar.

Vasco Pulido Valente in Público

Estas eleições europeias afligem-me profundamente. Estas batalhas politicas pelo eleitorado prenunciam um perigoso desagregar da democracia. A partidocracia portuguesa está esvaziada de idealismos politicos e não se sabe o que está ser discutido ou votado. É um mero ajuntamento de pessoas que trocam a sua pretensa ideologia por um caciquismo politico à boa moda portuguesa – que sempre existiu desde a monarquia constitucional.

Depois de um barão laranja e a brasa da esquerda virarem a casaca ao que sempre apregoaram, parece-me cada vez mais patente a prostituição evidente que as figuras públicas fazem por um bocado de poder. Não é nada de novo, recordo-me de Zita Seabra e de Helena Roseta que mudaram substancialmente de cores partidárias. Mas era noutro contexto e com um pouco mais de pudor. Estes casos de assumido vira-cassaquismo rápido, sem periodo de nojo ou atravesia do deserto, já não são propriamente inusitados nem nos espantam tanto como seria suposto.

A ideologia partidária desapareceu ao longo dos anos. Os lanjanjas e os rosas, apesar dos nomes, são meramente liberais. Pouco se sabe do que separa o programa eleitoral dos partidos do centro (se é que existe sequer um programa e ideias) e as diferenças saldam-se por um conjunto de discursos demagógicos e não por um ideal ou programa e que mudam ao sabor do vento e da opinião pública.

Por tudo isso. acredito cada vez mais no deficit democrático português que já é crónico . A democracia ficou refém de um conjunto de caciques que orquestraram a subida ao poder através de compadrios, padrinhos, afiliações em sociedades semi-secretas como a Maçonaria e a Opus Dei. O poder não caiu à rua, nem esta na Assembleia da Republica, mas sim nos jogos de interesses colectivos de grupos selectos de jotinhas e seus patronos e patrocinadores.

Os partidos financiam-se como entidades mafiosas de lavagem de dinheiro com donativos que não se sabem as origens e como entidades fornecedoras de poder aos seus líderes. Estes chefes, parecem mais capos, que são os mais apadrinhados e os que mais favores devem, incapazes de ter ideias, mas tão só verborreia demagógica que desmentem passado 24 horas. É vergonhoso perceber que vivemos numa denominada democracia que está podre de sentido e de verdade e que num ciclo vicioso tende a piorar.

É neste clima que vou votar nas eleições europeias, tão importantes e que tanto impacto têm no nosso futuro, mas que porém ainda não vi uma linha sequer do que os euro-deputados pretendem fazer no europarlamento. Que vão votar, em que ala vão alinhar. Nada. Zero de conteudo politico democratico. Por isso o meu voto deverá ir para o partido com o logotipo mais radicalou até piroso uma vez que se vou votar no escuro, prefiro que seja num grupo radical com falta de sentido de estetica. Ou talvez vote no que tenha mais Cs ou Os. Venha o Diabo e escolha!

I’ve been waiting for a guide to come and take me by the hand,
Could these sensations make me feel the pleasures of a normal man?
These sensations barely interest me for another day,
I’ve got the spirit, lose the feeling, take the shock away.

It’s getting faster, moving faster now, it’s getting out of hand,
On the tenth floor, down the back stairs, it’s a no man’s land,
Lights are flashing, cars are crashing, getting frequent now,
I’ve got the spirit, lose the feeling, let it out somehow.

What means to you, what means to me, and we will meet again,
I’m watching you, I’m watching her, I’ll take no pity from you friends,
Who is right, who can tell, and who gives a damn right now,
Until the spirit new sensation takes hold, then you know,
Until the spirit new sensation takes hold, then you know,
Until the spirit new sensation takes hold, then you know,
I’ve got the spirit, but lose the feeling,
I’ve got the spirit, but lose the feeling,
Feeling, feeling, feeling, feeling, feeling, feeling, feeling.

Disorder dos Joy Division

Não sei o que pensar sobre os tempos que correm. Já sou algo idoso para perceber que o tempo acaba sempre por nos ultrapassar e nos tornar obsoletos. Ficamos como peças anacrónicas desprovidas de utilidade num mundo que se actualiza e moderniza mais depressa do que conseguimos acompanhar.

Talvez ei não seja assim tão velho, mas sim um terrível pessimista que se deixa quebrantar por alterações do modus operandi. Talvez devesse investir no rejuvenescimento do software e instalar um sistema operativo mais recente, mais ajustado ao universo que me rodeia sem contudo perder a identidade intrínseca que me faz a essência.

Gosto de ser um ser pensante e não um mero condicionado pavloviano, e ajustado a um equilíbrio entre o quixotesco e o sancho panchismo, mas as condicionantes actuais fazem-me esconder numa carapaça com mesclas antagónicas de maquiavelismo e estoicismo.

Filosofias à parte trata-se de evoluir para sobreviver.

