Dias

Nos últimos tempos apesar do corre-corre tenho observado a realidade com um olhar esfomeado, notando pormenores do quotidiano verdadeiramente irrealistas e ilusórios. A realidade é feita de conjuntos de sonhos irreais!

Quando era mais jovem sempre fui fascinado pelo mundo da fotografia, na tentativa de captar aqueles momentos intemporais. Na última década perdi esse gosto, talvez por descuido ou comodismo.

Com o gosto de F. e da maninha
da fotografia , creio que senti novamente o bichinho e as saudades de apontar uma objectiva como um caçador furtivo.
Ainda me vou por em despesas…

México

O fim de semana decorreu algo inesperado e acabei por me cansar em demasia.

Como M. estava a recuperar de uma gripe malvada, decidi dar uma saltada até sua casa e acabamos a sexta jogando cartas. Acho que ele já me pegou o bichinho…
E vai daí Sábado foi inicialmente de descanso e tédio de recuperação.

N. convocou-me ao fim da tarde para um campanha de terror que envolvia um restaurante mexicano… Escusado será dizer que meteu em seguida uma ida até ao congestionado cerveja viva, sempre com a companhia da Ju. , da adorável I. e da loirinha Jo. que estavam bem simpáticas.

Sou um pecador pois acabei por não resistir e apanhei boleia da Jo. e da I. até ao talho onde ficamos até horas proibitivas. Claro que Domingo tornou-se uma aventura no sofá tentando recuperar.

E para variar esta segunda vai ser a mais complicada de todas…

Este fim de semana passou depressa como todos os fins de semanas, mas foi muito especial e cheio de supresas. Acho que só foi ensombrado pelo mau acordar de J. que ultimamente tem tido atitudes incompreensíveis que me têm magoado muito.

Custou-me faltar aos anos da minha amiga ex-colorida, mas afinal tinha uma óptima desculpa…

As decisões difíceis que se multiplicam neste início de semana são daquelas etapas e barreiras que as nossas vidas atravessam nos pontos de viragem.

Gosto tomar decisões e estar em controle da minha vida. Algumas raras vezes fui impulsivo, pois como psicótico que sou pondero tudo, mesmo as razões menos lógicas…
Desta vez custou-me chegar a uma conclusão: consumi-me a ponto de hesitar e adiar qualquer decisão.

Odeio-me por isso!

Mas existiam razões de sobra para me desculpar e ser aparentemente fraco – estas envolvem alterações profundas e certamente irreversíveis.

O casamento da maninha foi óptimo, baptizado por uns chuviscos e saudado por um sol resplendoroso de Outubro.
A noiva estava linda e valeu a pena toda a espera e tormentos que passou. O nó oficializado
Segui de perto o percurso menos os preparativos finais com a minha ausência pendular forçada.

Claro que me perdi num festim culinário divinal, e abusei do néctar de Baco numa ânsia pouco recomendável. Creio que estou mais susceptível em me refugiar no embriagar dos sentidos para fugir aos meus fantasmas.

M. confessou que também passara das marcas e que desde 1997 que não tinha uma ressaca semelhante. Realmente estava a seguir o meu ritmo -e claro – acabamos a madrugada em discursos e diálogosin vino veritas que só são possíveis na irmandade masculina com uma grande carga ou com 1500 horas de psicanálise comprimidas em meia-hora.

A. estava bem disposto , o E. fumou o cachimbo da Paz e Ma.
estava animada. Falei bastante com a Branca de neve e com o Torres, sobre coisas sérias e espero não ter falado demais pois nessa altura estava algo atento aos encantos de uma deliciosa Isabel.
Tal como eu F. sugava cigarro após cigarro e foi brilhante o seu slide show …

nota tenho mesmo que parar senão morro afogado em nicotina e já agora quero algumas fotos da sua autoria!

