drama

Estava um dia de Sol de Setembro e viam-se já as folhas das árvores a amarelecer quando me apercebi que o Verão tinha acabado e estava novamente num inicio de outono ameno.
Nesse dia, recordo-me seria aniversário de algum amigo intimo e não seria apenas um dia como os outros. Era um dia em que estava um alinhamento celeste estranho, isto para quem acredita no zodíaco – mas não era por aí que as minha intuição iria de mau a pior. Não era o trânsito caótico, nem a embraiagem do carro a roncar a necessidade de ser substituída,  nem a fraca prestação desportiva do meu clube no dia anterior que me estavam a angustiar.
O que me incomodava era uma notícia. Tão somente era uma noticia, semelhante a tantas outras, relatando um conteúdo que de tantas vezes repetido estava já banalizado. Tratava-se de mais um naufrágio nas águas do Mediterrâneo, onde uma embarcação com centenas de pessoas se afundara perto da costa da ilha de Siracusa. A marinha italiana resgatara dezenas de sobreviventes incluindo crianças. Os números as centenas e dezenas assim normalizado. A precaridade e a falta de interesse de sobre um drama que se repete continuamente e que de tão revivido deixou de fazer arrepios nas espinhas de quem toma consciência dos factos.
Aqui nas portas da ocidental e desenvolvida Europa morre-se por afogamento em viagens marítimas clandestinas, onde imigrantes desesperados fugindo à guerra e a miséria buscam para si e para os seus filhos refugio numa terra firme distante onde não são bem-vindos. Tentam entrar sub-repticiamente num El Dourado cercado por um mar impiedoso, onde os corpos dos afogados dão à costa. E isso já não é noticia para os autóctones que apenas se preocupam com cotas de refugiados que é preciso distribuir pelos estados membros.
Senti novamente um arrepio na espinha. Depois não voltei a ouvir falar nisso. Era em Setembro e hoje não me recordo do dia que ouvi pela última vez nas noticias da rádio que um barco ou jangada se tenha afundado. Talvez não haja mais afundamentos no Mediterrâneo. Talvez seja apenas mais uma notícia que ninguém quer saber. Ou que têm receio em saber.

A política interessa-me e simultaneamente dá-me um enorme nojo. Primeiro porque gere o presente, o nosso dia-a-dia, direta ou indiretamente, e além disso é uma espécie de planear do futuro que envolve toda a nação. Porém a repulsa que me apoquenta é enorme e prende-se com as personagens que temos na campo político que temos.

Depois das eleições assistimos uma guerra palaciana, entre ajuntamentos improváveis e compadrios insólitos, agendas ocultas e insultos. Dramas teatrais com tomadas de posse de governos de duas semanas e a atitudes de um Presidente da República que mais parecia um dirigente desportivo. Tudo se jogou debaixo da mesa e os perdedores que se acharam vencedores fizeram birra.

Foi talvez demasiado triste e deixou óbvio que por detrás de divisões de doutrina e ideias políticos apenas se escondem egos e ambições e não o civismo e cidadania que são a génese do que idealizamos por democracia.

Não nos enganemos que o que chama um líder ao poder não é o dever de estado, mas sim a ambição de poder, mas atualmente neste Portugal infelizmente não há líderes. Tão só não há líderes, como também os que tentam fazer esse papel não passam de técnicos maquiavélicos de intrigas de bastidores. São pessoas que fizeram carreira na política sem darem mostras de nenhum predicado a não ser a retórica, troca de favores e movimentos de bastidores. São tão só lambe-botas que chegaram ao poleiro. E como é só isso que são capazes de fazer, seus únicos predicados, tornam-se dirigentes de um país totalmente incapazes de governar e fazer reformas necessárias.

E assim parece que a nossa democracia se vê mergulhada num ciclo vicioso de governos medíocres e ausência de lideres capazes. Mas pensando bem esse foi sempre o cariz da história portuguesa: somos um país e um povo com potencial desbaratado por chefes incapazes.

Por vezes somos confrontados com situações na nossa vida que nos fazem reflectir na importância da vida em si.

Esta semana tem sido particularmente fértil de lições de vida que me mostraram que 99,9% dos problemas que nos afectam diariamente não passam de melodramas singelos e enredos de telenovelas medíocres. Para
Muitas vezes passam ao nosso lado personagens banais, transeuntes normais da vida, pensamos nós. Mas quem sabe essas pessoas lutam diariamente com batalhas perdidas e mesmo assim não deixam que o sofrimento os abata.

Sinto-me até envergonhado de por vezes achar que não tenho sorte, ou que nem tudo me possa correr bem, quando sou confrontado com exemplos de miséria e ausência de esperança tão pesados. Tudo se torna relativo, inútil e inconsequente logo que entramos em contacto com o sofrimento a que se assiste numa enfermaria pediatrica. Parece que o conceito de justiça se desvanece no ar. Esfuma-se no ar toda a fogueira de trivialidades. Só fica o importante.

