Agosto 2001

Há sempre dias loucos

Aterefados e estranhos. Sem energia mais entusiasmado… ou não? Não sei estou confuso
Pergunto-me se afinal tudo não passa de uma ilusão vinda dos sonhos tipicos de quem está cansado.

Apesar do domingo ser chuvoso a sábado à noite foi inesquecível. Faz tempo que não fazia uma noitada com o recente ilustre dentista de Valongo, famoso por ser mulherengo e fazer muitas filhinhas. Afinal estávamos em forma fazendo lembrar os bons velhos tempos de long nights and fast girls. Mostramos estar ainda aí para as curvas apesar das exigências típicas de Caminha já obrigarem a um nível pouco próprio para a nossa idade. Está na altura de ter mais juízo!
Ego e algo mais massajado eis que chego a casa as 7 da matina num sol aborrecido de ferir os olhos, depois de galgar kilometros enquanto o diabo esfrega um olho.

Exausto contemplo um Inverno digno de um castigo divino por um sábado bem passado – um domingo de tempestade. ò tempora , ò mores.

Na semana passada sofri algumas bofetadas da vida e a véspera de feriado à noite salvou-me repondo a minha perspectiva da vivência que levo na grande cidade. As aparências iludem e essa é uma das grandes constantes da vida. Felizmente há uma coisa chamada destino que sempre nos surpreende e contra a qual nunca valeu a pena lutar. Apenas navegar à vista mas nunca esquecendo que por muito contraditório que pareça – o destino somos nós que o fazemos… Psicótico não? Bom a vida não é “bem preto no branco”. Está cheia de tons cinza…

J., M. e o seu primo tiveram umas férias galegas embora chuvosas. Mesmo assim senti inveja por aqueles tempos de lazer, na borga de anos anteriores.

Vi de novo minha velha amiga colorida dos Verões de praia. Está diferente e muito carente… Mais mulher e mais serena. Conversamos um bom par de horas e quase caía em tentação graças aos seus dotes. Prefiro para já uma amizade bem a preto e branco pois os problemas que me trouxe no passado foram um osso duro de roer. Só de lembrar até me faz dores de cabeça. Isso deixou-me receoso, e felizmente fugi para a tal noite lá do norte que se vem tornando hábito de ser cheia de surpresas. Algumas boas como ontem e algumas más…

Ando sem tempo. É Verão e estou muito aterefado. Dentro em breve com ligação a partir de casa pode ser que seja mais simples

O feriado começou com uma enorme ressaca como seria de esperar. Visitei a minha tia e a minha avó num almoço ajantarado que me empantorrou.

Foi um dia importante com um passeio pela linha ao entardecer que me recarregou a alma.

Meu mano teve que cancelar a sua viagem até à grande cidade. Fiquei triste
mas em compensação a minha mana vai jantar comigo. Antevejo as ruas da amargura deambulando com bastante suco de Baco nas noites do B.A. com B e Ch. Espero que E. e Ma. também possam ir. Vai ser cool to say the least

Lavar pratos é uma actividade servil mas recompensadora. É quase estúpido dizer que me relaxou. Pena é ter demorado até às 2 A.M.

Nova semana começa prometendo um Jantar já no ninho.

É estranho que qualquer rotina entranha-se em nós ao fim de pouco tempo, apesar de sabermos que não vale a pena ganhar o hábito. São tarefas que se repetem dia após dia e que vão tomando conta da nossa consciência a ponto de nos comandarem.

Estou sereno e calmo como desde há muito tempo não estava. Já nem me lembro da última vez que na minha vida apareciam tantas encruzilhadas e atalhos e o caminho se tornava tão tortuoso. Apesar disso os meus horizontes estão mais alargados e não peco por me aborrecer com as trivialidades ou obstáculos. Eles existem, estão lá mas não me perco a hesitar e a temer o caminho que vou pisar.

Há sempre luz ao fundo do túnel e estou a beber as minhas recordações do Ceará, crescendo de dentro para fora, sendo mais pleno, mais equilibrado, mais forte.
Li algures que ”o teu pior adversário és tu mesmo” – nada é mais verídico hoje.

Meu irmão vem da ilha das bananas e dos cubanos amanhã por um curto espaço de tempo. Vou poder vê-lo depois de três meses de saudades.