K. e X. apareceram já para o final, lindas como é hábito, e até dançamos um bocadinho, mas os noivos já se tinham raspado e não cumpriram a promessa de regressar…

Vão continuar a ser felizes juntos, tenho a certeza!…

Hoje sinto-me mole. Como um morto-vivo deambulando por aí.
Sou um zombi sem mestre e estou a sentir na pele a cinza que mora no céu que há muito não é azul.
Quero algo de bom …

E ainda há quem se queixe… 🙂
M. telefonou agora e eu ainda estou na cave!

Ontem estive a ter uma conversa muito agradável depois do terrível desastre do FCP com a número três ou quatro do primo de N. . Era uma criatura bastante pacata que está a estudar na grande cidade e que defendia que vivemos na selva e que nada melhor que o Tibete para voltar a viver em vez de sobreviver.

N3 disse algo de interessante que não me podia bater com mais força: afinal nós é que nos acomodamos e não conseguimos aproveitar o tempo. Com um pouco de esforço podemos arranjar tempo para fazer tudo que queiramos (incluindo babar em frente à televisão num sofá entorta espinhas). Como desperdiçamos o tempo e não conseguimos descansar ou fazer aquilo que achamos prioridades é só um efeito da nossa postura passiva e pouco apaixonada face à vida.

Acho que tenho que tornar-me mais activo… mas talvez não precise de ir até a um mosteiro tibetano…

Ontem à hora do almoço vi o Quim Barreiros a passear na rua com a brasa da morena que anda.
O postal ia a palitar os dentes e ver aquele personagem caricata acho que me deu azar, qual ave de mau agouro

CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO CANSADO

N. veio até à grande cidade depois de uma semana a curtir a Madeira. A Ju. está de exames e ele lá anda só nas férias a aproveitar.
Fomos jantar até Alfama uma dourada no pão que estava uma delicia.
As minhas pernas é que já não aguentaram muito tempo no bar sem nome na Marina do irmão de N..
Hoje haverá mais e melhor espero.

Serão 120 horas que vão custar a passar.
Provavelmente as mais longas pois para além de estar cansado à partida, vai ser uma fase importante.
Onde estás tu velho amigo Prozac?
Abandonei-te há muitos anos…

A última viagem é sempre triste para os que ficam. As exéquias são dolorosas, um espectáculo macabro de encontro dos entes queridos, carpideiras e demais abutres. O Domingo foi triste e conversar com um octogenário agora viuvo após 53 anos de casamento enchardo em Victan dando palavras de conforto numa sala cheia de antiguidades, enquanto a cápsula de madeira descia em Agramonte, não e um cenário que se deseje a ninguém.

Quando chegar a minha vez de ir em direcção à Luz quero ser cremado ao som das Valquirias de Wagner e que as minhas cinzas sejam levadas pelo vento onde o Douro beija o Atlântico. A morte é apenas mais uma etapa do ciclo da vida, talvez mais soturno e misterioso para os ocidentais contemporâneos.

Recear a morte é mais cómodo do que a não temer …

Fazia já alguns tempo que não organizava um churrasco em minha casa. Anos talvez…
No sábado voltei a pegar n carvão e na grelha e convidei a trupe, que me encheu de alegria por aderir. J. e M. perderam-se e chegaram com horas de atraso. X. provou mais uma vez que é uma doceira nata e a K. esteve em perigo de não ir mas respondeu ao meu apelo. A. pecou com a carne e F. quis registar o momento.

A mana chegou um bocadinho tarde com o esposo e E. De forma geral correu bem mas não houve muita adesão à música de DJ Coelho nem às grades ou vinhos simpáticos que estavam à descrição. Pois é já não há pedal como antigamente. N. ainda apareceu pronto para a borga mas eu já estava a queimar os últimos cartuchos.

Estava mesmo a precisar de um momento destes.

OBRIGADO

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Hoje tive consciência de quanto o meu nível de percepção lógica e intuitiva se desenvolveu nos últimos meses. Tremo só de pensar quanto sou capaz de ler como um livro aberto as pessoas e os acontecimentos e desconstruir eventos e pensamentos de uma forma rápida e crua.

