acordar

I can see clearly now the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day

Oh yes, I can make it now the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I’ve been praying for
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day

Look all around, there’s nothing but blue skies
Look straight ahead, there’s nothing but blue skies

I can see clearly now the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Here’s the rainbow I’ve been praying for
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day
Real, real, real, real bright, bright sunshinin’ day
Yeah, hey, it’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day

Por Jimmy Cliff

Ao observa-la a dormir, sentia sua serenidade e beleza amena. Não se sentia mais só, e lutava para não a despertar com beijos, fazendo uma vigília de deleite. Ela ali a seu lado, frágil mas protegida, enroscada em seus braços, sentindo a sua respiração quente e profunda, o pulsar do seu coração tão próximo era um quadro petrificante de emoção e êxtase. Talvez não merecesse ser tão feliz naquele momento tão íntimo com uma mulher tão deliciosa.
A sua mente cavalgava pensamentos de ternura e felicidade, trotando sem resquicios de sono na luz do amanhecer que furava através das janelas do quarto. Desejava que a manhã não avançasse até ao momento do acordar em que se separariam rumo a um quotidiano diário que agora significava um ciclo de separação insuportável até à próxima noite. Queria que a noite fosse eterna, uma noite sem fim dos amantes.

Sonhos Urbanos

Apesar de incorrer no pecado de utilizar chavões estereotipados, não deixo de afirmar que a experiência da vida é uma aventura que só se atinge o objectivo, passando por um longo percurso de tentativas e erros. Erros esses que nos fazem aprender, a melhorar, a ser mais lúcidos e maduros.

Bater com a cara na porta e uma lição que dói, mas é uma lição necessária. Sem o erro, o logro, o insucesso, não somos capazes de acordar do país dos contos de fadas e procurar na profundidade do nosso ser o melhoramento e o rejuvenescimento necessários para que não nos tornemos em algo de oco.

Nem tudo são rosas, mas também, nem tudo são espinhos. Por cada prova de obstáculos, vislumbra-se uma meta e um pódio que nos aguardam. E por essa meta, onde todos que a cruzam têm medalha, vale a pena correr.

Se por um instante Deus se esquecesse
de que sou uma marioneta de trapo
e me oferecesse mais um pouco de vida,
não diria tudo o que penso,
mas pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas,
não pelo que valem,
mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais,
entendo que por cada minuto que fechamos os olhos,
perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os outros param,
acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam,
e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate!

Se Deus me oferecesse um pouco de vida,
vestir-me-ia de forma simples,
deixando a descoberto, não apenas o meu corpo,
mas também a minha alma.

Meu Deus, se eu tivesse um coração,
escreveria o meu ódio sobre o gelo
e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh
sobre as estrelas de um poema de Benedetti,
e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas
para sentir a dor dos seus espinhos
e o beijo encarnado das suas pétalas…

Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida…
Não deixaria passar um só dia
sem dizer às pessoas de quem gosto
que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem
que é o meu favorito
e viveria apaixonado pelo amor.
Aos homens provar-lhes-ia
como estão equivocados
ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem,
sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar!
A uma criança, dar-lhe-ia asas,
mas teria que aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens…
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha,
sem saber que a verdadeira felicidade
está na forma de subir a encosta.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta
com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai,
o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um homem só tem direito
a olhar outro de cima para baixo
quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês,
mas não me hão-de servir realmente de muito,
porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer…

Autor anónimo erradamente atribuido a GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

Normalmente ão seria tão difícil acordar de manhã. Mas a história repete-se, nesta altura do ano. Deve ser o meu ritmo biológico a entrar no seu costumeiro ciclo noctívago ou algo semelhante.
Apenas me apetece dar um tiro no despertador que berra solitariamente durante uma hora. E só quando se finalmente este se cala, dou por mim atrasado e desperto a contragosto, ainda a praguejar que sonhava erradamente que era Sábado.

O meu calendário mental nunca se acostumará ao fim da Primavera. Deve ser defeito de fabrico com certeza.

Estou descontente com o meu próprio corpo por me deixar absorto e quase incapaz de reagir ao que me é proposto e desejo fazer. Tenho uma urgência anormal em tentar repousar ou dormir que depois se traduz numa mera apatia de tartaruga, que me enerva a ponto de sentir raiva das minhas carnes e dos meus ossos.

Desejo recuperar o “pique“, melhorar a forma física, voltar a voar como um anjo sem asas, deixar o vicio degradante do tabaco que me tolhe os pulmões e a auto-estima. Desejo não mais acordar cansado, não mais transpirar sem razão aparente, saciar-me mais casualmente sem necessidade de carne assassinada.

A minha saúde foi descurada durante demasiados anos, assim como os meus neurónios submetidos a duras provações e afogamentos em gin tónicos desmedidos e mal servidos. Agora que não posso reviver a energia da juventude tenho que me contentar com o minimizar dos estragos nas veias, arterias, pulmões, pele, vista, ouvidos, coluna, articulações, coração, mas essencialmente na alma, para que se mantenha jovem mesmo quando as rugas e o cabelo grisalho (ou a falta dele), assim como os carnes descaídas sem músculos forem o meu habitat físico.

Em breve começarei, um tardio mas exigível, plano de recuperação da fachada e ruínas deste edifício, antes que a fadiga estrutural ameace toda a contrução de derrocada.

Hoje adormeci. Deveria ter acordado a horas, como uma pessoa responsável e empreendedora, capaz de despertar sem despertador, pulando da cama energéticamente e sem hesitações. Mas infelizmente não sou assim e maltrato-me psicologicamente todas as manhãs, na vã tentativa de me convencer que hoje vou para a cama mais cedo e amanhã e irei acordar meia hora mais cedo. Assim teria um pequeno almoço regrado e saudável, até suficientemente languido antes de entrar no carro e pacientemente enfrentar o trânsito de forma resignada e serena, como um pequeno obstáculo do dia-a-dia.

