desporto

Na impossibilidade temporária de correr, o meu desporto favorito, vejo-me forçado a procurar alguma forma de queimar calorias. Fazer piscinas é algo em o que custa realmente é começar. Chegar até a pista olhar para aquele espaço azul que estará só ligeiramente tépido com touca, óculos de marciano e calções justinhos é no mínimo tedioso.

A Natação é solitária e profundamente centrada em nós mesmos. O azul fundo da piscina que braçada após braçada se vai lentamente movendo, para retornar mais outra vez na mesma direção não podia ser mais aborrecido. Porém entre umas boas dezenas de braçadas e quando as piscinas efectuadas se vão acumulando e a respiração começa a ser sincopada com os movimentos dos braços e pernas há uma faísca na mente.

A pouco e pouco no meio do exercício as paredes e o chão azul deixam de lá estar e só se segue o risco azul escuro (não se vá bater quando este terminar com a cabeça no fim da piscina! ) – e passamos a um estado que eu considero ser muito próximo da meditação. Como nas longas corridas, deixamos lentamente mas inexoravelmente de sermos um corpo em exercício físico, para sermos uma mente que se esvazia de pensamentos, que se liberta das preocupações e pesos. O corpo e a mente começam a libertarem-se em ritmo e sem esforço deixam de pensar para serem totalmente leves. Braçada a braçada, assim como passada a passada na corrida, temos o nosso momento de zen. E depois a exaustão obriga-nos a parar.

Quando termino, cansado mas leve tenho as mesmas sensações daquelas corridas ao Sol de mais de uma hora. Que saudades.

Nos últimos anos tenho aumentado o meu interesse pelo desporto das massas. O novo ópio do povo, ou se preferirem o futebol, acaba por nos apanhar como uma espécie de polvo.

Para onde quer que vamos, qualquer jornal que abrimos, qualquer noticiário que vemos na TV, somos bombardeados com informação irrelevante acerca  do futebol nacional e internacional, debates semanais acerca de clubites entre os três grandes.

Se por um lado estou meio farto de todo esse futebol, não deixo de deixar apaixonado pelo meu clube de eleição, o FCP.  Este infelizmente atravessa um mau momento, depois de uma época intensamente dourada, deixou-se cair em mares mais revoltos. A incapacidade de um treinador hoje deu-me mais um desgosto, porém não será por isso que vou abandonar o meu amor. Só não quero é ouvir falar em futebol até ao carnaval…

A reabertura dos tempos de lazer foi no mínimo interessante. O facto de me ter dedicado pela segunda vez na minha vida ao desporto radical do campismo, e na companhia do veteraníssimo mestre, tornaram uns dias que seriam à priori de dolce fare niente de pasmaceira numa inestimável experiência e tempo de lazer pacato.

Tomar rumo ao sul sem chegar a latitudes pavorosas, montar o barraco e comprar a múmia que me havia esquecido de trazer fizeram-me bem, e apesar do tempo estar pavoroso para radicais, foi um quality time de cavaqueira, VTES, companheirismo, formigas e dormir no chão.

Em última análise foi importante mudar de ares, estar longe de um volante visitar locais quase de forma aleatória sem preocupações de tempo ou espaço, apenas me deixando relaxar com a amizade e a Nikon para saborear a passagem das horas. Nos longos diálogos as conversas intransigentes e inteligentes deambularam desde o sentido da vida, ao cortar nas casacas e a inocência perdida que reina no campo de batalha dos trintões, e como não podia deixar de ser – na história universal. Uma salada de fruta intelectual que me levou a ter sestas ou quase-sestas. Assim a espera foi brilhante e não custou tanto no início. É bom ter alguém com quem contar.

Três anos é um longo tempo para manter um diário online. É uma questão de paciência, perseverança ou será uma questão de teimosia ou mera estupidez?
Quando escrevo sinto que os contornos e as motivações mudaram, assim como o meu corpo e espirito mudaram. Envelheceram e amadureceram. Melhoraram de certa forma, num upgrade que a vida oferece â medida que os anos correm no calendário.
Hoje muitos dos dados adquiridos do período em que estava na grande cidade se tornaram obsoletos e nada me impele a escrever para um grupo de amigos, como dantes o fazia, numa espécie de jornal de parede comunitário onde colocava os meus papeis.

