eu
Redutor
Quem se questiona, quem tem a capacidade de imiscuir-se no seu próprio mundo interno dos porquês existenciais tem tendência para se perder num labirinto metafísico que escapa a capacidade da mente humana.
Nunca se encontraram certezas ou axiomas acerca do que nos define ou qual o nosso trajecto na vida.Buscando as razões, ou se preferirem o sentido da vida, esquecemo-nos das sua essência.
Porém há algo que devemos entender, ou pelo menos tentar entender:não estamos aqui por mero acaso. Isso seria muito redutor…
Faz três meses
Voltei até à grande capital medieval – era um projecto que eu acalentava à muito, não só porque eu falhara o seu ex-líbris como também uma bebida fumegante me ficara no imaginá¡rio, entre muitas outras actividades lúdicas.
Mas o essencial e que eu estava munido de duas estrelas polares da minha vida, que me iriam guiar com certeza a momentos únicos. E assim foi. Com sofrimentos de frio, peripécias de devaneios temporá¡rios, com barriga cheia e bem regada, muitos quilómetros muitos momentos de calor. Mas a cereja foi mesmo ir até à antecãmara onde o relicário se encontra. Foi comovente não pelas relíquias em si, mas sim pela ideia de me encontrar no âmago do alvo incontáveis peregrinações ao longo de séculos, algo que gerou tanta fã, exigiu tantos sacrifícios e de certa forma tocou tantas vidas. E só pude presencialmente ver o cubículo que gera tanto atracção. Solene posso afirmar que me impressionou. Gostei daquele frio galego e faço questão de repetir se faz favor.
Sobre coxos e padres
Nunca um coxo treinou atletas para a maratona nem um mudo deu aulas de dicção.
Só os padres não prescindem de dar conselhos sobre reprodução e sexualidade.
Escreve por favor
Escreve-se quando a alma se apoquenta, mas também quando a mente desperta. No meu ponto de vista, só quando a vida nada nos diz ou muito nos cansa, e que não temos nada para dizer ou escrever.
Contido nem sempre fui capaz de colocar no papel os últimos pensamentos voláteis ou emoções, porém o desejo de me libertar dos meu próprio sentimento de me exprimir, faz-me voar num ensejo por vezes delirante. Quando a barragem transborda é mais simples, e quando a privacidade se mantém as frases acumulam-se prontas a sair, a criar uma quadro a pinceladas toscas e de cores vibrantes. Como um meliante que nos sussurros se exprime e diz o que quer dizer e também o que não quer dizer, é assim que gosto de escrever. Desinibido e profundo como gostaria que fosse.
Porém quando a censura auto-imposta se agudiza é fácil esquecer o que se deseja escrever. Tal sucede pois a vida nem sempre é um mar de privacidade e sim uma festa de partilha e de convivência e conciliar a partilha e a intimidade com o mundo é um contra-senso e uma asneira pela qual já tive que pagar a punição variadíssimas vezes.
Mas hoje o castigo não me parece ser mais doloroso que a mordaça.
Piano castanho
Os seus delicados dedos deslizavam acariciando o teclado do piano, tacteando e antevendo a melodia que em seguida ira tocar. A sua timidez fazia que estivesse corada perante um público novo. E era só eu que me ia deleitar com os acordes suaves da sonata que a encantara durante longuíssimas horas e inúmeras aulas na sua adolescência.
Quando os acordes soaram suaves e fluidos, com uma mestria singular naquele piano castanho sem cauda de que nunca gostará, pressenti o seu nervosismo desvanecer, e deleitando-me com a música senti-me comovido e ávido por beijá-la nos lábios ternamente quando acabasse de tocar para mim.
O POETA E A LUA
Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de luxúria.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua…
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.
tique-taque
O tempo é como a areia que se escapa entre os dedos. Depois das três décadas tudo parece escapulir, tornar-se vertiginoso e perigosamente rápido, num suceder de dias, meses, estações e até anos. Dou por mim a braços com uma memória em que a cronologia começa a ficar confusa – seria há seis ou sete anos? Foi antes ou depois de… ?
