eu

Parte V – Start your engines

Apesar de estar absolutamente derreado, consigo mesmo assim manter o bom humor. Felizmente que a ideia de viajar, apesar de não ser uma obsessão, está a dar algum alento. Este fim de semana de Páscoa saldou-se por um absoluto nó na cabeça às custas de encontros de última hora. Estou frágil demais para avaliar com frieza se todos foram bons, óptimos ou algo semelhante ao Titanic. São mesmo muitas frentes e o envolvimento do inimigo promete romper as minhas linhas.

A Oeste nada de novo, mas na frente Leste dá-se uma batalha sangrenta. Parece que é aí que se pode ganhar a guerra… mas também perder a guerra. Tem é que se aguentar as posições, até todas as divisões de reserva serem para aí transportadas. Só espero que a estratégia resulte, e que não seja uma carnificina, nem que hajam ataques supresa na frente Oeste ou Sul.

Fora estas tácticas, estou decentemente ensonado. Realmente estou cansado, e para cumulo o sono não vem com facilidade. Acho que se só tirasse férias em Maio ia mesmo queimar um fusível. Mas ontem surgiu-me uma dúvidade de uma mente nada lúcida. E se eu fosse só depois de resolver a frente Leste? Creio que fraquejo. Não posso!

Parte IV – Últimos preparativos

As despedidas sucedem-se e os preparativos intensificam-se. Não que eu esteja demasiado ansioso ou histérico em antecipação com estas férias que acalentava há tantos anos. Muito pelo contrário, não estou sequer com planos de estadia. Apenas sei que vou desaguar no Galeão seguindo directo a Búzios e depois logo se vê… Digamos que vou ao sabor do vento, ou melhor das mulatinhas & capirinhas.

Toda a questão prende-se com o serviço que tenho que deixar pronto na velha Europa: não só no campo profissional, como noutros campos. Envergonho-me que na última semana, a minha vontade de trabalhar e atenção está muito próxima da capacidade de uma Amiba.
Três jantares com as mais belas presenças em quatro dias, intercalados por um chá a dois, tem colocado a toda a prova a minha capacidade de endurance física e mental, e isto para não falar em acérrimas noitadas.

Finalmente acelero para todo-galope, esporas e chicote incessantes, tentando encabeçar a fila da frente e rezando que ainda sobre estamina para o sprint que ainda muito lá à frente vai ser exigido. Já só sinto o vento sibilando, o ruído ensurdecedor do troar dos cascos e visualizo uma linha imaginária no horizonte bem em frente, essa meta que ainda está longe.
E a todo-galope…

Parte II – Base logística

Naturalmente que eu não gosto de deixar muitos imbróglios pendentes ou assuntos suspensos antes de ir de férias ou viajar. Trata-se de uma questão de leveza de espirito, que nos permite usufruir da nobre sensação, de que se não regressarmos, por algum motivo funesto ou até por opção radical de vida, nada ficaria por dizer ou fazer.

É uma questão de não deixar pontos sem nós, pontas soltas ou pontos nos is. É gratificante poder sentir essa liberdade segura de que deixamos tudo tratado, e as coisas não vão parar na nossa ausência, ou pelo menos nenhuma catástrofe emocional ou pessoal vai estar à nossa espera se voltarmos.

Contudo desta vez a expedição será longa e temo que vou deixar para trás alguns assuntos num limbo nada aconselhável. Estou a tentar, mas não me vejo com muito discernimento ou forças para isso, e os dias que me faltam não seriam suficientes.
Desta vez a ausência será também uma fuga ao meu próprio encontro, num grito de cisne enlouquecido. Retemperando forças e alegrias, abstraindo dos problemas, pausando um pouco. Para depois voltar. Mesmo assim quero deixar uma base logística sólida, ou pelo menos que se aguente de pé…

Como se o forcado se levantasse do chão poeirento da arena, sacudisse o pó e limpasse o sangue da cara e do colete. Ainda atordoado, leva a mão à cabeça e ajeita mais uma vez o barrete verde. A faena segue dentro de momentos e há que tentar mais uma pega daquele touro negro de 550 kg. É essa a honra de pegar de caras o touro. A perseverança e coragem.

