eu

No meio da depressão económica e social que o meu país se encontra, começo a encarar que viver em Portugal não será propriamente algo que se encare de ânimo leve. Isto porque temos opções de viver onde muito bem entendamos. Cabe a um pessoa inteligente decifrar se o país em que se encontra, mesmo que seja o país natal, é ou não o local ideal para passar o resto da sua vida. Actualmente não me parece que esse seja o caso.

O meu país tornou-se um patético postal ilustrado, onde as instituições e o próprio estado apenas funcionam na aparência. Tudo o resto parece um enorme fogo-de-vista para inglês ver onde na verdade se vive acima das possibilidades e se gasta o que não se tem.

Tenho pena que o meu imaginário patriótico tenha caído ao chão. Não há mais paciência para suportar todas as opções erradas que se fazem na roda política e empresarial, ao mesmo tem que existe uma inanição total de cidadania e até de civismo dos portugueses. Não há descontentes, excepto quando se trata na possibilidade de se vir a trabalhar mais.

Não admira portanto que quem tem capacidade de iniciativa esteja a equacionar emigrar ou até já tenha dado o salto.

É caso para escrever:

o último a sair que feche a porta!

Rezam as lendas, que numa longínqua semana, vários cavaleiros da ordem do garfo e faca se sentaram á mesa, para um frugal repasto de fim de Julho.
Gratos pelo cair da noite na feira, o ar quente tornou-se suportável. Longas foram as conversas da nobre cortes, onde um porco bravo com castanhas deliciou os convivas.

Correu célere o delicioso vinho tinto, servido em canecas de barro, escorrendo pelas gargantas sempre secas dos convivas. Serenos e alegres deliciaram-se e alegraram-se na noite. Terminada a farta refeição, logo os cavaleiro partiram em demanda. Buscavam no meio da multidão, algum artigo por entre as tendas dos artificies que pudessem levar para os seus solares.

Mas eis que esta pequena aventura, rapidamente se tornou numa epopeia digna de ser cantada por todas os seríes de jograis por este reino fora. Os quatro cavaleiros mais bravos deparam-se inesperadamente com uma tenda com um precioso tesouro escondido iria maravilhar os seus olhos e gargantas. Tratava-se de um nêctar, uma ambrósia divina servida em pequenos copos esculpidos em madeira chamada Ginjinha.

Tratava-se de Ginjinha de óbidos, com um maravilhoso paladar a canela, como que irresistível ao palato mais exigente. Depois as lendas começam a divergir. Conta-se que dois cavaleiro se entusiasmaram tanto que tiveram como montada, uma linda burra chamada Luana. Conta-se também que os escudeiros que traziam a Luana graciosamente ajudaram a que a deliciosa ginjinha começasse lentamente a desaparecer das pipas. Conta-se também que os cavaleiros ao se verem confrontados por uma câmara de reportagem e ao saberem que se tratava da TVI se recusaram determinantemente a serem entrevistados por tão medíocre meio de informação.

Longa foi a noite e ainda amanhecia, quando exaustos, os cavaleiros prometeram não esquecer aqueles momentos medievais.

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

A Oeste repousa o mar, ciclicamente seguindo o passar das marés, ora calmo, ora bravo. Como num dos meus preferidos livros, éA Oeste nada de Novo , assim também retrato estes dias. Apesar de não haver notícias da frente Oeste, muito se passa nesta guerra esquecida e distante, tão próxima e tão pessoal. Dramas e vitórias intimistas se sucedem, sem alarido.

Gozo com satisfação o ambiente quente e momentos únicos em que a luminosidade, do amanhecer ou do fim de tarde, provoca cores únicas no cêu e no mar. Consegui aproveitar uma boa meia dúzia de vezes esses momentos excepcionais, onde talvez possa quase existir uma paz absoluta, numa praia deserta do entardecer.
A sós com as gaivotas, com a melodia infinita das ondas padecendo na areia, com um Sol já menos radioso, vou transportando-me para uma harmonia de calma interior que se me escapa durante o dia de labuta. São esses momentos que desvendam o véu que encobre o todo prazer de viver. Não trocaria isso por nenhum outro cenário, por nenhuma outra expectativa de existência.

