2003

As manhãs de Verão que se transmutam, com nuvens cinza e chuviscos tímidos, são para mim muito pesarosas e tristonhas. Reflectem um acto falhado do calor, como se o Verão fosse impotente, incapaz de concretizar o seu amor.
Guio-me pela luz, ardente, cálida e ofuscante de um sol radiante. Faz parte de mim, o rush da luminosidade do amanhecer, forte e intensa, quase ferindo a vista na sua horizontalidade, muito embora praticamente só o veja nos dias que ainda não fui à cama.

Acordar sobre o manto do astro-rei é sempre o prenúncio de um dia de boa disposição, de um cérebro alimentado logo cedo de estímulos luminosos, satisfeito, farto quando ainda estava recrutar neurónios para as funções matinais. A luz é a minha pastilha. Li algures que à indivíduos que sofrem de uma maior sensibilidade à luz. Algo a ver com uns enzimas que o cerebelo produz, assim que a retina lhe traduz a existência de raios solares. É um acordar do lagarto primordial que há em todos nós. Possivelmente sou demasiado lagarto para ter agilidade numa zona com um número meramente razoável de horas de insolação. Talvez necessite de procurar um novo habitat, onde o Sol me queime com os seus raios constantes e não fugidios.

Estou algo apático em relação a uns desafios que se me deparam. Acho que a ignição ainda não se fez sentir, apesar de tudo aparentar estar a encaminhar-se para os seus devidos eixos.

Voltar a ressuscitar a falecida D. e provar que a sua flat-line cardíaca é apenas ilusória é um desafio complexo, mas que abraço voluntariamente com prazer.
Foi na D. que até hoje trabalhei com mais prazer, com um sentido de responsabilidade e empenho que nunca tinha suspeitado em mim, até ao seu descarrilamento nas incongruências e lutas palacianas do Passado que levaram a um hara-kiri agonizante e longo, depois do meu bater da porta. Fora as envolvências maquiavélicas do seu final, aprendi os prazeres de trabalhar em equipa com A. e R., quase sempre para lá do limite do dever, por uma causa nobre e também pelo bichinho de escrever sobre o que gostavamos. Era a menina dos meus olhos e hoje, apesar de não ter as expectativas de recriar aqueles tempos áureos, gostava de lhe proporcionar um destino honesto que a D. sempre mereceu.
O futuro ditará a sua sentença num presente em aberto sem sombras de Passado.

Entretanto Dr.P. volta à America do Sol, e sem o saber vai aterrar directamente na maior festa do mundo nesta data. É um gajo sortudo e estou roído de inveja. Se o soubesse teria movido mundos e fundos para o acompanhar.

Faz dois anos que iniciei este diário algo confuso. Muita água passou debaixo do moinho deste então, muitas linhas e pensamentos desconexos, memórias encapuçadas e atribulações em que este meliante se viu envolvido.

Nenhum destes retalhos parece fazer sentido, mas reunidos, seguindo a cronologia com que os depositei na Internet, algo interessante parece surgir da amalgama de textos e frases: forma-se um estranho retrato evolutivo, desconexo de lógica com pinceladas abstractas, mas que sempre me deu um estranho prazer e que agora forma um bolo de memórias fermentadas.

O Psicótico nunca pretendeu ser uma afirmação narcisista, nem um enigmático pedido de ajuda sobre uma vivência menos conseguida, consciente ou inconsciente. Não foi um repositório de conhecimentos triviais ou uma pseudo-obra literária. Tão pouco foi um show off da night life, ou roteiro de diversão. Provavelmente foi tudo isso e simultaneamente nada disso.
Trata-se somente da minha manta de retalhos, uma cápsula do tempo aberta em permanência no éter do ciberespaço, partilhada ao mundo sem intimidades em demasia, mas que apenas se destina ao próprio autor.

Parabéns Psicótico

Não devia duvidar tão frequentemente de que a minha capacidade de encaixe está cada vez maior. Não acredito que está maré de pequenos azares quotidianos possa continuar indefinidamente, como um enorme maremoto. Contudo essas pequenas ondas sucedem-se mais do que seria desejável ou provável, e causam em mim algum desespero, pelo menos de causa.

Estou com o que chamo ser uma “ressaca de Primavera“. Tenho insónias, dores de cabeça, estou cansado e sem paciência. Deambulo semi-inconsciente durante toda a manhã, e durante a noite nem um fio de sono de amostra. As minhas energias parecem ter sido drenadas por um demónio vampiresco ou então estou num grave deficit de seratonina.

