Kitten SB major upgrade Beta
Não me gosto de julgar ou fazer actos de contrição com frequência. Cada vez mais readquiro o gosto pelo carpe diem e sei que planear o nosso futuro com demasiados pormenores apenas nos pode proporcionar amargas e longas frustrações. Viver do passado ou de memórias, acaba por ser um mero inexistir.
O passado não devia condicionar em demasia o nosso presente, mas sendo ele tão forte e entranhado por vezes é complexo o enxotar dos nossos pensamentos e acções presentes. Sem ser condicionante, sem ser motivo de remorsos e outras fraquezas, apenas deve servir de biblioteca de consulta e não de lei. Não é que acredite em fazer tábua rasa do que ficou para trás. Isso nunca se consegue fazer, e até é perigoso. Mas viver de face ao futuro e de costas para o passado é a direcção certa. A única a meu ver que nos faz apreciar a vida.
A cada momento e que nos enche. Por isso prefiro deglutir o presente.
E nada como uma festa do Clube Kitten no Sá da Bandeira para festejar o presente, ignorar o passado, e aguardar o futuro sem ânsias. É o prazer de celebrar momento. Apenas isso.
E que presente foi!!! M. parecia o representante da P.J. do meio e pareceu aderir. N. estava imparável apesar de trabalhar às 11, aguentou-se estoicamente até as 5 e 30 dançando freneticamente. Fazemos uma dupla que envergoria qualquer adolesceste. Até o doutor P. veio aguentar-se e pagar uma rodada de Gins. Apesar de me terem dado um toque nos 130 cavalos umas horas foi suberbo e ganhei a noite. Só faltou I., pois tinha que estudar.
As festas do Club Kitten atingiram a celebridade rapidamente. Nunca imaginei que em Março de 2002, quando pela primeira vez fiquei fascinado pela forma como se desenrolavam as noites do Triplex com um DJ portuense, que já marcara presença em Londres.
Eu já o tinha visto um par de vezes na Matéria Prima e J. contara-me que aquelas festas eram de arromba com música electro-eighties e com mulherio do melhor tudo aos pulos.
Experimentei e adorei.
Voltei a repetir e fiquei fã.
À terceira já não podia passar sem aquela noite mensal, apesar das longas horas de dança, muitos Gins e completa euforia. Já me viciara em Kitten, e já queria fazer umas T-shirt alusivas – com inscrições do género DJ Kitten fan club.
Contudo, tudo que é bom não dura sempre, como costumo dizer. O Kitten no tripl3x tornou-se rapidamente vítima do seu próprio sucesso. Para além da fauna e flora residente e incondicional (estilo belas artes, conservatório, audiofilos e esse meio), começaram a chegar os betos, pessoas-carneiros, pistoleiros e pistoleiras e todo esse género de gente que sai a noite para onde estiver a disco mais cheia. Até as meninas da NTV foram entrevistar este movimento não alinhado da noite da minha cidade.
Como resultado de toda esta procura, Kitten limitou-se a explorar a velha fórmula e a cativar sem provocar, mesmo dando de vez em quando temas fantásticos, como se oferecesse pérolas a porcos.
E a casa cada vez mais cheia. Já enchia às 2 e meia, à 1 e meia já não se podia andar, mesmo de Verão, com os jardins à pinha. O colossal acontecimento era já um happening, e quem é habitue não consegue faltar, apesar de saber que esta insuportavelmente cheio de gente até às sete da matina e que as colunas já estão completamente queimadas, após 45 minutos de débito frenético de kitten.
Depois surgiu a melhor fórmula. Está cheio? Muda-se para um sitio maior! Onde? Os idiotas do talho (leia-se Via Rápida) experimentaram mas não gostaram da música… tipicamente de parolos, como é óbvio daqueles bonecos e bonecas todos com muita areia na cabeça e um belo guarda-roupa. Pérolas a porcos? Sem dúvida.
Nada como achar um local descomprometido. O Sá da Bandeira passa filmes Hard Core e de vez em quando, até dá lá para fazer uns concertos: afinal o teatro está todo arrebentado e parece ter parado algures em 1954. Tem passadeiras vermelhas e tudo. Muito underground-trash style. Era a cara do kitten! Remédio santo.
A potência e o espirito brilhante do ímpeto inicial revivem. Kitten Gold!
Esta minha terceira ida ao Kitten Club prezou-se por uma viagem a esse espirito, com muitas pitadas e revivalismo e gente da minha era a curtir desenfreada até às tantas. Mesmo já com penetras, entusiastas de circunstância e outras coisas indefiníveis, não conseguem destruir a tolerância e festa brava que bombeiam a alegria da festa. G. e os seus guppies, malta da Portucalense anterior a mim e caloiras que praxei, muitos trintões meus conhecidos, amigos e amigas de longa data que já não revia em lugar algum. Dir-se-ia que se mergulha no passado, num presente sem preocupações no futuro. É carpe diem no seu mais belo fulgor e com gente deixando-se viajar nas emoções do momento.
Viva la vita!