Pergunto-me se não estou a descobrir uma espécie de verdade Zen, de reflectir na ausência de pensamentos, apenas levando a mente a apropriar-se e descobrir a realidade pura e simples que não vemos.

O vento tem imperado toda a semana, fustigando com fortes rajadas frias, os meus fins de tarde. Desta forma refugio-me um pouco no lar e não tenho aproveitado para dar asas à minha paixão pelo mar salgado, ou pela poeira que levanto em duas rodas. Além disso o último tombo em duas rodas tem ainda as suas repercussões, fazendo o meu tornozelo, algo semelhante a um balão que incha e desincha à mercê do calor.

Apesar da temperatura subir à noite, o meu ar condicionado natural obriga-me a agasalhos desmotivantes num Verão tão estranho. Agora tudo parece arder em volta da minha cidade, tornando o céu num azul baço e triste. O cheiro execrável do fumo aparece a cada esquina, fazendo um desconforto incomum das minhas fracas narinas.

A festa do santo padroeiro da minha cidade é sempre um evento que me alegra. Apesar das circunstancias e de não ser propriamente a euforia do passado, pois já não tenho pernas nem disposição mental para isso e portanto acedi com satisfação aos apelos de um um arraial de S.João mais ao género de private party.

Por entre a comezaina, que incluóa as obrigatórias e dispendiosas sardinhas frescas assadas na brasa, vi-me numa sessão new age de adereços, que muito embora dispensasse os obrigatórios martelinhos e alhos porros, não deixou de ser divertida, dado essencialmente a uma companhia primorosa. Regue-se a vinho à descrição e temos quase toda a ementa de uma noite bem passada.

Contudo la creme de la creme, foi quando se viu chegada à hora pirótecnica hard core, em que eu a contra gosto participei, não sem ter emitido uma quantidade desmesurada de impropórios mentais, bem silenciosos. Não gosto do cheiro da pólvora nem dos estouros de rojões, nem de fogos de desartificio. Parecem-me uma maçada perigosa e uma forma de queimar dinheiro a custo de alguma adrenalina primordial algo caduca.

Mas mea culpa, mea tão grande culpa, pois fiquei com um sorriso de orelha a orelha quando os balões de papel se alinhavam para o enchimento e lançamento em condições climatéricas desfavoráveis. O balão de S.João tem na sua essência algo de sublime, é uma espécie de programa espacial da populaça que envolve tecnologia do século XVIII. É um imaginário poético de iluminar os céus na imaginação de para onde viajara tal engenho. Lançar um balão não é simples e requer alguma colaboração e entre ajuda entre quem acende e quem segura a máquina, para que o ar quente a possa elevar, rumo a um desconhecido. Apesar de haver uma tentativa que culminou em insucesso devido a um lançamento prematuro, vimos vários que subiram acompanhados dos efémeros e breves gritos de alegria dos balonistas amadores.
Estou a ficar perito…

Normalmente ão seria tão difícil acordar de manhã. Mas a história repete-se, nesta altura do ano. Deve ser o meu ritmo biológico a entrar no seu costumeiro ciclo noctívago ou algo semelhante.
Apenas me apetece dar um tiro no despertador que berra solitariamente durante uma hora. E só quando se finalmente este se cala, dou por mim atrasado e desperto a contragosto, ainda a praguejar que sonhava erradamente que era Sábado.

O meu calendário mental nunca se acostumará ao fim da Primavera. Deve ser defeito de fabrico com certeza.

Captar um momento é uma arte. Por isso a fotografia é algo que me começa cada vez mais a despertar o interesse apesar de o meu domínio da técnica seja inexistente.
Contudo algo me reforça ao tentar agarrar um momento efêmero, um pedaço de luz e cor que fogem e que são únicas. Nenhum raio de luz, nenhum sopro do vento, nenhuma nuvem, se repetem, exactamente naquele lugar, naquelas circunstãncias.

