Considerações

Dizem que o tempo passa a correr. Talvez só com a idade possamos entender a profundidade desta afirmação tão popular.
Faz mais um ano que eu estava perdido na grande cidade, vulgarmente designada por Lisboa, pensando que estava a construir um novo destino que não estava escrito e muito menos estava predestinado a acontecer.

No calor desse verão longínquo antecipava um amor perdido para sempre e alimentava um gosto por caminhar junto ao precipício como se fosse a saída de um beco do Destino. Sem rédeas ou planos mergulhei de cabeça sem saber se tinha fundo. Apenas queria afastar-me do passado e buscar um futuro radicalmente diferente e se possível melhor. Porém não consegui cortar todas as amarras e inocentemente achei que a minha tábua de salvação seriam os desabafos neste blogue, para que os meus melhores amigos me pudessem seguir, numa forma de falsa proximidade.

Logo num par de meses pude ver que a minha fibra não era a de um workaholic que deixa tudo para trás e faz tábua rasa das suas paisagens nem das suas emoções. Julguei ser forte mas as emoções e a falta de norte literalmente me levaram para futuros menos incertos mesmo que ainda não fosse capaz de delinear qualquer plano para a minha vida. Foi um momento em que este diário me sugou ânimo mas me deu em retorno muita esperança de melhores dias.

Tornei-me dependente deste curioso amigo sem alma própria que aos poucos me mostrou que muitas vivências devem ser relativizadas. Muitos tropeções e asneiras asseninas ainda vim a fazer na sua companhia, altos e baixos psicoticos na verdadeira ascensão da palavra, mas que me foram moldando e amadurecendo.
Passados 11 longos mas céleres anos quero dizer Parabéns. Parabéns psicotico.com.

Recebi há dias um colega inglês que, vagamente conhecedor da situação portuguesa, esperava encontrar o país em alvoroço.

Quando verificou que nada disso se passava ficou verdadeiramente intrigado. Expliquei-lhe que o meu salário tinha sido cortado em 30%, que esse corte tinha sido superior para alguns colegas, que vários outros estavam a ser despedidos, etc. O seu espanto foi então redobrado: “Como é possível que não existam manifestações, greves contínuas, etc.? Por que razão está a universidade a funcionar normalmente?”

Este espanto diante da situação portuguesa é genuíno. Não passa um dia sem que leia na imprensa ou ouça de viva voz o elogio de algum responsável político europeu à peculiaridade da nossa situação: Portugal é verdadeiramente excepcional porque tem conseguido manter a ordem e a paz social. O contraste com a agitação popular na Grécia é enorme. Mas não deixa de ser também assinalável a diferença da situação portuguesa face à turbulência social a que se assiste já em Itália ou em Espanha, por exemplo.

Será difícil negar que a ordem e a paz social até agora existentes acabam por ser benéficas para o país. Mas por que é que as coisas se passam assim entre nós? Aquilo que os responsáveis europeus não sabem – e os nossos governantes fazem de conta que não sabem – é que a ordem e a paz social resultam de um aspecto especialmente negativo, de um “mal” que de há muito afecta a sociedade e a democracia portuguesa. Ainda no passado fim-de-semana, numa conferência no Porto, a politóloga Marina Costa Lobo chamava a atenção para isso mesmo, recordando a debilidade da participação política, convencional e não convencional, no nosso país, por comparação com o que se passa nos outros países europeus. Entre nós, a atitude de desconfiança face à política é enorme e a apatia estende-se também à participação cívica num sentido mais alargado.

Diante da crise e das medidas tomadas pelo Governo, muitas vezes de forma arbitrária e injusta, face ao empobrecimento de muitos e ao enriquecimento de alguns, face à venda ao desbarato dos nossos melhores activos, à destruição do tecido empresarial, à transformação do Estado social numa instituição assistencialista, e por aí adiante, que fazem os portugueses? Cada um procura tratar de si e sobreviver, no silêncio e, por vezes, na vergonha. A política e a acção cívica parecem-lhes algo demasiado longínquo. Preferem sofrer em privado do que contribuir para uma mudança na esfera pública.

