A Tempestade


Sou um navio que atravessa uma tempestade de emoções.
Os ventos da paixão sopram bruscamente e as ondas das emoções são vagas encrespadas.

Não antecipei os sinais da tormenta nem vi as gaivotas fugindo para terra. Estava um dia calmo, céu azul.
De repente veio uma brisa fresca e o céu encobriu. Mesmo antes de pensar em traçar uma rota para o porto de abrigo mais próximo, já trovões ribombavam e o mar encrespava. Eis que recolho as velas, visto o impermeável à pressa e já o vento uiva furioso e a água começa e cair das alturas em jorros.

Não entro em pânico, e tento dominar um medo terrível de ser tragado pelo mar. As ondas são já enormes.
Todas as ancoras são lançadas com esperança da rota traçada pelos elementos não me esmagar contra os rochedos em terra. Sem fuga preparo-me para enfrentar o centro da tempestade que se forma cada vez mais assustador. Avisto o tufão formando-se e com toda a esperança que me sobra, finco as mãos no leme com toda a força que encontro. Não será o temor da tempestade que me irá salvar. Nem tão pouco a minha vontade de sobreviver aquela tempestade assassina de marinheiros. Apenas o destino

Um lobo-do-mar sabe que as grandes tempestades não escolhem vítimas, nem reclamam sangue. Apenas se revelam quando menos se espera, como um teste dos elementos à coragem dos homens em navegar e desafiar o vasto oceano. Só os grandes homens do mar lhes podem resistir, mas no fim são as tempestades que os poupam, por serem valentes, ou os levam apenas por prazer.
Naquele momento que o navio trepa as vagas, descontrolado, apenas tentando enfrentar aquelas paredes de água salgada para não adornar e ser engolido pelo mar. Sei que parte da carga já está irremediavelmente perdida, mas isso sempre foi um risco que todos os marinheiros têm que assumir.

Seguro o leme com afinco e perseverança. Já não temo o tufão que se aproxima. Estou forte, mas sei que a minha vontade não me poderá salvar do destino.
Se Neptuno me quiser, assim será. Senão serei recompensado pela bonança e um porto seguro onde me esperam mil sonhos.
E tudo a tempestade decidirá, e tudo o tempo desvanece. Mesmo as grandes tempestades.


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