grecia

Para espanto de alguns a Grécia capitulou. Afinal o Syriza  não tinha um plano B e teve que aceitar as previsíveis consequências de afrontar os credores nomeadamente a Fräulein Merkel.

Se à priori todos sabíamos que o governo grego estava encostado a parede com um garrote financeiro urgente, alguns indícios estranhos como a convocação de um referendo que colocou os prazos para lá do viável no que toca aos compromissos de pagamentos, pareciam indicar que o Grexit estaria à vista. Mas não. Entre a opção dos agiotas partirem as pernas por falta de pagamento ou pedir mais dinheiro emprestado para pagar as dívidas e aguentar mais uns meses ou um ano ou dois sem que lhe dêem uma coça, os pobres gregos capitularam.

Ao aceitarem mais medidas de austeridade, contudo, os gregos no seu interminável calvário, são mais uma vez o bode expiatório e a evidencia que a construção europeia está condenada. Empobrecer mais um país exigindo que pague o que deve não tem razão de ser, simplesmente por uma questão de racionalidade. Ao apertar a economia está-se a impedir que ela possa criar riqueza para pagar as dividas – e o aumento de impostos e todas as medidas de contração da despesa pública só vão conseguir que a Grécia dentro em breve não possa conseguir assumir os compromissos de pagamentos ao FMI e ao BCE  que terá de fazer no futuro.

Ao capitular  a Grécia apenas levou para as calendas gregas a saída da crise.  A Argentina não pagou ao FMI , entrou em banca rota e depois de um choque de dois anos e desvalorização do peso argentino tem uma economia florescente e está já a recuperar da crise em que se tinha afundado.  A Grécia presa ao Euro afunda-se cada vez mais e agora atiraram-lhe com uma bigorna para se agarrar.

No rescaldo do referendo grego acerca da aceitação das medidas de austeridade impostas pelos credores o povo grego decidiu dizer não.
Cinco anos depois do primeiro plano de assistência financeira e medidas restritivas da economia a troco de financiamento a Grécia mergulha no desconhecido. O default de um país da zona Euro, impensável quando se idealizou o Euro é já ao virar da esquina.

As crises económicas que se têm avolumando na última década para os países periféricos e do sul da europa são parte das causas que levaram a este colapso da construção europeia. Porém a grande responsabilidade não reside só nas más práticas governamentais desses países mas também e em grande parte na falta de responsabilidade e visão dos grandes motores e potências da europa e dos seus grandes responsáveis. A ditadora Alemanha de Merkel, a ausente França de Hollande e o antieuropedista Reino Unido de Cameron não têm equacionado reformas urgentes na comissão europeia, onde cada vez mais os países nortenhos têm economias pujantes ao passo que as periferias se estagnam e marcam passo.

Dentro dessas reformas essenciais uma se destaca, nomeadamente a reforma fiscal de harmonização de impostos sobre os rendimentos, que deveria ter surgido a quando da entrada em vigor do mercado único e do Euro. Como se justifica que países como o Luxemburgo e Holanda atraíam empresas portuguesas para aí pagarem menos impostos deixando o país de origem com menos receitas?

É inexplicável como se deixa empobrecer um país em detrimento de outro e não se faz nada em contrário aí longo de uma década e se espera que tudo vasos funcionar.
Os gregos apegados com um garrote de impostos e desemprego disseram que já não ser revêem neste estado de coisas. Disserem oxi. E para quando um Não?

A crise do Euro aumenta e a possibilidade mais do que evidente que a Grécia vai sair do Euro é cada vez mais real. Graças a intransigência do FMI e dos governos europeus acerca das medidas de austeridade que querem impor aos gregos, os princípios  dogmáticas e políticos de parte a parte a parte levam rapidamente a construção europeia para a beira do precipício.

Uma verdade incontrolável  é que o abismo que se depara na Zona Euro não é o Syriza ter ascendido ao poder democraticamente por opção do povo grego, nem por ser de esquerda. É a incapacidade e miopia política dos lideres europeus, preocupados com ajustes orçamentais e contas de merceeiro e esquecendo na ultima década que a construção do Euro também se devia alicerçar na harmonização fiscal, um problema que todos quiserem varrer para debaixo do tapete. Os fundos de coesão são meros paliativos para a sangria e desigualdades económicas e sociais que se foram cavando.

Com políticas fiscais harmónicas, cada bandeira a saldos de impostos,  cedo ou tarde os pequenos e menos concorrenciais, tal como o Portugal sofreriam déficits orçamentais contínuos em direção a uma divida soberana insustentável.

Agora depois de um braço de ferro de gente sem grande visão de futuro a não ser o seu próprio umbigo nacional e eleições ao virar da esquina deixou-se arrastar até as ultimas consequências a luta do paga-o-que-deves-e-faz-favor-de-cortar-despesas e o já-chega-de-cinco-anos-de-sacrificios-para-estarmos-ainda-piores.

Talvez seja a altura da fuhrer Merkel, o palhaço Hollande, o Juncker dos paraísos fiscais, o Coelho amestrado e outros maus políticos perceberem que políticas econômicas restritivas não favorecem economias empobrecidas e têm danos sociais e políticos irreversíveis.

E assim que Tsipras faz hari-kari económico leva consigo a credibilidade posta nessa moeda em tempos chamada ECU e muito provavelmente consigo também os elos mais fracos da economia europeia – venha o PIGS que se segue…