Assim, os bens da ordem e da paz social são, em última instância, uma consequência da nossa desconfiança face aos outros, do atavismo secular, do alheamento face à política, da famosa “falta de civismo”. São, forçando um pouco a frase, bens que vêm por mal.

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in Economico João Cardoso Rosas, Professor Universitário

Nestes tempos de dificuldades e de permanentes notícias depressivas é importante encabeçar as ideias e pensamentos de uma forma construtiva.

Eu que já tinha intuído a crise desastrosa que se está a abater em Portugal e puder-se-á dizer que eu de Sherlock Holmes ou de médium não tenho nada – só quem estava muito desatento ou pouco instruído é que não poderia perceber que desde à 5-10 anos anda o nosso país a empobrecer-se e a endividar-se. E quando esse rumo é traçado segue-se invariavelmente a falência.

A questão é que de nada adianta afirmar que se teve razão ao encarnar um velho do Restelo – de nada serviria.

Hoje porém, ainda longe de terminar o naufrágio a pique da economia portuguesa é importante lembrar que nem tudo possa ser negativo, e que a história portuguesa não deveria ser esquecida – pelos vistos desde que fomos heroicamente à Índia no Sec. XVI este jardim a beira mar plantado já foi umas boas dúzias de vezes à Falência. O nosso problema crónico de más governações e de incapacidades governativas apenas se agudizou a cada período de crescimento económico. Portanto nada de novo.

E como sempre depois há outro ciclo económico. Há que apertar o cinto para se estar à tona. Um dia destes voltamos a viver à grande para arranjarmos mais uma falência à grande!

Há muito tempo que não me estava a dedicar convenientemente ao meu gosto por vomitar algum pensamento em formato escrito. Tenho-me deixado corromper por uma profunda procrastinação no que toca ao hábito de escrever e podia aqui aliviar as minhas frustrações e debitar um número incontável de razões mas isso só serviria como exercício patético de autoflagelação e de listagem lamúrias.

Por isso prefiro estender este pequeno texto no sentido de tentar reencontrar o profundo prazer que me foi roubado aos poucos que é escrever. Escrever regularmente é uma catarse que a minha mente necessita para clarificar a alma e os neurónios. Tenho sentido a falta dessa capacidade de verbalizar a consciência e inconsciência do íntimo e do anotar de pensamentos e reflexões.

A loucura não se descreve, apenas se pode tentar mimetizar, documentando os fragmentos de falta de lucidez ou até de plenos mergulhos paranóicos com alucinações nefastas. Da mesma forma a lucidez e algo de amorfo que muitas vezes depende do ponto de vista e que o fanatismo para alguns é fervor religioso para outros, a loucura pode ser só uma excentricidade ou a demência total. Algures deve ficar o equilíbrio, o meio-termo – o fiel da balança que tento perseguir à medida que amadureço ou melhor – para falar a verdade – à medida que envelheço.

Acho que perdido o anonimato que me servia de capa para mergulhar mais facilmente no caos louco que me ocorre na mente me tenha abrandado os ânimos mais criativos. Talvez esse caos louco se tenha enternecido e seja só uma suave corrente ou talvez escrever a espaços me faça envelhecer melhor. Quem sabe?

1. As Scut começaram mal e ameaçam acabar muito pior. Um Governo socialista idealizou-as como “as auto-estradas que se pagam a si próprias”. À época, muitos denunciaram a fantasia. Os socialistas, designadamente os ex-ministros João Cravinho e Jorge Coelho (nunca se esqueçam!), juravam que não: tudo estava planeado e as vozes que requeriam mais ponderação e cautela não passavam, dizia-se, de incertezas colocadas por quem não tinha imaginação para mais. Quando Guterres fugiu e nasceu o Governo de coligação PSD/CDS, fizeram-se finalmente as contas e percebeu-se a inevitabilidade das portagens como esforço de compensação para o negócio ruinoso para o Estado que os socialistas tinham engendrado.

