2023

Há dez anos atrás a inteligência artificial era algo ainda do campo da ficção científica. Hoje porém a IA já faz deepfakes com dois cliques do rato.

É então estamos pensar que provavelmente metade dos conteúdos introduzidos diariamente na internet são produzidos com uma mínima intervenção humana. O ChatGPT por exemplo na sua actual versão gratuita é capaz de mimetizar textos complexos como se tratassem de autores famosos graças a um par de frases curtas de comando. Assim estás linhas que agora escrevo seriam quase impossíveis de distinguir entre o que eu teclo ou o que um programa estatístico é capaz de debitar.

Estamos numa época de mudança. Atualmente a inteligência artificial está já desenvolvida o suficientemente para apresentar textos que dificilmente se distinguem dos textos escritos por um humano. E isso com o acesso a essas ferramentas de escrita de uma forma simples, acessível e já massificada através de serviços como o ChatGPT ou o Bard. 

Assusta-me por isso que talvez num futuro próximo a criatividade da escrita humana se possa reduzir a uma mera série de comandos de meia dúzia de palavras que serão o suficiente em teoria para reescrever uns novos Lusíadas em 15 segundos.  Será que o leitor notará qualquer diferença sobre a alma do autor? Talvez não. Porém creio que o perigo está na normalização da temática. No fundo neste momento a inteligência artificial se resume a compilar enormes quantidades de textos e estimar qual o texto mais apropriado para responder.

É preciso compreender que inteligências artificiais não estão de facto a criar. Quando muito estão a remixar temas e conceitos e não a buscar nada de novo. Estão a compilar os resultados de uma pesquisa, recorrendo a uma colossal memória de sequencias de palavras e apresentando-as de uma forma que o algoritmo estipulou.

Por isso não há nada de novo no horizonte. Há tão só uma poluição absurda, um débito obsceno de textos publicados, ou talvez melhor dizendo, vomitados na Internet por esses robots. Vi numa notícia que se estimava, se a memória não me engana que 90% dos textos publicados online no corrente ano não foram digitados ou ditados num computador, mas sim fabricados por intermédio de um destes robots.

Nada existira de sentimento nesta escrita, a poesia será por o derradeiro um fingimento literal baseado no nada e tão só de sequências estatísticas e probabilidades.  A alma da prosa inverosímil deixa de existir, passando a haver textos plastificados, uma espécie de literatura junk texts. Vamos provavelmente viver numa globalização artificial do pensamento, em que o algoritmo utilizado nas IA trouxe para a mediania toda a leitura e pensamento.  E eu qual dinossauro excelentíssimo, escrevendo palavras ao vento como um D. Quixote.

A vida está repleta por altos e baixos, de momentos de excitação ou apatia, de alegria ou tristeza e também por saúde ou doença. Na verdade, essa montanha russa que chamamos viver é uma inconstante viagem de boas e más emoções que se vão sucedendo. E tudo sem que consigamos compreender a normalidade desta inconstância.

Quando adoecemos ou envelhecemos ou a quando as vidas profissionais ou amorosas se desmoronam julgamos que isso tem algo de anormal. Mas muito pelo contrário, nada de existe de mais normal.

E é nestes baixos da vida, em que parece que nos foge o chão que pisamos que podemos realmente vencer. É aí que surge a oportunidade de ter alguma sabedoria e refletir sobre o que realmente importa na vida e como é normal ganhar ou também perder.

Podemos sentir-nos perdidos e desanimados, mas é imperioso lembrar que sempre há luz no fim do túnel (seja ele qual for). A luz pode sempre surgir na mais profunda escuridão, estar ao virar da esquina da dor e do desespero.

À medida que os anos e décadas passam, temos que lembrar que esta vida é bela e cheia de surpresas. Que por muito negro que esteja o céu haverá sempre um silver lining. Não importa o quão sombrio possa parecer o momento atual nunca devemos perder a no futuro. Há luz depois.

Então, encontremos a luminosidade em nossas vidas e compartilhemos essa luz com os outros. Afinal, a verdadeira felicidade está em dar amor e esperança para aqueles que nos rodeiam, sem pedir nada em troca. A verdadeira felicidade é dar e não ter. É a gratidão. É a partilha.

Não devemos desistir de encontrar essa claridade na nossa vida. Através de relacionamentos saudáveis e de experiências enriquecedoras há a verdadeira luz. E momentos de gratidão. Afinal, a vida é uma jornada, e a “luminosidade” está sempre ao nosso alcance.