“ehhhhhhhhhhh toro! Eh, toro, toro!!!”

A impaciência é sempre inimiga da sabedoria. Eu diria mesmo que é inimiga de qualquer equilíbrio mental ou emocional.
Sempre fui demasiado ansioso e sôfrego, mas a vida deu-me um par de lições ingratas mas profundas.

Uma em particular rendeu-me uma morte eminente, em que tive consciência plena que não teria grandes possibilidades de sobrevivência. Estava perante a morte certa, mas soube encarar a besta do pânico e não cedi. Na plenitude da aceitação da Inevitabilidade, na serenidade lógica, e na paz que fiz comigo e com o mundo, sem ânsias, deu-se o milagre. Sobrevivi contra todas as hipóteses matemáticas, que envolviam o tempo, a distância, os danos irreversíveis, os estados de choque, que os médicos equacionaram. Mas afinal esqueceram-se das variável fundamentais: a fé e vontade.

Nada desde então me deu mais provas que a nossa vontade pode ser grande, mas não deve ser uma birra de criança mas sim a perseverança de um idoso. O equilíbrio como inimigo da impaciência. A Vontade sobre o Caos. Existir ou Viver
Sei que muitas vezes relaxo a minha guarda e esqueço a minha bóia de salvação. Hoje mais que nunca a impaciência pode ser a minha maior inimiga.

Mas mais uma vez não me vou deixar morrer.

Corpo trémulo e ansioso
Espartilhado pelas decisçes
Temo as mesmas ilusões
Quando sussurras carícias doces.
Torturas-me!

Espírito retorcido pela tua força
Esmagado pela tua sedução,
Sou mero tapete de emoção
Que pisas sem piedade.
Endoideces-me!

Crucifica-me antes em paixão
Queima-me na fogueira sem perdão
Devora-me com ânsia o coração

Mas não me possuas,
Sem eu te possuir
Nem me escravizes,
Sem eu te escravizar
Nas chamas de um amor
Efêmero ou eterno.

Anjo Negro,
Tortura o doido,
Mas solta tuas algemas.
Foge da tua jaula.
Escapa do inferno.
Agarra-me como eu te agarro.
Sonha-me como eu te sonho.
Mas não me esmagues
Não me espartilhes
Como o teu desejo.
Crava as tuas garras
E arranca a minha pele
Bebe meu sangue
Devora o meu corpo
Comunga o meu espírito
Sacia-te da minha alma
E liberta-te da escuridão
De corações abertos
Subiremos juntos
Aos céus.

Noites em que eu queimei o resto dos meus neurónios

Parte I – Algumas providências cautelares

Foi durante a noite que nasci, foi durante a noite que renasci, e sempre foi durante a noite que me reconheço. Quem me conhece sabe que sempre fui capaz de estar desperto uma noite inteira, muito embora pouco depois, pelo raiar da madrugada e da luz dos primeiros raios de Sol, o espirito fica feliz mas adormece.

Estas últimas noites de fim de semana foram longas e estranhas. Porém muito reveladoras. Foram embebidas em revisões e revivalismos, longos jantares, mas felizmente pouco álcool (ou bem menos do que é costume). S. apesar de trabalhar depois de jantar quis estar comigo, cúmplice.

Justamente porque a vida quase nunca nos oferece nada de bandeja, é vulgar desconfiar de certos presentes. Não que estes possam ser envenenados, mas sim porque como já diz o ditado: “Quando a esmola é muita, o pobre desconfia“. S. seduz, mas não se deixa seduzir facilmente. É como uma selva africana: pode ser explorada, mas nunca domada, senão morre.

Posso estar baralhado e confuso. I. mostra sinais ambíguos, como se num momento quisesse que eu lhe fizesse a corte, como noutro mostrando-se enfastiada. Não necessito desses jogos imberbes de sedução. Não neste momento. Não na minha falta de discernimento actual.

Por isso deixo as portas abertas. Mesmo que a sensibilidade de C. mostre o seu desalento e ciúme. Nada me pode agrilhoar, neste momento. Não o posso deixar. Não posso me dar a esse luxo, mesmo que tenha que sofrer perdas graves. Por isso a minha solução é uma providência cautelar, um time out providencial neste momento.

