Dias

Deplorável, ou talvez não aquele baile dos Vampiros. Estava mesmo a precisar de arrebentar em termos de escala de Richt e proporcionar-me algum descontrolo.Sábado deu direito a domingo até às 8 AM , e um enigmático SMS para N. as 5:22 AM “Deda estar socorro”?!
Estava a precisar deste breve momento de descontrolo, e até deu para trocar duas de conversa com o grande senhor Kitten, e até encontrei a bela I. por lá, cheia de risinhos. E como estou numa fase de dilúvio, C. tem feito tudo para estar comigo. Isto dos aeroportos tem que se lhe diga…

Durante o concerto, que era bastante sufrivel, DJ Kitten, vulgo J. é a simpatia em pessoa e respondeu-me envergonhado, ao lhe dar os parabéns por sexta estar no LUX como cabeça de cartaz que não estava a espera de tanto sucesso. Já o conhecia da Matéria Prima e de uma noite no Triplex que eu já meio acelarado lhe estendi uns aplausos.
Afinal Kitten frisou que tinha iniciado o Clube Kitten e não iniciado a carreira de DJ Kitten. É interessante ver que Kitten prefere ser um pioneiro de uma club culture do que um DJ famoso. E é de facto esse pioneiro. Mais e mais gente, novas gerações se rendem as suas performances electro-trash, que não são um mero pretexto de dança, mas sim um verdadeiro catolicismo com direito a missa completa em cada mês.

Bom mas isso já não interessa. Sexta estou no Lux para Club Kitten@Lux

festa kitten

Não quero saber se hoje é Baile dos Vampiros e encerra o Fantas. Não quero saber se é Carnaval, ou mesmo se hoje tocam os Blasted Mechanism.

Sei que há festa do DJ Kitten, e os sobreviventes vão cerrar fileiras para dançar a festa do Porto. Estou mesmo a precisar de estar no Sá da Bandeira até sentir que o meu corpo se desprendeu ao ritmo eletro-trash.

Enfrentar contrariedades ou algo desse género, gera em mim uma espécie de antítese comportamental. Já há muito tempo que sem estar em férias não passava tão poucos serões em casa. Creio que estou a atravessar uma fase de relativa popularidade, que sem dúvida me faz encarar de forma objectiva o reino da subjectividade e emoções. Como se focasse a meta e não o percurso.

Ser cavalo de corrida não é propriamente o que desejo da vida, mas por vezes precisamos de percorrer as duas léguas sem pestanejar, forçados a um galope que não dá para espumar ou sequer para sentir as rédeas, arreios e o chicote. É só galopar até à meta, com todo o empenho, sem ter tempo para dúvidas.
Os momentos que antecederam a partida eram de tensão extrema e nervosismo. Mas quando as cancelas se abriram, nada mais importa, a não ser aquele momento de adrenalina total, onde o instinto nos derruba toda a consciência e nos leva.
O desgaste da corrida vem depois, não importa. Mesmo que os danos da corrida sejam irreversíveis, e os ligamentos fiquem inutilizados, um cavalo de corrida não vai deixar de correr até ao seu limite.
N. e eu estamos num hipódromo, e só vamos parar quando passarmos a meta, quer em últimos ou primeiros. Isso não importa. Basta que nos deixemos levar pela suprema vontade e satisfação que a corrida dá.

