coração

Este é um simples exercício para perceber quanto consigo escrever num espaço cronometrado de quatro minutos. Enquanto o tique-taque conta, martelo teclas contra-relógio sem muita precisão do que pretendo escrever. Mas isso não é propriamente algo de errado, é apenas um desenvolver de aptidões que necessito se pretendo algum dia levar avante o meu propósito de escrever alguns contos, e quem sabe, mais tarde conseguir a grande realização pessoal que seria escrever um romance.
Esse objetivo pode até ser algo inconcretizável, mas creio que sem ser um obreiro diligente, um escrevinhador persistente, não serei capaz de tal proeza. Por isso dou os meus primeiros passos no sentido de atingir uma escrita mais fluída, capacitando-me que só com muito suor e esforço se atingem as grandes façanhas da vida. Pé ante pé
Uma mulher não se conquista apenas através de um estalar de dedos, ela requer mimos e atenção, um fazer da corte perseverante, mostrando intenções sérias de namoro numa aproximação faseada rumo à intimidade que é o amor. Tal como nas paixões a escrita rouba-nos parte do nosso precioso tempo nesta terra, e só com a força do coração podemos tentar seguir a mestria com que as palavras se derramam num texto. Escrever é um ato de amor puro onde o escritor se desnuda, se retira de uma zona de conforto e expõe os seus pensamentos e fantasias numa estória que revela fragmentos do seu ser intimo e da sua matriz de credos e de estética. Cada palavra é um nó de um intrincado manto de retalhos do que o autor se propõe a dar ao seu leitor, para que este último se deixe cobrir nos sonhos de outrem. E isso é a mais pura das belezas, transferir sentimentos, sensações e até pedaços da nossa alma para alguém perdido no espaço e no tempo que algum dia há de ler aquele conjunto de palavras que jorrou no seu espírito.

O bandido solitário tem no crime o coração
Traz do roubo o seu salário
Paga caro a paixão.

O bandido solitário tem uma bala no canhão
Vai metê-la no diabo
Já deitado no caixão.

O bandido solitário tem a fúria de um cão
E anda às voltas pelas ruas
Com a alma pela mão.

O bandido solitário só faz folga para foder,
Escolhe sempre as mais feias,
Gosta de beijar sem ver.

E a mulher que o quiser tem de ouvir esta canção,
E a mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

Foi um dia apanhado a roubar uma espanhola,
Ficou tudo admirado
E tiraram-lhe a pistola.

E a pistola era tola, só servia para espirrar,
Carregando numa mola
Não servia para matar.

E a mulher que o quiser tem de ir para a prisão,
E a mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

E a mulher que o quiser tem de ir para a prisão,
A mulher que o quiser,
Farto peito, grande língua, anos de bailado e natação.

Música de Mundo Cão
Letra de Valter Hugo Mãe

A simplicidade de um dia passado entre quatro paredes, quando lá fora o frio e chuva invernais costumavam ser sinónimo de tédio absoluto. Hoje no entanto passou a ser sinónimo de amor e alegria, tudo graças aos meus dois rebentos e à minha delicada cara-metade.

Há bandas que envelhecem mal. Como um vinho verde que se deixa pasar uns anos e se transforma em algo turvo e avinagrado. Os Nirvana foi uma das minhas bandas prediletas (logo que o seu álbum «Nevermind» chegou a Portugal corri logo a comprar um CD no longínquo ano 1991) e é disso exemplo – o grunge não resistiu bem ao passar das modas e ecoa muito mal passado estes anos todos… Porém a música e o video clip de Smell like teen Spirit ainda hoje me fazem as tripas entrarem em ebulição e o coração a bombar a um passo de desatar ao saltos como quando tinha 18 anos.

Via o seu sorriso rasgado de satisfação enquanto tinha a sua aula de bateria, e como pai fiquei de coração cheio.

A minha filhota surpreendeu-me com uma súbita paixão por um instrumento tão invulgar para meninas. De tenra idade foi ele que tratou da inscrição e averiguar na possibilidades de horas para que pudesse ter aulas de bateria. Então foi apreciar uma aula dela, após um pedido irrecusável da jovem aprendiz – em apenas meia hora apanhado todas as batidas da nova música dos Coldplay fiquei totalmente enternecido.

Por um lado tenho a sensação que minha filha cresce rapidamente que temo perder a minha linda princesa. A sua paixão pela bateria alegra-me mais por ser capaz de criar interesses novos por sua própria iniciativa, por tentar ser autónoma e seguir os seus interesses.

Começa o ano, comem-se as passas e fazem-se os desejos para os próximos 365 dias. É assim a tradição.

Este ano fiz os meus desejos só depois de agradecer a bênção de estar vivo e de saúde, rodeado de uma família que amo muito. Que mais pode um homem desejar para ser feliz?

Já no primeiro dia do ano enquanto adormecia o meu diabrete mais novo, com o estômago a latejar de um almoço muito substancial e com os doces como mandam as regras, dei por mim a pensar que  não necessito de mais nada para ser feliz. Para além da espuma dos dias, da rotina diária que nos escraviza existem esses elementos mais importantes que tudo o resto.