Segurar uma câmara fotográfica é como tentar aprisionar para a eternidade um facto, um retrato ou paisagem singulares. Assim podemos possui-los para sempre. Tentamos roubar da erosão do tempo algo irrepetível. Trata-se de uma vertigem enganosa, mas tambêm uma espécie de aproximação ao divino imutável – quase um sentimento religioso.

Por isso dou comigo a pensar em ângulos e luz e a suspirar não ter a minha companheira prateada à mão de semear como um turista japonês!

Arigato-san!

O que eu julgava ser uma fase de travessia do deserto, tornou-se rapidamente num oásis muito amistoso. A Vida tem fases que nos encaminham para terrenos que nem sempre são os que queremos atravessar, mas reserva-nos trilhos alternativos.

Por vezes temamos em seguir por becos sem saída, batendo furiosamente com a cabeça num muro intransponível, pois achamos que voltar atrás no percurso é um retrocesso. Isso não é verdade, uma vez que há sempre uma encruzilhada que já passamos que podemos retomar e tomar outro caminho.

Não vale a pena insistir num caminho errado quando estamos perdidos. Mesmo num deserto… pois pode-nos levar a um oásis imenso em vez da morte na areia escaldante.

Sentindo o vento zumbindo nas minhas orelhas, agrada-me a sensação de perigo, quando percorro a linha do neo-eléctrico que está a ser construída entre a minha cidade e a minha praia.

As obras ainda estão atrasadas, mas as lages mal assentes das valas permitem-me atingir uns ofuscantes 30 km/h numa largura de 70 cm durante quilometros. A adrenalina consome o passeio onde nem sequer posso tirar os olhos da frente enquanto pedalo freneticamente.

É uma sensação única de liberdade e risco. Um salto em falso e só no outro dia de manhã poderão ver os meus ossos todos quebrados. Mas não consigo resistir.

As andorinhas fazem voos rasantes, verdadeiras acrobacias aéreas, de pura adrenalina entre aquelas estradas estreitas, muradas e forradas a paralelo. Descem a pique do telhado e voam vertiginosamente junto ao chão durante alguns segundos, como se quisessem surfar no veículo que passa na rua.

É como se a tradição primaveril, exactamente no mesmíssimo lugar se repercutisse por várias gerações, aprumada a cada ano em acrobacias mais ousadas e suicidas. Provavelmente o instinto da ave deve reflectir a alegria primaveril e o efémero daquele momento de exaltação.

Aqueles belos pássaros descabidamente celebram a vida correndo perigos, gozando a adrenalina e exibindo a sua eficácia de voo louco e espectacular. Vejo horrorizado as andorinhas nesse frenesim de stunt man bem próximas do meu pára-choques, quando circulo todas as tardes rumo à minha casa. Eles recordam-me que a vida devia ser alegre e fugaz. Têm que se aproveitar pois a Primavera e o Verão, não duram para sempre.

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual

E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p’ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

Letra e música de Jorge Palma

An example of the former would be warmongering President George W Bush and all-American action hero Sylvester Stallone, both born on 6th July 1946. In both lives the themes of patriotism and aggression are very much to the fore and we see a theme.

Starscan Astrological Services (o meu bom amigo Pete)

Há alturas na nossa vida que tudo se tinge de um cinza pólido. É uma melancolia cortante que nos desencoraja, na moral de perseguir a nossa felicidade. Esquecemo-nos que o arco-íris apenas espera por um pouco de luz para poder abrilhantar e rasgar um céu cinzento na sua magnificência colorida.

Muitas vezes me deixei vencer pelas barreiras que à minha volta deixei crescer e que tomei como muros intransponíveis. Culpabilizei os entraves ao invês de me esforçar por os ultrapassar. Deixei-me prostrar, refugiei-me nos meus handycaps escondi-me numa carapaça de indiferença, por medo de não ser capaz de sonhar mais alto e arranjar forças para saltar e voar para o outro lado da prisão que tenho dentro de meus receios.