Seriamente mas não serenamente, só sei que nada disto faz sentido. O poço de emoções trasbordou e alagou sem piedade as minha fronteiras de raciocínio. Talvez porque não estivesse à espera, talvez porque não quisesse ver, o facto é que a Torre de Babel em X mostrou-se impiedosa, arrastada pela Roda do Destino em I. Face a mim está o Eremita em VII, e o desfecho é o Diabo em XII dando a confusão e ilusões. O Pendurado em XI é evidente prenúncio destes atritos. Certo e sabido tudo se escapou tudo ao meu discernimento, como uma bala que já tinha sido disparada, e o seu alvo, eu, estava estático, sem poder de reacção, incapaz de me desviar do seu trajecto.
E foi assim que antevi incrédulo. Era demasiadamente tortuoso, excessivamente lacónico e frio. E era para já, não tardava, com cavaleiros de mau agouro.
E a bala atingiu-me em cheio.
Porém os ferimentos não são mortais, nem apanharam sequer qualquer ponto vital. Mesmo assim doeu que se fartou e urrei de dor ao ser trespassado pelo metal incandescente. Mas a convalescência é rápida e não tarda estarei de novo pronto a dar o peito a outras miras telescópicas. E sem qualquer tipo de receio.

Podem me abater, mas não me conseguirão submeter.
Afinal gosto de Viver, e não de viver.

A poesia descansa as almas pesarosas e atormentadas. Por vezes basta ouvir alguns poemas solenes e também castiços, para alimentar e saciar a alma, purgando alguma fome ou sede do espirito.
As palavras são medicamentos de acção rápida na nossa alma, dando alivio e conforto, mesmo que falem em fúria e desalento. Ou mesmo alguns lirismo excessivo, mas que mesmo assim produz um sorriso.

N. e eu falamos bastante com Pete, um brilhante astrólogo, feliz por sentir que os seus 20 anos de estudo e o livro que está a escrever, estão a dar o seus fruto. Um após outro, o nosso círculos de amigos ficam extasiados com a precisão das suas leituras: Ju agradeceu-me imenso, N. ainda em choque quer levar toda a gente a Pete. Pete revela-se uma pessoa sensível, e obviamente tinha que ser peixe como eu.

Na noite seguinte N. e eu tivemos um jantar na Foz, por sinal excelente, óptimo para falar nas coisas da vida e retemperar forças, fazer planos de viagens. Depois fomos rir, ouvindo anedotas entre amigos em Mira-Gaia.

É pena que essas noites se repitam apenas uma vez por semana e a horas proibitivas, mas sei que contudo vou repetir a dose. Esta medicação deve ser cumprida até ao fim.

Nunca ninguém nos prometeu nada que perdurasse para sempre. Se o fizeram, apenas estavam a assumir com boa vontade ou com alguma motivação enganadora ou ilusão. Uma das constantes da vida é que nada é imutável. Nem mesmo as rochas, as memórias, os deuses e nem mesmo a velocidade do tempo de acordo com novas teorias da física. As mudanças ocorrem, mais cedo ou mais tarde, ao seu passo, ao seu ritmo. Inexoravelmente a metamorfose voluntária ou involuntária, cobre tudo com seu manto.

Muitas dessas mutações são lentas, levando por pequenas etapas, quase imperceptíveis, quase milimétricas, mas que acumuladas são mutações profundas e gritantes. As mudanças nem sempre são evolutivas ou benéficas. As mutações podem gerar da crisálida a borboleta ou podem gerar um Godzilla.

Como dois continentes que colidem, muitas vezes a pressão e atrito das placas teutónicas não se liberta para formar cordilheiras sumptuosas, ou largar suas energias formando novas ilhas e mostrando-se em pequenos abalos sísmicos. Essa dinâmica das mutações, por razões que a razão desconhece, provoca terramotos devastadores e vulcões à espera de entrarem em erupção em explosões arrasadoras.

Podemos durante muito tempo ignorar as fumarolas e os tremores, pensando que são meios naturais que a Terra tem para lidar com as suas mutações e as forças internas contrárias, de forma positiva: podemos até pensar que é uma fase passageira e que a energia libertada é a resolução do problema em sí. Está a libertar pressão, a mexer-se sem partir. O problema é quando esses sinais não são sinónimo da libertação passageira mas sim prenuncio da catástrofe vingativa vinda do interior da terra que se acumula.

