2003

É me difícil imaginar que sou responsável por fazer sofrer alguém, seja lá por que razões forem. Quando sinto que as minhas acções não despoletaram nada de positivo nos meus entes queridos, isso deixa-me no mínimo entristecido.

O pior é quando se sente que as nossas opções apenas trouxeram desilusão e tristeza a quem nunca deveríamos trazer qualquer sentimento a não ser a felicidade. A sensação de se olhar no espelho e ter-se como um Otelo, ou uma Hidra sem coração dá-me um desejo compulsivo de me auto-flagelar, encharcado na vergonha de não estar à altura de decisões difíceis que estupidamente preferi adiar, e que como nestas situações se tornaram numa bomba-relógio com consequências trágicas e fatais.

De nada me serve denegrir-me, ou fazer um acto de contrição, mesmo tendo remorsos sinceros. É necessário arcar com as consequências, sentir o peso da responsabilidade e estar à altura, subir ao banco dos réus e ouvir o juiz a proferir a sentença que o nosso crime exige. Aceitando esse julgamento e respectiva pena, seja ela severa ou branda.

quero me dividirA divisão é um processo que sempre me aterrou. Não pelo rasgar ou cortar, mas sim pela necessidade de transformar em duas partes, ou pelo menos de tentar seguir dois caminhos.

Sinto-me tentado a exercer uma divisão do meu corpo, de forma que a minha alma que será sempre una, esteja em dois locais, em dois pontos distintos em matéria, unida num pensamentos contínuo de amor em duas frentes, pretendendo a felicidade em ambos os sítios, mas apenas arriscando a desgraça em ambos.

Tenho necessidade de escrever nas alturas em que a minha vida se defronta com um ponto de viragem, com uma fasquia mais alta, na nossa novela. Necessariamente hoje estou a passar por um dos marcos da minha vida que mais impacto trarão na minha vivência, mas de alguma forma a caneta tem estado parada e a tinta não quer escorrer.
uma caneta sem tinta
Sinto-me extasiado com emoções que necessito escrever, situar no tempo e espaço e materializar em palavras, mas estou preso por um maléfico torpor de preguiça, de ausência da inspiração que me faz pulsar o coração quando concretizo as palavras que me sobrevoam a mente.

Estou cansado, mas apaixonado, numa viagem que temo não estar à altura de conseguir realizar, mas que desejo arduamente fazer. Preciso reflectir, encontrar bases de suporte, terra firme onde alicerçar os meus pensamentos que borbulham desamparados na febre, fervendo num lume rubro.

É com muito prazer que anuncio que Pete Watson, o astrólogo inglês que tive o prazer de conhecer na minha cidade e de privar da sua amizade, iniciou um site onde se propõe a fazer mapas online.

O site está neste endereço www.starscan.plus.com
Pete, além de ser alguém que considero um amigo, é também uma pessoa sensível, um homem corajoso e um astrólogo eminente mas não muito reconhecido. Actualmente Pete está de volta ao seu país Natal, onde pretende acabar o seu manual de Astrologia.

Confesso que eu era o ser mais céptico em relação à astrologia, mas no dia que Pete me fez o meu mapa astral, tive que me render às evidências de que algo de inexplicável e quase bizarro se movimenta com a influencia dos astros na nossa vida. Não é natural que um desconhecido, para mais um inglês, fosse capaz de descrever com minúcia, todos os aspectos da minha personalidade, assim como me ter descrito com precisão cronológica todos os momentos importantes do meu passado, muitos deles que ninguém teve conhecimento.
Com essa leitura fui capaz de me entender melhor, e mesmo perdoar-me a mim próprio de alguns defeitos e prosseguir numa busca mais lúcida para o meu trajecto.

Thanks Pete! God speed!