As malas têm que ser feitas para os 17 dias e noites em que em que eu queimei o resto dos meus neurónios.

A contagem decrescente começou.

Loucura

Sou do fado
Como sei
Vivo um poema cantado
De um fado que eu inventei
A falar
Não posso dar-me
Mas ponho a alma a cantar
E as almas sabem escutar-me

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

Nesta voz tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vida
A loucura, ouço dizer
Mas bendita esta loucura de cantar e sofrer

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou
E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

E se vocês não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

Fado interpretado por Mariza com letra de Júlio de Sousa

Adiar decisões é um defeito que me é apontado muitas vezes. Concordo inteiramente que muitas vezes não sou capaz de bater com o murro na mesa e impor uma vontade ou um desejo, optando e fazendo um escolha.
É sempre mais simples a adiar a decisão e congelar no tempo uma via, um caminho, para mais tarde o seguir.

No culminar de tempestades e bonanças que me rodeiam nestes últimos dois meses, fiquei perante demasiadas encruzilhadas para que o meu espirito indeciso e medroso se pudesse decidir por uma direcção a tomar. É como apanhar um taxi e tentar seguir do ponto A ao ponto B de uma grande metrópole, sem mapa ou indicação do destino.

Agora imaginem que não sei sequer qual o ponto para que me quero dirigir: podia ser também o ponto C, o D e também E.
Perdido é a palavra correcta para identificar onde estou, e para onde não sei se quero ir. Um dilema mórbido, repleto de pontos de interrogação, enquanto o taxista irado deixa o táximetro a contar, olhando-me de esguelha.

Neste momento estou num limbo. Ou talvez o desejasse estar. Sem a ampulheta a contar os grãos de areas que se esgotam, motivo preocupações e decisões apressadas.
Estaria no quarto vermelho, na esfera paralela dos medos de Twin Peaks, expiando as minhas magoas e paixões, soluçando sem parar e apenas aguardando o momento que o Bob Psicótico me libertasse.

– O meu braço direito fazia-me pecar e por isso peguei num machado e o cortei. – dir-me-ia.

Depois o anão segredaria-me ao ouvido:
– Mednerp et sale merdup es. Marepse e It de meir arara a e onacut o. Arap oan eugnas o sam oaratse satrela. Sahlocse sa ut que rarepse oav oan sale.

Num limbo até que tudo entrasse nos eixos e eu regressasse pleno de energia e alegria na alma.

Hoje tive um sonho muito estranho. Sonhei que S. tinha um blog, logo ela que apenas vive da sua pacatez muito espiritualista e misteriosa, longe das teknologias.
No sonho, S. revelava-me o endereço do seu blog, e foi logo visita-lo. Mas por incrível que pareça o meu browser não conseguia reter o bookmark e eu não conseguia decorar a URL.
Lí avidamente as entradas de um site muito minimalista, mas contendo um flash onde dois enxames de minusculos pixels negros em espiral colidiam e se separavam, como se fossem duas galáxias sempre em movimento paralelo. Eu estava demasiado entusiasmado para perceber o que continha, ou talvez estupidificado com o sorriso lindo e matreiro que S. me tentava ao meu lado.
Estava estasiado, mas também nervoso por ter receio de depois não conseguir voltar a ler o seu blog. E assim acabou, com S. sorrindo languidamente para mim.

É sem duvida um sonho muito neo-Freudiano, e talvez a sua interpretação seja muito simples. Talvez não.

É certo que a minha vivência deve parecer algo fútil ou demasiado relaxada para quem lê estes episódios psicóticos. Vulgarmente apenas o uso para desbobinar muitas frames, e takes de uma montagem estranha, de um documentário ainda mais estranho. Quase psicótico.

Se pensar bem, a realização é descontraída e quase vanguardista. Provavelmente o director de fotografia escolheu ângulos estranhos e segue a nova escola de câmaras em permanente movimento, ferindo a vista e enjoando ao assistência da como nos filmes do Lars Von Trier.

Mas o mais funesto é sem dúvida o argumento, baseado numa má adaptação e dum ponto de abordagem temático ziguezaguente, que está a transformar este documentário num intrincado conjunto de imagens amontoadas e desconexas.