Pensei que todos aqueles abalos eram benesses e que afinal estava mais perto da borboleta. Mas na crisálida apenas cresce um Godzilla, para meu desgosto. Para meu e de todos que do fundo do coração queriam ver uma borboleta feliz na primavera prometida e não um Godzilla num pesadelo apocalíptico japonês, que passo após passo, destrói tudo que o cerca, até quando nada mais tiver para destruir.

Acho que me repito, mas sem dúvida aquela música, que até acho meio básica, não me sai da cabeça.
“I will be Waitting” é a letra que me persegue, e vejo e revejo-me numa situação muito semelhante ao que estava antes, mas agora a parada é bem mais alta, com riscos dignos de um jogador inveterado e que nada mais tem a perder.

– Faisait vous jeux?

– Double or nothing!

Sou um navio que atravessa uma tempestade de emoções.
Os ventos da paixão sopram bruscamente e as ondas das emoções são vagas encrespadas.

Não antecipei os sinais da tormenta nem vi as gaivotas fugindo para terra. Estava um dia calmo, céu azul.
De repente veio uma brisa fresca e o céu encobriu. Mesmo antes de pensar em traçar uma rota para o porto de abrigo mais próximo, já trovões ribombavam e o mar encrespava. Eis que recolho as velas, visto o impermeável à pressa e já o vento uiva furioso e a água começa e cair das alturas em jorros.

Não entro em pânico, e tento dominar um medo terrível de ser tragado pelo mar. As ondas são já enormes.
Todas as ancoras são lançadas com esperança da rota traçada pelos elementos não me esmagar contra os rochedos em terra. Sem fuga preparo-me para enfrentar o centro da tempestade que se forma cada vez mais assustador. Avisto o tufão formando-se e com toda a esperança que me sobra, finco as mãos no leme com toda a força que encontro. Não será o temor da tempestade que me irá salvar. Nem tão pouco a minha vontade de sobreviver aquela tempestade assassina de marinheiros. Apenas o destino

Um lobo-do-mar sabe que as grandes tempestades não escolhem vítimas, nem reclamam sangue. Apenas se revelam quando menos se espera, como um teste dos elementos à coragem dos homens em navegar e desafiar o vasto oceano. Só os grandes homens do mar lhes podem resistir, mas no fim são as tempestades que os poupam, por serem valentes, ou os levam apenas por prazer.
Naquele momento que o navio trepa as vagas, descontrolado, apenas tentando enfrentar aquelas paredes de água salgada para não adornar e ser engolido pelo mar. Sei que parte da carga já está irremediavelmente perdida, mas isso sempre foi um risco que todos os marinheiros têm que assumir.

Seguro o leme com afinco e perseverança. Já não temo o tufão que se aproxima. Estou forte, mas sei que a minha vontade não me poderá salvar do destino.
Se Neptuno me quiser, assim será. Senão serei recompensado pela bonança e um porto seguro onde me esperam mil sonhos.
E tudo a tempestade decidirá, e tudo o tempo desvanece. Mesmo as grandes tempestades.

Neste momento a minha vida parece uma telenovela venezuelana. Resume-se tudo a muitos melodramas em simultâneo num enredo francamente mau, com muitas paixões assolapadas, ciúmes, desentendimentos, traições revirivoltas alucinantes, paixões intensas e amores eternos. Só não está dobrada em brasileiro…

Se agarrar o argumentista acho que o vou esganar na hora.

Questiono-me muitas vezes se serei muito excêntrico. A verdade é que nas duas ultimas semanas, tenho me comportado como tal, em especial, durante o fim-de-semana. N. tem dado o mote de um desenfreado gosto pelo descontrole e alienação noctívaga, que passam rapidamente da euforia para a culpabilização após os pecadilhos cometidos. E assim se eu ponderar bem, apesar de o acompanhar como amigo que o ampara, qual anjo da guarda, também sei que a minha vontade não é forte pois quero partilhar essa necessidade de alienação e busca pelo desenfreado e ilusório ao ritmo em que não existe um amanhã.