Uma vez escreveu-me uma frase que me abalou numa altura que eu estava prestes a ceder à loucura:

Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades mas não estará só.

Calmo e com uma pitada de praia q.b. era assim que eu desajava que fossem sempre os meus fins de semana.
Infelizmente quase que me dá RAIVA sabendo que J. , M. e o seu primo vão numa expedição de uma semana até às Asturias e este ano terei de faltar devido aos meus novos compromissos.

Porque é que o Pendurado me persegue? Felizmente a Força e a Estrela dominam num campo de espadas.

Quero falar com X hoje

Sinto que hoje vai ser uma correria…

Será que é desta que perco o pendular?
Tanta coisa para fazer e tão pouco tempo … e viva o stress e os enfartes!!!

O ninho toma formato, infelizmente só à custa do suor dos meus room mates. Nas traseiras Bob adormece melancólico mas compreensivo.

Só ontem reparei no quanto belo é o panorama das traseiras. Um verdadeiro cenário dos Jardins Suspensos da Babilónia que sobem a encosta íngreme empequenas gavetas com arvores diferentes e até exóticas. Antes as minhas vistas eram mais ao gosto de um voyeur do que de um psicótico. Agora vou poder dar deixar a minha imaginação fluir e viajar no passado respeitando os deuses-demónios. Lembrar-me de luxúrias já vividas de esravatura e de sacrifícios. Vou poder recordar-me de quando fui um semi-deus com poder sobre a vida de outros desgraçados com fome de sangue.

Bom vou-me embora que se faz tarde. Amanhã é sexta e já se recupera o animo …

Vou dar uma de psicótico para as ruas…

Atchimmmmmmm

ups .. isto tá mau… vai o terceiro Cegripe.
$$$$$$ ? Só mais tarde

Ontem foi um dia particularmente subterrâneo. A grande cidade reservava-me os prazeres do metropolitano, numa estação particularmente clara e hospitalar em que as escadas-rolantes vomitavam gente da sua garganta sem fim.

O Metro tem um fascínio particular sobre mim. As profundezas da terra transformam os vulgares citadinos em toupeiras mutuantes que transpiram medo e suam trabalho e pressa. O ambiente artificil da claridade falsa denota o espirito intemporal onde é sempre noite e tudo e todos estão em transito, indo para algum destino qualquer – qual o teu destino estranho?
Para onde vais e de onde vens?
Quem és tu que olhas para mim?

O time warp entre as estações é um vazio sem luz e sem lembranças.

No Bairro alto E. Ma. B. e C. estavam uma companhia exemplar apesar de batermos à porta de locais fora dos roteiros tristes. Foi divertido e uma novidade onde o alcool sangrou claro e doce…

A saudade e dúvidas apertam… A irmã falou-me nas suas esperanças renovadas que já não eram sem tempo. As curvas acabaram e estamos a chegar à recta. Seu esposo já tem raíz defenida e o Capuchinho Vermelho rui e sorriu.

Infelizmenet o meu nariz está como uma comporta cheia alheio ao tempo de Agosto. A minha cabeça estoura e o lenço é uma ferramenta de de trabalho…

A azáfama é diária e logo pela manhã chegam. São incansáveis e tentam fugir à miséria do país em que nasceram, uma pátria distante em que eram doutores que pedinchavam a sua sobrevivência e sentiam a fome nos estômagos dos filhos.
Aqui não são ninguém, quase inumanos, servindo como mulas de carga mas que ganham o sustento de toda a sua família para que não passem fome. Sonham em trazer a sua esposa e filhos quando juntarem mais umas centenas de contos que lhes sai do suor do parco salário que lhes pagam.

Fico espantado na quantidade de gente que se dá ao luxo de se passear. Passear na Net, na cidade, na praia , nas estradas…

Afinal… sinto inveja.

Estive novamente naquele santuário observando dois rebentos que chutavam a bola enquanto a gretada avó os guardava. Eram felizes… Ali o tempo não me toca e o espirito recarrega de sonhos e esperança o cigano malfadado.

Felizmente há amigos com que podemos contar. B. é um deles. Ma. e E. ainda estão grogues e Bob andou a assustar a vizinha.

Falei com a minha mana e o meu cunhado. Realmente as coisas estão a ruir como um castelo de cartas. Apesar disso é bom ouvir vozes amigas.