agradável

Com as chuvas persistentes sinto a forma agradável como o outono nos convida a ficarmos mais introspectivos e ao mesmo tempo mais dados à família.  Um tempo para nós, para os nossos pintado num quadro de céu cinzento, conforto da nossa sala e os risos de dois adultos e dois petizes.

Para quê assumir que  a vida é feita de conquistas físicas e sociais? Não o creio. A vida é tão somente vencedora num dia de sorrisos cúmplices. Nós.

 

O Verão tem sido chocho e sem muitas sessões de lagartada no solário ou na minha praia, como noutros anos. Porém, e parafraseando a minha cunhada, é um Verão muito agradável. Primeiro porque a minha princesa já anda e corre e faz as delícias do seu pai babado e depois porque tudo vai bem no novo reino dos portões automáticos.

Dir-se-ia que o único senão é que o tempo se esvoaça muito depressa, entre notícias apocalípticas de gripe, desastres económicos, pandemias de incompetência politica e desemprego. Fora da média, no nosso cantinho entre rotinas de trabalhadores por conta doutrem eu e a rainha lá vamos construindo uma vida juntos, numa família que cresce com amor. É um querido mês de Agosto. É muito agradável.

Rumando ao Sul do meu país pude observar numas férias de sonho, o quando o meu país é aprazível, terra de bons costumes e acolhedora. Não está patente o país dos telejornais, que todos os dias inundam o televisor com mensagens de sufoco criminoso e insegurança a cada passo, e apesar da crise das estatísticas nunca vi um parque automóvel digno do Qatar a passear-se nas auto-estradas. Algures no aparente das minhas férias e nas notícias sensacionalistas deve existir um Portugal mortiço, economicamente inviável, mas onde ainda não é terrível viver.

Mesmo gostando do meu país, e até do Sul as férias nestes pontos são agradáveis fora da época das festanças de Agosto, longe dos maranhais e multidões histéricas. Apenas num agradável clima ibérico sem as trupes, requisito essencial para existir o conceito férias – a fuga à azáfama e multidões urbanas apressadas. Isso ou a América do Sol. E as caipirinhas…

Navegando em mares recorrentes, sem nenhuma água salgada na companhia das mulheres da minha vida, foi uma experiência nova e alegre. Muito me apraz pensar que sou um gajo afortunado e que o destino me foi muito favorável, na vida confortável que me reservou.

Com horários rígidos e responsabilidades diferentes a minha praia foi aproveitada a conta-gotas e o solário foi o solução recorrente. A calma e o descanso pautaram um gosto pela preguiça e pelo prazer de estar a viver um doce sonho.

Mas além do mar salgado, tive ainda tempo para desfrutar da urze raiana, das longas viagens entre as três fortalezas fronteiriças, por entre ondas de vales e montanhas. As cidadelas estavam lindas, bem cuidadas e remontavam a um presente orgulhoso do passado, agradável à vista e aos turistas.

Foi bom , terno e curto.

Viajar até às arábias revelou-se particularmente interessante. O choque cultural que eu estava à espera concretizou-se, mas de forma que eu não tinha sido capaz de prever.
Ser-se turista num país que é em grosso modo islâmico, não deixa de ser uma visita de um forasteiro que representa divisas e ao qual convém extorquir o máximo de dinares possíveis. Somos tolerados, apenas e só e apenas nos falta uma etiqueta na testa a dizer quanto valemos.

Desagradou-me sentir na maior parte das vezes como alguém que perdeu o estatuto de cidadania, que senti que sempre mantive por toda a Europa e América do Sol ou na África austral. Não creio que se trata apenas de uma barreira cultural e religiosa, mas sim de uma barreira que é social, onde nós -pobres ocidentais – presumimos estar mais evoluídos.

Mais a mais, aperceber-me do rigor militarista do estado e que estou noutro país onde subsiste uma fantochadocracia de partido único, onde o presidente alterou duas vezes a constituição para alargar o número de mandatos consecutivos … É uma sensação estranha, e até bizarra, sentir que os valores não são melhores ou piores: apenas diferentes – talvez mais rigorosos no que toca ao patriarcado familiar e ao rigor social face aos alegados costumes religiosos. Nem é sempre agradável sentir que nessa sociedade o lugar da mulher é dentro de quatro paredes, e que surgem sempre alguns olhares de desagrado face aos costumes ocidentais fora da zonas «turísticas» e de «consumo».

Mas se pusermos de lado a questão social, ficam os lugares, os sabores e a companhia. Um cheirinho a deserto, a uma história antiga que parece inóspita e conturbada desde fenícios, cartagineses, exércitos poeirentos em Panzers e onde o azul celeste está sempre presente solidificando uma consciência diferente e intemporal e de Verões tórridos frente ao Mare Nostrum. Senti o laxismo descontraído que se pretende numas férias em que felizmente estive fora de vista de compatriotas. Já por isso valeria a pena relembrar. Mas não voltar.

A passagem de ano acarreta a esperança frenética das resoluções para o novo ano. Planos e mais planos, expectativas e até por vezes alguns desajeitados desejos de mudanças radicais.

