É contagiante toda a alegria e moral que o desporto-rei pode movimentar. A Selecção Portuguesa no Euro, esta a desencadear um fenómeno que não era capaz de antever no meu povo. Algures no nosso genoma lusitano está determinado muito orgulho bairrista e nacional que tem vindo a ser recalcado desde à séculos pelos infortúnios de uma Nação mal governada e vitima dos desacatos da história. As bandeiras espalhadas por tudo quanto é canto, a mobilização em torno de um simples desporto de massas, num grito nacionalista algo esquecido.
O nosso hino aguerrido, não deixa de conter um quase fanatismo irracional: marchar contra canhões é no mínimo suicida, mas tendo em conta a época em que ”A Portuguesa” foi escrita, em que os nossos ditos aliados Ingleses nos fazem um ultimato, por causa uns milhões de quilómetros quadrados em África. Todo o Zé povinho reclamou a entrada em guerra com o Bulldog Inglês que com certeza comeria como pequeno almoço o Frango Português do fim do século XIX. E tudo por causa de um mapa cor-de-rosa unindo as costa da Africa Portuguesa. D.Carlos e a monarquia acabaram por cair por se terem rebaixado e aceitado o ultimato na esperança de não irritar mais a Victória, que na altura era a soberana indisputada do mundo. É neste fervor e revolta da humilhação que «A Portuguesa» se canta, como um sintoma de rebeldia e revolta por uma injustiça, por um vexame que custa a engolir.
Com a festa futebolística que hospedamos, muito para além das nossas possibilidades financeiras, revivemos muito do caracter português – culturalmente festas de pompa e circunstancia, casamentos, baptizados de arromba, foguetórios e procissões são uma parte indispensável para ser português. Isto mesmo que não haja dinheiro, há que dar aos convidados a ideia que a casa é farta e não se olha a meios para isso, como é o caso dos dez estádios de futebol, em vez dos 30 hospitais.
O Euro 2004, é a nossa grande festa, em que tentamos mostrar que não somos nenhuns pelintras, e a nossa Selecção e uma injecção de orgulho nacionalista sublimado, uma restia de esperança em que possa o nosso povo se orgulhar e moralizar. Quem sabe ganhar aos Ingleses seja um motivo para mudar algumas consciências e sair da depressão profunda em que os portugueses se enterraram, económica e socialmente, e da maneira que vêm e sentem o facto de serem portugueses.
Espero que a festa continue e não termine abruptamente nas mãos inglesas.