Novos Rumos


1. O jogador

O ano terminou num enorme alarido, tal como seria suposto numa época de mudança.
Os quilómetros sucediam-se, as diferenças, as interrogações.
O Equinócio de Inverno marcou de forma muito intensa a minha forma de encarar a vida. Descobri que consegui fazer-me infeliz e a quem amo, devido ao facto de complicar o que não é complicado. Não havia necessidade de criar uma divisão na minha alma, nem aspirar a que as dificuldades se desvanecessem como se fossem uma névoa passageira.

Silenciei-me, deixei de escrever talvez por ter demasiado , o que escrever e por temer também a introspecção que o meu diário é capaz de gerar ao fixar para o futuro um presente em que a vida e os acontecimentos giram como num pião desenfreado que gira sem cessar.

corrida de cavalos
Baralhei-me na tontura giratória, da ansiedade, medo, perfumadas pelo mais profundo amar. Um amor de verdade que não queria acreditar e que me arrebatara de forma irreversível. Não mais poderia ser o mesmo homem face ao tumulto e pulsar que uma paixão suprema e profunda pode acarretar. O amor modifica-nos a essência, rouba-nos parte da alma rebelde, para nos dar a virtude do nosso intimo estar completo. Como se a voz de uma mulher pudesse também ecoar na nossa alma, partilhando comigo uma possibilidade de futuro.

Abriram-se novas portas, vislumbram-se novos rumos, mas os cavalos cansaram-se de verdade, e acobardaram-se. Os cavalos de corrida agora espumavam sem parar e sentiam no lombo a aposta. Agora a corrida era a valer, jogava-se a vida num telefonema, num SMS, e como numa roleta a bola saltava caprichosamente entre o preto e o vermelho, na mais alta parada em jogo…
parada alta
Quando o pneu estourou na auto-estrada quando seguia a 160, o meu primeiro pensamento foi para ela, e por segundos percebi naquele frio imenso de segunda de manhã que as soluções não são fáceis nem os riscos são pequenos, para quem quer viver e amar. Segui um caminho mais fraco de tentar correr menos riscos, colocar menos fichas. Jogar só no par? Só no Vermelho? E se sai impar? E se sai preto?

E a bola saltava caprichosamente entre os vários números, após ter rodado lentamente na roleta, a ponto de fazer suar de impaciência o jogador.


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