Maio 2003

NO STRESS pós-traumático

3 – Como contabilizar caipirinhas e outros conselhos úteis

Não se devem estabelecer regras quando queremos fugir à rotina. Essa fuga, é para mim extremamente valiosa, pois no intimo do meu ser, sou um perfeito anarquista praticante no degredo capaz de explodir com qualquer ordem imposta.

Desta vez a promessa de explodir com os últimos neurónios ainda capazes de algum pensamento minimamente articulado foi concretizada.
N. e Dr.P. esses fantásticos companheiros de armas encarregaram-se de liderar as hostes revezando-se no comando de operações que eu também capitanei, se bem que de forma não tão frequente.
Devo dizer com franqueza que não poderia desejar melhores companheiros de armas para estas andanças, não só de desfalecimento mental, como também de férias retemperantes.

Foram muitas horas de diversão, muitos jantares que ficam nos anais da história universal gastronómica, muitas caipirinhas, mulatas, etc…

Para calcular o consumo per capita de caipirinhas (ou caipivodkas) tivemos sérias dificuldades.

N. ultrapassou as 100, e a partir daí as contas ficaram mais complicadas. Até esse ponto elaboramos uma base cientifica de calculo:

  • consumo mínimo Jantar – 2 (variável até 5)
  • Resto da noite base média 2
  • Se estiver com uma queimadela solar subtraia 1
  • Dores de garganta, gastroentrite, ou voo no dia seguinte subtraia 3
  • Se houver factor «Oi!» acrescente 3
  • Se na entrada do Club pedirem seu número telefone acrescente 2 (caso consiga dizer meia em vez de 6 subtraia 1)
  • Caso o clube esteja cheio de mais e se alguém conhecido subornou o Barmen acrescente 4
  • Se teve coragem de subornar o Barmen some 2
  • Se está a chover subtraia 2
  • Se esteve a chover todo o dia acrescente 3

Com esta base cientifica atingimos uma média ponderada conjunta per capita de 6.11111 caipirinhas/caipivodkas por noite.

Mas fora estes exageros, que abracei num grito de cisne consciente, nada como um confortável alheiamento e euforia de amizade genuína, sob um cenário de antro do paraíso. Nada de planificações, reservas de hotel, roteiros turisticos.

«-Onde vamos amanhã?», «-Se conseguirmos voo, que tal Salvador?», «-Oi!», «TAM, VASP. VARIG ou GOL?», «-A que pare em menos apeadeiros!» , «-Oi!».

Assim as coisas têm mais graça, mais aventura, adrenalina. Obriga a mente a despertar e estar alerta e a saber horientar-se num território novo e talvez hostil. Mas é isso que nos faz sentir Vivos.

N. praticamente cresceu e se fez homem ao meu lado, conhecendo-o eu há mais de 15 anos, numa amizade que sempre valeu nos bons e maus momentos. Dr.P é compincha de há 8 anos de noites desregradas. Nada como um par de amigos full flavour para tornar as coisas hilariantes e potentes. Nada de lights.
Não vale a pena fazer umas férias assim sem levar um de cada… Antes esquecer a escova de dentes!

NO STRESS pós-traumático

2 – Realidade redescoberta

Umas boas férias reflectem-se não no tempo em que estivemos ausentes, mas sim nas mudanças que encontramos quando chegamos. Quando digo mudanças não me refiro só ao que se passou na nossa ausência, mas também na forma como encaramos aqueles pequenos pormenores, que dantes podiam passar completamente despercebidos ou originarem grandes dores de cabeça.

Os nossos sentidos estão carentes, sôfregos, alertas, depois de vários dias de estímulos contínuos e não se deixam iludir por situações repetidas. É como um jogo de descubra 10 diferenças, que dantes passaria ao lado e agora a vista vai certeira a todas as pequenas modificações. É esse contexto que me ajuda a recuperar de uma peregrinação inesquecível: recuperar uma realidade que deixamos esquecida, cinzenta de estar tão desgastada e que de repente está de novo com cores garridas.

A redescoberta do nosso quotidiano, o retornar aos locais comuns pode ser feita com prazer, saboreando e usando uma nova perspectiva de uma grande angular que nos permite uma visão nova da nossa parca rotina e reduzido território.

Por isso quero ser um peregrino eterno, para me descobrir, e para redescobrir tudo e todos os que me rodeiam.