Este sinal de que o meu tempo já se escoa faz-me lembrar-me o quanto ele é preciso e o quanto se torna tormentoso saber que ele se estoura em banalidades.
A Hora Íntima
Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: Nunca fez mal…
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: Rei morto, rei posto…
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: Foi um doido amigo…
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: Não há de ser nada…
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Escuridão (vai por mim)
Não estou com grande disposição
p’ra outra enorme discussão
tu dizes que agora é de vez
fico a pensar nos porquês
nós ambos temos opiniões
fraquezas nos corações
as lágrimas cheias de sal
não lavam o nosso male eu só quero ver-te rir feliz
dar cambalhotas no lençol
mas torces o nariz e lá se vai o soldizes vermelho, respondo azul
se vou para norte, vais para sul
mas tenho de te convencer
que, às vezes, também posso…ter razão!
também mereço ter razão
vai por mim
sou capaz de te mostrar a luz
e depois regressamos os dois
à escuridãoSe eu telefono, estás a falar
ou pensas que é p’ra resmungar
mas quando queres saber de mim
transformas-te em querubim
quero ir para a cama e tu queres sair
se quero beijos, queres dormir
se te apetece conversar
estou numa de meditare tu só queres ver-me rir feliz
dar cambalhotas no lençol
mas torço o meu nariz e lá se vai o soldizes que sou chato e rezingão
se digo sim, tu dizes não
como é que te vou convencer
que, às vezes, também podes…(Escuridão)
ter razão!
também mereces ter razão
vai por mim
és capaz de me mostrar a luz
e depois regressamos os dois
à escuridãoAtenção!
os dois podemos ter razão
vai por mim
há momentos em que se faz luz
e depois regressamos os dois
à escuridão
Dia D
O matrimónio pode até já não ser uma instituição sagrada, mas o seu simbolismo tradicional pode ser belo, em especial se os noivos comungarem de um amor genuíno. O casamento do D. foi extraordinariamente belo, requintado e espero que marque um inicio muito especial para um casal tão bonito.
Comi e bebi do melhor e dancei como nunca tinha dançado com a menina do belo vestido cor-de-rosa.
Um Universo muito Particular
Numa ocasião única voltei ao Coliseu da minha cidade para admirar a belíssima música de Marisa Monte. Com a leoa, a maninha e o cunhado, devidamente instalados nuns belos lugares, mesmo com um acesso de febre misteriosa pude apreciar um dos mais belos concertos a que já assisti, não só pela beleza melódica, mas também pela estética do espectáculo.
Eu apreciei muito os trabalhos “Universo ao Meu Redor” e “Infinito Particular” da Marisa Monte e perder o tour “Universo Particular” na minha cidade ia ser indesculpável. A cantora é de facto uma musa da música brasileira e a sua ausência dos palcos para abraçar a maternidade desde os Tribalistas veio realçar a sua genialidade sincera.
A forma sóbria mas particularmente bela com que o espectáculo começa dá um carisma extra à música já de si profunda e melodiosa. O palco estava montado como um pequeno altar onde a santa altaneira era circundada a níveis inferiores pelos anjos-músicos, dando um forte impacto mas simultaneamente parecendo de um enorme equilíbrio.
As música sucediam-se, carregadas do bom gosto da interprete e compositora é acompanhada por painéis luminosos e outros efeitos simples e harmoniosos. Mais que a música que eu adoro, este concerto ficou-me não só no ouvido como na retina devido à sua beleza, que só pecou pelo excesso de profissionalismo da Marisa.
Especial
O tempo tem escasseado para martelar no teclado, mas tal não significa que a ausência de palavras seja sinal de ausência de momentos que perdurarão na memória. O aniversário da princesa teve um significado importante para mim, não só pela festa magnífica que foi, tão repleta de convívio e amizades de todos os quadrantes, mas também por me colocar na minha praia perante tantas mudanças boas na minha vida.
