Um dia negro da história
Invasão da Ucrânia por Putin
Invasão da Ucrânia por Putin
“The United States is extremely lucky that no honest, charismatic figure has arisen. Every charismatic figure is such an obvious crook that he destroys himself, like McCarthy or Nixon or the evangelist preachers. If somebody comes along who is charismatic and honest this country is in real trouble because of the frustration, disillusionment, the justified anger and the absence of any coherent response. What are people supposed to think if someone says ‘I have got an answer, we have an enemy’? There it was the Jews. Here it will be the illegal immigrants and the blacks. We will be told that white males are a persecuted minority. We will be told we have to defend ourselves and the honor of the nation. Military force will be exalted. People will be beaten up. This could become an overwhelming force. And if it happens it will be more dangerous than Germany. The United States is the world power. Germany was powerful but had more powerful antagonists. I don’t think all this is very far away. If the polls are accurate it is not the Republicans but the right-wing Republicans, the crazed Republicans, who will sweep the next election.”
Para espanto de alguns a Grécia capitulou. Afinal o Syriza não tinha um plano B e teve que aceitar as previsíveis consequências de afrontar os credores nomeadamente a Fräulein Merkel.
Se à priori todos sabíamos que o governo grego estava encostado a parede com um garrote financeiro urgente, alguns indícios estranhos como a convocação de um referendo que colocou os prazos para lá do viável no que toca aos compromissos de pagamentos, pareciam indicar que o Grexit estaria à vista. Mas não. Entre a opção dos agiotas partirem as pernas por falta de pagamento ou pedir mais dinheiro emprestado para pagar as dívidas e aguentar mais uns meses ou um ano ou dois sem que lhe dêem uma coça, os pobres gregos capitularam.
Ao aceitarem mais medidas de austeridade, contudo, os gregos no seu interminável calvário, são mais uma vez o bode expiatório e a evidencia que a construção europeia está condenada. Empobrecer mais um país exigindo que pague o que deve não tem razão de ser, simplesmente por uma questão de racionalidade. Ao apertar a economia está-se a impedir que ela possa criar riqueza para pagar as dividas – e o aumento de impostos e todas as medidas de contração da despesa pública só vão conseguir que a Grécia dentro em breve não possa conseguir assumir os compromissos de pagamentos ao FMI e ao BCE que terá de fazer no futuro.
Ao capitular a Grécia apenas levou para as calendas gregas a saída da crise. A Argentina não pagou ao FMI , entrou em banca rota e depois de um choque de dois anos e desvalorização do peso argentino tem uma economia florescente e está já a recuperar da crise em que se tinha afundado. A Grécia presa ao Euro afunda-se cada vez mais e agora atiraram-lhe com uma bigorna para se agarrar.
Um vídeo que se tornou viral nas redes sociais com a duração de 13 minutos retrata 8 jovens a agredir fisicamente e verbalmente outro jovem sem que este aparentemente consiga reagir. Este episódio triste que se passou há uns meses na cidade da Figueira da Foz tornou-se um tema mediático na imprensa numa espécie de histerismo de repulsa.
O bullying – esse anglicismo que retrata abuso físicos e psicológicos entre miúdos mais fortes sobre os mais fracos – sempre existiu e muito provavelmente sempre existirá. Existe uma pulsão intrínseca no comportamento social dos grupos humanos para se comportarem como as alcateias de lobos. O lobo alfa é o líder é mais forte. O ómega é o mais fraco e todo a alcateia o maltrata. Queiramos ou não a nossa racionalidade é muitas vezes aparente e assim como uma parte do nosso cérebro é reptiliana , outra é semelhante aos mamíferos, os resquícios animalescos, muitas vezes violentos, desabrocham em situações inqualificáveis.
