2006

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Escreve-se quando a alma se apoquenta, mas também quando a mente desperta. No meu ponto de vista, só quando a vida nada nos diz ou muito nos cansa, e que não temos nada para dizer ou escrever.

Contido nem sempre fui capaz de colocar no papel os últimos pensamentos voláteis ou emoções, porém o desejo de me libertar dos meu próprio sentimento de me exprimir, faz-me voar num ensejo por vezes delirante. Quando a barragem transborda é mais simples, e quando a privacidade se mantém as frases acumulam-se prontas a sair, a criar uma quadro a pinceladas toscas e de cores vibrantes. Como um meliante que nos sussurros se exprime e diz o que quer dizer e também o que não quer dizer, é assim que gosto de escrever. Desinibido e profundo como gostaria que fosse.

Porém quando a censura auto-imposta se agudiza é fácil esquecer o que se deseja escrever. Tal sucede pois a vida nem sempre é um mar de privacidade e sim uma festa de partilha e de convivência e conciliar a partilha e a intimidade com o mundo é um contra-senso e uma asneira pela qual já tive que pagar a punição variadíssimas vezes.

Mas hoje o castigo não me parece ser mais doloroso que a mordaça.

Os seus delicados dedos deslizavam acariciando o teclado do piano, tacteando e antevendo a melodia que em seguida ira tocar. A sua timidez fazia que estivesse corada perante um público novo. E era só eu que me ia deleitar com os acordes suaves da sonata que a encantara durante longuíssimas horas e inúmeras aulas na sua adolescência.
Quando os acordes soaram suaves e fluidos, com uma mestria singular naquele piano castanho sem cauda de que nunca gostará, pressenti o seu nervosismo desvanecer, e deleitando-me com a música senti-me comovido e ávido por beijá-la nos lábios ternamente quando acabasse de tocar para mim.

Sonhos Urbanos

Acho o nevoeiro fascinante pela sua aura de desconhecido e encoberto que encera.
O que a mente não vê, está escondido por um manto branco de nada que se afasta à medida que nos aproximamos, como que se fugisse. É como umaparábola física, do que buscamos e que só à medida que está perto se vai desvendando, e de como o que estava escondido afinal esteve sempre ali, e nós e que não oconseguíamos ver.


Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de luxúria.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua…
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.

Foi contemplando a Lua ontem que consegui encontrar a minha estrela polar. Estava desorientado numa ausência de norte momentânea, e fui buscar refúgio num retiro frio e chuvoso na minha praia.
Felizmente o céu perdeu o seu tom muito nublado e a chuva cessou. Vi a aura madrepérola envolvendo o circulo prateado irradiante e senti-me compelido de energias novas.

Decidi correr, queimar gorduras e banhas que tenho acumulado nos últimos meses auxiliado pelo nano e cavalguei um bom par de quilómetros até um pontão esquecido entre a minha praia e a praia aguda. Ao som de uma melodia feita à medida percorri um estrado místico que se precipitava pela praia iluminada pelo luar intenso. Só e quente de suor senti a calma que necessitava e amenamente senti um abraço dos elementos e da Lua amistosa numa maré cheia de mar revolto num local deserto – uma sensação única de plenitude – de que algures o meu destino seguia o seu curso e que me assegurava naquele momento belo que seria promissor e ameno como desejo.

E de facto as tempestades são transitórias. São sempre.


O tempo é como a areia que se escapa entre os dedos. Depois das três décadas tudo parece escapulir, tornar-se vertiginoso e perigosamente rápido, num suceder de dias, meses, estações e até anos. Dou por mim a braços com uma memória em que a cronologia começa a ficar confusa – seria há seis ou sete anos? Foi antes ou depois de… ?

Este sinal de que o meu tempo já se escoa faz-me lembrar-me o quanto ele é preciso e o quanto se torna tormentoso saber que ele se estoura em banalidades.

Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal…
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto…
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo…
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada…
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

Nem sempre as palavras fluem com a regularidade que as desejamos. Vulgarmente sou fustigado com um incomodo período de procrastinação que de tempos a tempos vem bater à minha porta.

Mas o que interessa nem sempre tem tradução em palavras – apenas é passível de se tentar descrever num conjunto confuso de frases sem nunca se conseguir um mísero texto que se adeqúe ao estado de alma que se quer transmitir. Por isso nem sempre faz sentido expor ao mundo por palavras o que se sente ou faz.

Além disso a audiência que presumo existir provoca uma timidez infame, um medo que o nosso retrato vivencial seja mal entendido ou mal descodificado, um mal que já me persegue há muito.