Quando fui um anjo sem asas, provei a mim próprio que nada nos proíbe de tentar, ou de conseguir aquilo a que nos propomos. A camisa-de-forças apenas existe em nós, na nossa insatisfação com nós mesmos e na nossa incapacidade em acreditarmos em nos mesmos. É isso que nos derrota.

Vou perseguir até encontrar um arco-íris que sempre me acompanhou e lutar até debelar o cinzento que me encobre e diminui.

O fim nunca é realmente um fim. Alias um fim não existe, o que entendemos como um termino, ou uma espécie de destruição, não passa de um erro cognitivo. Quando algo ou alguém desaparece, no sentido do que entendemos como fim, morte ou extinção, fica pelo menos algum túnue resquício do que foi ou teria sido.
Por isso acredito que numa vida nada realmente termina ou se extingue. Apenas muda e altera-se, restituído de outro formato, num molde diferente. Pode mudar a sua existência, forma e até conteúdo, mas de algum modo permanece, nem que seja num outro aspecto.

Como a nossa visão nem sempre vê além do aparente, e os nossos sentidos e crenças pessoais são algo limitados, interiorizamos o conceito de fim e de termino quando achamos que algo desapareceu. Esfumou-se no ar. Não o vemos mais, não o sentimos mais, logo deixou de existir. Terminou.

Para além das aparências, esquecemos que a essência mude assumir diversas formas, que a lagarta pode tornar-se borboleta, deixar de comer folhas e voar rumo a azul infinito. Terá a lagarta tido um fim?

A extinção da vida, como a morte, pode ser antes vista como uma metamorfose, uma etapa de mudança para outro plano existencial se nisso tivermos fé. Mesmo quando o esquecimento cai as coisas não terminam. Assim como as minhas lembranças que se escorrem nos meus neurónios maltratados, não fazem que o meu passado tenha um fim. Essas lembranças converteram-se, cessaram o ámago de momentos da memória e passaram a existir num agir perpetuado que me constitui e faz de mim quem eu sou.

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : ”Fui eu ?”
Deus sabe, porque o escreveu.

Foi um jogo meio morto mas a que se seguiu uma festa rija – a Selecção chegou à final, fazendo história num ponto conturbado da história politica portuguesa. Apesar de eu estar meio constrangido, as notícias e o jogo fizeram-me ver que as preocupações e tristezas não podem comandar-nos e que temos que receber os poucos escapes e ópios que estão ao nosso alcance.

A Selecção das quinas motiva um orgulho nacional ferido, tentando adiar para melhores datas as decisões políticas que nos vão cair em cima nos próximos trimestres de forma desastrosa. Mesmo assim de nada vale sofrer por uma tragádia vindoura em vez de saborear a vitória actual.

Pessoalmente sinto-me aprisionado numa redoma aprisionante que não me deixa reflectir nem ser capaz de controlar o meu destino próximo. Tenho a sensação que tudo está fora de eixos e que as balanças estão oscilando desenfreadamente, impedindo para já, qualquer ideia com peso e medida. A ver se me aguento até à final.

Nada como um velório para nos recordar que somos efêmeros e que vivemos segundo um a espécie de arrendamento físico cujas assoalhadas tem um prazo de validade restrito mas desconhecido.

Não temo a morte, mas sofro com ela sempre que ela se aproxima um pouco. Não pelos que vão, mas sim pelas dores de quem fica e chora os seus. Ver pessoas que sempre vi bem-dispostas e alegres, encharcadas em Xanax para se manterem minimamente humanas e se refugiarem da dor e um quadro triste e que me revolta.

Depois todas as tradições do enterro, fazem-me sentir as tripas torcerem-se ao limite: todas aquelas flores, velas, cangalheiros, carros funerários, beatas, choros, gravatas pretas, sussurros sociais, estão longe de o que deveria ser uma despedida.

Quando eu bater as botas, quero uma Jazz Band tipo New Orleans, nada de flores e que eu seja rapidamente cremado e minhas cinzas largadas no curso de água mais próximo. O pó  deve regressar pó.