A necessidade de abraçar a época em que vivemos está a tornar-se uma obsessão para milhares de trintões como eu. A geração que esteve na adolescência nos anos 80 cresceu embebida num sentimento sem causas nobres, apenas o consumismo e a perspectiva reganomics de que do outro lado não se vivia tão bem como cá.
O Muro caiu e o comunismo também: tudo ruiu.
O crescimento económico estagnou, a industrialização regrediu. A terciarização social está na sua magnitude. A globalização é já a hidra e não uma promessa de riqueza.
Recordo-me da primeira vez que fui até a um restaurante MacDonalds. Era o supra-sumo da sofisticação, um ambiente moderno e inovador, numas férias em Espanha. Hoje não imagino nada mais ridículo do que considerar moderno e sofisticado comer um hamburger e batatas fritas…
O comunismo e a URSS não são mais o bode expiatório, nem a questão do enriquecimento económico parece ser importante. A falência de valores com que crescemos, faz agora que muitos dos trintões actuais se refugiem em saudosismos ou em curas milagrosas para o nosso vazio social e espiritual.
Não vamos ficar ricos num emprego estável de uma grande companhia, nem vamos viver à custa de um canudo. Não vamos prosperar num país europeizado e rico, nem ter uma vida sem preocupações. Esses sonhos de adolescência foram isso mesmo: sonhos de adolescência.