Tal como a minha vida.

Iraque não é o Texas. Bagdade não é o Álamo: a estratégia da Águia Imperial

Then we’ll carve up the city into areas that can be isolated and systematically reduced. We’ll use psychological ops and humanitarian relief to try to separate the civilians from the combatants. We will seek local assistance and even try to build local resistance.

And then we’ll move forward, sometimes block by block, searching, clearing, and holding what we have ? or sometimes striking rapidly with armoured vehicles to take out key centres of resistance. We’ll helicopter assault teams to the tops of buildings, or race through gutters and tunnels to the next key position. We’ll rotate the troops, rest and resupply. And we’ll hope the Iraqis are foolish enough to come to us and expose themselves to our superior firepower.

Too much has been made of America’s unwillingness to accept US military casualties. No army wants to lose its frontline fighters. But for us, the aversion to losses is a strength, for we take care, use our heads and protect our force because that’s not only better for the troops, but because it’s a more effective way to fight. And there’s no shortage of courage and daring among the American troops, when it comes to that. Baghdad is going to be taken.

First, he will delay: the longer the fight, the more potent the Iraqi defence will appear. Second, he will seek to inflict casualties on the coalition, for the more casualties the Iraqi forces can inflict, the greater the Iraqi claim for a moral victory; and finally, the more civilian casualties and destruction he can cause us to create, the more hard feelings we’ll create in Iraq and elsewhere, and the better the chances for Saddam and the Baathists to gain support from outside and to retain a covert grip on Iraqis afterwards. Saddam may be seeking an Iraqi battle of the Alamo.

So as we fight to take Baghdad, we will be thinking not only of military success, but also the speed, friendly losses and civilian casualties and destruction of the battles. These considerations will involve difficult trade-offs.

As for Saddam, he’ll be doing the same calculus, aiming for the opposite results. He is a wily opponent and should not be underestimated. He will attempt to secure his own survival and play for the geopolitical long term: Islamist rejection of the Crusaders. But we see his strategy and believe we know how to defeat it. Iraq isn’t Texas.

General Clark was Supreme Allied Commander Europe 1997-2000 and led Nato forces during the Kosovo campaign

M. esse mestre, finalmente baptizou o seu lar na grande cidade com o sugestivo nome de Acampamento dos Lellos. M. e a graciosa K. estão a morar na mesma casa, como se trata-se de um realojamento do ninho familiar sem progenitores.
Mas ser-se Lello tem dessas coisas. Adaptar-se a novos ambientes, mesmo que isso se resuma a ter que partilhar com a sua irmã uma toca já escavada a custo, e em troca receber companhia e carinhos. Fico a agurdar o último episódio d´O acampamento dos Lellos.
Presumo que M. não me receba tão cedo, e muito menos me encaminhe para outros voos, que já há demasiado tempo estão marcados.

Mas o tempo de ser Lello não ajuda.
E todos os Lello são poetas.
Poetas com alma.

Obrigado, presidente Bush

Obrigado, grande líder George W. Bush.

Obrigado por mostrar a todos o perigo que Saddam Hussein representa. Talvez muitos de nós tivéssemos esquecido de que ele utilizou armas químicas contra seu povo, contra os curdos, contra os iranianos. Hussein é um ditador sanguinário, uma das mais claras expressões do mal hoje.

Entretanto essa não é a única razão pela qual estou lhe agradecendo. Nos dois primeiros meses de 2003, o sr. foi capaz de mostrar muitas coisas importantes ao mundo, e por isso merece minha gratidão. Assim, recordando um poema que aprendi na infância, quero lhe dizer obrigado.

Obrigado por mostrar a todos que o povo turco e seu Parlamento não estão à venda, nem por 26 bilhões de dólares.

Obrigado por revelar ao mundo o gigantesco abismo que existe entre a decisão dos governantes e os desejos do povo. Por deixar claro que tanto José María Aznar como Tony Blair não dão a mínima importância e não têm nenhum respeito pelos votos que receberam. Aznar é capaz de ignorar que 90% dos espanhóis estão contra a guerra, e Blair não se importa com a maior manifestação pública na Inglaterra nestes 30 anos mais recentes.

