sol




ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidade e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?

Eça de Queiros, 1867 in ”O distrito de Évora”


Habitualmente termino do Verão coloca-me num espaço de ansiedade e melancolia. Setembro some-se rapidamente e os dias encolhem passo-a-passo anunciando o fim do estio e o inicio da reentre do frio.

Este ano contudo o Verão foi atípico, aguentando-se de unhas e dentes por Setembro fora. Isso evitou-me aquele sentimento ríspido do início do Outono e de me sentir cilindrado pelas primeiras ausência de Sol.

Fazendo o balanço contabilístico dos últimos meses não posso deixar de considerar que provavelmente todas as erupções e descargas emotivas que me assombram constantemente, tornaram-se menos intempestivas. Como que se a alma estivesse já calejada de um fluxo de atribulações tão permanente que agora qualquer tsunami não passasse de um ligeiro ondular.

Qual homem-bala, presencio a minha personagem, como alguém que se habituou a ser cuspido de um canhão a 160 kilómetros/hora para gáudio da multidão num circo com uma assistência cada vez exigente. O perigo e as lesões tornaram-se um local comum tão habitual que cada disparo e mais um ribombar rotineiro do maior espectáculo do mundo.

luna roja
y en la radio la precisa melodía
proyecta tus arpegios endiablados
viejo Jim Morrison
arqueas la cintura
la sensualidad de tus labios
y entre filtros de peyote
y vasos de aguardiente
te diriges peligrosamente
hacia el fin
– enciendes el cigarro
alzas la copa de vino
y brindas por ti, por Blake
Artaud, tus oscuros fantasmas –
la mirada extraviada
el seco gemido
nadie entiende el descarnado alarido
que parte el cielo en pedazos
la muerte traidora danzando
sobre tu cuerpo
la soledad desnuda en medio del escenario
el baile indio

el suicidio anunciado

entregando en cada concierto
tu más rotunda agonía
rey de los lagartos.


E o mar bate na rocha repetidamente num entardecer frio. O mar insiste na maré que nunca acaba, seguindo o ciclo eterno até que a pedra fique areia.

A verdade é que tenho sempre muito medo. Mesmo quando fui um anjo sem asas estava com medo, quase paralizado de receio.

Ter medo não é sinal de fraqueza, antes pelo contrário, é sinal de inteligência e que se tem amor pela vida. Não acredito que alguém não tenha medo, a menos que tenha uma severa deficiência, ou tenha uma elevada tendência suicida. Não é natural caminhar despreocupadamente num precipício e ignorar o abismo, assim como também não é natural viver permanentemente com receio que o céu nos caia em cima.

A questão do medo é importante para percebermos até que ponto ele nos serve de protecção e até que ponto ele constitui um garrote que nos sufoca a mente, e não nos deixa seguir as fantásticas aventuras que a vida nos proporciona.

Quantas vezes deixamos de seguir os nossos sonhos porque temos medo de falhar e perder? Quantas vezes partimos derrotados porque o medo que sentimos foi demasiado e não nos deixou seguir a nossa aventura?
Creio que a solução é buscar um equilíbrio, onde não sejamos um stunt completamente descerebrado, nem um rato na toca.



Cloudy Day, original de QsySue.

Às vezes o céu azul está cinza e brilha esplendorosamente.

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
Ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Os dias não são mais iguais uns ao outros. Decididamente a minha vida sofreu alterações que permitem um novo desabrochar, uma nova consciência e todo um novo conjunto de objectivos. Nada como um novo dia de Sol brilhando lúcido e esplendoroso.

O tempo esse contínua a escassear, talvez mais do que nunca. Talvez seja só um percepção errada da velocidade com que o mundo faz o seu papel ao nosso redor, e que à medida que as nossas células cinzentas vão amadurecendo, a sua rapidez estagna a uma velocidade de cruzeiro, Além disso mais situações nos impedem de estar parados, e assim nada parece estar parado.

A vida hoje está dinâmica, 100 % de alterações, voltas de 360ºs . Felizmente.

Ampulheta

O meu tempo foi sempre demasiadamente fugidio devido a minha incapacidade de ter um saudável gerir do tempo. Sou sempre um descuidado e acelerado, deixando escapar entre os dedos sempre momentos e unidades de tempo preciosas que no meu espirito deixam a sensação de terem sido perdidas.