  1. Toma em conta que um grande amor, ou uma grande realização, implicam grandes riscos.
  2. Quando perderes, pelo menos não percas a lição.
  3. Segue os três R’s:
    • Respeito por ti
    • Respeito pelos outros e…
    • Responsabilidade por todos os teus actos.
  4. Lembra-te que não ter tudo o que se deseja é, por vezes, um magnífico golpe de sorte.
  5. Aprende bem as regras para saberes como infringi-las correctamente
  6. Não deixes que uma pequena disputa estrague uma grande relação.
  7. Se descobrires que te enganaste, faz logo a correcção.
  8. Todos os dias passa algum tempo sozinho.
  9. Abre os braços à mudança, mas não percas os teus valores.
  10. Lembra-te que o silêncio é, às vezes, a melhor resposta.
  11. Leva uma vida boa e honrada. Quando fores velho, será possível revivê-la uma segunda vez.
  12. Uma atmosfera de amor em tua casa é o alicerce da tua vida.
  13. Em disputas com os teus queridos, trata só do caso corrente. Não vás buscar queixas do passado.
  14. Partilha o teu saber; é uma forma de alcançar a imortalidade.
  15. Sê suave com a terra
  16. Uma vez por ano vai a um sítio aonde nunca tenhas estado.
  17. Lembra-te que a melhor relação é aquela em que o amor excede a necessidade.
  18. Avalia o teu sucesso por tudo a que tiveste de renunciar para o alcançar.
  19. Ao amor e ao cozinhar aborda-os com naturalidade audaciosa.

Dói-me perceber que o meu ânimo se esbarra numa parede de desgaste físico. É como se o amor e felicidade que me alimentam tão inabaláveis e fortes sejam roídos pela ânsia e o fogo da minha paixão que entorpecem os músculos.
Necessito o equilíbrio da suavidade, da calma, e não de correr sem correr, de viajar sem viajar, de percorrer sofregamente inúmeros quilómetros rumo ao aconchego de quem desejo e amo. Correr sim com a vontade quente mas não em anseio, como se tivesse o pavor que algo me fugisse por entre os dedos levando-me a uma exaustão estúpida sem sentido.
A distância mina-me novamente, tornando-me novamente um pendular, dividindo o meu estado físico em duas longitudes e o meu coração fixo onde encontra o calor.

See the stone set in your eyes
See the thorn twist in your side
I wait for you

Sleight of hand and twist of fate
On a bed of nails she makes me wait
And I wait without you

With or without you
With or without you

Through the storm we reach the shore
You give it all but I want more
And I’m waiting for you

With or without you
With or without you
I can’t live
With or without you

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

My hands are tied
My body bruised, she’s got me with
Nothing to win and
Nothing left to lose

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

With or without you
With or without you
I can’t live
With or without you

With or without you
With or without you
I can’t live
With or without you
With or without you

(the Portuguese way)

João César das Neves


"Portugal fez tudo errado, mas correu tudo bem." Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português. Havia até agora no mundo países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam. Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno. Aliás, tem mesmo um só elemento: Portugal.


A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), que se tornou famosa no ano passado pelo estudo que fez dos "bananas da república", iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos índices de azelhice económica foram detectados em Portugal, um dos países que tinham também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso. Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O País Que Não Devia Ser Desenvolvido -O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses." Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no período. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável. Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento. Actualmente e a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no período.


O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de desenvolvimento mais bem-sucedidos no mundo actual. Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação. Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhante às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional.


Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ. Desde o "condicionamento industrial" salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante.


É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma: Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento. Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade. Citando as próprias palavras do texto: "Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento? A resposta, simples, é que ninguém sabe. Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho." A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo português. "No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável." O texto termina dizendo: "O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?".

Estou algo atordoado por toda as alterações telúricas que me circundam. Resta-me estar com fé, que tudo se resolva da melhor forma.
Necessitava de um pequeno tempo para me escapulir de férias para me certificar que as alterações que me propus atingir, seguem no bom caminho, rumo à felicidade, à Terra Prometida. E tudo na companhia que desejo.