O meu quotidiano parece também reflectir todo o panorama nefasto e desorganizado do meu intimo: vagas sucessivas de disparates e azares.
É certo de que o facto de o meu carro estar no mecânico mais de uma semana é perfeitamente natural. Percorrer pequenas distancias num bolinhas com menos 80 cavalos também não é assim tão mau como isso, muito embora estivesse mesmo apavorado quando entro numa auto-estrada montado naquela máquina de lavar a loiça (estou mal habituado!). Aborrecido é andar 30 km com a máquina recuperada e ouvir uns sons esquisitos e a direcção assistida ir para o maneta de forma fulminante. Já estou a ver o mecânico a esfregar de novo as mãos de contentamento: “mandar vir peças”; “mão-de-obra”; “afinação” – são palavras que não me apetece ouvir de novo, nem a mim nem à minha carteira.

Acumulada tenha uma interminável lista de afazeres urgentes, quer a nível profissional, quer pessoal. A minha correspondência acumula-se, a minha vontade de escrever é reduzida, todos os planos parecem adiados, mas pendente e numa ligeira reflexão posso listar mas de dez ordenações diferentes de to-do´s.

Mas disse chega. O cúmulo, que me fez despertar foi a situação patética de ter ficado fechado do lado errado da casa, montado numa bicicleta e em calções e sapatilhas enlameadas e t-shirt suada. Senti uma vontade indescritível de pegar na bicicleta e atira-la contra a primeira coisa que se movesse.

Respirei fundo e pensei com os meus pedais: afinal que estou para aqui a fazer?
“show must go on”.
Parece que me estava a esquecer de muito do que aprendi nestes últimos meses.

Sinto que hoje vou fazer um daquelas imponderáveis asneiras do destino. Nada como mergulhar de cabeça sem ver se o senhor que trata da piscina já abriu a torneira.

o animal nas Antas Creio que nada de mais revoltante existe do que quando alguém se apropria da fama de outrem. Ainda para mais quando se trata de uma personagem famosa que é diminuída mental. O caso “emplastro dragão“, vulgo animal, não deixa de ser sintomático, de como não há restrições de moral no mundo do televisivo e do espectáculo rasca português, e de como os fins justificam todos os meios. Se não há gajas, há cromos, que é isso que o povinho gosta.

O pobre rapaz, uma singularidade inexplicável, graças à sua vontade de aparecer na televisão, tornou-se por isso mesmo um ícone de culto e de chacota no nosso país. Quando passa a existir um aproveitamento da popular da personagem, caí-se no mais profundo dos pantanais, num verdadeiro esgoto de consciência, ao capitalizar a nefasta fama de alguém que não tem consciência dos seus actos.

Custa-me sentir que só num país de energúmenos seria aceitável colocar na televisão nacional o caricato rapaz e utiliza-lo com fonte de audiência e de promoção para o que quer que seja. (ainda para mais para mais um pimbalhão indescritivel) É algo de desumano, utilizar como num freak show, um ser humano que não tem plenas faculdades mentais e discernimento quanto à sua postura. Trata-se de encaixar e facturar às custas de um deficiente mental que se tornou popular – algo que considero bem pior do que o reprovável caso do homem-elefante uma vez que a vitima não tem percepção de que esta a ser utilizado única e exclusivamente pela sua anomalia. É absolutamente um caso amoral, e sem respeito pelo ser humano, verdadeiramente vergonhoso para Portugal. Como já tive a opotunidade de lêr:

«o anormal ,o louro e o xulo(jel)..perante tanta mediocridade só da para esconder a cara de vergonha…»
«…”Fenómeno Emplastro” não é mais do que o fruto propositado dos media ao aproveitarem a insanidade mental deste homem e usarem-na para “entreter” ou antes.. alimentar, a desocupação e o ócio intelectual em que a sociedade actual vive.»

Quando vi na SIC, não quis crer que no nosso país o bom senso tinha desaparecido. Provavelmente somos um país em que o menos idiota é o Fernando da Madalena… Espero que depois disto o Balsemão vá o mais rapidamente possível à falência…

I am a passenger
And I ride and I ride
I ride through the city’s backside
I see the stars come out of the sky
Yeah, they’re bright in a hollow sky
You know it looks so good tonight

I am a passenger
I stay under glass
I look through my window so bright
I see the stars come out tonight
I see the bright and hollow sky
Over the city’s a rip in the sky
And everything looks good tonight

Singin’ la la la la la-la-la la
La la la la la-la-la la
La la la la la-la-la la la-la

Get into the car
We’ll be the passenger
We’ll ride through the city tonight
See the city’s ripped insides
We’ll see the bright and hollow sky
We’ll see the stars that shine so bright
The sky was made for us tonight

Oh the passenger
How how he rides
Oh the passenger
He rides and he rides
He looks through his window
What does he see?
He sees the sided hollow sky
He see the stars come out tonight
He sees the city’s ripped backsides
He sees the winding ocean drive
And everything was made for you and me
All of it was made for you and me
‘cause it just belongs to you and me
So let’s take a ride and see what’s mine

Singing…

Oh, the passenger
He rides and he rides
He sees things from under glass
He looks through his window’s eye
He sees the things he knows are his
He sees the bright and hollow sky
He sees the city asleep at night
He sees the stars are out tonight
And all of it is yours and mine
And all of it is yours and mine
Oh, let’s ride and ride and ride and ride…

Singing…

Num crepúsculo de desalento e recordações perdidas
Sairás sobre o firmamento, consagranda em ardor.
Serás toda a minha existência pecaminosa,
Toda a minha luxúria frustrada, repleta de amor e fel,
Numa noite luminosa, que se estende sem sombra de dor.