Não admira que me tenha colocado numa posição de xeque-mate, oferecendo a Dama e deixando o Rei sem fuga possível, ao tentar fazer de um misto advogado do Diabo, cruzado com Grilo falante, e simultaneamente gozando cada momento dessa vida desenfreada. Se a minha vida neste momento esteja tão repleta de paixões intensas é também verdade que tenho o coração tão partido, e tantas vezes colado com cimento-cola que o meu autocontrole está a dar de sí.

Creio que será essa a síndroma da falésia: sei que é perigoso caminhar pelos precipícios da falésia; aviso todos desse perigo, mas contudo o fascínio e a beleza dessas falésias e das ondas rebombando nas rochas escarpadas é tão imenso que somos atraídos por um magnetismo irresistível. A vertigem é um alento e também um suicídio. Dar valor à vida e agarra-la com todas as forças e pelas mesas razões saber que a posso perder devido aos riscos que saboreio.

O segundo síndroma é o do Guru. Não creio que quando a minha chama se apagar me vão oferecer um par de asas ou um halo. Apenas sei que me comporto com uma exasperante lucidez e iluminação. Não sei se é ilusória, mas as pessoas até me dão ouvidos, e dou por mim a ter rasgos de sabedoria, de imagens de equilíbrio e vomito palavras de conforto e esperança. Não é que não as sinta profunda e sinceramente. Mas o facto é que as tento transmitir, compelido e motivado por algo que me é mais forte. Não sei se será mais um belo sinal de maturidade, ou se é apenas um irritante tique da alma. O facto é que M., N., I., Ju, So., J., A. entre outras pessoas que me são queridas ouvem de mim palavras profundas e me sinto como aqueles seres de éter que sussurram ao ouvido dos seres humanos palavras de conforto e esperança e animo. Uma imagem como as Asas do Desejo de Wim Wenders, em que a realidade de vários planos de existência se confundem.

Estou sereno e contudo energético. Cansado e com endurance acrescida. Envelhecido e mais jovem que nunca. Desmoralizado e confiante.

Tio Patinhas preso por pedofilia!

PATOPÓLIS – O milionário Howard Duck, mais conhecido como Tio Patinhas, foi preso ontem, acusado de pedofilia. A polícia encontrou em sua caixa forte vídeos nos quais ele aparece em situações comprometedoras com seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho. Testemunhas disseram que ele fez o mesmo com o sobrinho mais velho, Donald, que, traumatizado, passou a andar sem calças durante toda a vida. Maga Patológica, que seria obrigada a assistir às cenas, acabou se transformando numa psicoPATA.

Ju. quebrou a barreira das 3 décadas com alguma indiferença; N. passa por uma segunda adolescência; A. está fechado em casa, M. é vitima de assédio sexual; I. paira nas suas dúvidas, J. está sem equilíbrio; P. está fantastico, G. mudou-se para a casa nova, anseio rever S. e R.; Doutor P. agarra-se à carreira; Inspector P. cerca os Carlos Cruz; Passado já não existe; Bob e os patrões deixam-me saudades, Ch. não dá notícias; F. nunca mais a ví; Kitten volta este fim-de-semana; Pete tem nova consulta; o meu outro lado tem que ser actualizado; D. é cada vez mais resmungão; F.M.T. parece com energia; J.B. segue brilhante; M.L. vai se casar; Jonas está a ter os frutos merecidos do seu trabalho, e eu?

E eu?

Boa pergunta.

Um café é sempre um clássico pretexto para o reencontro. É algo de social que apresenta um leque de impulsos de debate, que no nosso país assume a nossa pacatez e o gosto algo intrincado na nossa cultura das tertúlias.
Mas um chá tem também um conceito bem semelhante se bem como pude constatar, nos dias que passam, pedir um chá, mesmo num salão de chá apenas nos dá direito ao saquinhos standard.

