corrida

Estava já acorrer o segundo quilometro da minha prova de corrida de eleição – a meia maratona do Porto, quando um passo de corrida mal medido no meio da multidão de corredores, fez-me pousar o pé num desnível da estrada. Logo nesse momento senti o pé a torcer e todo o meu corpo rodopiando em direcção ao chão. Como em câmara lenta vi o asfalto a vir ao meu encontro. Surpreso rebolei no chão com o que julgo ser a elegância de um pato enquanto ouvia alguns gritos de susto da vizinhança. Ali no asfalto maltratado, numa fracção de segundos avaliei os meus danos, sangue na mão (panico!), pernas e braços aparentam mexer, nenhuma pancada a não ser na anca. Ainda a quente no que julgo terem passado três segundos fiz o exame final e levantei-me. O pé esquerdo parecia latejar e a dor ainda não chegara ao cérebro, tinha sido torcido mas não sabia ainda até que ponto.

Dez minutos antes na reta da partida em que a multidão se acotovelava a espera do inicio da prova e os drones filmavam o mar de gente em pulgas por começar a correr, tagarelava com a a Coelho Corredora que tinha encontrado por acaso. Pensava com os meus botões que esta seria a minha sétima corrida naquele trajeto magnifico da minha querida cidade, e provavelmente o que eu estava pior preparado graças às pequena lesões, poucos treinos e maus tratos ao físico que tive nos últimos meses. Porém propus-me a acabar a corrida e visualizei a meta como o único desfecho dali a sensivelmente duas horas.

E passados dois quilómetros estava-me a levantar depois de ter rebolado na chão. Sabia que podia ter terminado ali a minha sétima meia maratona do Porto, assim como sabia que nos próximos dois minutos as dores chegariam. Pousei e pé no chão e não senti uma dor imediata típica das grandes lesões do tornozelo. E foi assim que numa fração de segundo optei por recomeçar a corrida sabendo que me esperariam ainda 19 quilómetros. Racionalmente seria uma loucura prosseguir mas emocionalmente não podia sequer considerar desistir logo ali no início. O meu chip estava em modo de finalizar a corrida.
Pé ante pé reatei a corrida, a um ritmo moderado. Manquejava ligeiramente. Absolutamente embriagado com o azar que calhara encarei que seria uma provação que só suportaria se as dores quando chegassem não fossem insuportáveis. Iria correr pelo menos até à ponte D.Luís. Afinal a minha hipótese de retorno a casa ficava só no Fluvial e por aquelas bandas só se circularia a pé até a meio da tarde.

E para muito espanto meu, apesar de sentir umas pontadas a dor não me incomodava a ponto de ter que parar. Fui preenchido por uma onda de entusiasmo e no momento H virei em direção da ribeira de Gaia, iria mesmo tentar terminar a corrida, a minha motivação era superior a minha inferioridade física temporária. A mente voava enquanto corria e a dor não invadia os meus pensamentos. Não sentia que iria agravar a lesão se insistisse em correr e assim foi. Quilometro após quilometro a um ritmo leve, verifiquei que a mão já não sangrava e estava simplesmente a deixar-me ir como corredor que sou.
Quando a meta já não estava longe as dores voltaram em especial no paralelo onde as passadas se tornaram mais dolorosas. A contra gosto tive que abrandar a passada momentaneamente e fazer uma caminhada para recuperar, mas a motivação já tinha tomado conta do meu corpo. Em breves dezenas de metros reatei a corrida e tal como acedi, logo que a dores voltassem em mais força passava a andar e logo que estas se esfumassem voltaria à corrida. E assim nessa pequena loucura senti a enorme satisfação de cruzar a meta de chegada na corrida mais difícil de sempre em que a minha resiliência e empenho me tinham levado a uma superação física, não em performance mas numa batalha mental contra a dor. E venci. Terminei a minha sétima meia apesar de todas as adversidades. Depois valeu-me o gelo e o Voltaren.

Na impossibilidade temporária de correr, o meu desporto favorito, vejo-me forçado a procurar alguma forma de queimar calorias. Fazer piscinas é algo em o que custa realmente é começar. Chegar até a pista olhar para aquele espaço azul que estará só ligeiramente tépido com touca, óculos de marciano e calções justinhos é no mínimo tedioso.

A Natação é solitária e profundamente centrada em nós mesmos. O azul fundo da piscina que braçada após braçada se vai lentamente movendo, para retornar mais outra vez na mesma direção não podia ser mais aborrecido. Porém entre umas boas dezenas de braçadas e quando as piscinas efectuadas se vão acumulando e a respiração começa a ser sincopada com os movimentos dos braços e pernas há uma faísca na mente.

A pouco e pouco no meio do exercício as paredes e o chão azul deixam de lá estar e só se segue o risco azul escuro (não se vá bater quando este terminar com a cabeça no fim da piscina! ) – e passamos a um estado que eu considero ser muito próximo da meditação. Como nas longas corridas, deixamos lentamente mas inexoravelmente de sermos um corpo em exercício físico, para sermos uma mente que se esvazia de pensamentos, que se liberta das preocupações e pesos. O corpo e a mente começam a libertarem-se em ritmo e sem esforço deixam de pensar para serem totalmente leves. Braçada a braçada, assim como passada a passada na corrida, temos o nosso momento de zen. E depois a exaustão obriga-nos a parar.

