Janeiro 2019

Enquanto me dirigia a pé para o meu emprego pude observar um daqueles momentos insólitos que me despoletou uma serie de pensamentos menos próprios para um início da manhã.

Enquanto um carro de lixo se afastava, vi um balão cor-de-rosa que esvoaçou do seu interior e levado pelo vento começou a saltitar pela rua, como se tivesse vida própria, escapando do mundo dos resíduos. Pinchou levado pelo vento rua acima, passo ante passo e dei por mim a pensar na fuga do balão, uma espécie de metáfora doentia da nossa realidade – como num poema-realidade em que o que é belo é levado pelos lixeiros neste mundo consumista e cheio de desperdícios.

O balão cor-de-rosa pôs-me a pensar acerca da realidade e de como ela é caótica e estranha. Aquele brinquedo jogado no lixo estava ali a esvoaçar como se o vento lhe soprasse vida e viajava para longe fugindo ao seu destino num centro de reciclagem. Uma simples rabanada de vento o fizera escapulir-se e passar a ser mais umas gramas de material tóxico no meio ambiente em vez de estar acondicionado ou reciclado em um novo objecto. O caos interviera e sem saber esse objecto inanimado, alegrava a minha manhã com uma imagem poética que me tinha despertado a curiosidade e também a vontade de escrever.

Aquele balão cor-de-rosa têm para mim um significado intenso, relembrou-me de algo que a minha mente me tem alertado continuamente neste últimos anos, de que devemos estar atentos ao que nos rodeia. Nas nossas rotinas, esquecemo-nos de estar despertos para o que nos rodeia. Vivemos sem ver e vemos sem observar. E quando vivemos embrulhados nos nossos pensamentos apressados, na nossa agenda de afazeres diários por fazer que nos esquecemos de pensar e apreciar a beleza do momento. Agradeço-te balão cor-de-rosa e também te agradeço vento, por me lembrarem que é preciso estar atento, que é preciso viver para lá da nossa azáfama diária.

Começa um novo ano e voltam as promessas de uma nova forma de estar na vida. Contabilizam-se sucessos ou fracassos dos últimos trezentos e sessenta e cinco dias e lançam-se objectivos pouco claros baseados em sonhos íntimos.

A experiência diz-me que nenhum ou quase nenhum desses sonhos objectivados se concretizara, mas mesmo assim sinto a necessidade de colocar essa atitude derrotista para trás e olhar em frente, imaginar novos horizontes que estão ao virar da esquina prontos para serem concretizados. E se o passado nos ensina algo, deveria ensinar que cruzar os braços tem sempre uma consequência expectável que é um incontrolável nada.

No sentido de parametrizar cientificamente os meus objectivos de 2019 será importante escreve-los, consubstancia-los em palavras escritas e não serem apenas pensamentos desconexos empilhados de forma desordenada. Torna-os mais eficientes e simbólicos das minhas necessidades como ser humano, homem e pai e filho. Independentemente da minha idade, das minhas convicções e do meu grau de motivação é urgente priorizar e definir aquilo que eu quero e desejo materializar para o ano corrente. A parte mais difícil é encontrar nessas listas as dificuldades que se deparam logo à partida e encontrar itens que a primeira vista parecem ter obstáculos impossíveis de superar. Eu que sempre tive uma matriz mais pessimista de encarar os obstáculos sofro e sofrerei de um síndrome de desmotivação que me mergulha num mar de preguiça e procriastinação quase incontornável.

Este ano quero encarar toda esta época deprimente de uma forma mais produtiva e realista: as grandes metas não se alcançam sem passar por metas intermédias. Como a celebre frase atribuída a Mao – Uma viagem de mil milhas começa por um passo – e é exactamente nesse passo ou passos que devo focar a atenção e vontade de superação. Começar a caminhar e não focar nas mil milhas que faltam, mas sim nos passos para a jornada diária que deveria conseguir caminhar hoje, para que num futuro próximo essa distância quase irrealizável seja atingida. Se hoje fizer um milha, amanhã estou mais perto do que hoje para atingir esse sucesso que desejo. Um marco de cada vez, passo a passo com mil pequenas vitórias rumo ao sonho que afinal não era impossível, mas que exigia trabalho e perseverança.

E é neste pensamento de encarar o copo como meio cheio e não meio vazio que se enche gota a gota que devo focar o meu animo e vontade. Afinal Roma e Pavia não se fizeram num dia.