Algum tempo depois, um outro Governo socialista chegou. Voltou a prometer a gratuitidade – muitos acreditaram e a vida das empresas e das pessoas daquelas regiões servidas pelas Scut foram-se compondo ao seu redor.

2. Depois, Sócrates fez o que mais o notabiliza: alegremente, pontapeou essa promessa eleitoral. Sem pestanejar, repetiu tudo aquilo que parte da Oposição dizia desde o início e afirmou a urgência das portagens.

Os consórcios privados cedo perceberam que o fluxo de trânsito iria diminuir após a introdução das portagens. De imediato, quiseram a renegociação da fórmula de pagamento que era baseada, precisamente, no número de viaturas que transitavam nessas vias. E, pasme-se, conseguiram todos os seus intentos – até os devem ter superado. Obedientemente, o Estado socialista renegociou o que as empresas queriam e como estas desejavam: a base da compensação às empresas (rentabilidade) passou a ser um conceito indeterminado, poeticamente denominado de “disponibilidade”. A partir desse funesto momento, o fluxo de veículos nas Scut era indiferente para os consórcios – estes, recebiam “rentabilidades” desmesuradas em qualquer situação.

3. O resultado foi desastroso. De acordo com uma auditoria preliminar do Tribunal de Contas (TC), realizada graças a uma réstia de vergonha que ainda consegue subsistir por aqueles lados e cujos resultados provisórios terão escapado para os jornais antes do tempo politicamente aprazado, os consórcios privados ficaram a ganhar (e o Estado a perder) 58 vezes mais com a renegociação do novo modelo de pagamento a pretexto da introdução das portagens. Se as notícias agora conhecidas se vierem a confirmar, a retribuição que o Estado terá de ofertar aos privados terá crescido 10 mil milhões de euros…

4. Quando as portagens surgiram, quiseram convencer-nos de que se tratava de um esforço imprescindível para ajudarmos o país a sair do buraco onde tinha sido enfiado pelos maus governos que nos têm assolado. Afinal, afundámo-nos ainda mais.

Já vi realizarem-se maus negócios mas nada que se assemelhasse a isto. Caso esta auditoria do TC seja autêntica, o desnível entre a inteligência dos privados e a gritante obtusidade dos negociadores do Governo é excessivo e suspeito: tudo indica que se trata de uma vigarice legal.

O processo das Scut revela que a incompetência deste Governo está muito para além da redenção. E constituirá um exercício de cidadania ficarmos atentos, nos próximos anos, aos destinos profissionais daqueles governantes, pretensos defensores do interesse comum, que participaram nesta marosca deplorável.

Sempre que os leitores passarem por debaixo de um dos pórticos e ouvirem o irritante sinal sonoro do identificador, quando descobrirem os débitos nas suas contas bancárias, lembrem-se de quem criou e prometeu aquelas estradas “sem custos para o utilizador”. Evoquem as promessas mil vezes repetidas pelos mesmos que as quebraram. Recordem os argumentos da necessidade do país nesta hora de aflição que nos foram impingidos quando nos fizeram pagar aquilo que tinham jurado ser gratuito. E recapitulem os números: o dinheiro dos nossos impostos, após as portagens, vai ser imolado 58 vezes mais dolorosamente do que antes.

Pois, como dizia o sempre presente ex-ministro Jorge Coelho, hoje do outro lado da ditosa barricada, “há pouca memória na política portuguesa”…