Obrigado porque sua perseverança forçou Blair a ir ao Parlamento com um dossiê falsificado, escrito por um estudante há dez anos, e apresentar isso como “provas contundentes recolhidas pelo serviço secreto britânico”.

Obrigado por fazer com que Colin Powell se expusesse ao ridículo, mostrando ao Conselho de Segurança da ONU algumas fotos que, uma semana depois, foram publicamente contestadas por Hans Blix, o inspetor responsável pelo desarmamento do Iraque.

Obrigado porque sua posição fez com que o ministro de Relações Exteriores da França, sr. Dominique de Villepin, em seu discurso contra a guerra, tivesse a honra de ser aplaudido no plenário, honra que, pelo que eu saiba, só tinha acontecido uma vez na história da ONU, por ocasião de um discurso de Nelson Mandela.

Obrigado porque, graças aos seus esforços pela guerra, pela primeira vez as nações árabes, geralmente divididas, foram unânimes em condenar uma invasão, durante encontro no Cairo.

Obrigado porque, graças à sua retórica afirmando que “a ONU tem uma chance de mostrar sua relevância”, mesmo países mais relutantes terminaram tomando posição contra um ataque.

Obrigado por sua política exterior ter feito o ministro de Relações Exteriores da Inglaterra, Jack Straw, declarar em pleno século 21 que “uma guerra pode ter justificativas morais” e, ao declarar isso, perder toda a credibilidade.

Obrigado por tentar dividir uma Europa que luta pela sua unificação; isso foi um alerta que não será ignorado.

Obrigado por ter conseguido o que poucos conseguiram neste século: unir milhões de pessoas, em todos os continentes, lutando pela mesma idéia, embora essa idéia seja oposta à sua.

Obrigado por nos fazer de novo sentir que, mesmo que nossas palavras não sejam ouvidas, elas pelo menos são pronunciadas, e isso nos dará mais força no futuro.

Obrigado por nos ignorar, por marginalizar todos aqueles que tomaram uma atitude contra sua decisão, pois é dos excluídos o futuro da Terra.

Obrigado porque, sem o sr., não teríamos conhecido nossa capacidade de mobilização. Talvez ela não sirva para nada no presente, mas será útil mais adiante.

Agora que os tambores da guerra parecem soar de maneira irreversível, quero fazer minhas as palavras de um antigo rei europeu a um invasor: “Que sua manhã seja linda, que o sol brilhe nas armaduras de seus soldados, porque durante a tarde eu o derrotarei”.

Obrigado por permitir a todos nós, um exército de anônimos que passeiam pelas ruas tentando parar um processo já em marcha, tomarmos conhecimento do que é a sensação de impotência, aprendermos a lidar com ela e a transformá-la.
Portanto, aproveite sua manhã e o que ela ainda pode trazer de glória.
Obrigado porque não nos escutastes e não nos levaste a sério. Pois saiba que nós o escutamos e não esqueceremos suas palavras.

Obrigado, grande líder George W. Bush.

Muito obrigado.

O escritor Paulo Coelho

É difícil manter a serenidade ou o equilíbrio quando se está perante situações limites ou pelo menos não esperadas. Infelizmente é essa a minha história durante as últimas semanas, que já se acumulam em meses. Dir-se-ia que estava predestinado a ser um fim de Inverno e inicio de Primavera fulgurante e quase cruel para mim.

Tenho de facto perdido a calma e só às custas de algum auto-controle que me resta e de algumas horas de reflexão semanais é possível não ansiar por um Xanax ou um Prozac como forma de acalmar os ânimos. É difícil ser solicitado e solicitar alguém que se gosta, sem que as emoções sejam levadas ao extremo. Mas mais difícil é fazer isso em três frentes, sem saber para qual o nosso interesse vai com mais fulgor.

Mas mais difícil ainda é tentar não cair nas artimanhas do jogo, tentando ganhar tempo para ver para que lado pende o coração e as ideias. Fazer assim um malabarismo muito ao estilo de triplo-salto-mortal sem rede, nunca foi a minha maneira de ser.
Tento jogar limpo e fazer contorcionismos extremos para que nenhuma das três bolas caia ao chão, mas a tarefa é cada vez mais complicada, e sei no fundo que me arrisco a deixar cair as três bolas sem agarrar nenhuma.