Enquanto se engolem as passas despejam-se atabalhoadamente votos de um futuro melhor, para os outros e para nos sem aprofundar muito o seu significado, e quando na pressa se engolem as últimas passas para acompanhar as doze badaladas damos conta que ruminar as uvas secas ao Sol não é assim tão agradável.

O que é agradável, isso sim é a predisposição de efectuar mudanças ao nosso life style a acalentar que é exequível, como camaleões, mudar os nossos traços e destinos. Talvez as resoluções de ano novo sejam apenas e só isso: acreditar que há algo melhor o nosso alcance.

Por bem ou por mal alguns volte-de-face já me caíram do céu este ano. A continuar assim este circulo ao redor do Sol promete ser agitado. Não será propriamente como na música pouco conhecida Death or Glory, em que se ainda temos um crash and burn, mas há muito em jogo. Felizmente há esperança de ouvir uma vez ou outra um Hallelujah como epílogo.

Acho que o tempo revela-nos muitas surpresas. A vida é feita de inúmeras etapas, mas que revelam um retorno cíclico de ambientes e envolventes. Apesar de mais velho (e quem sabe sábio), parece que volto a caminhar por caminhos já trilhados, mas tomando diferentes atalhos, em passos mais seguros.

Tal é o caso do retorno do Club Gourmet, que para muito espanto meu, assumiu uma forma que eu não seria capaz de imaginar. Questiono-me se o conceito de eterno retorno, não é mesmo verdade. Assumindo contornos diferentes reencontro-me em momentos de prazer pantagruélico. No último festival, apesar de sermos poucos mas muito bons, rapidamente o repasto se tornou uma agradável animação descontrolada, rematada pelo perigosissimo Rémy Martin que fez imensos estragos nas hostes.

Ainda surgiu um brinde irreverente, qual grito do Ipiranga, bastante unánime: o dinheiro não se leva para o caixão – sinal inequívoco que certos luxos são caros, mas que em certas alturas fazem sentido.

Já durava umas boas três horas, quando o paciente staff nos enxotou do restaurante, à porta do qual se pode assistir a uns bons e deploráveis momentos Kodak, incluindo a imagem surrealista de S. a debater-se convulsivamente no capôt de um Rolls-Royce. Mas esses fotogramas difusos fazem parte da mústica do Club Gourmet que de quando em quando, necessita de dar azo à sua excentricidade contida.

Dou por mim a usar a expressão latina sui generis como um martelo a cada meia dúzia de temas de conversa, mas nada mais natural de que ter os neurónios satisfeitos e preguiçosamente tocados, como num retorno a outros momentos históricos.

A história repete-se. Mas não na exactidão. Assim como as ”Bom-bokas” não voltarão a estar na moda, também nada se repete integralmente. Espero!!!

Tinha decidido já há algum tempo ir a um festival de Verão e o de Paredes de Coura pareceu-me o mais apelativo. O problema que se colocava era o facto do dia mais interessante era a terça-feira à noite, algo terrivelmente incompatível para quem tem o seu ganha-pão de picar ponto.

Fiquei indeciso um par de semanas, mas finalmente decidi-me a ir. A medo tirei à última da hora um dia de férias graças a um bom relacionamento com o patrão. Eu e N. já havíamos sonhado um par de vezes com esse devaneio, proporcionou-se a ida com S. e um agradável Lisboeta que infelizmente não podia estar sujeito a muitos decibéis por motivos crónicos. Feitos à estrada voamos rumo ao norte, comigo o volante. Após um jantar simpático, eis nos a cair no recinto que eu não conhecia.

Chegamos tarde e P.J. Harvey fez com que apaixonasse ainda mais pela sua música. Inenterruptamente as suas músicas desprendiam-se superiores na actuação ao vivo impressionantemente supeiores a qualquer gravação com pós-produções. A verdadeira diva! Depois Placebo foi também bastante bom, embora só brilhassem verdadeiramente no final, em especial com o tema derradeiro e apoteótico “Were´s my Mind” muito fiel ao original dos Pixies.

O dia de descanso que se seguiu foi demasiadamente breve e fugidio, estendido na praia, e assediado pela presença da afável amiga colorida de outros tempos. Já não há cores, e é sempre bom rever amigos, mesmo que assediado em correntes simultâneas. Estive também com B. e Inspector P. Gostava de saber a que entidade divina devo agradecer por ter amizades duradouras que apesar de longos interregnos forçados se revitalizam tão fortes.

migrantes

O fim-de-semana passado foi bastante requisitado como tinha antecipado. A despedida de dois compinchas que partem para a grande cidade. Um incondicional da invicta que se torce todo só de pensar, com um verdadeiro ódio aos mouros e outro porque fará lá a sua vida com a futura.

De certa forma muitos entes queridos partem para longe, um sinal inequívoco que nesta terra está a tornar-se obrigatório ser migrante.

Dr.P. também me requisitou para uma farra muito agradável no talho2, na qual me encontrei com velhas conhecidas, (alguns bons reencontros e outros foram mais encontros imediatos de 13° grau) e também aproveitei por fazer novas. Bastante bom não haja dúvida… pena é J. não ter ido.