Mesmo um exame superficial da história revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes. Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós. Quando ficamos assustados, começamos a ser agressivos para as pessoas que nos rodeiam. Temos botões de fácil acesso que, quando carregamos neles, libertam emoções poderosas. Podemos ser manipulados até extremos de insensatez por políticos espertos. Dêem-nos o tipo de chefe certo e, tal como o mais sugestionável paciente do terapeuta pela hipnose, faremos de bom grado quase tudo o que ele quer – mesmo coisas que sabemos serem erradas.

in Carl SaganO Mundo Infestado de Demónios

Já não corria há mais um mês. O meu corpo e espírito ressentiram-se da ausência da estrada que se escapa a cada passada. Tinha saudades das minhas corridas sem rumo e de aqueles momentos Zen em que o corpo pressionado, liberta a mente e mergulha noutro plano existencial.

Para mim ser corredor não é correr mais e melhor, competir e a buscar a superação per si. Ser corredor é procurar um momento de escape e fuga rumo ao meu intimo, numa espécie de meditação não-transcendental onde apenas falo com os metros à frente de um destino algo confuso mas que persigo com prazer.

Voltar foi custoso e as pernas e os pulmões deram muitos sinais de fadiga precoce mas que é apenas um desafio a superar e que dentro de semanas tudo terá voltado à normalidade com várias dezenas de quilómetros de puro prazer.

Eusébio, tal como Amália e a irmã Lúcia eram as três encarnações do portugalzinho baseado nos três Fs (Fátima, Futebol e Fado) que o Estado Novo e o Professor Salazar idealizaram para o Zé Povinho se orgulhar.
Estas três grandes personalidades, apesar de nada politicas foram muitos anos o estandarte de um Portugal rocambolesco com heróis da fé, da música e do desporto.

O último a nos deixar, Eusébio era um futebolista memorável e genial no seu tempo, capaz de arrebatar multidões com as suas jogadas e remates de grande craque. Apesar disso segundo consta, o grande herói desportivo tinha uma faceta mundana tal como todos nós e segundo as más-línguas depois de terminar a sua carreira futebolística afundou-se no que se costuma chamar avida, sendo habitual ser encontrado nos antros da capital encharcado em álcool na companhia de profissionais como só uma estrela decadente o faz tão bem. O seu alcoolismo patente, infelizmente foi sempre obscurecido pelos fãs que sempre o endeusavam. Era era sim uma estrela maior do futebol, mas não creio que fosse um Mandela, pois a sua dimensão humana grassava o enredo de uma opera bufa.

A lavagem de perfil transportando-o para um ser impoluto que habitualmente o óbito trás e os discursos de santidade póstumos, causa em mim algum asco. O clubismo histérico dos senhores da segunda circular turva a visão da realidade.

Eusébio da Silva Ferreira era um dos maiores futebolistas de todos os tempos e uma grande estrela há três quatro décadas atrás. Provavelmente merece estar no Panteão Nacional como um português nascido em Moçambique e que prestigiou a nação através dos seus feitos desportivos na época. E só.

Se eu pudesse concretizar todas as metas que me propus atingir em 2014 seria um super-homem. Já metade seria uma enorme façanha.
Apesar de saber como é difícil ir atrás desse objectivos demasiado optimistas feitos com o auxilio de vapores de espumantes é importante fazer a nossa parte e pelo menos tentar fazer algo em prol do que queremos.

Se há algo que aprendi nos últimos anos, em particular no mundo da corrida, é que nada se atinge se pelo menos não se der o primeiro passo. Não se pode terminar uma corrida se não nos levantarmos do sofá, calçarmos as sapatilhas e começarmos a correr. Assim também é na vida. Sem motivação e sem o desejo de começar não há melhorias na nossa vida. Desenvolvimento só existe se estivermos cientes que queremos evoluir: melhorar começa por querer. Mas isso é o primeiro passo da corrida, muito embora seja o que talvez custa mais, mas não basta. Correr é perseverança e reflexo da vida nenhuma meta se atinge se desistimos a meio do trajecto.

«Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia»

 

Já o dizia Shakespeare. E com toda a razão. Talvez com o passar dos anos e do amadurecimento do corpo a alma também se torne adulta e procure os porquês internos que na juventude parecem melodramas de fé e crenças. Esses porquês levam a mudanças do entendimento do que somos e do que queremos. Podemos ter o sucesso de carreira, a satisfação amorosa, o regozijo de ter uma nova família, mas fica ao ponto de interrogação. O que é?...

 

Nessas deambulações tive a sorte e talvez o azar de muito cedo ter um destino taçado com um enorme borrão de tinta que me abalou as fundações. A certeza de que há algo mais que o existo porque penso, foi me imposta numa casualidade que me (quase) tirou a vida quando tinha apenas 14 anos. Nessa altura tive a noção que segundos podiam ser eternidades, a eternidade se condensava num único instante e que as certezas do desenlace eram tão fortes, tão convictas quando regressei que sabia que aquela luz não era um alucinar de um cérebro em débito distólico.