Mas o mais difícil de tudo é não pensar nas três, é não tremer quando o telemóvel toca, é imaginar uma agenda algo pesada aos fins-de-semana, que acaba invariavelmente numa ou em duas noites de euforia, com uma pesada divida e cenas de ciúmes no dia seguinte.

Por isso abraço com grande satisfação a ideia que vou conseguir fugir por uns dias rumo à terra da Vera Cruz, só que infelizmente não me parece que consiga manter as bolas no ar até lá.

Estou baralhado e a minha mão está a ficar sem trunfos. Não me lembro se o Ás de copas já saiu e estou com o terno e a manilha de copas… e é a minha vez de jogar!

Ecoa sempre nos meus pensamentos
Essa paixão que se reprime
Distante por dias, perto por momentos,
Que me purifique e expie
E que se divinize mortalmente.

Sombras de um sol tórrido,
E aroma de um suor tropical,
Sabia-te perto o hálito cálido,
Na tua fragrância sensual
Que memorizo eternamente.

Vibra em ondas o mar salgado,
Onde pairo suspenso de vazio
Cheio da tua saudade, amargurado.
Flutuo na incerteza do cio
Que acalento languidamente.

Brisas do um estio antecipado
Batem na pele dúvidas da emoção
Serei eu um mísero culpado,
Que me castigue aquela canção
De te amar tão avidamente.

Mortalmente ou eternamente;
Languidamente ou avidamente;
Amo-te.
Ama-me.

São tempos estranhos. Afinal de contas cheguei às três décadas, o que faz deste vosso amigo um excelentíssimo trintão. Dantes não me visualizava a completar essa data algo cruel e até demasiado velha, e ao passo que o meu aniversário se aproximava, dei por mim a dar uma espécie de grito dos 20. De forma inconsciente, ou quem sabe consciente, assumi uma postura muito ao estilo quero lá saber, quero é aproveitar.

Decididamente acho que estou numa fase muito positiva, e tal como os gauleses de Asterix só posso recear que o céu me caia na cabeça… Tenho que voltar a afirmar que existe um padrão muito próprio minha fugaz existência:

  • Ou está uma seca que transforma tudo num deserto ;
  • Ou cai um diluvio que mete tudo debaixo de água ;
Por isso deixo-me enredar na grande molha que me cai em cima…

O ritmo desenfreado que mantenho, pode não ser muito saudável, nem a maneira como tenho lidado com os enormes imbróglios e confusões afectivas, ou avalanches de paixões. Mas é um ritmo, é uma batida cardíaca acelerada do gosto de viver e de tentar aproveitar. Sem constrangimentos ou remorsos, responsavelmente mas não sem dúvidas ou erros.

O medo de errar foi sempre o meu maior fantasma, mas neste período coloco esse medo num sótão bafiento e abraço sem pudor todos os erros e asneiras, desde que faça aquilo que o meu coração e consciência me ditaram.

Sem histórias do passado, nem grandes planos para o futuro. Não é revendo o passado e focando os Ses e os não Ses que se pode usufruir do presente nem Viver com V grande. Igualmente, não é planeando uma enorme táctica a meses ou anos de distância que a nossa vida vai mudar ou evoluir. Afinal somos uns bichinhos tão ínfimos e dependentes de tantas variáveis e tantas influências poderosas, que nem sempre podemos tomar as rédeas do caminho que vamos seguir daqui a uns anos. Por isso o ideal é navegar com terra a vista, focando a costa e modificando e adaptando a nossa rota, sempre que o vento muda a sua direcção e o relevo da costa e as ondas nos ameaçam.

E sendo assim, serei em breve, também um Pedro Álvares Cabral. A ver vamos…

Amor funesto antes da hora desejada
Numa paixão malfadada e apressada
Tomo-te e tomas-me com paixão
Divides sem pudor meu coração

Paixão ilógica sófrega de amor
Fugindo à solidão com clamor
Possuo-te e possuis-me audazmente
Beliscas em luxúria a minha mente.