Foi bom reencontrar B. e A. e estar na cavaqueira quer sobre assuntos sobre a iluminação, quer sobre o último desastre da conquista dos céus, ou sobre o império do mal. De certa forma as horas passam quando comunicamos e partilhamos ideias. Não sei se será um tom asceto-filosófico que a proximidade das 3 décadas nos proporciona, ou se será apenas pura e simples lucidez da longevidade.

Mas como B. recordou, estamos a virar a minoria, contra todas as probabilidades, que após certa idade ainda tem o espirito suficientemente aberto para provar novas músicas, novas comidas, novos pensares, sem se resumir ao cinzento, preto no branco do ”eu gosto/eu não gosto” ou do ”é bom/é mau”. Creio que é esse o segredo da eterna juventude, cuja fonte está mesmo ali ao lado da luz com que quisermos brindar a nossa massa cinzenta, ou alma se prefiram.

Kitten SB major upgrade Beta

Não me gosto de julgar ou fazer actos de contrição com frequência. Cada vez mais readquiro o gosto pelo carpe diem e sei que planear o nosso futuro com demasiados pormenores apenas nos pode proporcionar amargas e longas frustrações. Viver do passado ou de memórias, acaba por ser um mero inexistir.

O passado não devia condicionar em demasia o nosso presente, mas sendo ele tão forte e entranhado por vezes é complexo o enxotar dos nossos pensamentos e acções presentes. Sem ser condicionante, sem ser motivo de remorsos e outras fraquezas, apenas deve servir de biblioteca de consulta e não de lei. Não é que acredite em fazer tábua rasa do que ficou para trás. Isso nunca se consegue fazer, e até é perigoso. Mas viver de face ao futuro e de costas para o passado é a direcção certa. A única a meu ver que nos faz apreciar a vida.
A cada momento e que nos enche. Por isso prefiro deglutir o presente.

E nada como uma festa do Clube Kitten no Sá da Bandeira para festejar o presente, ignorar o passado, e aguardar o futuro sem ânsias. É o prazer de celebrar momento. Apenas isso.
E que presente foi!!! M. parecia o representante da P.J. do meio e pareceu aderir. N. estava imparável apesar de trabalhar às 11, aguentou-se estoicamente até as 5 e 30 dançando freneticamente. Fazemos uma dupla que envergoria qualquer adolesceste. Até o doutor P. veio aguentar-se e pagar uma rodada de Gins. Apesar de me terem dado um toque nos 130 cavalos umas horas foi suberbo e ganhei a noite. Só faltou I., pois tinha que estudar.

As festas do Club Kitten atingiram a celebridade rapidamente. Nunca imaginei que em Março de 2002, quando pela primeira vez fiquei fascinado pela forma como se desenrolavam as noites do Triplex com um DJ portuense, que já marcara presença em Londres.
Eu já o tinha visto um par de vezes na Matéria Prima e J. contara-me que aquelas festas eram de arromba com música electro-eighties e com mulherio do melhor tudo aos pulos.

Experimentei e adorei.

Voltei a repetir e fiquei fã.

À terceira já não podia passar sem aquela noite mensal, apesar das longas horas de dança, muitos Gins e completa euforia. Já me viciara em Kitten, e já queria fazer umas T-shirt alusivas – com inscrições do género DJ Kitten fan club.

Contudo, tudo que é bom não dura sempre, como costumo dizer. O Kitten no tripl3x tornou-se rapidamente vítima do seu próprio sucesso. Para além da fauna e flora residente e incondicional (estilo belas artes, conservatório, audiofilos e esse meio), começaram a chegar os betos, pessoas-carneiros, pistoleiros e pistoleiras e todo esse género de gente que sai a noite para onde estiver a disco mais cheia. Até as meninas da NTV foram entrevistar este movimento não alinhado da noite da minha cidade.
Como resultado de toda esta procura, Kitten limitou-se a explorar a velha fórmula e a cativar sem provocar, mesmo dando de vez em quando temas fantásticos, como se oferecesse pérolas a porcos.

