Não vou ser pretensioso e falar de Edward Albee, nem de um filme com Richard Burton e Elisabeth Taylor. Mas algo tem um cheiro fétido na sociedade portuguesa: desde tempos imemoriais que todo o português que se preze tem o triste hábito de tecer comentários e críticas, mesmo quando estes não lhe são pedidos, ou não têm qualquer tipo de cabimento possível.
É um estado de permanente na nossa cultura, funcionar numa atitude de analistas inveterados, de uma clonagem de Nunos Rogeiros, de peritos ultimados à última hora, ou de treinadores de bancada, Misters incompreendidos. Não que me importe, pois também eu sou parte do aculturamento português da maledicência ou do sentido crítico acutilante, justo ou injusto. Mas o busílis da questão é a aceitação das críticas e a sobrevalorização que se dão a estas no nosso país. Parece que a opinião dos outros é o motor de tudo daquilo que fazemos e vive-se por cá como uns meros autómatos que necessitam do feedback do controlo de qualidade para produzir novamente. É ridículo aceitar que não façamos as coisas por prazer, ou por mera vontade ou necessidade, mas sim com o intuito de agradar a alguém.
Quando escrevo este diário de um militante não estou a considerar sequer que alguém vá ler esta porra. Trata-se de um diário de bordo sobre imagens, momentos e pensamentos mais ou menos desinteressantes do meu quotidiano, aborrecido e fastidioso quanto baste. Mas não o escrevo para ninguém, excepto para mim mesmo. Posso eventualmente ter feito isso no passado, em que utilizava esta via para comunicar, mas hoje é só um mero meio de largar vapor e de tentar visualizar-me no intimo num espelho psicótico e destorcido em muitas ilusões e metáforas, factos imaginários, que provavelmente só eu os decifro. Tal vez por isso se chama “Psicótico – o diário de um meliante“!
Quando escrevo aqui não pretendo estender-me a analisar o filme XPTO, ou comentar sobre o estado da nação, da economia, ou da política. Isso são inutilidades que o tempo apaga, opiniões voláteis iguais a tantas outras. Conversa de café ou de autocarro? Isso faz-me lembrar as criancinhas da primária a levantarem a mão excitadas a dizerem a professora : – “Eu sei, eu sei!“. Posso cair na hipocrisia de comentar as minhas saídas fortuitas na nigth life, dando um assaz quadro de futilidade, mas isso provavelmente porque tenho uma vida fútil. Contudo isso dá-me prazer, e porque não deveria descrever o que me dá prazer? Já me basta prescindir de descrever a minha vida intima, (se bem que a ideia até seria curiosa), para ser algo visto como redutor. Não falo aqui da minha dualidade, do meu emprego, nem do meu dia-a-dia simplista ou mais complicado. Falo de algumas emoções que me atormentam ou me fazem feliz. Escrevo sobre banalidades, de filosofia barata, de viagens, esperanças e confusões. Mas não escrevo para ninguém em particular, se e que escrevo…
Provavelmente uma das personagens mais fulgurantes e lúcidas que Portugal teve nas últimas décadas deverá ter sido João César Monteiro, que utilizou o seu desprezo convenientemente, com frases basilares como “Quero é que os críticos se vão …”.
E pronto não quero voltar sentir esse clima maligno e negativo. Ao fim de contas gosto muito daquele ditado:
“Vozes de burro não chegam aos céus”