Quero-te
Quero, mas não te tenho!
Queres-me
Queres, mas não me tens!
Aguardo pelo nosso momento
Ansiosamente

festa kitten

Não quero saber se hoje é Baile dos Vampiros e encerra o Fantas. Não quero saber se é Carnaval, ou mesmo se hoje tocam os Blasted Mechanism.

Sei que há festa do DJ Kitten, e os sobreviventes vão cerrar fileiras para dançar a festa do Porto. Estou mesmo a precisar de estar no Sá da Bandeira até sentir que o meu corpo se desprendeu ao ritmo eletro-trash.

Seriamente mas não serenamente, só sei que nada disto faz sentido. O poço de emoções trasbordou e alagou sem piedade as minha fronteiras de raciocínio. Talvez porque não estivesse à espera, talvez porque não quisesse ver, o facto é que a Torre de Babel em X mostrou-se impiedosa, arrastada pela Roda do Destino em I. Face a mim está o Eremita em VII, e o desfecho é o Diabo em XII dando a confusão e ilusões. O Pendurado em XI é evidente prenúncio destes atritos. Certo e sabido tudo se escapou tudo ao meu discernimento, como uma bala que já tinha sido disparada, e o seu alvo, eu, estava estático, sem poder de reacção, incapaz de me desviar do seu trajecto.
E foi assim que antevi incrédulo. Era demasiadamente tortuoso, excessivamente lacónico e frio. E era para já, não tardava, com cavaleiros de mau agouro.
E a bala atingiu-me em cheio.
Porém os ferimentos não são mortais, nem apanharam sequer qualquer ponto vital. Mesmo assim doeu que se fartou e urrei de dor ao ser trespassado pelo metal incandescente. Mas a convalescência é rápida e não tarda estarei de novo pronto a dar o peito a outras miras telescópicas. E sem qualquer tipo de receio.

Podem me abater, mas não me conseguirão submeter.
Afinal gosto de Viver, e não de viver.

Nunca ninguém nos prometeu nada que perdurasse para sempre. Se o fizeram, apenas estavam a assumir com boa vontade ou com alguma motivação enganadora ou ilusão. Uma das constantes da vida é que nada é imutável. Nem mesmo as rochas, as memórias, os deuses e nem mesmo a velocidade do tempo de acordo com novas teorias da física. As mudanças ocorrem, mais cedo ou mais tarde, ao seu passo, ao seu ritmo. Inexoravelmente a metamorfose voluntária ou involuntária, cobre tudo com seu manto.

Muitas dessas mutações são lentas, levando por pequenas etapas, quase imperceptíveis, quase milimétricas, mas que acumuladas são mutações profundas e gritantes. As mudanças nem sempre são evolutivas ou benéficas. As mutações podem gerar da crisálida a borboleta ou podem gerar um Godzilla.

Como dois continentes que colidem, muitas vezes a pressão e atrito das placas teutónicas não se liberta para formar cordilheiras sumptuosas, ou largar suas energias formando novas ilhas e mostrando-se em pequenos abalos sísmicos. Essa dinâmica das mutações, por razões que a razão desconhece, provoca terramotos devastadores e vulcões à espera de entrarem em erupção em explosões arrasadoras.

Podemos durante muito tempo ignorar as fumarolas e os tremores, pensando que são meios naturais que a Terra tem para lidar com as suas mutações e as forças internas contrárias, de forma positiva: podemos até pensar que é uma fase passageira e que a energia libertada é a resolução do problema em sí. Está a libertar pressão, a mexer-se sem partir. O problema é quando esses sinais não são sinónimo da libertação passageira mas sim prenuncio da catástrofe vingativa vinda do interior da terra que se acumula.

Pensei que todos aqueles abalos eram benesses e que afinal estava mais perto da borboleta. Mas na crisálida apenas cresce um Godzilla, para meu desgosto. Para meu e de todos que do fundo do coração queriam ver uma borboleta feliz na primavera prometida e não um Godzilla num pesadelo apocalíptico japonês, que passo após passo, destrói tudo que o cerca, até quando nada mais tiver para destruir.