desastre

Depois do grande cataclismo que foram os incêndios do Verão, ficou em mim um enorme ressentimento acerca da catástrofe que se abateu sobre o meu país. Não só pelo número de vidas perdidas, não pelos prejuízos monetários e ecológicos, nem pela incapacidade governativa e estatal de intervir neste desastre. O que a mim me faz sentir uma profunda tristeza e até vergonha é sentir que nada de realmente importante foi feito nas últimas décadas para evitar, que em anos de seca e calor como este ano, Portugal se transforme num braseiro incontrolável.
Para minha surpresa, cheguei a desejar o que nunca tinha antes desejado: que chegasse o frio e a chuva.

Agora que só sobram as cinzas deste Verão longo e seco, onde uma centena de vidas foi ceifada pelos fogos que consumiram quase meio Portugal, que o luto se foi e os políticos fizeram as suas politiquices, ministros demitidos e anúncios de novas medidas, cenas que todos queremos esquecer, fico com o amargo de boca de saber que tanta tinta tem corrido, do que não se fez e do que deveria ter sido feito.
Nas redes sociais e nas conversas de café não faltaram acusações aos supostos responsáveis dos incêndios e da incapacidade de combate aos dois domingos negros que tantas lágrimas fizeram derramar. Um infindável apontar de dedos as causas da catastrofe: aos incendiários, à falta de meios de combate aos fogos, aos eucaliptos, a falta de lipeza das matas, a desorganização da proteção civil, as falhas de comunicação, os interesses ocultos dos madeireiros, da industria da celulose e da industria de aluguer de meios aéreos no combate a incêndios.

No meu mosdesto ponto de vista a grande falha de toda esta tragédia não foi um cenário de perfect storm, um conjunto de eventos e entidades mal preparadas que contribuíram para este nefasto resultado de cinzas.
O grande contributo no meu ponto esse sim foram as décadas de incúria do estado e desertificação do interior, fruto de políticas que ano após ano não investem no interior do país, nem no bem estar das populações do interior, assim como a total incapacidade de formar uma política florestal e ecológica adequada ao clima em que se insere Portugal continental. Nenhum governante português nas ultimas legislatura teve o mais pequeno interesse em resolver os problemas estruturais da floresta portuguesa, que representa uns impressionantes 10% das exportações do país e cobre cerca de 30% do território.

Um país que não gere os seus recursos eficazmente, e que deixa um terço do território por regulamentar, ordenar e fazer a sua manutenção é um país gerido por gente incauta e sem visão. Há dinheiro para os valentes bombeiros, mas não há fundos para guardas florestais. Alugam-se canadairs mas não se fazem as limpezas das matas do estado.
Depois, quando as desgraças acontecem, a falta de antecipação para os problemas de quem lidera o país é notória. Só se apagam incendios, nada se faz para os evitar Talvez se revermos o história de Portugal entendamos esse problema ao longo dos séculos, fomos quase sempre órfãos de lideres capazes de vislumbrar o futuro e os problemas de gestão que se colocam ao estado. Desenrasca-se e nunca se antecipa. Concerta-se mas não se prepara.

O clima Portugal e a sua flora autóctone são semelhantes ao resto da orla mediterrânea, onde no pino de verão existirá sempre temperaturas elevadas e tempo muito seco propicio ao aparecimento de incêndios. E se os castanheiros e sobreiros ardem com menos intensidade, o mesmo não se pode dizer de um eucalipto em cultivo incentivo e desordenado, ou de pinhais onde não são feitas limpezas e se acumula durante anos caruma.
No fundo tudo é deixado ao abandono. Depois arde. E restam as cinzas.

É com uma enorme vergonha e até repúdio que descubro nas redes sociais tanta gente expressando a sua xenofobia. Tudo porque nos é pedido, a nós portugueses, para darmos acolhimento aos refugiados sírios.

No meio do desastre humanitário que é guerra civil Síria é confrangedor ler tantos disparates acerca de emigrantes árabes como se todos fossem uma cambada de adeptos do ISIS infiltrados na Europa. A santa ignorância faz com que pessoas pacatas mostrem a fraca fibra moral. A Síria é das poucas regiões do médio oriente onde conviviam várias religiões, inclusive a cristã. E a julgar pelo andar na guerra naquele país, serão esses cristãos que mais temem pelas suas vidas a ponto de tentarem chegar apesar dos inúmeros perigos aos tolerantes países europeus. Mas ao que parece, para muitos países europeus essa tolerância está só escrita nas suas constituições. O medo e o ódio acerca destes acontecimentos muito me recorda o pesadelo de há 70 anos com os senhores das suásticas.

