2009

Nestes tempos tenho andado a devorar livros. Reencontrei o prazer de ler, e ler com ânsia, como na minha adolescência.  Alguns livros excelentes, outros nem por isso, mas a minha fome parece insaciável. O problema é que os livros são caros e tenho que atacar livros de segunda escolha e estavam esquecidos na estante.

Não obstante estar a ler livros de segunda escolha, tenho me deliciado com algumas agradáveis surpresas literárias. Agora preciso de algo pesado e arrebatador. Talvez um Henry Miller ou  Chuck Palahniuk. Para a cabeça. 

O regresso de férias é sempre um processo traumático que no meu âmago tem sempre o mesmo impacto aterrador. Talvez eu mereça o epíteto de preguiçoso ou mandrião, mas há uma boa meia dúzia de anos que voltar ao trabalho não é motivo de alegria. 

O síndroma pós férias, actua logo nos primeiros 5 minutos da chegada ao local do trabalho, onde uma dose de realidade e rotina nos atingem em pleno recordando-nos de que ganhar o pão não é fácil.  Desta vez não foi diferente. Doeu.

Faz um par de meses que estive na cidade eterna. Confesso que como amante de História visitar Roma, mesmo que de rompante, mexeu com os meus alicerces de conceitos e percepção do que é a Humanidade, a Moral e a Ética. A cada esquina à a sensação de total esmagamento face a monumentos tão sumptuosos e que se perdem na raiz dos tempos.

A expressão umbigo do mundo tem de facto alguma razão de ser, pois ao fim ao cabo, toda a civilização ocidental está baseada nos princípios culturais judaico-cristãos que estão ali explicados, pedra após pedra. A forma como os romanos deixaram as suas marcas e como acolherem uma religião escolhida e polida por um dos seus imperadores diz tudo do que foi o poder, que ainda emana apesar da decadência prestada pelos séculos. A caducidade do Vaticano, permanece apoteótica e ostensiva em cada esquina. Cada igreja pavoneia incríveis obras-primas de dois mil anos até ao século XIX com a mais perfeita desfaçatez.

Senti-me como oprimido com todos os recantos da Roma antiga grafitados por nomes de papas e cardeais que tentaram imortalizar os seus nomes em todos os monumentos à imagem do que os imperadores romanos faziam. As custas de fortunas recolhidas pelos crentes ao longo de séculos, sustentando uma opulência desmesurada dos chefes de uma igreja. Curiosos que existem passagens nas escrituras onde taxativamente não são bem-vindas riquezas e ostentação. Mas o gajo dos sapatos vermelhos e que sabe e manda. Isso abalou-me. Fez-me sentir roubado e expropriado de uma fé, algo franciscana, algo que em Roma não se pode nem deve procurar. Apenas se pode ficar triturado perante o peso e beleza dos palácios, dos obeliscos e das colunas. E gostei. Explicou-me muito do passado.

Aproxima-se o Verão e com ele novas etapas. O mundo muda e a vida acontece quando tentamos racionalizar um pouco o nosso meio , talvez por isso exista um permanência um lag , uma dessincronização, entre a nossa capacidade de interiorizar os acontecimentos importantes da nossa vida e actuar de acordo quando ocorrem novos eventos. Por isso considero que cada vez mais a vida tem que ser instintiva o mais possível e não planeada segundo valores pré definidos.

Talvez por eu ser uma estranha simbiose entre um romântico encartado e um filosofo de trazer por casa, gosto de aliar conceitos inverosímeis – como encontrar alguma lógica nos comportamentos humanos e simultaneamente defender a paixão de Viver. Porém quando me dou conta, construo uma manta de retalhos de concepções e hipóteses de fundamentos. Isso leva-me a acreditar que muitas ideias que vulgarmente considerava imutáveis são de facto castelos de cartas e que segundo um filosofo ancestral – Sócrates – nos devemos colocar como eternos aprendizes.

A mutabilidade da vida parece ser a única constante da existência. E isso demora a ser apreendido. E este Verão quero aprender muitas coisas sobre a vida, nas aulas do bem lindo rebento.

  • My baby 50mm 1/4 has departure from inward office of exchange at Lisbon after 4 days and 6 hours of intense customs commissioner examination #
  • I got the morning blues #
  • Memo: assaltar banco, torquiar gato. Muito trabalho! #
  • Memo: assaltar banco, tosquiar gato! Qual a tarefa mais difícil? #

  • My baby 50mm 1/4 is in Japan. Come to daddy! #
  • A minha cabeça parece que vai explodir! #
  • My baby 50mm 1/4 iarrived at inward office of exchange @ LISBON! Awaiting presentation to customs commissioner!!! I´m f$&/!$#! #

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca

Mário Cesariny

O tempo é escasso, um pensamento constante inevitável a quem já ultrapassou a casa dos 35. Mas a raridade actual de momentos disponíveis não se deve há idade ou à rotina. Deve-se antes ao facto de estar a Viver a vida

Março é sempre o meu mês e 2009 pautou-se por um Março verdadeiramente apoteótico digno dos anais da história – aniversario da princesa, ficar um ao mais velho, dar o nó, viajar até a cidade eterna, mudar de casa- algo que não conseguiria repetir nem que tentasse. 
Feliz e com tempo escasso.