Mas não. Eu tinha que ser aquela pessoa que tem uma poderosa cola entre a face e o travesseiro durante o período matinal, e que apesar dos berros estridentes do rádio-despertador sem tons baixos, aprecia um minuto extra entre os lençóis. Depois dá-se-me um rebate de consciência e salto da cama a contra-gosto, já num atraso desesperante. Depois corro para o banho, corro para a cozinha, corro para o quarto, corro no carro, parecendo um maníaco da estrada sedento por galgar os asfalto, circulando na faixa da esquerda.

Hoje foi diferente. Fiquei fulo, mas não me maltratei com esse atraso. Senti-me mal por ter falhado em algo que eu não suporto falhar, ou seja na pontualidade e responsabilidade, mas apesar de tudo, não senti aquele aperto e ansiedade de no íntimo me auto-fustigar num misto de revolta e frustração. Fiquei calmo, como se de certa forma tenha já estabelecido intimamente que não é a correr que se vai agarrar o que se nos escapa, arcando as culpas conscientemente, entregando-me a uma penalidade sem esbracejar.

Apraz-me pensar que de facto alterei já parte da minha consciência, assim como me tinha proposto, mesmo que de forma inconsciente. No meu interior não está sempre um vulcão em erupção como dantes, expelindo lava convulsivamente, mas sim um rio com rápidos, cataratas, mas também com águas serenas e que faz a sua caminhada orgulhosa até ao oceano.

Essas águas correm lentamente no leito do rio, às vezes mais turvas e rebeldes, às vezes quase estagnadas, fruto de uma percepção mais atenta, mais focada para um quadro mais grandioso, do que para um pormenor cuja importância foi excessivamente infeccionada. E tudo se deve à luz que sinto, que brilha cada vez mais forte e faz-me contemplar o que realmente tem importância.

A fatalidade nada fatal de sentir que um Destino mais forte me arrebatou para um patamar de luminosidade interna, deixa-me arrebatado, pensando que afinal talvez, tudo esteja escrito, que tudo tivesse um sentido que não nos cabe a nós perceber.

Mesmo quando nada parece estar no seu devido lugar, num amplo caos sem significados, até um bater de asas de uma borboleta, pode desencadear todas as metamorfoses e condicionar um caos que afinal se desmonta num emaranhado de traçados intencionais muito precisos.

Como se eu fosse levado para um sétimo céu abraçado a um anjo que me transporta de amplas asas, transbordando amor, sinto-me leve, quase incrédulo, como se tratasse de um sonho do qual não queremos acordar, rumo à luz. Afinal o Caos tinha a causalidade que escapava a nossa cegueira. Ou talvez a causalidade seja tão complexa que nós assusta pensar que exista uma razão, ou uma lógica por detrás dela, prefirindo acreditar num Caos anárquico.

Sentir que paira sobre mim uma benção muito rara, como que se todo o puzzle existencial se resolvesse quando se encontra aquela peça que faltava, ou que teimava em não encaixar naquele enigma. Por fim as cortinas abrem-se um pouco e deixam antever muitos mistérios, muitas formas escondidas, muitas vontades veladas, que agora à luz podemos olhar e tentar perceber.

As manhãs de Verão que se transmutam, com nuvens cinza e chuviscos tímidos, são para mim muito pesarosas e tristonhas. Reflectem um acto falhado do calor, como se o Verão fosse impotente, incapaz de concretizar o seu amor.
Guio-me pela luz, ardente, cálida e ofuscante de um sol radiante. Faz parte de mim, o rush da luminosidade do amanhecer, forte e intensa, quase ferindo a vista na sua horizontalidade, muito embora praticamente só o veja nos dias que ainda não fui à cama.

Acordar sobre o manto do astro-rei é sempre o prenúncio de um dia de boa disposição, de um cérebro alimentado logo cedo de estímulos luminosos, satisfeito, farto quando ainda estava recrutar neurónios para as funções matinais. A luz é a minha pastilha. Li algures que à indivíduos que sofrem de uma maior sensibilidade à luz. Algo a ver com uns enzimas que o cerebelo produz, assim que a retina lhe traduz a existência de raios solares. É um acordar do lagarto primordial que há em todos nós. Possivelmente sou demasiado lagarto para ter agilidade numa zona com um número meramente razoável de horas de insolação. Talvez necessite de procurar um novo habitat, onde o Sol me queime com os seus raios constantes e não fugidios.

Este fim de semana passou depressa como todos os fins de semanas, mas foi muito especial e cheio de supresas. Acho que só foi ensombrado pelo mau acordar de J. que ultimamente tem tido atitudes incompreensíveis que me têm magoado muito.

Custou-me faltar aos anos da minha amiga ex-colorida, mas afinal tinha uma óptima desculpa…

As decisões difíceis que se multiplicam neste início de semana são daquelas etapas e barreiras que as nossas vidas atravessam nos pontos de viragem.

Gosto tomar decisões e estar em controle da minha vida. Algumas raras vezes fui impulsivo, pois como psicótico que sou pondero tudo, mesmo as razões menos lógicas…
Desta vez custou-me chegar a uma conclusão: consumi-me a ponto de hesitar e adiar qualquer decisão.

Odeio-me por isso!

Mas existiam razões de sobra para me desculpar e ser aparentemente fraco – estas envolvem alterações profundas e certamente irreversíveis.

Se já é mau acordar cedo é ainda pior assistir a um episódio do Luís de Matos que para cumulo é repetido. Parece ser um mau preságio para a semana que começa.