Hoje essa faceta de grafitti de pensamentos, extinguiu-se com um novo despertar, para voos mais elevados, para vivências mais reais. Mas o mais importante foi também, ter tido graças a este espaço, a hipotese de me reencontrar e ver que existia toda uma nova dimensão não programada que em última analise, tranforma a pouco e pouco num novo ser, com uma nova vivência com V graúdo. Foi como se o diário de um meliante me libertasse e me mostrasse um destino que não antecipei e a pouco e pouco me desse aquilo que não tinha sequer atrevido almejar.

Hoje sei que só mantenho este espaço porque é uma espécie de casulo abandonado mas apreciado, que me deixa, decerto recordações de um passado fastidioso, mas também das mudanças que me atraíram para uma subida de divisão, com direito a taça e tudo do desporto que é a Vida.

Talvez o abandone em breve, talvez o reanime de uma comatose intermitente, talvez simplesmente o esqueça parado no tempo, como uma caixa de espelhos feita capsula do tempo.

Mesmo assim parabéns!

É contagiante toda a alegria e moral que o desporto-rei pode movimentar. A Selecção Portuguesa no Euro, esta a desencadear um fenómeno que não era capaz de antever no meu povo. Algures no nosso genoma lusitano está determinado muito orgulho bairrista e nacional que tem vindo a ser recalcado desde à séculos pelos infortúnios de uma Nação mal governada e vitima dos desacatos da história. As bandeiras espalhadas por tudo quanto é canto, a mobilização em torno de um simples desporto de massas, num grito nacionalista algo esquecido.

O nosso hino aguerrido, não deixa de conter um quase fanatismo irracional: marchar contra canhões é no mínimo suicida, mas tendo em conta a época em que ”A Portuguesa” foi escrita, em que os nossos ditos aliados Ingleses nos fazem um ultimato, por causa uns milhões de quilómetros quadrados em África. Todo o Zé povinho reclamou a entrada em guerra com o Bulldog Inglês que com certeza comeria como pequeno almoço o Frango Português do fim do século XIX. E tudo por causa de um mapa cor-de-rosa unindo as costa da Africa Portuguesa. D.Carlos e a monarquia acabaram por cair por se terem rebaixado e aceitado o ultimato na esperança de não irritar mais a Victória, que na altura era a soberana indisputada do mundo. É neste fervor e revolta da humilhação que «A Portuguesa» se canta, como um sintoma de rebeldia e revolta por uma injustiça, por um vexame que custa a engolir.

Com a festa futebolística que hospedamos, muito para além das nossas possibilidades financeiras, revivemos muito do caracter português – culturalmente festas de pompa e circunstancia, casamentos, baptizados de arromba, foguetórios e procissões são uma parte indispensável para ser português. Isto mesmo que não haja dinheiro, há que dar aos convidados a ideia que a casa é farta e não se olha a meios para isso, como é o caso dos dez estádios de futebol, em vez dos 30 hospitais.

O Euro 2004, é a nossa grande festa, em que tentamos mostrar que não somos nenhuns pelintras, e a nossa Selecção e uma injecção de orgulho nacionalista sublimado, uma restia de esperança em que possa o nosso povo se orgulhar e moralizar. Quem sabe ganhar aos Ingleses seja um motivo para mudar algumas consciências e sair da depressão profunda em que os portugueses se enterraram, económica e socialmente, e da maneira que vêm e sentem o facto de serem portugueses.
Espero que a festa continue e não termine abruptamente nas mãos inglesas.

Afinal é possível aguentar um embate com a ressaca de parar de fumar, desde que estejamos com alguma força de vontade. É certo que estou com os nervos em franja, que todo o corpo parece meio dolorido e que na minha boca há invariavelmente um chiclets ice de canela a libertar algum sabor para disfarçar qualquer vontade.