A Oeste repousa o mar, ciclicamente seguindo o passar das marés, ora calmo, ora bravo. Como num dos meus preferidos livros, éA Oeste nada de Novo , assim também retrato estes dias. Apesar de não haver notícias da frente Oeste, muito se passa nesta guerra esquecida e distante, tão próxima e tão pessoal. Dramas e vitórias intimistas se sucedem, sem alarido.

Gozo com satisfação o ambiente quente e momentos únicos em que a luminosidade, do amanhecer ou do fim de tarde, provoca cores únicas no cêu e no mar. Consegui aproveitar uma boa meia dúzia de vezes esses momentos excepcionais, onde talvez possa quase existir uma paz absoluta, numa praia deserta do entardecer.
A sós com as gaivotas, com a melodia infinita das ondas padecendo na areia, com um Sol já menos radioso, vou transportando-me para uma harmonia de calma interior que se me escapa durante o dia de labuta. São esses momentos que desvendam o véu que encobre o todo prazer de viver. Não trocaria isso por nenhum outro cenário, por nenhuma outra expectativa de existência.

Pergunto-me se não estou a descobrir uma espécie de verdade Zen, de reflectir na ausência de pensamentos, apenas levando a mente a apropriar-se e descobrir a realidade pura e simples que não vemos.

Na ressaca futebolística, de um pequeno amargo, que contudo não foi um grande drama coloco-me perante a existência de uma patriotismo capaz de ainda salvar o país. Será que existe de facto um factor de agrupamento na mentalidade de ser português que possa vir ao de cima quando necessário for? Será que é esse o doce que tanto necessitamos?

Sem considerações ao estilo pessimista velhos de Restelo, que a sociedade portuguesa mergulhou na última década, talvez seja possível também evitar o optimismo eufórico estilo adepto do Benfica que banha as nossas banais multidões.

Se conjugássemos estes dois factores, moral de vencer com humildade será com certeza possível que Portugal suba à tona de água e deixe o mergulho no pantanal de frustrações económicas e sociais em que se tem envolvido.

Para ser franco fiquei frustrado pela Selecção ter sido derrotada pelos defensivos gregos. Mas o que interessa é que realmente quer Portugal, quer a Grécia mereceram ganhar pois foram humildes e tentaram dar o seu melhor sempre. É neste desenrolar de ideias que não estou mais desconsolado e muito pelo contrário, sinto que algo de muito positivo surgiu no Domingo à noite: os portugueses apesar de derrotados, festejaram uma vitória – de ter chegado tão longe no campeonato europeu de futebol, e da organização do Euro 2004 ter tido êxito.

Vencer é importante, mas mais importante é tentar vencer com convicção e excelência e mostrando a capacidade de tentar os seus objectivos. E isso é valido, quer no futebol, quer no mundo empresarial, quer politico. Mentalizar-se que é na excelência que está o ganhar.

uma obra prima A Última Hora de Spike Lee, foi um filme que me surpreendeu muito. Estava habituado a ver Spike Lee como um provocador com uma mensagem algo gasta, mais eis que me rendi a uma obra-prima.
Transcendendo a questão racial que sempre foi um denominador comum, Spike filma um irlandês nova-iorquino, talvez uma das melhores interpretações de Edward Norton só comparaveis com American History X e Fight Club. Mas indiscutível é a genialidade da narração de um enredo que nos faz realmente pensar sobre algo importante da nossa vida: a consequência dos nossos actos e o resultado das nossas pequenas opções da vida.

Para lá de uma fotografia de uma beleza intrínseca de encher o olho e de uma interpretação em que o elenco se mostra irrepreensível, senão mesmo iluminado, Spike Lee mostra-nos um homem que está perante a inevitabilidade de ser chamado a pagar pelos seus erros, devido à teia em que se viu envolvido por leviandade, no tráfico de drogas. A Última Hora não cai na lamechice moralista, apenas nos reporta para o drama humano da verdade dos nossos os actos e da coragem e responsabilidade de enfrentar as suas consequências e como isso afecta aqueles à nossa volta. O que poderia à principio parecer mais um drama que se passa em Nova Iorque é de facto um questionar à nossa sociedade consumista e existencialista que se coíbe de preocupações éticas.

Uma das cenas mais marcantes é a da revolta na sequência em que a personagem principal se encara no espelho, e mostra a sua violência sobre toda a contaminação que a grande metrópole está exposta, como se fosse essa a origem do mal citadino, e por consequência, responsavel da queda em desgraça do (anti?)-herói. Tal revolta, exonera-se aquando da caminhada final rumo à prisão ou fuga, em que a cidade se revela, não como mal, ou influencia negativa, mas sim como um portal de esperança, numa visão realmente bela e emotiva transposta no sorriso das pessoas.

Spike Lee atingiu a maioridade como cineasta e revela um profundo conhecimento do vivência do homem como ser humano e social sem fazer juízos de valor ao enredo que nos transporta. A última hora é um momento de viragem na vida de um homem em que a decisão é deixada em aberto: acarretar com as consequências ou fugir para começar tudo de novo.

