NO STRESS pós-traumático 4 –


4 – Breve consideração sobre peregrinações

Hoje acredito cada vez mais na necessidade da nossa cultura ocidental ter alguma forma de escape. Uma das mais em voga nas últimas décadas traduz-se no chamado Turismo, no viajar para destinos longínquos onde a grande maioria dos locais que possam parecer familiares, pura e simplesmente não existem.

Talvez a nossa rotina não seja assim tão infernal, nem o nosso lugarejo seja assim tão desinteressante.
Contudo lá longe (seja lá onde for desde que seja muito longe) existe o Efeito Peregrinação, uma diaspora, onde os nossos laços e raízes são decepados temporariamente, e toda a nossa existência se pode resumir a preocupações perfeitamente mundanas, ao estilo de “onde se vai jantar hoje”, ou “amanha podíamos ir visitar aquilo”. Gostos, cheiros, odores e cores novas violam o nosso cérebro, e turbinam a mente para um estado de consciência alterado, onde o tempo não tem que ser contado ao minuto, nem existe o perigo de sermos triturados pelas máquinas centrípetas da vida nas grandes cidades. Coexistimos e tentamos sobreviver na urbe, numa sociedade de formigueiros de Q.I. elaborados, onde subsiste a ilusão que a nossa individualidade é superior às directivas comportamentais da colónia “humana”. Mas em peregrinação, a urbe está distante e a formiguinha volta a ser um ser com capacidade decisória e em total independência em relação à ditadura do formigueiro.

Mas ao lado dessa perfeita inutilidade e futilidade das férias, o efeito peregrinação dá-nos um entendimento muitas vezes não consciente de que a nossa vida poderia ser muito diferente sem grande esforço. Como se numa viagem tomássemos finalmente conhecimento de que seriamos capazes de mudar e ser algo ou alguém distinto, enfrentando com prazer e sucesso uma aventura completamente desigual, um novo desafio para o qual não estávamos preparados, mas que podemos finalizar com toda a satizfação e resultados brilhantes. Como se fossemos um actor e nos dessem um papel completamente diferente para a mão, e a peça com data de estreia para hoje a noite. O interessante é que provavelmente seria a nossa melhor interpretação de sempre, com direito a ovação de pé de um público rendido ao nosso génio.
Mudar de papel na peça da vida, ou levar a cabo um jornada que nos ilumina de certa forma, não é totalmente imperioso para que sejamos mais felizes, mas pelo menos ajuda.


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