É estranho sentir aqueles flashes momentâneos de junky, numa espécie de pânico inconsciente de que agora era a altura que eu pegava em mais um cigarro. Hábitos encerrados bem fundo na consciência, mas que não resistem a trinta segundos de introspecção.
Nesta minha tentativa empolgada para deixar de fumar sigo uns princípios simples:

  1. Prometer a mim mesmo que vou chegar ao fim do dia sem tocar sequer em algo que tenha folhas de tabaco (cigarros, cigarrilhas, charutos, charros e beatas)
  2. Evitar rapidamente qualquer local que tenha o odor fétido do tabaco a arder; não olhando sequer para qualquer tabaco, maço, ou até vending machines.
  3. Inventar mil e uma quebras de rotina, desde as mais singelas, até às mais absurdas ocupações, submetendo o corpo e espirito a constantes situações de adaptação. No fundo descompensações constantes.
  4. Exercícios de respiração, desporto, insistência em puxar até ao limite o corpo.
  5. Bebendo água desmesuradamente, evitando o aumento de apetite e outros desconfortos.
  6. Mantendo ocupada a boca (mascando, roendo, mordendo, etc.), com movimentos e sabores, incluindo uma higiene oral capaz de levar à erosão de esmalte.

Para já os pulmões começam apenas a fazer uns queixumes, uma tosse ainda medrosa de alivio, num início de desintoxicação orgânica que leva anos a libertar o alcatrão. Está a valer a pena.
Tenho consciência que o pior periodo é sem dúvida quando se chega às semanas dois e três. O espírito e o empenho começam a quebrar e pecadilhos rumo à recaida são vistos de forma menos grave e surgem uma data de descupabilizações face a diminuição da força de vontade, numa epóca em que ainda não nos libertamos da dependência organica de forma consistente. É dessa fase que tenho mais medo.

Possivelmente esta será uma das noites mais felizes dos últimos anos, ou uma das mais tristes. Não sou propriamente um adepto fanático do desporto Rei, mas como qualquer cidadão que se preze da minha cidade, um evento destes motiva até quase ao fanatismo qualquer um. A alegria contagiante com que a Invicta se uniu em volta do Glorioso, numa epóca que provavelmente vai ficar na história a letras de ouro e que todos os portistas devem recordar.

Ontem despedi-me do Inspector P., que junto com o Q. e R. seguiam de madrugada até a tórrida Sevilha cheios de emoção, ao passo que N. já devia estar a chegar perto da terra Beirã da qual alguns dos meus genes são oriundos. Fiquei entristecido, com esse sabor amargo, por não ter encontrado um bilhete, essa chave mágica para uma alegria imensa ou para uma desilusão que se quererá esquecer o quanto antes. Enquanto o Ibiza alugado já debitava o CD dos Super Dragões, completamente artilhado de cachecóis do FCP e da Nação, dei um abraço sentido ao Inspector P. e Q. . Estava mesmo com saudades deles e senti que tinha perdido uma viagem. Mas isso não interessa. Haverão mais e maiores viagens!

Melhor será a festa se uma taça for exibida pelos azuis e brancos. Será a euforia contagiante e estarei lá no meio de todos aqueles cromos verdadeiramente raros saídos sabe-se lá onde que se amontoam nas praças da Invicta. Será maravilhoso e para compensar todas as pequenas ausências e anemias emocionais dos últimos dias de ressaca pós Sol. Caso contrário mais vale ir dormir cedo. Mas isso é o pessimismo crónico. Será histórico.

A namorada eu deixei
A namorada eu deixei…
E o trabalho abandonei
Para te dizer
Que até morrer
Que até morrer Porto te amarei!
Allezz allez…
Cântico dos SD

Escusado será dizer que sexta-feira a festa foi de outro tipo… Decididamente para os portugueses ”aficionados” foi um dia negro. Mas mais negra é a palhaçada e o mau perder que me embaraça como português…
Afinal no desporto é preciso fair play, algo que o povinho português não consegue assimilar. Os jogadores jogaram mal, o treinador teve falhas e pior que tudo as expectativas eram demasiado altas.

Depois há a cisma do bode expiatório atribuindo as culpas a alguém em particular…
Como diriam certos velhos do Restelo – ”é por essas e por outras que este pais não vai para a frente”…