O amor incondicional que nos enche o coração, a partilha da nossa breve estadia no terceiro calhau a contar do Sol, a paixão, o saborear e o desfrute da vida, alheio aos medos mundanos e das intermitências da vida é o que nos faz verdadeiramente felizes. Por isso este ano preferi ser grato e apenas desejar ser capaz de fazer que os que me rodeiam  sejam felizes.

 

Talvez o tempo fluía como sempre e o nosso envelhecimento nos induza na aparência que se esgota mais depressa. Talvez o pulsar do nosso coração seja mais lento e por isso os segundo esvoaçam mais rapidamente.

Muitos anos se passaram desde que escrevi aqui pela primeira vez. Muitas boas recordações estão aqui escritas neste diário, muitos pensamentos e medos aqui são descritos. Talvez um pouco abandonado e em repouso este baú de memórias.

Gostaria eu de lhe dar muitas passagens novas, muitos artigos recentes. Mas não é por falta de conteúdo ou vivências que se tem mantido este diário a ganhar pó, mas sim pelo procrastinar provocado de quem vive um emprego de horários rígidos. Desculpas evidentes de quem não consegue alimentar a criatividade da escrita e o escrevinhar laborioso e persistente que a caneta exige. Quem sabe para breve terei esse ócio necessário para tempos de satisfação de prosa escrita.

A vida como é habito cria os seus hábitos. A vida corre fluída quando se está feliz e estável, no mundo familiar que criamos e amamos.

Mudando de cena e visitando um espaço noctívago que estávamos já desabituados, podemos assistir a um concerto brilhante e para o qual não compramos bilhetes e que assistimos numa sala de projecção mística, qual cena decadente do 2001 Odisseia no Espaço. E com o meu velho amigo Gin e a mais bela companhia do mundo.

Porém há sempre percalços e situações insólitas que servem de cenário colorido da paisagem permanente. Um particularmente estranho foi a minha querida pet ter decidido que era um gato para-quedista e pôs em pratica aquele desporto radical sem estar apetrechada com o respectivo equipamento felino. O resultado apavorante de ter um gato a cair do terceiro andar só pode ser ainda mais medonho se não se dá conta do voo e se procura o bicho sem muito sucesso. Felizmente, fora o lábio rachado e patas com almofadas estouradas não houve danos de maior a não ser uma conta calada do veterinário e um susto que nos deixou incrédulos de tão inusitado que foi.

Interessante foi uma palavra fraca para descrever a surpresa com que fui brindado num jantar de aniversário de um amigo que está sempre no coração: a medalhada jantou connosco, num momento e lugar completamente improvável.
Acho que a vida não obedece a estatísticas e probabilidades…

O teu sorriso, tão parecido como o da tua mãe, alimenta o meu coração e enobrece-me a alma. Quando sorris com a tua inocência resplandecente, fazes-me acreditar na grandiosidade da vida e de como o amor se sobrepõe a tudo. Obrigada.

Era tempo de sentir
Esse rescaldo de paixão
Num amor audaz e pleno
Cabal de fé e certeza
Fico sereno a sorrir

Abre-se o céu e o sentimento
Não chora mais o meu coração
Limpo-me do veneno
Passado de uma alma mártir
Bruscamente feliz

Sinto esse afecto
Dentro da contemplação
Esse Amor eterno.
Deixam-se as flores
As pétalas caem

E pergunto:
Feliz és minha?

Se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isso em mim provoca imensa dor
Só privilegiados tem ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu
Se você insiste em classificar
Meu comportamento de antimusical
Eu, mesmo mentindo devo argumentar
Que isso é bossa nova, que isso é muito natural
O que você não sabe, nem sequer pressente
É que os desafinados também tem coração

Fotografei você na minha Rolleiflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
Só não poderá falar assim do meu amor
Este é o maior que você pode encontrar, viu!
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados,
No fundo do peito, bate calado…
No peito dos desafinados
Também bate um coração!

Como vestindo a mais inexpugnável das couraças, sinto-me protegido de todas as adversidades. Nunca me senti tão protegido do desalento ou da inépcia, do quebrar do espírito. A energia brota do âmago com intensidade e disponibilidade imensa.

Tudo porque o coração pulsa cheio de lufadas de sangue de esperança, repleto de carinho e ternura. No calor deste estio antecipado, dou-te a mão, num novo caminho, que se palmilha rápido e certo. Como se há muito estivesse mapeado na consciência um trilho triunfal, rumo a uma certeza.

Quente e vibrante, perco-me num mar em que a ausência se torna impensável, e em que o suspiro é uma constante. São dias perfeitos.