Quando termino, cansado mas leve tenho as mesmas sensações daquelas corridas ao Sol de mais de uma hora. Que saudades.

Faz já umas longas seis semanas que me vejo impossibilitado de correr. Num dos treinos noturnos tardios em que me propunha a fazer uma leves 10 km urbanos eis que a desviar-me de o camião do lixo e dos funcionários de recolha de resíduos urbanos não vi que o asfalto da rua estava armadilhado e fiz um entorse no tornozelo esquerdo. E como um principiante apesar de ter esmurrado todo ao deslizar pelo chão tentei ainda voltar a correr. Dez metros depois percebi que a aquela corrida acabara e que me esperavam dos dolorosos quilómetros a marcar até casa.

Passados estes dias todos sinto o corpo entorpecido e a reclamar por uma boa corrida. Mas pior é a minha mente que exige o relaxante exercício e passeio higiénico de uma corrida, como se o meu cérebro fosse já um junkie pelo running.

Já sabia que correr pode ser tornar uma espécie de dependência, salutar mas um vicio onde as endomorfinas que a corrida origina abastecem o cérebro de boas sensações durante e após a corrida.

Privado da minha fix além de acumular um quilogramas a mais tenho também que me deparar com as pequenas depressões da ressaca da corrida. Não vejo a hora de me sentir capaz de fazer meia milha sem sentir o meu tornozelo a ser trespassado por agulhas de tricot. Resta-me ser paciente e esperar.

Aos sessenta e seis anos, o escritor Haruki Murakami é uma referência para mim. Ele começou a escrever e a correr nas suas
trinta e tais primaveras e tem atualmente a sua obra traduzida em 55 línguas e já correu uma ultra maratona. O seu método é relativamente simples: foco e resistência com uma pitada de talento.

A sua genialidade não é unicamente baseada no talento de contador de histórias como só um amante do jazz consegue ter – é também alicerçada num empenho invejável. Levantar-se todos os dias às quatro da madrugada para escrever até ao meio dia e sinal de um compromisso que requer muita determinação. Por sinal essa determinação Murakami admite que foi buscar a sua relação com a corrida: a superação e saber os seus limites e objetivos anda de mãos dadas com o prazer e a liberdade – a corrida e a escrita são artes que requerem todo o esforço de concentração e a força mental para perseguir uma meta.

Este belo exemplo nipónico da nova literatura, um posso sem fundo de criatividade deve ser um modelo a seguir, se bem que a ideia de despertar bem cedo me pareça algo assustadora…

Já não corria há mais um mês. O meu corpo e espírito ressentiram-se da ausência da estrada que se escapa a cada passada. Tinha saudades das minhas corridas sem rumo e de aqueles momentos Zen em que o corpo pressionado, liberta a mente e mergulha noutro plano existencial.

Para mim ser corredor não é correr mais e melhor, competir e a buscar a superação per si. Ser corredor é procurar um momento de escape e fuga rumo ao meu intimo, numa espécie de meditação não-transcendental onde apenas falo com os metros à frente de um destino algo confuso mas que persigo com prazer.

Voltar foi custoso e as pernas e os pulmões deram muitos sinais de fadiga precoce mas que é apenas um desafio a superar e que dentro de semanas tudo terá voltado à normalidade com várias dezenas de quilómetros de puro prazer.

  • Na RTP2 está a dar um documentário sobre S.Tomé e Príncipe que me esta a deixar cheio de saudades e de uma vontade irresistível de voltar #
  • Acho que a Nike reforçou o seu impacto no segmento guna ao pôr atletas da corrida ao peso a calçar sapatilhas amarelo florescente. #fail #
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  • @fguarin13 gostei! Aproveito para dizer que te aprecio muito como jogador e pessoa. Que fiques muitos anos no Porto in reply to fguarin13 #
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  • Dearhunter, metronomy e twin shadow, um cartaz formidável no Paredes de Coura que faz os outros festivais parecerem a Eurovisão #
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  • Parabéns Porto! Campeões mantém a raça de papar taças. E já são 70! #
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  • A melhor caipirinha do mundo com a melhor namorada do mundo. Oxalá se repita mil vezes #
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  • Como é bom ouvir a voz de Lance Armstrong no final de uma corrida a dar-nos os parabéns por termos terminado a corrida mais longa de sempre! #
  • correu 18.91 km no dia 21/5/2011 at 10:40 AM a uma velocidade de 6'08"/km
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Mil conversas podem-se perder, mil frases podem ficar esquecidas durante anos num recôndito neurónio. Mas a música perdura, lembrando-nos de uma miríade de momentos, sentimentos, alegrias e até euforias.

Sempre gostei de música. Avidamente consumo música, tenho gostos eclécticos sem nunca comprometer a qualidade. Desde Jobim a Franz Ferdinand, de LSD Sound System a The Clash, tudo sem o seu espaço, nos meus inúmeros catálogos virtuais de músicas preferidas. Passado, presente e futuro que trazem melodias e memórias, conforto e alivio, esperanças de novas emoções fortes.

E verdade seja dita: nada como um iPod como companheiro de corrida. É garantia de novo record pessoal.