Outubro 2003

Quase chorei quando na Vox começou a passar uma música que me dava sempre um estímulo de maratonista na minha adolescência.
Sol a dar, desperto e a ouvir “Fai un sol de carallo” dos galegos Os resentidos, numa alegre combinação entre a gaita de foles festiva tão enebriante, corretamente assimilada por um eletro muito 80´s. Só me apetecia dançar cheguei mesmo a acreditar que a Vox me dedicava aqueles minutos de supresa e alegria expontânea.

Estou descontente com o meu próprio corpo por me deixar absorto e quase incapaz de reagir ao que me é proposto e desejo fazer. Tenho uma urgência anormal em tentar repousar ou dormir que depois se traduz numa mera apatia de tartaruga, que me enerva a ponto de sentir raiva das minhas carnes e dos meus ossos.

Desejo recuperar o “pique“, melhorar a forma física, voltar a voar como um anjo sem asas, deixar o vicio degradante do tabaco que me tolhe os pulmões e a auto-estima. Desejo não mais acordar cansado, não mais transpirar sem razão aparente, saciar-me mais casualmente sem necessidade de carne assassinada.

A minha saúde foi descurada durante demasiados anos, assim como os meus neurónios submetidos a duras provações e afogamentos em gin tónicos desmedidos e mal servidos. Agora que não posso reviver a energia da juventude tenho que me contentar com o minimizar dos estragos nas veias, arterias, pulmões, pele, vista, ouvidos, coluna, articulações, coração, mas essencialmente na alma, para que se mantenha jovem mesmo quando as rugas e o cabelo grisalho (ou a falta dele), assim como os carnes descaídas sem músculos forem o meu habitat físico.

Em breve começarei, um tardio mas exigível, plano de recuperação da fachada e ruínas deste edifício, antes que a fadiga estrutural ameace toda a contrução de derrocada.


Under blue moon I saw you
So soon you`ll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
In starlit nights I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips a magic world
Your sky all hung with jewels
The killing moon
Will come too soon
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
Under blue moon I saw you
So soon you`ll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
You give yourself to him
La la la la la…
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
La la la la la…
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
Fate
Up against your will
Through the thick and thin
He will wait until
You give yourself to him
La la la la la…

Chegar ao fim do dia parece uma crimera agonizante após um fim de semana tão envolvente. Sinto-me numa ressaca assustadora após ter viajado ao sabor de um químico perfeito, tomado numa forte dosagem, capaz de ter feito a minha mente relembrar a origem primordial de todos os sonhos.

Meus músculos retorcem-se, mas meu espírito apenas quer uma nova viagem de 860 km, sibilando sem parar as vozes sussurradas que inflamam a minha audição, das recordações do tacto ardente, da embriagues do olfacto, do êxtase do paladar, da visão paradisíaca. Tudo que sinto é que desejo o fluir nas minhas veias repetidamente dessas sensações supremas.

as cores que me ficam marcadas
Olhar o céu azul e observar, no meio de uma pequena nuvem branca, um pequeno ponto de arco-íris onde a refracção da luz se desdobra nessas cores embriagantes pareceu-me um sinal.
Um sinal único, só percebido por nós, nas mentes atentas cujos olhos procuram no céu a sua beleza.
O arco-íris é sinal de aliança e de um pacto eterno.

As coincidências comovem-me. Por isso deixei de acreditar na possibilidade natural de coincidências, em explicar com o auxilio da lógica e da matemática as questões que seriam do âmbito da teoria das probabilidades.

Não vale a pena mergulhar no mundo da estatística para compreender aquilo que não é passível de ser explicado per si. Claro que poderia acontecer, mas o facto é que aconteceu naquele momento, naquela exacta ocasião e não noutra, revelando um impacto diferente, alterando a nossa vida. Não será isso antes um sinal, um encaminhamento para um destino, para um desencadear de acontecimentos que necessitamos agarrar, por nossa opção ou então fechar os olhos e apenas achar o quanto foi estranho.

É como sentir o pêndulo vindo na nossa direcção, sentindo o tiquetaquear do relógio imenso, pressentindo as badaladas estridentes da mudança da hora. Podemos apenas esquecer que o tempo nos chama, e que os ponteiros das horas e minutos apenas tomarão posições diferentes ou podemos optar por começar uma nova hora.

O Sr. G. tirou um mês de férias para visitar a irmã que não via há 24 anos e que vivia no Brasil. Queria surpreende-la voando até seu país sem avisar, tendo comprado o bilhete para dali uns dias, após um par de dias de férias. A sua irmã teve a mesma ideia, e por um dia, apenas um dia de diferença, após 24 anos teriam voado em direcções diferentes desencontrando-se.

O tempo de nada serve para diferenciar positiva ou negativamente o que seria, ou o que deverá ser. Apenas lhe pode dar um significado maior e mais urgente. Hoje sei isso e mais que nunca não acredito em meras coincidências.