Opinião de Carlos Abreu Amorim no JN

. Reduzir as mordomias (gabinetes, secretárias, adjuntos, assessores, suportes burocráticos respectivos, carros, motoristas, etc.) dos três Presidentes da República retirados.
. Redução dos deputados da Assembleia da República e seus gabinetes, profissionalizando-os como nos países a sério. Reforma das mordomias na Assembleia da República, como almoços opíparos, com digestivos e outras libações,tudo à custa do pagode
. Acabar com os milhares de Institutos Públicos e Fundações Públicas que não servem para nada e têm funcionários e administradores com 2º ou 3º emprego.
. Acabar com as empresas Municipais, com Administradores a auferir milhares de euros mês e que não servem para nada, antes acumulam funções nos municípios, para aumentarem o bolo salarial respectivo.. Redução drástica das Câmaras Municipais e Assembleias Municipais, numa reconversão mais feroz que a da Reforma do Mouzinho da Silveira, em 1821, etc
. Redução drástica das Juntas de Freguesia.
. Acabar com o pagamento de 200 € por presença de cada pessoa nas reuniões das Câmaras e 75 € nas Juntas de Freguesia
. Acabar com o Financiamento aos Partidos. Que devem viver da quotização dos seus associados e da imaginação que aos outros exigem para conseguirem verbas para as suas actividades
. Acabar com a distribuição de carros a Presidentes, Assessores, etc, das Câmaras, Juntas, etc., que se deslocam em digressões particulares pelo País.
. Acabar com os motoristas particulares 20 h/dia, com o agravamento das horas extraordinárias… para servir suas excelências, filhos e famílias, e até os filhos das amantes…. Acabar com a renovação sistemática de frotas de carros do Estado e entes públicos menores, mas maiores nos dispêndios públicos.
. Colocar chapas de identificação em todos os carros do Estado. Não permitir de modo algum que carros oficiais façam serviço particular tal como levar e trazer familiares e filhos às escolas, ir ao mercado a compras, etc. Acabar com o vaivém semanal dos deputados dos Açores e Madeira e respectivas estadias em Lisboa em hotéis de cinco estrelas pagos pelos contribuintes que vivem em tugúrios inabitáveis…
. Acabar com os “subsídios” de habitação e deslocação a deputados eleitos por circulos fora de Lisboa… que sempre residiram na Capital e nunca tiveram qualquer habitação nos circulos eleitorais a que concorreram!
. Controlar os altos quadros “colocados” na Função Pública (pagos por nós…) que quase nunca estão no local de trabalho. Então em Lisboa é o regabofe total: HÁ QUADROS QUE, EM VEZ DE ESTAREM NO SERVIÇO PÚBLICO, PASSAM O TEMPO NOS SEUS ESCRITÓRIOS DE ADVOGADOS A CUIDAR DOS SEUS INTERESSES, QUE NÃO OS DA COISA PÚBLICA…
. Acabar com as administrações numerosíssimas de hospitais públicos que servem para garantir tachos aos apaniguados do poder – há hospitais de província com mais administradores que pessoal administrativo. Só o de PENAFIEL TEM SETE ADMINISTRADORES PRINCEPESCAMENTE PAGOS… pertencentes ás oligarquias locais do partido no poder…
. Acabar com os milhares de pareceres jurídicos e outros, caríssimos, pagos sempre aos mesmos escritórios que têm canais de comunicação fáceis com o Governo no âmbito de um tráfico de influências que há que criminalizar, autuar, julgar e condenar..
. Acabar com as várias reformas, acumuladas, por pessoa, de entre o pessoal do Estado e de entidades privadas, que passaram fugazmente pelo Estado.
. Pedir o pagamento dos milhões dos empréstimos dos contribuintes ao BPN e BPP, com os juros devidos!
. Perseguir os milhões desviados por Rendeiros, Loureiros e quejandos, onde quer que estejam e recuperar essas quantias para os cofres do Estado.
. E por aí fora… Recuperaremos depressa a nossa posição, sobretudo a credibilidade tão abalada pela corrupção que grassa e pelo desvario dos dinheiros do Estado .
. Quem pode explicar porque é que o Presidente da Assembleia da República tem, ao seu dispor, dois automóveis de serviço? Deve ser um para a “pasta” e outro para a “lancheira”!…

Aqui vão algumas medidas importantes para que o Ministro das Finanças não continue a fazer de nós parvos, dizendo com ar sonso que não sabe em que mais cortar.
Se todos vocês reencaminharem como eu faço, ao fim do dia seremos centenas de milhar a fazer abarrotar os olhos e os ouvidos dos senhores que nos governam e precisam de ajuda para saber onde cortar no orçamento do Estado
Todos os ”governantes” [a saber: os que se governam…] de Portugal falam em cortes das despesas, mas não dizem quais, e aumentos de impostos, a pagar pela malta
Acabou o recreio!

