2010

Depois de um fim de semana exigente, dou-me conta que desta vez a festa do solesticio de Inverno não me está a atormentar particularmente como noutros anos.
Quando penso nesta ausência de stress pré-natalício não vejo nenhuma explicação a não sei a inevitável influência da minha cara metade que vibração com qualquer alusão à época do velhinho das coca-cola. Não tenho feitio para ser o desmancha-prazeres encartado em serviço permanente e por isso forçosamente vou assistindo com mais benevolência ao preparativos mais ou menos frenéticos da quadra. 
Mas tudo isto só é suportável bem
longe das catedrais de consumo como é lógico!

I can see clearly now the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day

Oh yes, I can make it now the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I’ve been praying for
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day

Look all around, there’s nothing but blue skies
Look straight ahead, there’s nothing but blue skies

I can see clearly now the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Here’s the rainbow I’ve been praying for
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day
It’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day
Real, real, real, real bright, bright sunshinin’ day
Yeah, hey, it’s gonna be a bright, bright sunshinin’ day

Por Jimmy Cliff

Estou a ler novamente Henry Miller. Nunca um escritor me deu simultaneamente tanto prazer e repulsa nos seus textos efervescentes de vida.

Um dos problemas da leitura deste deus da literatura é que não se pode ficar indiferente à corrupção da mente e holocausto da banalidades que nos são introduzidas página após página. Miller consegue transmitir o ódio à hipocrisia da sociedade e semear um sentimento de rebeldia visceral até num cordeiro como eu. 

Trópico de Câncer está ainda mais pesado para a minha mente que o poderoso estalo que recebi com Trópico de Capricórnio,  deixando a nu uma Humanidade deprimente e sempre deixando a sexualidade cavalgar desenfreada. E tudo num cenário de crise da Grande depressão, o que me recorda que nas alturas de crise se transcendem os limites da da bondade assim como da maldade dos homens. As revoluções nascem da miséria assim como a fome e o desespero são os catalisadores das mudanças mais radicais e profundas.

Estou farto de ouvir falar em orçamentos, crises e dívidas públicas. A sociedade portuguesa há muito que está em colapso assim como a sua economia. Não é novidade. O que é novidade é a necessidade vergonhosa e urgente de tentar solucionar o desastre em que nos encontramos após décadas de más políticas governativas.

And surely we will die without memory
coming to cold in the shadow of space
& if it isn’t too late
for the star to love you
spraying the sky w/ whispers
attuned to galaxies hungry for flame
And if the tongue of night sings
of Albino winos
till the morning light shafts
the doorway
then surely we will die tonight
faceless at the White
Gate
sharing the smoke
w/ ancient shapes in future garb
and you stand somewhere there
on the other side
feeding on the pain of dreamlessness
Wherefrom the misty morning of
white shadows
& the unresisting need to destroy?

Samael, Samael, I beg it may be forgiven
that they may be driven
out of the black into the white
Only let the dazzle remain
for gamblers to surprise,
the strategic diamond, the throne
of compressed bone
in the unshored dark
where only light can forgive
& your mind is singed
Embers of echoes in the vastness
disguise the yearning to burn
blind eyes
in arrogant displays of feeling
Running wild these beasts will feast
on the newborn kind
for surely we will die tonight
unless we learn to ignore
what the others live for
on the other side of morning
& the Skin of Nothing left by the same
summer
masks the faceless wanderer

O let it happen,
this weird to discover
the shape of Beauty in everything
extreme
for surely we will die tonight
whether we will or whether we
dream
O Samael, forgive the dreamer
forgive the dream

The Song of Nothing is your lullabye.

Poema de Ira Cohen

Acabei de ler 2666 de Roberto Bolaño. Fiquei esmagado com a prosa póstuma deste escritor, que deixou esta obra-prima inacabada, porém limpa e brilhante.

Há muito que não lia um livro tão irreverente e pojante de conteúdo, levando a literatura moderna a novos limiares. Não conseguia parar de ler este livro que consegue aliar a beleza à claustrofobia de uma cena de terror em inúmeros capítulos, sem inibições e descarregando uma corrente inesgotável de personagens únicas e inesquecíveis. Bolaño tornou-se imortal neste livro com um nome tão estranho quanto inexplicável para quem não leu mais nada deste escritor.

Em tempo de crise o descontentamento aumenta, assim como a pobreza e os impostos. Porém neste país a beira-mar plantado, parece que há sempre razões mais interessantes para serem alvo de preocupações. Podemos estar a beira da falência do estado mas é mais importante o debate do casamento gay, os impostos vão subir e penalizar fortemente a classe média, mas o Papa Ratzinger veio ver a malta e todos contentes ficamos com as tolerâncias de ponto.

Parece patético, mas a pura realidade é que a sociedade está doente, assim como a politica e e economia. Pior, parece que vivemos nos últimos dias do absolutismo francês logo antes da revolução francesa. Com a taxa de desemprego a atingir os 10%, a bancarrota à vista, conseguimos dotações para os partidos políticos (pagas pelos contribuintes) de 90 milhões de euros, e quando se vão fazer cortes radicais nas despesas operacionais dos hospitais, vai ser adaptado um salão na Assembleia da República que permite que os deputados possam fumar no valor de 300.000 euros. Mais vergonhoso ainda, vamos comprar dois fabulosos submarinos e construir uma linha de TGV por um número ainda não determinado de dezenas de biliões de euros, mas temos que subir os impostos para os bens alimentares, e sobre os salários penalizando os pobres mais directamente…

Muito semelhante ao pré Revolução Francesa. Acho que Portugal esta a precisar de umas guilhotinas.