Há situações que nos marcam, e por vezes os momentos mais singelos fazem-nos perceber o quanto o destino pode dar cambalhotas e tornar um mundo cinzento num explosão de cores Robbialac. Naquela tarde pude constatar no meio de uma casa cheia que definitivamente o meu mundo teve uma mutação carregada de felicidade e amor.
Para que a noite acabasse, especial como a tarde que a antecedera, só ouvir o «Just like Heaven» dos Cure no recanto revivalista chamado Bateaux, encantado pela beleza principesca. E depois no final aquele toque tão especial de aventura, tão divertida e ao mesmo tempo simbólica num local tão estranho. Especial.
Acerca deste Verão
Um Verão não é Verão se não se desgastar o corpo e alma, bamboleando o calor do estio e celebrando a época d e descontracção. Esta estação está a ser uma das mais agitadas das inumeras que já vivi, com uma agenda verdadeiramente carregada. Praticamente não me recordo de usar o meu solário particular ou de dar mergulhos nas águas glaciares da minha praia, correndo de eventos em eventos de primeira linha. Mas uma coisa eu sei… é o melhor Verão que eu já tive. E ele ainda não acabou!
Há Dias
Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo
quero eu dizer :
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.
for your eyes only
7YuDkmOz5AJMTusqjU//2CjLpgnWzFkikl366wgkoHohWdAs
GrOMuXlLcju6BipUdFE4yBjWXyTjlkaGpdiL32vgb+3OK0R5
KFb7E+NVueeUdWEILo2y0H0tIPdiLdRwALWr5FhCsow/eV+h
DOIhghmv8188Qb+/FbAJeTt87LfB1zgXu39CPkImjagibm4o
iiUV8ylauRa4zdz8LNJmTHnUhTrtXgagp4l+R+O1Jf2P7/Xj
A4W+jlbUlZYhReM0Qd0/pQ9uySqvsYCi
Verdades que perduram
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa, ou como um címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, não seria nada. E, ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada me aproveitaria.
Devias estar aqui
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
– Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum.
Cloud 9
Às vezes apercebemo-nos que amadurecemos e que estamos mudados. A matriz da alma modificou-se sem avisar, alterou-se, melhorou-se sem que tivéssemos consciência da requalificação interna.
O Verão sempre foi um florir de intensas emoções ou um sublimar de esperanças. De mão dada com um Sol cada vez mais intenso, é normal nas minhas recordações, atingir uma espécie de pedrada de estio. Sentir-me livre e vivo. Alegre.
Este ano foge à regra. Todos os hábitos caem por terra, todas as recordações não fazem sentido. Não é o estio que me faz pulsar. Nem são as esperanças que me alegram, ou o sol que me aquece o espírito. É algo mais substancial, menos efémero. É algo de permanente que não desaparece numa ressaca outonal, ou se esfuma numa memória devidamente arquivada no cérebro na zona denominada Verões do passado.
A vivência é outra, a maturidade e equilíbrio são o sustentáculo de um novo paradigma, daquilo que eu sempre desejei e agora está comigo. Um pico de felicidade. Um verdadeiro e absoluto Cloud 9 .
Eternamente Tu
O tempo não sabe nada, o tempo não tem razão
O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção
Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós
Meu amor, o tempo somos nósO espaço tem o volume da imaginação
Além do nosso horizonte existe outra dimensão
O espaço foi construído sem princípio nem fim
Meu amor, huuum, tu cabes dentro de mimO meu tesouro és tu
Eternamente tu
Não há passos divergentes para quem se quer
EncontrarA nossa história começa na total escuridão
Onde o mistério ultrapassa a nossa compreensão
A nossa história é o esforço para alcançar a luz
Meu amor, o impossível seduzO meu tesouro és tu
Eternamente tu
Não há passos divergentes para quem se quer
EncontrarO meu tesouro és tu
Eternamente tu
Eternamente tu