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O meu muito amado FCP sagrou-se novamente campeão nacional de futebol como seria de esperar, com toda a naturalidade acumulando 25 títulos.

O grande motivo de regozijo porém foi sagrar-se campeão na casa do adversário ódioso que lhe proporcionou uma festa as escuras num espectáculo de extrema falta de fair play. Quem não sabe perder não é digno nem tem ombridade. Mas isso não é nenhuma novidade. E será assim que rezará a história deste campeonato: o Porto ganhou bem e o Benfica mostrou a sua verdadeira face.

3ª parte – A panela de pressão
ou
Demoras muito FMI?

Passados estes dias e parando o turbilhão de reacções, é bom fazer uma breve meditação acerca de da motivação e impacto da manifestação de 12 Março.

Como se vem dizendo no meu programa de analise favorito, no contraditório há muito tempo que é tema de debate, a crise económica portuguesa, que é estrutural e não conjuntural, a curto ou médio prazo vai gerar mais contestação social. É inevitável. As pessoas perdem o poder de compra, perdem os empregos, as empresas vão à falência, o procura diminui, etc… As questões sociais estão à flor de pele e se as coisas piorarem é como estamos sentados num barril de pólvora…

Por outro lado um estado governamentalizado entra num estado de miopia atroz após uma década de despesismo inqualificável – entra com cortes penalizadores para as empresas e classe pobres e médias. Mas mantém o intuito de financiar obras faraónicas e elefantes brancos, pérolas a porcos e até obras de Santa Engrácia. No fundo somos governados por incompetentes e incapazes, que nos aumentam os impostos e nos retiram os beneficios que o estado nos habituou.

É neste cenário que se afigura mais gravemente a falta de cultura democrática que padece Portugal. As manifestações de rua populares – de iniciativa cívica são algo normal nas democracias sérias. Os contestatários unem-se não em volta de bandeiras partidárias e slogans sindicais ou partidários mas sim por iniciativa própria. Não são carneiros-eleitores. Espanha, Itália, França, Grécia e até Alemanha costumam ter manifestações espontaneamente, algumas até mais ou menos violentas. Os cidadãos são esclarecidos e opinativos, não apenas obedientes.

Talvez o dia 12 de Março marque um renovar de convicções apartidárias, um ponto de viragem, que una em torno do bem comum as movimentações e os novos poderes que se avizinham. Talvez um renascimento da fénix nas cinzas da falta de opinião política dos portugueses. Finalmente algo mexeu e vem fazer ondas. O país de brandos costumes pode tornar-se um vespeiro.

Afinal e ao contrario do que muitos que não querem ver, a manifestação de 12 de Março, não era um peditório de malandros que não querem fazer pela vida. É uma convulsão social, enraizada, o início do assobio da panela de pressão que começou a ferver e está prestes a estourar. 500 Mil desempregados num país de 10 milhões não é sustentável muito tempo sem que caia a compostura e se comessem a virar carros e a pilhar supermercados. Talvez os políticos actuais sejam tão autistas e dormentes de ideias que não se preocupem com isso. Talvez seja o FMI que se vai preocupar com isso…

2ª parte – As razões
ou
Um basta à falência

Sábado dia 12 de Março, no dia que fazia dois anos de casado foi com satisfação e esperança que me dirigi até a Batalha para participar na manifestação. O porquê de me incluir nos protestos não foi por estar à rasca, uma vez que felizmente me posso considerar um desenrascado, mas sim por não poder compactuar com o meu silêncio com as políticas que transformaram Portugal, mais uma vez, num país sem futuro. E como eu, grande parte dos manifestantes. As palavras de ordem não eram muitas, mas nunca ouvi frases tipo «quero um emprego» ou algo dessa índole, mas sim só sobre a incapacidade dos políticos.

