Astro-rei
As manhãs de Verão que se transmutam, com nuvens cinza e chuviscos tímidos, são para mim muito pesarosas e tristonhas. Reflectem um acto falhado do calor, como se o Verão fosse impotente, incapaz de concretizar o seu amor.
Guio-me pela luz, ardente, cálida e ofuscante de um sol radiante. Faz parte de mim, o rush da luminosidade do amanhecer, forte e intensa, quase ferindo a vista na sua horizontalidade, muito embora praticamente só o veja nos dias que ainda não fui à cama.
Acordar sobre o manto do astro-rei é sempre o prenúncio de um dia de boa disposição, de um cérebro alimentado logo cedo de estímulos luminosos, satisfeito, farto quando ainda estava recrutar neurónios para as funções matinais. A luz é a minha pastilha. Li algures que à indivíduos que sofrem de uma maior sensibilidade à luz. Algo a ver com uns enzimas que o cerebelo produz, assim que a retina lhe traduz a existência de raios solares. É um acordar do lagarto primordial que há em todos nós. Possivelmente sou demasiado lagarto para ter agilidade numa zona com um número meramente razoável de horas de insolação. Talvez necessite de procurar um novo habitat, onde o Sol me queime com os seus raios constantes e não fugidios.