Ao observa-la a dormir, sentia sua serenidade e beleza amena. Não se sentia mais só, e lutava para não a despertar com beijos, fazendo uma vigília de deleite. Ela ali a seu lado, frágil mas protegida, enroscada em seus braços, sentindo a sua respiração quente e profunda, o pulsar do seu coração tão próximo era um quadro petrificante de emoção e êxtase. Talvez não merecesse ser tão feliz naquele momento tão íntimo com uma mulher tão deliciosa.
A sua mente cavalgava pensamentos de ternura e felicidade, trotando sem resquicios de sono na luz do amanhecer que furava através das janelas do quarto. Desejava que a manhã não avançasse até ao momento do acordar em que se separariam rumo a um quotidiano diário que agora significava um ciclo de separação insuportável até à próxima noite. Queria que a noite fosse eterna, uma noite sem fim dos amantes.

Sonhos Urbanos

Se por um instante Deus se esquecesse
de que sou uma marioneta de trapo
e me oferecesse mais um pouco de vida,
não diria tudo o que penso,
mas pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas,
não pelo que valem,
mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais,
entendo que por cada minuto que fechamos os olhos,
perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os outros param,
acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam,
e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate!

Se Deus me oferecesse um pouco de vida,
vestir-me-ia de forma simples,
deixando a descoberto, não apenas o meu corpo,
mas também a minha alma.

Meu Deus, se eu tivesse um coração,
escreveria o meu ódio sobre o gelo
e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh
sobre as estrelas de um poema de Benedetti,
e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas
para sentir a dor dos seus espinhos
e o beijo encarnado das suas pétalas…

Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida…
Não deixaria passar um só dia
sem dizer às pessoas de quem gosto
que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem
que é o meu favorito
e viveria apaixonado pelo amor.
Aos homens provar-lhes-ia
como estão equivocados
ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem,
sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar!
A uma criança, dar-lhe-ia asas,
mas teria que aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens…
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha,
sem saber que a verdadeira felicidade
está na forma de subir a encosta.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta
com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai,
o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um homem só tem direito
a olhar outro de cima para baixo
quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês,
mas não me hão-de servir realmente de muito,
porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer…

Autor anónimo erradamente atribuido a GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

“Por certo aquelas pernas esculturais sustinham o peso pluma do seu corpo delgado. Bastou-me um vislumbre da sua silhueta para que eu sentisse um forte baque na base do meu crânio e imediatamente o meu coração começou a bater descompassado. Era o material de que os sonhos são feitos, por assim dizer.“

Sonhos Urbanos

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta.

5-11-1932 por Fernando Pessoa

O solstício de Verão teve em mim um grande impacto. Dei-me o direito de pequenas excentricidades que me deram imenso gozo.

O dia mais longo, pareceu-me até bem curto. Logo após a jornada de liberdade pós-laboral, descendo vertiginosamente a linha de metro, rumei à praia para um por do sol assombroso. De um vermelho rasgado de sangue o astro-rei descia ao passo que os inspectores faziam a sua pescaria anual de navalheiras por entre as rochas. Não resisti a umas palavras de incentivo e deixei-me banhar no mar fresco e límpido no meio dos rochedos. Se não anoitecesse já por ali teria ficado de molho…

E quando a estrela da tarde brilhava intensamente, e a lua cheia confirmava ser um dia mágico, dei por mim extasiado e feliz por estar vivo. Algo que não tem necessidade de explicação causa-efeito, apenas se sente, porque a Vida é feita de pequenas coisas que nos aquecem o coração. Basta que os queiramos sentir. Bastam gestos, momentos, ou as vezes palavras amigas para os tons cinza serem de um colorido tropical.

Corpo trémulo e ansioso
Espartilhado pelas decisçes
Temo as mesmas ilusões
Quando sussurras carícias doces.
Torturas-me!

Espírito retorcido pela tua força
Esmagado pela tua sedução,
Sou mero tapete de emoção
Que pisas sem piedade.
Endoideces-me!

Crucifica-me antes em paixão
Queima-me na fogueira sem perdão
Devora-me com ânsia o coração

Mas não me possuas,
Sem eu te possuir
Nem me escravizes,
Sem eu te escravizar
Nas chamas de um amor
Efêmero ou eterno.

Anjo Negro,
Tortura o doido,
Mas solta tuas algemas.
Foge da tua jaula.
Escapa do inferno.
Agarra-me como eu te agarro.
Sonha-me como eu te sonho.
Mas não me esmagues
Não me espartilhes
Como o teu desejo.
Crava as tuas garras
E arranca a minha pele
Bebe meu sangue
Devora o meu corpo
Comunga o meu espírito
Sacia-te da minha alma
E liberta-te da escuridão
De corações abertos
Subiremos juntos
Aos céus.

Amor funesto antes da hora desejada
Numa paixão malfadada e apressada
Tomo-te e tomas-me com paixão
Divides sem pudor meu coração

Paixão ilógica sófrega de amor
Fugindo à solidão com clamor
Possuo-te e possuis-me audazmente
Beliscas em luxúria a minha mente.

Quero-te
Quero, mas não te tenho!
Queres-me
Queres, mas não me tens!
Aguardo pelo nosso momento
Ansiosamente