Grande parte desta ausência de futuro se deve à minha geração, que encarou a intervenção politica (muito erradamente) como coisa de fanáticos – uma reminiscência dos abusos do PREC a meu ver. Mas o que eu não entendo é que ainda haja a imagem nalguns meio que a manifestação de 12 de Março foi geracional e só acerca da precariedade dos empregos. Não foi só acerca disso. A manifestação não foi só contra a crise económica. Nem até só anti-governo. Foi tudo isso e muito mais. Espanta-me que muitas pessoas queiram reduzir tudo a pequenas parcelas da questão, a uma questão de jovens desempregados. Nas rua eles não estavam sós. Estavam as pessoas que ainda se interessam!

O que me levou a participar nessa manifestação – e que me encheu de orgulho e esperança por ter tanta adesão com a mesma motivação que eu – foi a necessidade de começar a dizer basta à actual falência politica. A falência que não é só governativa mas sim política, onde os nossos decision makers são caducos e personagens da nomenklatura partidária, agentes em última analise do status quo das últimas duas décadas. E isto sejam quais forem as siglas e cores que vestem, têm apenas o intuito de servirem o partido e os interesses e ambições pessoais e não o chamado servir a pátria e o bem-comum.

Manifestei-me contra a mediocridade dos políticos e a ausência de ideias políticas que possam regenerar o país, coisas que não abundam num regime podre e decrépito – o modelo democrático português precisa de uma transfusão sanguínea urgente. Precisa de ideias e ideais novos, e essencialmente de líderes que não estejam afastados do povo e dos cidadãos após anos de corrupção do poder partidário.

1ª parte – mea culpa

Faz muitos anos desde que eu participei numa manifestação de cariz politico. Talvez mesmo duas décadas quando me insurgi como muitos da minha geração contra a introdução das provas PGAs pelo ministro da educação da altura.

Nessa altura tive a minha primeira experiência com a maquinaria político-partidária das juventudes que me mostrou que como são formados os actuais líderes deste país que desde jovens são habituados a viver de ambições e favorecimentos em vez de terem um ideal e tentarem fazer valer o seu valor e mérito para um bem comum. A opinião e o bem do partido sobrepõem-se ao bem do país. A partidocracia enojou-me muito cedo, neste pais que tende a votar nos partidos como se tratasse de um fervor clubístico e não de projectos para governar um país. Resumindo a democracia que temos não é de todos a mais correcta. O Povo está demasiadamente longe de que o supostamente representa.

Desde então não quis saber de política. E como eu, uma generosa parte da minha geração não se envolveu com questões sociais e polícias. Pelo menos não por motivos válidos. Vinte anos volvidos a política portuguesa passou a estar povoada de líderes que eram os delfins das jotinhas dessa geração: boys criados nas lutas palacianas e nos favorecimentos em vez de terem feito algo útil na sociedade. Demonstrativo desta situação e o actual primeiro-ministro que nunca fez nada a não ser politica e com isso sempre arranjou cargos e expedientes de enriquecimento para si e para a família, tornou-se poderoso por saber manipular e enganar. E não por mérito.

Faço a mea culpa por não ter participado em qualquer tipo de manifestações ou me ter envolvido de alguma forma no que não achava correcto ao longo destes anos. Fui apenas o cordeirinho democrático e fui meter o meu voto numa urna como cidadão cumpridor de uma república democrática. Foi com o meu compadrio, assim como da minha geração que deixou que este país governado por energúmenos e tachistas e que em alternativa nos partidos da oposição mais energúmenos e tachistas.

Mas a culpa não é dos politicos per si. Não é dos outros. É nossa. É minha. Eu não me mexi, eu não protestei, deixei com o meu papelinho dobrado em quatro numa urna fosse a minha única voz. Até agora.

