Dou-me conta que muito se passou há minha volta nos últimos meses sem que eu tenha aberto os olhos convenientemente. O Verão sempre me deixa algo desatento, absorto no calor, no Sol, na alegria de desfrutar a vida, e esqueço-me das pequenas coisas ao meu redor.
Acabo por reparar menos nos adereços do palco em que nos encontramos durante o estio. Agora que a poeira assenta e se transforma em lama outonal, há mais tons cinza que cegam menos a vista. Por exemplo: só ontem reparei que o meu local de trabalho é paredes meias com um apartamento de meninas universitárias que metem anúncios no JN na secção de lazer, muito embora em ache que nenhuma delas está matriculada em qualquer faculdade ou instituto de ensino…
O facto do pessoal do armazém, dar bastantes sinais de agitação, trocando bastantes comentários entusiastas sobre o nº 49 tinha-me passado totalmente despercebido até agora, apenas achando estranho aquele frenesim de sorrisos malandros.
Como é que posso estar tão desatento nesse campo e em tantos outros campos do que me rodeia, permitindo-me estar algo alheio ao mundo da realidade que me rodeia?
Sinto uma vontade havida de voltar a rever tudo, apurando todos os sentidos para focar a minha atenção no que me rodeia, não permitindo que algo de importante fuja ao meu conhecimento. Quero estar atento e desfrutar como deve ser a minha esfera, agora que tenho a maior razão do mundo para isso. Quero vibrar a todos os momentos, desperto, consciente de cada pequeno pormenor, por mais pequeno que ele seja.