Cada vez mais tenho a ansiedade voraz e um apetite ávido por consumir cada segundo naqueles momentos mais importantes, como se houvesse um medo deles não se repetirem, ou não ter a hipótese de os gozar novamente. Esta sensação de não querer esbanjar o meu tempo de vida é também um perigo de na sofreguidão destruir o pleno saborear, castrando a sua essência e valor.

Talvez a vida tenha sido feita para ser desfrutada com temperança, de forma plena e em equilíbrio mas também sem estar languido refastelado ao sol, à espera que nos caia do céu o maná muito generoso para o esforço praticado.

Uma coisa podemos ter como certa: a areia da ampulheta não cessa de cair até ao momento que se esgotar. E é com esse axioma que posso contar, reavaliando alguns dos meus momentos mais sofregos ou mais apáticos.

Quase chorei quando na Vox começou a passar uma música que me dava sempre um estímulo de maratonista na minha adolescência.
Sol a dar, desperto e a ouvir “Fai un sol de carallo” dos galegos Os resentidos, numa alegre combinação entre a gaita de foles festiva tão enebriante, corretamente assimilada por um eletro muito 80´s. Só me apetecia dançar cheguei mesmo a acreditar que a Vox me dedicava aqueles minutos de supresa e alegria expontânea.

A cabeça estala, o estômago reclama. Anseio por uma retemperante brisa marinha e de meia-hora de silêncio em total comatose afundado nos meus ombros ao Sol.
Depois logo se vê. E estará Lua Cheia…

Por vezes é necessário parar para meditar sobre a nossa vida. Desde que me conheço fui capaz de analisar, mais tarde ou mais cedo, os passos que tenho dado e que necessito de dar na jornada da existência.

Durante estes últimos dias estou repleto de uma complexidade de emoções, confusões, dúvidas e receios. Sinto que os meus neurónios tropeçam e cambaleiam, a passo com um cérebro extenuado de perseguir uma solução inexistente.
A Vida não obedece a equações matemáticas nem pode ser objecto de causalidade. Um acto não implica necessariamente um acontecimento, uma causa nem sempre dá origem a um efeito. As experiências laboratoriais não serão reproduzidas fora de ambientes controlados, nem a distribuição da probabilidade de um acontecimento é consistente.
Por isso medimos a olho, seguimos instintos, e apoiamo-nos nas nossas experiências passadas para chegar decisões que necessitamos tomar. Não podemos seguir regras, formular hipóteses, extrapolar resultados.

Fermentado e fervendo, o meu cérebro está cansado de revolver toda uma série de encruzilhadas e questões com que me deperarei nas últimas semanas. Como já tem vindo a ser hábito ao longo dos últimos meses, a minha telenovela pessoal está num ponto de viragem do enredo com mais uma cambalhota alucinante. Mais uma vez sou o trapezista que se prepara para um triplo salto mortal invertido sem rede.

Por isso penso, intensamente peso os prós e contras, antecipo se a raínha vai tomar o bispo, ou se o cavalo vai atacar a torre. E se o meu peão defender antes o bispo? E se eu contra-atacar com o cavalo, ameaçando um xeque? Nunca existe a jogada perfeita, apenas a melhor jogada… ou a menos má.

Tu es Foutu

Tu m’as promis le soleil en hiver et un arc en ciel
Tu m’as promis le sable doré j’ai reçu une carte postale
Tu m’as promis le ciel et la terre et une vie d’amour
Tu m’as promis ton coeur ton sourire mais j’ai eu des grimaces
Tu m’as promis
Et je t’ai cru
Tu es foutu
Tu-tu-tu…
Tu es foutu
Tu-tu-tu …

Tu m’as promis le cheval ailé que j’ai jamais eu
Tu m’as promis le fil d’Ariane mais tu l’as coupé
Tu m’as promis les notes de Mozart pas des plats cassés
Tu m’as promis d’être ta reine, j’ai eu pour sceptre un balai

Je ne sais pas ce qui se passe

In Grid

Estou absolutamente derreado hoje. Transpiro um cansaço quase absoluto, resultado das maluqueiras auto-inflingidas e pieguices constantes dos últimos dias e do calor que se faz sentir. Para contrariar isso só mesmo uma ida refrescante até ao meu retiro secreto, mas não muito. Depois dormir como se não houvesse amanhã…