Depois de um fim de semana exigente, dou-me conta que desta vez a festa do solesticio de Inverno não me está a atormentar particularmente como noutros anos.
Quando penso nesta ausência de stress pré-natalício não vejo nenhuma explicação a não sei a inevitável influência da minha cara metade que vibração com qualquer alusão à época do velhinho das coca-cola. Não tenho feitio para ser o desmancha-prazeres encartado em serviço permanente e por isso forçosamente vou assistindo com mais benevolência ao preparativos mais ou menos frenéticos da quadra. 
Mas tudo isto só é suportável bem
longe das catedrais de consumo como é lógico!

Estou a ler novamente Henry Miller. Nunca um escritor me deu simultaneamente tanto prazer e repulsa nos seus textos efervescentes de vida.

Um dos problemas da leitura deste deus da literatura é que não se pode ficar indiferente à corrupção da mente e holocausto da banalidades que nos são introduzidas página após página. Miller consegue transmitir o ódio à hipocrisia da sociedade e semear um sentimento de rebeldia visceral até num cordeiro como eu. 

Trópico de Câncer está ainda mais pesado para a minha mente que o poderoso estalo que recebi com Trópico de Capricórnio,  deixando a nu uma Humanidade deprimente e sempre deixando a sexualidade cavalgar desenfreada. E tudo num cenário de crise da Grande depressão, o que me recorda que nas alturas de crise se transcendem os limites da da bondade assim como da maldade dos homens. As revoluções nascem da miséria assim como a fome e o desespero são os catalisadores das mudanças mais radicais e profundas.

Estou farto de ouvir falar em orçamentos, crises e dívidas públicas. A sociedade portuguesa há muito que está em colapso assim como a sua economia. Não é novidade. O que é novidade é a necessidade vergonhosa e urgente de tentar solucionar o desastre em que nos encontramos após décadas de más políticas governativas.

Em tempo de crise o descontentamento aumenta, assim como a pobreza e os impostos. Porém neste país a beira-mar plantado, parece que há sempre razões mais interessantes para serem alvo de preocupações. Podemos estar a beira da falência do estado mas é mais importante o debate do casamento gay, os impostos vão subir e penalizar fortemente a classe média, mas o Papa Ratzinger veio ver a malta e todos contentes ficamos com as tolerâncias de ponto.

Parece patético, mas a pura realidade é que a sociedade está doente, assim como a politica e e economia. Pior, parece que vivemos nos últimos dias do absolutismo francês logo antes da revolução francesa. Com a taxa de desemprego a atingir os 10%, a bancarrota à vista, conseguimos dotações para os partidos políticos (pagas pelos contribuintes) de 90 milhões de euros, e quando se vão fazer cortes radicais nas despesas operacionais dos hospitais, vai ser adaptado um salão na Assembleia da República que permite que os deputados possam fumar no valor de 300.000 euros. Mais vergonhoso ainda, vamos comprar dois fabulosos submarinos e construir uma linha de TGV por um número ainda não determinado de dezenas de biliões de euros, mas temos que subir os impostos para os bens alimentares, e sobre os salários penalizando os pobres mais directamente…

Muito semelhante ao pré Revolução Francesa. Acho que Portugal esta a precisar de umas guilhotinas.

Com tantos aniversários é fácil ficar atolado em prendas e presentes para dar e receber, assim como uns kilos a mais depois de tantos bolos de aniversários. As efemérides familiares são assim. Mas o mais importante é que elas celebram o que nos é mais importante na vida: aqueles que nós são mais próximos – a família e os amigos.

Desta vez a minha filha recebeu merecidamente a sua primeira festa de anos para os amiguinhos, que no fundo me deixou muito feliz e como que deixou em segundo plano o aniversário deste velhote que já completou demasiadas primaveras para o poder revelar com entusiasmo. Depois o nosso primeiro aniversário, que marca a nosso união judicial, mas que não deixa de ser um marco de felicidade e amor em família tão importante.

Resumindo, a vida merece estas efemérides, merece ser festejada e a sua alegria partilhada.
Parabéns!