Azar


Há dias em que a frase «Eu não me devia ter levantado hoje» tem um significado bem mais lógico do que seria de esperar. A vida é singularmente um conjunto de pequenas acções e reacções, que não conseguimos antecipar com todo o realismo.

Há quem lhe chame destino, ou antes calcule as probabilidades de um determinado evento, fazendo um matrimónio forçado entre a lógica matemática e a realidade caótica da previsibilidade do axioma causa/efeito.

Presumo que aqueles dois segundos que me deixei estar a dormir, ou os cinco segundos por ter deixado aquela senhora atravessar, poderiam por si só evitado o desastre: dois segundos antes e o cão sairia em corrida de entre os dois carros estacionados e eu travaria em segurança. Mas esses segundos extra não existiram, e só tomei consciência atónito que o bicho se tinha atirado para o meu pára-choques quando o baque surdo se deu.

Só dois segundos seriam tudo que eu desejava para evitar este singular e trágico incidente. Sinto-me culpado por ter ferido o bicho, que apesar dos meus esforços, se raspou, muito embora devesse estar bastante ferido. Nada de sangue mas o pára-choques partido exibia bastantes pelos e o inter-cooler arrebentado tornou impossível a combustão no motor. Brilhante. Além do sentimento de culpa, de não conseguir ajudar o bicho, vou também andar a penantes durante o fim-de-semana. Foram só dois segundos de azar


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