2004

Por vezes deparamo-nos por diante de grandes decisões e fraquejamos, ou pelo menos não optamos pelas melhores opções. Somos feitos de um barro de qualidade, mas que tem as suas imperfeições, razão de sermos meramente humanos.

Percebo mais profundamente que não de deve dar demasiada importância ao que toca a estar errado ou certo, de saber ou ignorar, quando o que tem mesmo peso é se aprendemos, se vimos uma luz mais forte.

Um ser não pode temer de castigos e sobreviver sobe medos de errar ou falhar, mas sim buscar conhecimentos, aprendendo a melhorar os seus passos e acções para que sejam menos imperfeitos. Trata-se de ganhar experiência, e no final – tentar evoluir rumo ao nosso melhoramento íntimo.

Sinto-me como que uma criança que dá os primeiros passos, sofrega e cambaleante, mas insistente. Dá dois passos e estatela-se no chão, chora ou sorri, conforme o impacto, mais eis que em segundos se endireita, cambaleia e espeta mais seis passos rápidos de alegria e moral. Força de viver na sua versão mais pura, na mesma forma que deve ser quando se procura crescer ser ser em altura, ou nas frugalidades do poder mundano.

Hoje estou particularmente irritadiço. Pareço o ser descompassado, muito ao contrário do que me tenho sentido intimamente. É sem dúvida um refluxo passageiro, de uma certa erosão do meu circuito profissional. Espinhos passageiros.

Nada que uns bons momentos de meditação e recolhimento não resolvam num ápice. Ao fim de contas sei-o hoje mais do que nunca que estou profundamente feliz com tudo o que se passa na minha vida.

A taça é nossa!

É uma alegria ver o meu povo contente. É bom sentir os festejos e o contentamento por uma vitória desportiva que enobrece a minha cidade desfraldando um orgulho de ser portista como há 17 anos atrás.

Desta vez foi mais difícil, o que aumenta o mérito dos campeões. São já uma constelação que vai ficar na história, ao terem igualado o Liverpool ao ganharem dois canecos diferentes em épocas consecutivas, um feito quase inatingível num tempo de SADs milionárias por essa Europa fora. Só mesmo o meu clube seria capaz!

Parabéns FCP!!!

Fiz dos teus cabelos a minha bandeira
Fiz do teu corpo o meu estandarte
Fiz da tua alma a minha fogueira
E fiz, do teu perfil, as formas de arte

Fiz das tuas lágrimas a despedida
fiz do teu braço a minha anca
dei o teu sentido à minha vida
E o grito deu-o ao nascer de uma criança

Todos nós temos Amália na voz

Dei o teu nome à minha terra
Dei o teu nome à minha arte
A tua vida à primavera
A tua voz à eternidade

Todos nos …

A tua voz ao meu destino
O teu olhar ao horizonte
dei o teu canto à marcha do meu hino
A tu voz à minha fonte

Todos nos …

Dei o teu nome à minha terra
Dei o teu nome à minha arte
A tua vida à primavera
A tua voz à eternidade

Os dias não são mais iguais uns ao outros. Decididamente a minha vida sofreu alterações que permitem um novo desabrochar, uma nova consciência e todo um novo conjunto de objectivos. Nada como um novo dia de Sol brilhando lúcido e esplendoroso.

O tempo esse contínua a escassear, talvez mais do que nunca. Talvez seja só um percepção errada da velocidade com que o mundo faz o seu papel ao nosso redor, e que à medida que as nossas células cinzentas vão amadurecendo, a sua rapidez estagna a uma velocidade de cruzeiro, Além disso mais situações nos impedem de estar parados, e assim nada parece estar parado.

A vida hoje está dinâmica, 100 % de alterações, voltas de 360ºs . Felizmente.

A necessidade de abraçar a época em que vivemos está a tornar-se uma obsessão para milhares de trintões como eu. A geração que esteve na adolescência nos anos 80 cresceu embebida num sentimento sem causas nobres, apenas o consumismo e a perspectiva reganomics de que do outro lado não se vivia tão bem como cá.
O Muro caiu e o comunismo também: tudo ruiu.
O crescimento económico estagnou, a industrialização regrediu. A terciarização social está na sua magnitude. A globalização é já a hidra e não uma promessa de riqueza.

Recordo-me da primeira vez que fui até a um restaurante MacDonalds. Era o supra-sumo da sofisticação, um ambiente moderno e inovador, numas férias em Espanha. Hoje não imagino nada mais ridículo do que considerar moderno e sofisticado comer um hamburger e batatas fritas…

O comunismo e a URSS não são mais o bode expiatório, nem a questão do enriquecimento económico parece ser importante. A falência de valores com que crescemos, faz agora que muitos dos trintões actuais se refugiem em saudosismos ou em curas milagrosas para o nosso vazio social e espiritual.
Não vamos ficar ricos num emprego estável de uma grande companhia, nem vamos viver à custa de um canudo. Não vamos prosperar num país europeizado e rico, nem ter uma vida sem preocupações. Esses sonhos de adolescência foram isso mesmo: sonhos de adolescência.

Estou bastante feliz, mas num deficit mental preocupante. Sinto-me a correr contra um cronómetro incomensurável e intolerante perante os pequenos imprevistos e atrasos do dia-a-dia.
Esse estranho tiquetaquear como que me sufoca, muito embora a coragem de repensar e agilizar a minha mente aumentam a cada instante, tornando-se mais fácil estar preparado e mais alerta para essas novas alterações que se avizinham.

Neste fim-de-semana pude constatar a enormidade que é a indústria cosmética e o que ela faz movimentar – eu já sabia o quanto a nossa sociedade valoriza a imagem e o conceito «capa de revista» para o perfil feminino e masculino. No entanto escapava-se-me algo importante para perceber o porque de tão grande interesse, no qual eu também vivo: a imagem na vertente da promessa de beleza e juventude mexem em instintos animais básicos, capazes de nos tornar obcecados na sua persecução.

Não ter gorduras, carnes flácidas, olheiras, pele amarelada dá-nos um aspecto mais atraente, saudável e logo maior capacidade de agradar ao sexo aposto. Assim parecer mais jovem é também um sinal de sobrevivência pois a morte estará mais longe da juventude.

É nestes parâmetros que a vaidade se mistura com o consumo e toda uma engrenagem de produtos mais ou menos milagrosos é uma salvação para as nossas pobres mentes consumidoras. Ser belo é a doce miragem da sobrevivência, da capacidade de vir a ser feliz como nas revistas cor-de-rosa, num sonho que nos arrasta para a fogueira das vaidades. Como num anúncio de perfume ou de baton: a vida passa a ser perfeita graças aquela cor ou odor.

Ausente, sofro por mil tormentos que não mereço, ou que não tenho direito de sofrer. É tempo de tentar uma réstia de esperança, ou pelo menos tentar colar os múltiplos estilhaços e inúmeros cacos em que se estilhaçou o meu futuro. Apenas quero um perdão e a chance de recontruir a edificação que ficou abalada.