Nem no meio do oceano
128. Nem no céu nem no meio do oceano,
nem entrando nas fendas da montanha,
não há lugar algum no mundo,
onde se possa escapar da morte.
Dhammapada Tradução portuguesa de Bhikkhu Dhammiko
128. Nem no céu nem no meio do oceano,
nem entrando nas fendas da montanha,
não há lugar algum no mundo,
onde se possa escapar da morte.
Dhammapada Tradução portuguesa de Bhikkhu Dhammiko
Nestes dias de outono, quando as árvores se despem das suas folhagens e o castanho esvoaça pelo chão das ruas não consigo resistir a uma melancolia típica de quando as folhas caem e as nuvens cinzentas enchem os céus.
Os dias longos de calor estão já muito distantes no tempo, mas muito perto na memória, e a saudade dos raios de Sol a aquecerem a nossa pele aumentam.
As recordações do verão passado povoam a mente como se fossem de outra dimensão, como de outra vida de tão diferentes. A memória sensitiva do calor e a lembrança do cheiro a arreia da praia húmida ou do campo ao entardecer de um dia tórrido. Como se o olfato e o tato tivessem memórias próprias e zonas de conforto tão intimas que se dissociassem de tudo o resto. Dá-me um arrepio na espinha imaginar de novo essas sensações que desfrutei ainda não há muitos dias atrás. Hoje quando as gotas de chuva escorrem na minha roupa sinto a estranheza dos tempos e do tempo, ainda para mais que agora rodeado das intempéries agarro-me às boas recordações de um passado recente, feliz e despreocupado. Tenho que aprender a requisitar aos meu neurónios que reproduzam novamente a sensação de calma e equilíbrio que o verão me proporcionou, quando nestas manhãs outonais a sinto as buzinas de uma fila de transito, a ansiedade dos minutos que escasseiam e o desconforto do frio. Talvez eu aprenda nesses momentos de crise da rotina a buscar refugio nas sensações de estar entre as sombras das cerejeiras e oliveiras a brincar as escondidas com os meus ternorentos filhotes ou desfrutando de uma breve leitura na espreguiçadeira da piscina enquanto um olho vislumbra de vez enquanto as brincadeiras aquáticas dos garotos.
À medida que envelheço, começo a aprender finalmente que procurar ser feliz não está correcto na sua essência. É uma falácia, pois a felicidade é um caminho, e não um destino. Se está a chover e se está frio podemos ter e sentir o conforto e a satisfação do verão, mesmo no mais rigoroso dos invernos. Basta querer.
Recentemente tenho me encontrado em situações que me recordam o que há uns bons anos aprendi a muito custo: se tu te mostras com um temperamento pacífico muitas pessoas te vão encarar como um fraco.
Na nossa sociedade competitiva, ser paciente e apaziguador é interpretado como uma falha de carácter, não como um predicado que se constrói conscientemente. Alguém que não responde a uma provocação e visto como acovardado ou sem poder de decisão e não por alguém que percebeu que pelo caminho do conflito e até da violência não se consegue criar.
Embora eu reconheça que tenho um pouco de passividade em excesso – um dos meus principais defeitos – maioritariamente tenho preferido viver de uma forma que me afasta da resposta emocional, o tal sangue quente latino, e prefiro encontrar na minha mente a resposta racional ponderada para as grandes e pequenas equações da vida. É uma tentativa de ter uma vida mais iluminada e menos reativa – a mente a tentar sobrepor-se ao animalesco que gere a nossa vida.
Tentar racionalizar leva a um processo mental como que meditativo que não se projeta o «Eu» , as nossas vontades e expectativas nos outros que nos rodeiam – como a criança que se julga o centro do universo – e busca-se o equilíbrio interno e externo. Porém isto não é nada fácil quando confrontado com as situações que nos rodeiam e o que os outros entendem de nós. A ideia que somos frágeis e «bons», tipo cordeiros ou lobos ómega – leva a comportamentos mais agressivos de impulsividade animalesca de certas personalidades, numa falsa sensação de superioridade. E apesar de me imiscuir de procurar conflitos há momentos que em que não podemos ser tidos como o ómega da alcateia. É preciso mostrar os dentes e delinear um limite, sobpena de sermos usados como saco de pancada.
Se pensasse duas vezes não seria capaz de encontrar uma encruzilhada, um ponto geracional no passado para o ponto que me encontro actualmente. Seriam muitos pontos, muitas decisões ou principalmente a sua ausência que foram construindo um futuro que é hoje um presente.
Mil e um caminhos afluem a este destino em que eu me posicionei. Sei que as cartas do Tarot, que eu tanto subestimo, tantas e repetidas vezes me disseram um destes presentes. Nem sempre queremos ver, ou não focamos o que um dos futuro nos destina porque viver não está escrito. Escreve-se.
O Destino escreve-se a cada esquina, a cada sorriso, a cada viagem. A cada palavra por dizer e a cada não. Espero continuar a escrever.
Um bom período de férias em família é motivo de regozijo, nem que seja por um espaço temporal reduzido. Deliciei-me com um proverbial dulce fare niente na companhia dos dois seres que mais amo.
Agora sei que o tempo é algo de muito escasso, que a vida é, tal como o tempo escassa e irrecuperável. Sendo assim nada como parar para saborear cada instante presente e abstrair de todas as distracções temporais do passado e futuro.
Tal como o mestre me relembrou, devemos valorizar o presente e abstrair das ânsias fictícias do futuro e ignorar os fados passados. O caminho do meio, do presente. Nada nos desgraça mais que o peso de trazemos escusadamente do passado, ou por nos preocuparmos com conjecturas voláteis para futuros remotos. No meio desta presença pouco definida da mente no espaço-tempo esquecemos de sentir no nosso espírito o presente, a única e verdadeira faceta da realidade.
Por isso vou-me esforçar por me situar mais no presente vivido e real, sentir a vida tal como ela é, sentir a comunhão com o eterno que só se pode ter no momento presente.
Um bom período de férias em família é motivo de regozijo, nem que seja por um espaço temporal reduzido. Deliciei-me com um proverbial dulce fare niente na companhia dos dois seres que mais amo.
Agora sei que o tempo é algo de muito escasso, que a vida é, tal como o tempo escassa e irrecuperável. Sendo assim nada como parar para saborear cada instante presente e abstrair de todas as distracções temporais do passado e futuro.
Tal como o mestre me relembrou, devemos valorizar o presente e abstrair das ânsias fictícias do futuro e ignorar os fados passados. O caminho do meio, do presente. Nada nos desgraça mais que o peso de trazemos escusadamente do passado, ou por nos preocuparmos com conjecturas voláteis para futuros remotos. No meio desta presença pouco definida da mente no espaço-tempo esquecemos de sentir no nosso espírito o presente, a única e verdadeira faceta da realidade.
Por isso vou-me esforçar por me situar mais no presente vivido e real, sentir a vida tal como ela é, sentir a comunhão com o eterno que só se pode ter no momento presente.