Tal como a narrativa esse excelente filme, a vida coloca-nos em situações que temos que tomar este tipo de opções difíceis: ir de encontro à nossas responsabilidade e pagando a pena para atingir a nossa remissão, ou fugir e tentar apagar a nossa mácula e começar do nada.

Neste momento a minha vida parece uma telenovela venezuelana. Resume-se tudo a muitos melodramas em simultâneo num enredo francamente mau, com muitas paixões assolapadas, ciúmes, desentendimentos, traições revirivoltas alucinantes, paixões intensas e amores eternos. Só não está dobrada em brasileiro…

Se agarrar o argumentista acho que o vou esganar na hora.

Já tinha sentido que a força centrifugadora e trituradora da grande cidade me ia atormentar. Como num fascínio constante, como algo de irresistível, mas que sabe de muito perverso e perigoso. A grande cidade é um inimigo latente que sorri e seduz a cada instante.

O lello-mor revive o seu karma e decidiu juntar os trapos para seguir viagem à grande cidade, terra de oportunidades que na minha cidade lhe são veladas. Buscar emprego não está fácil neste dias de depressão económica, (se não é que seja estrutural no nosso país) e como é tal um homem tem que sujeitar.

Para ser franco não tem que ser um drama, mas eu sei bem o que custa fazer tábua rasa do nosso território, do nosso circulo e do nosso cantinho em que se tem os pés assentes no chão. É piegas, custa a abandonar, eu sei.
Mas só evoluímos quando tomamos decisões e avançamos, nem que seja a custo, ou a ferro e fogo. A vontade de mudar e abrir novas opções, novos caminhos por percorrer, mas principalmente encontrar novos horizontes abre-nos a consciência. É a passagem do televisor a preto e branco da vida para uma Stereo Nikam. É como levar com Full Stereo Dolby Souround quando se está habituado ao rádio a pilhas do relato. É como um reclame da Old Spice após um filme do Manuel de Oliveira. Há o contraste que alarga os tais horizonte e potência a nossa alma, liberta a nossa consciência de impurezas e que em suma nos faz viver ao contrario das pessoas-carneiros.

Abandonamos o rebanho de tempos a tempos para ser raposas errantes em busca da nossa subsistência, nem que para isso tenhamos que atravessar o deserto. Enquanto o rebanho defina, a raposa deambula, come o pão que o diabo amassou, mas cresce e faz-se esperta e autónoma e forte. E é livre.

Ser-se Lello é dificil. A raça gitana é amaldicioda, proscrita e tantas vezes maltratada. Contudo é livre. Livre de fazer, de pensar, de agir. E tudo porque não tem nada a perder. Nem propriedade, nem casa. Apenas respeita os seus iguais. Os outros são os gajos. As pessoas-carneiros.

Coragem Lello-Mor. !

Lello amigo,
o povo está contigo!

Resta o tempo e uma nova vida resplandece.

E depois dos festejos carnavalescos com perucas e equipamentos afis, nas terras famalicenses, volta-se a tentar juntar os ossos e recuperar as maleitas de duas festanças quase seguidas. O tempo passa ligeiro e as semanas sucedem-se, umas mais banais e rotineiras, outras cheias de dramatismo e comédia do teatro da vida.

G. permanece um ponto de referência e cruza-se comigo quando menos espero. Aqui, ali, acolá. Como se nada de previsto servisse para nos juntar de forma estranha como um conjunto de encontros clandestinos. Seus olhos me hipnotizam e sempre sinto como que um grito estranho da sua alma, mas que nunca concretiza no exterior e eu não me sinto com forças, ou à vontade para lhe arrancar cá para fora. É sempre noite, é sempre fashion, é sempre dois mundos à parte.
E eu ainda não pulei. E há sempre um nó por desatar nas nossas vidas que sabemos que podia ter sido simples de abrir.

As últimas semanas foram ensombradas pelo desassossego. O Meu Muito Caro Inspector P. foi finalmente pai. Mas logo após as felicitações ouve a sombra do anjo negro rondando Ana para desespero dos jovens pais. Nessas alturas de suspense pouco à a fazer senão dar o nosso apoio e partilhar a nossa sincera apreensão, dando algum conforto e apelando à Fé e Esperança.
Deixo-me abater quando a roda do destino anda à roda, deambulamte para um desfecho. De todos os males a saúde é o mais estranho. Escapa-se ao nosso controlo para lá de um aspecto causa/efeito. Como a lotaria é uma questão de chances. Temos a cautela e resta-nos esperar.

Felizmente a bebé reagiu e conseguir dar algum animo e felicidade aos alarmados e traumatizados pais que agora se desfazem em mil cuidados e receando perigos vindos do nada.

Resta o tempo e uma nova vida resplandece.

É um dia triste e patético. Estou aborrecido até dizer basta.

J. e M. telefonaram ontem como se antevessem que eu estava a fazer uma atravessia do deserto. J. faz um drama pior que eu, mas eu sei como ligar com isso.

Mesmo assim quero que se faça Luz neste ceu cinza