2005

As andorinhas fazem voos rasantes, verdadeiras acrobacias aéreas, de pura adrenalina entre aquelas estradas estreitas, muradas e forradas a paralelo. Descem a pique do telhado e voam vertiginosamente junto ao chão durante alguns segundos, como se quisessem surfar no veículo que passa na rua.

É como se a tradição primaveril, exactamente no mesmíssimo lugar se repercutisse por várias gerações, aprumada a cada ano em acrobacias mais ousadas e suicidas. Provavelmente o instinto da ave deve reflectir a alegria primaveril e o efémero daquele momento de exaltação.

Aqueles belos pássaros descabidamente celebram a vida correndo perigos, gozando a adrenalina e exibindo a sua eficácia de voo louco e espectacular. Vejo horrorizado as andorinhas nesse frenesim de stunt man bem próximas do meu pára-choques, quando circulo todas as tardes rumo à minha casa. Eles recordam-me que a vida devia ser alegre e fugaz. Têm que se aproveitar pois a Primavera e o Verão, não duram para sempre.

Escrevo por motivos terapêuticos depois de um longo interregno, auto-imposto, ou exigível.
Para ser honesto sinto a falta de escrever e da vontade inequívoca de desperdiçar no éter alguns pensamentos de um espécie de diário, num desabafo ou numa corrente de ilusões sem fio-de-prumo.

Antes de mais imponho-me uma simples regra, ou melhor uma hipótese de cuja tese não vai ser possível encontrar qualquer resultado.
Trata-se de saber que ninguém me lerá, e que se isso eventualmente acontecer, estou-me borrifando para isso: não estou a escrever para ninguém, a não ser eu próprio.

Este mecanismo online estimula a vontade com que matraqueio o teclado a horas quase sempre impróprias, e permite-me alguns momentos de desabafo, tal como já escrevi – de forma terapêutica, para apaziguar alguns estertores da mente e da psique.
Não quero fazer um auto-retrato escrito, não tão pouco me carpir de uma existência de meliante melindrado com as adversidades da vida. Também não quero criar uma espécie de anfetamina egocêntrica para masturbação narcisistica de enredos e papeis ambíguos, ou de uma tipo de narrativa das aventuras de Sinbad, o marinheiro. Nada disso.
Quero tão-somente meditar, colocar uma verborreia que serve de paliativo do que alma precisa.
Como se a se a minha caldeira quisesse libertar vapor para não explodir. É só isso. Vapor saindo pela chaminé dando força às engrenagens mentais, fazendo funcionar um raciocínio ou expurgando uma lógica falaciosa. O vapor nada significa, afinal é apenas um subproduto, um efeito secundário dos cavalos de potência que a caldeira produz e que repassa é máquina a vapor fazendo-a mover-se.
Por isso neste diário ficará tão-somente o vapor, esse desperdócio de força que impede que o sistema se destrua com a sua própria energia criada.

Everybody makes mistakes
but i feel alright when i come undone
you are not making me wait
but it seems alright as long as something’s happening
i try to make you late
but you fighting me off like a fire does
you try making me wait
but it feels alright as long as something’s happening

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

you try to make me wait
you come around when it’s come undone
everybody makes you late
and it’s never you because you’re always thinking
i try making you wait
and give you me some like you give it good
everybody makes mistakes
but it seems it’s mine that always keep on stinging

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

you try making me wait
but you come undone when you come undone
everybody makes mistakes
but it’s always mine that seem to keep on sticking

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

letra e música de LCD Soundsystem

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual

E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p’ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

Letra e música de Jorge Palma

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

Letra de Sérgio Godinho

Estou feliz apesar de umas costeletas fora do sítio que não me deixam dormir.
Sei que velhos hábitos não se costumam perder, mas tal frase é uma mentira escabrosa. Os hábitos perdem-se, desde que para isso exista força de vontade e algum ombro amigo que nos ajude a quebrar hábitos.

As eleições de ontem mostraram que o hábito do desinteresse cívico afinal diminuiu. A diminuição da abstenção da República veio dar um balão de oxigénio na esperança de democracia, e assegurar-me que afinal essa treta da república de bananas pode ser mudada. Pelo menos nisso tenho esperança.

An example of the former would be warmongering President George W Bush and all-American action hero Sylvester Stallone, both born on 6th July 1946. In both lives the themes of patriotism and aggression are very much to the fore and we see a theme.

Starscan Astrological Services (o meu bom amigo Pete)


E o mar bate na rocha repetidamente num entardecer frio. O mar insiste na maré que nunca acaba, seguindo o ciclo eterno até que a pedra fique areia.

Há alturas na nossa vida que tudo se tinge de um cinza pólido. É uma melancolia cortante que nos desencoraja, na moral de perseguir a nossa felicidade. Esquecemo-nos que o arco-íris apenas espera por um pouco de luz para poder abrilhantar e rasgar um céu cinzento na sua magnificência colorida.

Muitas vezes me deixei vencer pelas barreiras que à minha volta deixei crescer e que tomei como muros intransponíveis. Culpabilizei os entraves ao invês de me esforçar por os ultrapassar. Deixei-me prostrar, refugiei-me nos meus handycaps escondi-me numa carapaça de indiferença, por medo de não ser capaz de sonhar mais alto e arranjar forças para saltar e voar para o outro lado da prisão que tenho dentro de meus receios.

Quando fui um anjo sem asas, provei a mim próprio que nada nos proíbe de tentar, ou de conseguir aquilo a que nos propomos. A camisa-de-forças apenas existe em nós, na nossa insatisfação com nós mesmos e na nossa incapacidade em acreditarmos em nos mesmos. É isso que nos derrota.

Vou perseguir até encontrar um arco-íris que sempre me acompanhou e lutar até debelar o cinzento que me encobre e diminui.

Apetece-me gritar após um longo tempo em que a minha garganta não foi capaz de regurgitar num murmúrio ou gemido.
Por isso acho que será bom arrebentar as minhas cordas vocais e vocalizar a insatisfação que sinto.
Talvez assim exorcize todos os pecados pelos quais vou ter que prestar contas e consiga antever um caminho mais beatífico.
Por isso a minha alma enche-se de um Entrudo nada desejado, de uma folia evitada e de uma falta de sentido de equilíbrio enquanto berrar.

A verdade é que tenho sempre muito medo. Mesmo quando fui um anjo sem asas estava com medo, quase paralizado de receio.

Ter medo não é sinal de fraqueza, antes pelo contrário, é sinal de inteligência e que se tem amor pela vida. Não acredito que alguém não tenha medo, a menos que tenha uma severa deficiência, ou tenha uma elevada tendência suicida. Não é natural caminhar despreocupadamente num precipício e ignorar o abismo, assim como também não é natural viver permanentemente com receio que o céu nos caia em cima.

A questão do medo é importante para percebermos até que ponto ele nos serve de protecção e até que ponto ele constitui um garrote que nos sufoca a mente, e não nos deixa seguir as fantásticas aventuras que a vida nos proporciona.

Quantas vezes deixamos de seguir os nossos sonhos porque temos medo de falhar e perder? Quantas vezes partimos derrotados porque o medo que sentimos foi demasiado e não nos deixou seguir a nossa aventura?
Creio que a solução é buscar um equilíbrio, onde não sejamos um stunt completamente descerebrado, nem um rato na toca.



Cloudy Day, original de QsySue.

Às vezes o céu azul está cinza e brilha esplendorosamente.