É como que uma maldição esta leitura, que ecoa rápida e fluida como nunca. Vejo um olhar e sinto o que encerra, vejo um sorriso e vejo se é falso ou verdadeiro, noto um gesto e deduzo se é um tique comprometedor ou um sinal de desconforto. Chego mesmo a medir alguém em poucos minutos e para meu sofrimento as suspeitas e a impressão do primeiro momento batem certo, quer sejam semanas ou meses depois. Mesmo assim aceito seus defeitos e as virtudes tentando não acreditar em tal certeza inicial buscando um pouco de prazer no conhecer passo a passo normal.

Creio que li demasiados livros da Agatha e do Sir Doyle na juventude, e a prática da dedução, conjecturas lógicas foi sempre uma obsessão. É um jogo das charadas descobrir os segredos que os outros nos escondem. Mas o detective só funciona com factos e indícios que apontam o suspeito e desvendam a forma como levou a cabo o assassínio. O poder de observação aguçado de repente faísca, o jogo fica perigoso, torna-se cruel. Não se apanham os culpados nem se faz um resumo da brilhante dedução até eliminar todos os sulpeitos menos um. Na grande cidade a introspecção explodiu o meu poder de observação e só vejo vidros transparentes. Está tudo à vista. E o pior é que parti o interruptor e não consigo desligar as antenas…

Muitas vezes é inexplicável a certeza com que ocorrem e cada vez mais são mais constantes. Tento ignora-los pois são muitas vezes tristes e pesados para que os aceite e não quero (e tento não querer) que me condicionem. Prefiro estar errado e raramente estou, mas masoquista não quero acreditar. É como que eu tenha que fazer sempre o jogo eu-sei-que-tu-sabes-que-eu-não-sei-apesar-de saber.
Começam logo as etiquetas improváveis a aparecer como se fosse nos artigos do supermercado, mas em vez de identificarem os preços das conservas ou cerejas, revelam e fazem confidencias

– tu és deste tipo, tu gostas eu sei de quê, tu escondes aquilo, tu gostas é daquele, tu tens medo, tu não queres admitir, tu vais te deixar ir na conversa, tu és incapaz de mentir, tu levas tudo até ao fim, tu és egoísta, tu és simples, tu és maldosa, tu és um sapo-boi, tu estas com sede, tu estas desatento, tu fazias tudo pelo teu irmão, tu andas a ver se acabas com a namorada, tu achas-me engraçado, tu tens pena dela, tu queres ajudar, tu dizes uma coisa e depois já dizes outra, tu és um amigo com que se pode contar sempre, tu tens um trauma de juventude, tu és incapaz de amar, tu queres vencer na vida a todo o custo, tu só queres ser feliz, tu precisas que alguém te segure, tu estas zangado comigo e não o queres transparecer, tu tens ciúmes, tu és invejosa, tu és um paz de alma, etc.

Quero ignorar, quero tentar esquecer, mas ali aqueles flashes ecoam seguidos como se não se possa desligar aquele ponto. Tento evitar olhar nos olhos aqueles que gosto nem estar muito tempo frente a frente, senão surgem e ressurgem coisas que às vezes preferia não saber.

Irrita-me quando me tentam esconder algo ou dissimular qualquer coisa. Nessas alturas há um sino badalando e uma sirene a apitar. É aborrecido sentir o que me escondem. Surge sempre aquele sentimento de revolta que não é pelo facto escondido em si mas pela forma como se encobre que para mim é evidente. Nas últimas semanas é pior. O fumo dantes entorpecia a vista, mas agora só o álcool e nem sempre.

Ontem experimentei o sabor amargo e simultaneamente libertino de estar só.
Em norma a solidão é um território que não me é desagradável, e que aproveito para as minhas sessões de reflexão e processamento com catalogação de eventos recentes.
Mas ontem apeteceu-me perder-me como cidadão incógnito algures na grande cidade estudando a fauna e a flora.
Foi óptimo.