No tempo de cólera de paixões passadas,
E paixões consertadas, terás o vigor do sexo desenfreado,
Do desejo sufocante e possuirás a minha chama desvairada,
Toda a minha libido demente sobre o céu na terra,
Num momento desgovernado, como nunca foi vivido.

Será assim que vejo
Será assim que eu te desejo
Mesmo quando não te beijo
Num suave anoitecer
Exaltante.

A médica estava exausta e eu ainda mais. A consulta era breve e apenas se destinava a uma breve análise de exames, que se apresentavam regulares sem motivos de preocupação. Eu estava aborrecido de estar já à espera de consulta há mais de hora e meia, e há tinha esgotado todos os métodos de auto-distracção para fazer passar as horas numa sala de espera.

Quando a televisão pública começou a transmissão d`«O menino Tonecas» a minha paciência bateu mesmo no fundo da cave e partiu-se em mil bocados. Nada me pode irritar mais que aqueles sketches sem graça, com gags previsíveis desde a primeira frase. Ao nível intelectual e cultural da maioria da população: um verdadeiro serviço público…

Dez minutos de consulta, 40 euros mais pobre (sem recibo porque com recibo são 50), mais uns quantos placebos aviados. É o país que vivemos…
Juro que este Verão as coisas terão de dar uma grande reviravolta. Nem tudo pode ser a descontracção da falta de iniciativa em que me deixei cair. E a minha caixa de correio dá-me algum alento, talvez mesmo o remédio mais eficaz.

Há dias em que a frase «Eu não me devia ter levantado hoje» tem um significado bem mais lógico do que seria de esperar. A vida é singularmente um conjunto de pequenas acções e reacções, que não conseguimos antecipar com todo o realismo.

Há quem lhe chame destino, ou antes calcule as probabilidades de um determinado evento, fazendo um matrimónio forçado entre a lógica matemática e a realidade caótica da previsibilidade do axioma causa/efeito.

Presumo que aqueles dois segundos que me deixei estar a dormir, ou os cinco segundos por ter deixado aquela senhora atravessar, poderiam por si só evitado o desastre: dois segundos antes e o cão sairia em corrida de entre os dois carros estacionados e eu travaria em segurança. Mas esses segundos extra não existiram, e só tomei consciência atónito que o bicho se tinha atirado para o meu pára-choques quando o baque surdo se deu.

Só dois segundos seriam tudo que eu desejava para evitar este singular e trágico incidente. Sinto-me culpado por ter ferido o bicho, que apesar dos meus esforços, se raspou, muito embora devesse estar bastante ferido. Nada de sangue mas o pára-choques partido exibia bastantes pelos e o inter-cooler arrebentado tornou impossível a combustão no motor. Brilhante. Além do sentimento de culpa, de não conseguir ajudar o bicho, vou também andar a penantes durante o fim-de-semana. Foram só dois segundos de azar

May Day! May Day!

Sinto-me como se a casa das máquinas já estivesse inundada e o navio já condenado emitisse um derradeiro pedido de ajuda. Ainda não ordenei o lançamento dos botes salva-vidas, mas a sua necessidade parece eminente. Tudo isto porque demorei demasiadas horas a sentir que o meu cérebro recuperava finalmente algum discernimento e capacidade de ordenar ideias e não alucinar com um imaginário apocalíptico.

Como comandante deste navio não me posso dar ao luxo de passar tão perto de tamanhos Icebergs a todo-vapor. Não havia necessidade de correr semelhantes riscos, nem de por em perigo toda a tripulação.

Tudo isto porque o Club Kitten @ Triplex chamava por mim, hipotequei todo o Domingo e ainda o inicio da semana, envolvendo-me num devasso mergulho de excessos quase suicidas, para o meu corpo já não tão jovem. Mas valeu a pena, foi bastante bom apesar de estar permanentemente a nadar na multidão, ao som do catolicismo musical. E não me recordo de quem me atirou uma bóia. Foi um naufrágio muito atribulado…

We’re charging our battery
And now we’re full of energy
We are the robots

We’re functioning automatik
And we are dancing mechanik
We are the robots

Ja tvoi sluga (=I’m your slave)
Ja tvoi Rabotnik robotnik (=I’m your worker)

We are programmed just to do
anything you want us to
we are the robots

We’re functioning automatic
and we are dancing mechanic
we are the robots

Ja tvoi sluga (=I’m your slave)
Ja tvoi Rabotnik robotnik (=I’m your worker)

We are the robots