E a casa cada vez mais cheia. Já enchia às 2 e meia, à 1 e meia já não se podia andar, mesmo de Verão, com os jardins à pinha. O colossal acontecimento era já um happening, e quem é habitue não consegue faltar, apesar de saber que esta insuportavelmente cheio de gente até às sete da matina e que as colunas já estão completamente queimadas, após 45 minutos de débito frenético de kitten.
Depois surgiu a melhor fórmula. Está cheio? Muda-se para um sitio maior! Onde? Os idiotas do talho (leia-se Via Rápida) experimentaram mas não gostaram da música… tipicamente de parolos, como é óbvio daqueles bonecos e bonecas todos com muita areia na cabeça e um belo guarda-roupa. Pérolas a porcos? Sem dúvida.

Nada como achar um local descomprometido. O Sá da Bandeira passa filmes Hard Core e de vez em quando, até dá lá para fazer uns concertos: afinal o teatro está todo arrebentado e parece ter parado algures em 1954. Tem passadeiras vermelhas e tudo. Muito underground-trash style. Era a cara do kitten! Remédio santo.
A potência e o espirito brilhante do ímpeto inicial revivem. Kitten Gold!

Esta minha terceira ida ao Kitten Club prezou-se por uma viagem a esse espirito, com muitas pitadas e revivalismo e gente da minha era a curtir desenfreada até às tantas. Mesmo já com penetras, entusiastas de circunstância e outras coisas indefiníveis, não conseguem destruir a tolerância e festa brava que bombeiam a alegria da festa. G. e os seus guppies, malta da Portucalense anterior a mim e caloiras que praxei, muitos trintões meus conhecidos, amigos e amigas de longa data que já não revia em lugar algum. Dir-se-ia que se mergulha no passado, num presente sem preocupações no futuro. É carpe diem no seu mais belo fulgor e com gente deixando-se viajar nas emoções do momento.

Viva la vita!

Eu não conhecia a culinária indiana e julgava que todos aqueles condimentos seriam demasiadamente exóticos e picantes para que eu pudesse ficar saciado, ou pelo menos não agoniado após uma refeição.
Puro engano! Afinal os pratos indianos não são só picantes, mas também ricos em sabores aromas sem que haja um desequilibra por dar ao nosso paladar 3 ou 4 especiarias em simultâneo.
Ju. convenceu-nos a experimentar, mesmo sabendo que em geral estes restaurantes exibem preços exorbitantes. Tal não foi o caso, e acabou por ser um serão muito agradável, com uma conversa amena enquanto nos deliciávamos com Chicken Kashmir e outras preciosidades gustativas. Fiquei cliente.
A semana que se seguiu foi depressiva e bastantes stressante. Julgo que o meu bio-ritmo deve ter batido num fosso profundo nesses dias.

N. fez como as ”andorinhas”. Ao antecipar a chegada do frio e bateu assas e migrou para um país quente tropical. Nada menos nada mais que o país tropical. Quando cá os termómetros batiam no zero ele aproveitava um Rio 40 graus, com a malta bacana.

Como eu, ele também sentiu a indiscritível alegria de viver na pela, algo de intraduzível por palavras que nos contagia mal pousamos pé na Terra da Vera Cruz. Parece estranho, mas uma espécie de energia positiva envolve qualquer europeu que não seja uma anta, mostrando-lhe algo que nunca sentiu antes.
Acho que li algures que o Brasil estava empregando espiritualidade, sobe a religiosidade católica europeia, misturado com o candomblé de raízes africanas, com pitadas de pajés índios devotos à natureza, e encimados por o espiritismo e muita new age para dar paladar. Não é só o calor, ou a luz que fascinam os turistas, e também a aura do vasto continente da Ordem e Progresso que irradia e contagia força espiritual.
N. veio fascinando, alegre, forte. Deixou, como eu há uns longos anos, de ser um tristonho europeu. É já um bagabundo do mundo. Quer voltar. Como eu…