Posso ter sido uma ave com a asa quebrada (quase literalmente) mas segui inúmeros caminhos desde então, quase sempre atalhos mal pensados, fugindo  e enterrando parte do que sou e fui para tentar não enfrentar o infortúnio que no fundo era também uma dádiva. Seguia um carpe diem irreflectido, como um adolescente que sente que lhe roubaram a adolescência e que persegue mil e um engodos.

Hoje sinto  o quanto foram bons estes 25 anos de aprendizagem, de tentativas e erros. De como tantas asneiras (que ainda hoje as cometo) me tornam cada vez um bocadinho menos ignorante. Vejo a pouco e pouco aquela luz que vi faz 25 ou 26 anos. Ela brilha e traz consigo aquela paz e as respostas que me recusei a procurar e que hoje vou encontrando a cada dia que passa, em especial nos sorrisos dos meus filhotes.  Um dia talvez perceba que luz é essa.  Até lá quero crescer e ajudar no pouco que possa outros a descobrir que …

 

«Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia»

E eis que mais um vez o planeta Terra descreve mais um círculo em volta do Sol cumprindo outro ano desde que este diário foi iniciado.
Recordo como se fosse ontem a primeira vez que me decidi a escrevinhar uma série de pensamentos online como partilha de pensamentos com um grupo restrito de amigos. Não iria supor que passado tantos anos estaria ainda activo. Mesmo que a meio vapor fica aqui um repositório de momentos e pensamentos de uma vivência efémera.

Obrigado e até já.

A tecnologia informática  tem avançado enormemente desde que cometi a improcedência de iniciar um blog.  Actualmente  a simplicidade e variedade das ferramentas dirigidas a um diário online é tanta que tenho impressão que há doze anos atrás estava a usar uma espécie de pedra lascada. Porém isto não é um mar de rosas, nem existe uma situação idílica que me deixa extravasar livremente palavras a gosto na web.

Para quem escreve ou tenta escrever algo nos seus tempos livres  tanta tecnologia em vez de auxiliar a caneta, torna o momento da  escrita algo insípido. Isto para não falar nos tantos pontos de distração que levam a mente a divagar para mil zonas nas redes sociais ou nas mensagens instantâneas.
Mas talvez haja salvação. Seguir a velha máxima:

Keep it simple

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas –
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê –
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
.
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
.
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
.
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia

Um Povo Resignado e Dois Partidos sem Ideias

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

Guerra Junqueiro, in ‘Pátria (1896)

Um novo ano se inicia, marcando um ciclo diferente que começa. Talvez porque tenho já alguns cabelos brancos ou porque eu sinto o misto de alegria e peso da responsabilidade de ser pai de duas ternas almas, sinto que estou numa fase mais madura.

Neste ciclo complicado, muitas portas se fecham, muitas oportunidades são aparentemente perdidas. Acredito piamente que quando o Destino nos coloca entraves e dificuldades apenas estamos a entrar num novo ciclo, que no aparentemente nos parece negro. Abrindo bem os olhos existe sem uma luz ao fundo do túnel. E isso nem mesmo a crise economia pode esmagar.

Muitas vezes usamos padrões de felicidade que nos foram impostas, ou melhor, incutidas repetidamente pelos vendilhões do templo. O sucesso, a fama e a felicidade não devem ser quantificadas em dólares como sempre nos publicitaram. O exterior reluzente não e fonte de prazer e alegria. São apenas euforia passageira que não traduz o vazio intrínseco que a acompanham.

Neste mundo tão materialista e capitalista em falência talvez seja tempo de nos debruçarmos sobre nós próprios e investir no verdadeiro enriquecimento e dar aos nossos próximos o que nós temos de mais precioso: amor e amizade.

*Mais conhecida como Tese de Binelli.*

Quando uma manada de búfalos é caçada, só os búfalos mais fracos e lentos, em geral doentes, que estão atrás do rebanho são mortos.

Essa selecção natural é boa para a manada como um todo, porque aumenta a velocidade média e a saúde de toda a manada pela matança regular dos seus membros mais fracos.

De forma parecida opera o cérebro humano:

Beber álcool em excesso, como nós sabemos, mata neurônios, mas,
naturalmente, ataca os neurônios mais fracos e lentos primeiro.

Neste caso, o consumo regular de cerveja, aguardente, whisky, vinho,
rum, vodka, elimina os neurônios mais lentos, tornando o cérebro uma máquina mais rápida e eficiente.

E mais:

23% dos acidentes de trânsito são provocados pelo consumo de álcool.
Isto significa que os outros 77% dos acidentes são causados pelos
filhos da puta que bebem água, sumos, refrigerantes ou outra merda
qualquer!!!.

Colabore!! Seja inteligente!

JÁ PRÁ TASCA !!!!