Questiono-me muitas vezes se serei muito excêntrico. A verdade é que nas duas ultimas semanas, tenho me comportado como tal, em especial, durante o fim-de-semana. N. tem dado o mote de um desenfreado gosto pelo descontrole e alienação noctívaga, que passam rapidamente da euforia para a culpabilização após os pecadilhos cometidos. E assim se eu ponderar bem, apesar de o acompanhar como amigo que o ampara, qual anjo da guarda, também sei que a minha vontade não é forte pois quero partilhar essa necessidade de alienação e busca pelo desenfreado e ilusório ao ritmo em que não existe um amanhã.
Não admira que me tenha colocado numa posição de xeque-mate, oferecendo a Dama e deixando o Rei sem fuga possível, ao tentar fazer de um misto advogado do Diabo, cruzado com Grilo falante, e simultaneamente gozando cada momento dessa vida desenfreada. Se a minha vida neste momento esteja tão repleta de paixões intensas é também verdade que tenho o coração tão partido, e tantas vezes colado com cimento-cola que o meu autocontrole está a dar de sí.
Creio que será essa a síndroma da falésia: sei que é perigoso caminhar pelos precipícios da falésia; aviso todos desse perigo, mas contudo o fascínio e a beleza dessas falésias e das ondas rebombando nas rochas escarpadas é tão imenso que somos atraídos por um magnetismo irresistível. A vertigem é um alento e também um suicídio. Dar valor à vida e agarra-la com todas as forças e pelas mesas razões saber que a posso perder devido aos riscos que saboreio.
O segundo síndroma é o do Guru. Não creio que quando a minha chama se apagar me vão oferecer um par de asas ou um halo. Apenas sei que me comporto com uma exasperante lucidez e iluminação. Não sei se é ilusória, mas as pessoas até me dão ouvidos, e dou por mim a ter rasgos de sabedoria, de imagens de equilíbrio e vomito palavras de conforto e esperança. Não é que não as sinta profunda e sinceramente. Mas o facto é que as tento transmitir, compelido e motivado por algo que me é mais forte. Não sei se será mais um belo sinal de maturidade, ou se é apenas um irritante tique da alma. O facto é que M., N., I., Ju, So., J., A. entre outras pessoas que me são queridas ouvem de mim palavras profundas e me sinto como aqueles seres de éter que sussurram ao ouvido dos seres humanos palavras de conforto e esperança e animo. Uma imagem como as Asas do Desejo de Wim Wenders, em que a realidade de vários planos de existência se confundem.
Estou sereno e contudo energético. Cansado e com endurance acrescida. Envelhecido e mais jovem que nunca. Desmoralizado e confiante.