Neste caso, a estupidez humana não para de me surpreender: muito porque a falta de cultura e a iliteracia imperam cada vez mais na era da Internet – e ao contrário do que eu suponha – quanto mais informação (e desinformação) a circular, mais fácil é manipular os estúpidos. É para piorar tudo, os estúpidos têm voz nas redes sociais e as suas afirmações ignorantes chegam sempre aos ouvidos de outros patetas que preferem ler mensagens de medo e ódio, do que simplesmente consultarem a wikipedia.

Ajudar quem está em perigo de vida é um dos lemas teóricos da racionalidade humana, a solidariedade uma das premissas da vida em sociedade, seja qual for a religião ou credo. E manifestamente isso está esquecido.

Estou farto de ouvir falar em orçamentos, crises e dívidas públicas. A sociedade portuguesa há muito que está em colapso assim como a sua economia. Não é novidade. O que é novidade é a necessidade vergonhosa e urgente de tentar solucionar o desastre em que nos encontramos após décadas de más políticas governativas.

O Verão tem sido chocho e sem muitas sessões de lagartada no solário ou na minha praia, como noutros anos. Porém, e parafraseando a minha cunhada, é um Verão muito agradável. Primeiro porque a minha princesa já anda e corre e faz as delícias do seu pai babado e depois porque tudo vai bem no novo reino dos portões automáticos.

Dir-se-ia que o único senão é que o tempo se esvoaça muito depressa, entre notícias apocalípticas de gripe, desastres económicos, pandemias de incompetência politica e desemprego. Fora da média, no nosso cantinho entre rotinas de trabalhadores por conta doutrem eu e a rainha lá vamos construindo uma vida juntos, numa família que cresce com amor. É um querido mês de Agosto. É muito agradável.

Um café é sempre um clássico pretexto para o reencontro. É algo de social que apresenta um leque de impulsos de debate, que no nosso país assume a nossa pacatez e o gosto algo intrincado na nossa cultura das tertúlias.
Mas um chá tem também um conceito bem semelhante se bem como pude constatar, nos dias que passam, pedir um chá, mesmo num salão de chá apenas nos dá direito ao saquinhos standard.

Foi bom reencontrar B. e A. e estar na cavaqueira quer sobre assuntos sobre a iluminação, quer sobre o último desastre da conquista dos céus, ou sobre o império do mal. De certa forma as horas passam quando comunicamos e partilhamos ideias. Não sei se será um tom asceto-filosófico que a proximidade das 3 décadas nos proporciona, ou se será apenas pura e simples lucidez da longevidade.

Mas como B. recordou, estamos a virar a minoria, contra todas as probabilidades, que após certa idade ainda tem o espirito suficientemente aberto para provar novas músicas, novas comidas, novos pensares, sem se resumir ao cinzento, preto no branco do ”eu gosto/eu não gosto” ou do ”é bom/é mau”. Creio que é esse o segredo da eterna juventude, cuja fonte está mesmo ali ao lado da luz com que quisermos brindar a nossa massa cinzenta, ou alma se prefiram.

Que acabei de ler

Nunca se pode prever o que vai acontecer. Pelo menos a longo prazo, este conceito é unanime nas ciências exactas. Mas será que o espaço-tempo é linear? Talvez nunca tenhamos provas em contrário, muito embora existam aqueles inexplicáveis profetas.

Há muito tempo que me interessava por Nostradamus, mesmo antes da passagem do milénio, tendo lido um interessante livro de interpretação das Centúrias. Este profeta do séc. XVI usou um código emaranhado de latim, francês antigo, com alusões e metáforas simbólicas para designar zonas geográficas e personagens importantes da história.

Acabei de ler recentemente um livro editado em 1995 que, segundo o exegeta, cobre o fim de uma era de grandes conflitos que antecedem a entrada na era de Aquário, uma época que marca um longo período de paz mundial a partir de 2024. Até lá poder-se-ao esperar várias invasões da Europa, isto segundo o intérprete baseado em algumas centúrias. Estranho supor na actualidade tal desastre, mas o futuro é sempre incerto: há uns anos atrás se alguém afirmasse que WTC ia ruir depois de um atentado com dois Boings provavelmente era internado no Magalhães Lemos. Por outro lado, como raramente existem datas precisas, quando muito recorre a alinhamentos dos astros, nada nos garante que tais previsões se destinam a outros séculos que não o XXI.

Se o tal senhor previu com extraordinária precisão as guerras napoleónicas e as Grandes Guerras Mundiais é preciso dar-lhe algum crédito