Leitura

”O deserto estava cheio de homens que ganhavam a vida porque podiam penetrar com facilidade na Alma do Mundo. Eram conhecidos por Adivinhos, e temidos por mulheres e velhos. Os guerreiros raramente os consultavam, porque é impossível entrar numa batalha sabendo quando se vai morrer. (…)

Portanto os Guerreiros viviam apenas o presente, porque o presente está cheio de surpresas eles tinham que prestar atenção a muitas coisas: onde estava a espada do inimigo, onde estava o seu cavalo, qual o próximo golpe que deviam desferir para salvar a vida.

O cameleiro não era um guerreiro, e já tinha consultado alguns Adivinhos. Alguns disseram coisas certas, outros disseram coisas erradas. Até que um deles, o mais velho perguntou porque razão o cameleiro estava tão interessado em saber o futuro.
-Para que possa fazer as coisas – respondeu o cameleiro. – E mudar o que não gostaria que acontecesse.
-Então deixará de ser o teu futuro – respondeu o Adivinho.
-Talvez então eu queira saber o futuro para me preparar para as coisas que virão.
-Se forem coisas boas, serão uma agradável surpresa – disse o Adivinho – Se forem coisas ruins, estarás a sofrer muito antes delas acontecerem.

(…)
Quando as pessoas me consultam, eu não estou a ler o futuro; estou a adivinhar o futuro. (…) E como posso adivinhar o futuro? Graças aos sinais do presente. No presente é que está o segredo; se prestares atenção ao presente, poderás melhorá-lo. E se melhorares o presente, o que acontecerá depois também será melhor. Esquece o futuro e vive cada dia da tua vida nos ensinamentos da Lei e na confiança de que Deus cuida de seus filhos. Cada dia traz em si a eternidade. ”

In “O Alquimista” de Paulo Coelho

Ontem estive a ter uma conversa muito agradável depois do terrível desastre do FCP com a número três ou quatro do primo de N. . Era uma criatura bastante pacata que está a estudar na grande cidade e que defendia que vivemos na selva e que nada melhor que o Tibete para voltar a viver em vez de sobreviver.

N3 disse algo de interessante que não me podia bater com mais força: afinal nós é que nos acomodamos e não conseguimos aproveitar o tempo. Com um pouco de esforço podemos arranjar tempo para fazer tudo que queiramos (incluindo babar em frente à televisão num sofá entorta espinhas). Como desperdiçamos o tempo e não conseguimos descansar ou fazer aquilo que achamos prioridades é só um efeito da nossa postura passiva e pouco apaixonada face à vida.

Acho que tenho que tornar-me mais activo… mas talvez não precise de ir até a um mosteiro tibetano…

Ontem experimentei o sabor amargo e simultaneamente libertino de estar só.
Em norma a solidão é um território que não me é desagradável, e que aproveito para as minhas sessões de reflexão e processamento com catalogação de eventos recentes.
Mas ontem apeteceu-me perder-me como cidadão incógnito algures na grande cidade estudando a fauna e a flora.
Foi óptimo.

A vida guarda supressas únicas que ocorre quando menos esperamos. Voltar a rever o meu primo após tantos anos seria sempre uma noite agradável. Nunca imaginei que ele tivesse seguido o seu sonho de ser surfista e tivesse tido aulas no Guincho!
E eis assim que vou parar com Jean mais a sua encantadora namoradita aí uns 10 anos mais nova e a amiga com nomes acabados em “ie” a um churrasco na Quinta da Marinha.
Na tal casa de luxo tive a companhia de:

  • stori Alex, um loiro australiano que nos convidou
  • a sua bela ex uma peruana de um gajo se babar todo estilo Pocahontas;
  • duas italianas ßem simpáticas;
  • John um inglês muito castiço (filho de portuguesa que por sua vez era filha de Irlandeses) ás do bodyboard;
  • Peter o skateboarder da Dinamarca;
  • 2 holandeses muito semelhantes ao deus Thor com areia nos miolos;
  • Matilda de 3 anos e os seus respectivos pais da Escócia;
  • uma portuguesa de nome Marta que destoava como é habito nas lusitanas e que estava mortinha por ser comida por alguém que fosse loiro;

Alex já passou
de 20 e muitos mas parece que tem 18, com um trato com muita pinta, sempre descalço licenciado em surfismo e MBA em sedução do sexo fraco. Viveu em França, Havaí e Peru e escolheu a linha para viver. Disse-me algo de muito interessante:
LIFE IS ABOUT THE RIGTH TIMMING depois de termos deitado abaixo 64 latas de cerveja.
HANG LOOSE MAN !!!

Ontem estive com Marie. Fazia quase 8 anos que não via a minha primita francesa. Ça va?
Ela e o namorado, um gaulês de gema foram uma companhia muito agradável, apesar do Bertrand não entender patavina do português. Mas afinal as sardinhas assadas são uma linguagem universal…

É estranho como o tempo às altera alguns traços às pessoas. As expressões físicas e a personalidade mantêm-se.

Conto já as horas … A grande cidade vai dar a vez a um fim-de-semana que promete.

Viva la vita!