Mas estes argumentos são meras desculpas e a programção segue dentro de momentos…

Não estou com grande disposição
p’ra outra enorme discussão
tu dizes que agora é de vez
fico a pensar nos porquês
nós ambos temos opiniões
fraquezas nos corações
as lágrimas cheias de sal
não lavam o nosso mal

e eu só quero ver-te rir feliz
dar cambalhotas no lençol
mas torces o nariz e lá se vai o sol

dizes vermelho, respondo azul
se vou para norte, vais para sul
mas tenho de te convencer
que, às vezes, também posso…

ter razão!
também mereço ter razão
vai por mim
sou capaz de te mostrar a luz
e depois regressamos os dois
à escuridão

Se eu telefono, estás a falar
ou pensas que é p’ra resmungar
mas quando queres saber de mim
transformas-te em querubim
quero ir para a cama e tu queres sair
se quero beijos, queres dormir
se te apetece conversar
estou numa de meditar

e tu só queres ver-me rir feliz
dar cambalhotas no lençol
mas torço o meu nariz e lá se vai o sol

dizes que sou chato e rezingão
se digo sim, tu dizes não
como é que te vou convencer
que, às vezes, também podes…

(Escuridão)

ter razão!
também mereces ter razão
vai por mim
és capaz de me mostrar a luz
e depois regressamos os dois
à escuridão

Atenção!
os dois podemos ter razão
vai por mim
há momentos em que se faz luz
e depois regressamos os dois
à escuridão

Letra e interpretação de Jorge Palma

Há alturas da nossa vida em que a escrita não sai fluida ou não faz sentido. A tinta da caneta reflexiva seca quando o momento vale a pena ser apreciado e contemplado sem tirar disso demasiadas elações a quente. Desse modo é salutar esperar alguns dias e deixar as ideias assentarem antes de as tentar esculpir em palavras e frases – deixando assim este pobre diário de molho.

Meditando um pouco, mas sem tentar chegar à essência das coisas que se sentem e também vislumbram na minha vida, tomei consciência que estou a atravessar um Equador existencial e que me dirijo a um novo hemisfério da minha vida. Há muito que o trópico me era evidente, e que pressentia essa linha imaginária que marca uma etapa da vida.

Hoje estou sereno e muitíssimo feliz, para lá de qualquer tipo de interferência malévola. Voltei a visitar a América do Sol e apaziguei muitas das minhas disputas internas, apaziguei o espírito, tudo num lapso de meio ano. Um milagre…

Comemorar três décadas exige alguma ginástica mental. Não é apenas a questão do simbolismo do número redondo, mas sim porque se congemina a ideia frequentemente errada que depois dos vinte é necessário assentar. Puro erro dos mais envelhecidos da mente.

A maninha decidiu e bem comemorar num ambiente muito peculiar: no maior centro de actividades radicais da Europa. Num belo calor de Setembro, um fim-de-semana agitado a carburar cartuchos energéticos que eu não conhecia em mim sigo para as montanhas a norte, junto com a minha
Purpurina
para festejarmos as três décadas da maninha, não sabendo exactamente o que nos esperava na casa da família.

Logo a companhia se avizinhou perfeita, com crianças alegrando o ambiente de trintões, num chalé de madeira num monte perfeito. Mas a adrenalina era o nosso objectivo e lembrando-me do anjo sem asas quis experimentar um dos maiores slides da Europa. Foi uma experiência rápida e estimulante deslizando suspenso por um arnês montanha abaixo, parando quase para lá de onde a vista alcançava. A doce adrenalina é a mais potente de todas as drogas e que nos rejuvenesce e enrijece em dois tempos.
Mas mais adrenalina foi o curto percuso num valente UMM subindo a colina quase no mesmo tempo que demorou a deslizar… algo de verdadeiramente radical.

Confraternizando e soprando as velinhas estivemos cultivando a companhia e amizade, a aventura e as brincadeiras coloquiais, num par de dias excelentes, daqueles que alguem se atreveu a dizer que tinham sido dos melhores dias da sua vida.

Mas extremamente radical e de primeiríssima apanha foi a travessia de 38 pontes suspensas, estilo Indiana Jones, que um grupo restrito se aventurou ao longe de duas extenuantes horas e onde as vertigens eram o pão-nosso de cada segundo, mas que deram um extremo prazer de atingir e superar os obstáculos, um após o outro, sentido que por dentro também seria possível superar objectivos complicados, apenas às custas da força de vontade: mais que uma prova física era uma prova mental – os medos vencem-se a punho, as conquistas vencem-se a suor, basta que a nossa mente queira mesmo superar todas as barreiras.

E exultante após longa travessia suspensa ganhei o direito a um dos mais saborosos cabritos assados da minha vida, envolto em amizade e companheirismo.

imagem de Buda Shakyamuni

Agora prepare-se para meditar um pouco
Está é a sua sala de meditação na web. Por favor simplesmente observe a imagem de Buda Shakyamuni. Não se force e fique apenas o tempo confortável. Esta forma de meditação acalma a mente e por ser feita observando uma imagem de Buda é ainda mais poderosa.


O matrimónio pode até já não ser uma instituição sagrada, mas o seu simbolismo tradicional pode ser belo, em especial se os noivos comungarem de um amor genuíno. O casamento do D. foi extraordinariamente belo, requintado e espero que marque um inicio muito especial para um casal tão bonito.
Comi e bebi do melhor e dancei como nunca tinha dançado com a menina do belo vestido cor-de-rosa.