1 – America do Sol

Não foi a primeira vez no Brasil e com certeza também não será a última. A verdade é que necessitava assim de umas férias que me permitissem um alheamento total a todos os pequenos e grandes problemas do nosso quotidiano. E estas férias foram isso mesmo: o afastamento físico e mental de todas essas pieguices, para poder ter uma visão mais panorâmica do que tenho em mãos.

A vida é para ser vivida“, “aproveita o momento” e todos esses chavões, lá na América do Sol ganham todo o seu significado e recordam-me do quando e importante aproveitar cada momento em que o nosso coração ainda pulsa. Essa urgência sem ansiedade e importância de viver só pode ser plenamente entendida a quem testemunhou um pôr-do-sol numa praia perdida, ou sentiu a imensidão de um sertão, ou quando se bóia num mar quente e super salgado durante um hora, alturas quando apenas se sente o Criador e um calor aquece o espirito.

Claro que não há só maravilhas. Há o desespero da fome, mesmo ali ao lado da mais sumptuosa riqueza e abundância; o crime violento bota-chumbo-nele mesmo ali ao lado da mais humilde e honesta comunidade; a prostituição bem na esquina de duas igrejas protestantes apinhadas de gente. São estes contrastes que nos dão a mais forte chapada de realidade, que nos remetem para um novo horizonte de pensamento mais pragmático e menos ocidentalizoido-europeu sobre o bem-estar e a moral.
Talvez a pobreza não seja só fonte de desespero, nem a riqueza fonte de alegria. É certo que o anúncio televisivo do 1 de Maio fosse cruel e repugnante por mostrar as enormes desigualdades sociais no Brasil:

“Marcelo consegue apanhar 40 figos num minuto. Para conseguir comprar esses mesmos 40 figos, Marcelo terá de trabalhar 8 horas.”

Contudo vi mais sorrisos, simpatia, carisma e alegria de viver nas gentes mais humildes, do que naqueles bem de vida. É inesquecível sentir as gentes de um lugarejo perdido e a sua filosofia de vida simples e honesta, sem nada a esconder, sem reservas. A frontalidade e esperança com que encaravam a vida era mesmo motivante, e a sua coragem e positivismo embriagantes. Nas grandes cidades, já há mais uma lei da selva, um clima de competição que não combina com o resto, mas que mesmo assim pode ter o ar da sua graça, em particular no Nordeste.

Ainda embebido neste espírito, que por incrível que pareça, nada diferente do que eu trouxe à uns seis anos atrás. Sair do jacto após tantas horas e desaguar num Rio a amanhecer é indiscritível. Mais ainda é sentir logo no ar não só o calor térmico, mas algo mais que não se pode traduzir em palavras: o espírito da América do Sol, da terra da Vera Cruz. E isso não aparece em fotografias…


GIG, Fiat Palio
Búzios, Pousada do Namorado, Geribá
13 chopps, casquinha de siri e isca de peixe, mar quente,
Don Ruan, capirinha, roscas
Cabo frio, Eleven
Ferradurinha, Leiza, baseado,
Sauna, piscina, Rua das Pedras,
www.tudo-o-que-você-se-lembrar.com.br,
Ródizio, Casa da Pias,
Oi!, bronze, ondas, festa,
TAM, Enoque, Silvia Souza,
FOR,Oton,
SOBRE O MAR, Praia de Iracema, Pirata
Chuva, Praia do Meireles
Celta Sedan, Acaí,
Cumbuco, peixe fresco,
Ski-Bunda, brincadeira, Buggy,
Dunas, emoção, Banana,
Jangada, mestre Pedro ,
Mar Alto, Vivianne,
Peixada do Meio, calor,
Guaraná com cajú, beijo
gatas lindas
Club Mucuripe
caminhada no Meireles,
Elaine, praia do Futuro,
Pescando em Jangada,
Chuva no mar,
Capirinha de morango
SSA Varig
Pestana, mulatas,
Casquinha de Siri,
Gol, Aero Club,
Rock in Rio,
Itapuã, Pelourinho,
Dona Chika-ka,
Costa dos Coqueiros
Praia de Arembepe,
Baianas, Capirinha de maracuja,
Yemanjá,
Moqueca de camarão,
Café Cancún, Jet Set, Helena,
Praia de Guarajuba, altar de Iemanjá,
Mar quente, mar frio,
Sol gostoso
Paz
GIG, Vasp
MAD, Iberia

De regresso, repleto de força e cada vez mais apaixonado pela vida. Apesar de estar com um Jet-Lag horrendo estou a trabalhar cheio de energia renovada, sentindo uma enorme e reconfortante força anímica.

Valeu a pena queimar todos os neurónios.