We saw the light

As suas aventuras fizeram-me lembrar as minhas paixões… as mulatinhas, a euforia, o carpe diem brasuca.
Estou apaixonado de novo e não posso deixar muito tempo até rever esse amor tão lindo.
Necessito de carregar minhas forças,
meus pulmões necessitam de tem bafo de vida,
meus olhos precisam de tua beleza…

Chuva e mais chuva, vento e frio. Frio, com frio vento e chuva.
Este ano, prometi a mim próprio que ia tentar evitar um dos meus defeitos sacramentais: os queixumes. Apesar de não o ter comprido à risca não quer dizer que tenha abandonado essa decisão de passagem de ano. Afinal ortodoxias dão sempre mau resultado. Portanto: Nada de queixumes, lamurias, lamentações doravante!

É bom estimular as nossas células cinzentas, apreciar um pouco de cultura e partilhar conhecimentos. Com I. e Ju isso é sempre um processo garantido e simultâneo usufruir de um gosto pelo bom humor. As nossas referências da tenra idade são muito semelhantes, passamos por fazes da vida muito semelhantes e cria-se uma certa empatia mútua.

Ver “Esquece tudo o que te disse” foi provavelmente a melhor surpresa das últimos anos. Nunca imaginei que um filme português pudesse escapar a mediania e a sentir que apesar dos actores estarem a falar português, não faltava no ecrã as legendas para puder compreender as deixas das cenas. Mas o filme de António Ferreira é forte e os actores brilhantes são bem dirigidos. O filme é solido e é invulgarmente bom – algo de muito estranho para um filme lusitano. E que actriz. Bastante interessante a banda sonora, sobre o auspicio dos Azembla´s Quartet.

Lazer e Saber – I

Tenho reconquistado o meu gosto pelo bom cinema. Actualmente na minha cidade só praticamente só as salas de cinema com a distribuição da Medeia Filmes, apresentam películas não destinadas a comedores de pipocas.

Na extraordinária companhia da adorável I. e simpatiquíssima Ju. tive o privilegio de atender à Intervenção Divina de Elia Suleiman, um filme palestiniano que muito me surpreendeu pela sua acutilância, não no sentido político, mas sim social e humano, da miséria actual que se vive na Palestina e em Israel. O filme fabrica uma enorme parábola e alguns gags brilhantes, que apesar de não serem hilariantes, focam o tom de comédia da situação surrealista dos territórios ocupados, dos controlos fronteiriços, e da vontade de amar uma nação que não existe. Pictórico, mas não inacessível, chegando a ser envolvente no seu carisma da irrealidade que é a realidade palestina. A cena do balão Arafat, os fumadores nos cuidados intensivos e a óbvia panela de pressão com que o filme se despede, deixam uma mensagem profunda, não de vingança mas de pedido de justiça e hino ao amor. Música brilhante.

Nesse sábado éramos para ir ao kitten no Tripl3x, após uma óptima moqueca de camarão no Óxala, mas a visão dantesca de ter as escadarias da porta com 500.000 pessoas acotovelando-se para entrar. Isso facilmente nos fez mudar de ideias…

O plano B foi uma ida ao chic, um talho 2 versão upgrade, revisto e aumentado. Muito chic de facto, mas péssima música e tudo arranjadinho, tipo “vê mas não mexe”, a abarrotar com milhares de pessoas. Mesmo assim não largamos borboto como aconteceria na festa do kitten no cubículo do TriplEx. Claro que os conhecimentos da Ju., fizeram-nos entrar pela porta VIP, apesar de parecermos rotos ao lado daquela gente chic. A companhia foi muito boa, e já estávamos a ficar com os copos graças a umas quantas unhas oferecidas pela casa… E vai, não vai, até se falou na nossa idade, pouco recomendável para aquelas andanças, claro sinal inequívoco que a nossa circulação alcoólica tinha pouco sangue… e que dentro em breve o sol de domingo iria despontar.