Porém não fiquei chocado pelo evento em si, mas sim pelo incêndio que se gerou de opiniões ferozes contra este fenómeno e pouco falta para exigir que se metam os menores na prisão e se atire a chave fora. A tal viralidade febril dos temas choque que faz com que surjam atitudes de busca da justiça e segurança para as nossas crianças. Fala-se em combater o bullying, implementar medidas, proteger as vitimas. Mas não duvido que da mesma forma que as redes sociais nos metem pelos olhos dentro realidades sombrias em frenesim e velocidade, do mesmo modo nos vão levar o cérebro para temáticas mais benévolas numa espécie de doença de Alzheimer que nos rouba a memória de curto prazo. Será que dentro de duas semana alguém ache que este tema esteve sequer na moda? As ideias e assuntos agora também só têm 5 minutos de fama…
Chegadas as primeiras chuvas de outono, chega a rotina que nos há de acompanhar durante longos e sombrios meses. Tal é a noção que nos ocorre. Mas nada é certo e na verdade não há rotinas a não ser que as abraçamos maquinalmente e as sigamos cegamente.
Este outono quero reformular muitos padrões de comportamento e assim mudar também a forma de pensar e agir perante aqueles que estão à minha volta. Pequenas alterações que juntas podem dar grandes mudanças, abrir novas portas e novos desafios. E isto sem grandes planeamentos e efeitos de choques, tão só ajustamentos graduais rumo a uma vida menos estressada e mais feliz.
Agora que a minha maturidade desaflora para uma nova etapa de renovação sabendo uma das premissas mais importantes da nossa existência :
As mudança surgem de dentro de nós.
Viajar até às arábias revelou-se particularmente interessante. O choque cultural que eu estava à espera concretizou-se, mas de forma que eu não tinha sido capaz de prever.
Ser-se turista num país que é em grosso modo islâmico, não deixa de ser uma visita de um forasteiro que representa divisas e ao qual convém extorquir o máximo de dinares possíveis. Somos tolerados, apenas e só e apenas nos falta uma etiqueta na testa a dizer quanto valemos.
Desagradou-me sentir na maior parte das vezes como alguém que perdeu o estatuto de cidadania, que senti que sempre mantive por toda a Europa e América do Sol ou na África austral. Não creio que se trata apenas de uma barreira cultural e religiosa, mas sim de uma barreira que é social, onde nós -pobres ocidentais – presumimos estar mais evoluídos.
Mais a mais, aperceber-me do rigor militarista do estado e que estou noutro país onde subsiste uma fantochadocracia de partido único, onde o presidente alterou duas vezes a constituição para alargar o número de mandatos consecutivos … É uma sensação estranha, e até bizarra, sentir que os valores não são melhores ou piores: apenas diferentes – talvez mais rigorosos no que toca ao patriarcado familiar e ao rigor social face aos alegados costumes religiosos. Nem é sempre agradável sentir que nessa sociedade o lugar da mulher é dentro de quatro paredes, e que surgem sempre alguns olhares de desagrado face aos costumes ocidentais fora da zonas «turísticas» e de «consumo».
Mas se pusermos de lado a questão social, ficam os lugares, os sabores e a companhia. Um cheirinho a deserto, a uma história antiga que parece inóspita e conturbada desde fenícios, cartagineses, exércitos poeirentos em Panzers e onde o azul celeste está sempre presente solidificando uma consciência diferente e intemporal e de Verões tórridos frente ao Mare Nostrum. Senti o laxismo descontraído que se pretende numas férias em que felizmente estive fora de vista de compatriotas. Já por isso valeria a pena relembrar. Mas não voltar.
As andorinhas fazem voos rasantes, verdadeiras acrobacias aéreas, de pura adrenalina entre aquelas estradas estreitas, muradas e forradas a paralelo. Descem a pique do telhado e voam vertiginosamente junto ao chão durante alguns segundos, como se quisessem surfar no veículo que passa na rua.
É como se a tradição primaveril, exactamente no mesmíssimo lugar se repercutisse por várias gerações, aprumada a cada ano em acrobacias mais ousadas e suicidas. Provavelmente o instinto da ave deve reflectir a alegria primaveril e o efémero daquele momento de exaltação.
Aqueles belos pássaros descabidamente celebram a vida correndo perigos, gozando a adrenalina e exibindo a sua eficácia de voo louco e espectacular. Vejo horrorizado as andorinhas nesse frenesim de stunt man bem próximas do meu pára-choques, quando circulo todas as tardes rumo à minha casa. Eles recordam-me que a vida devia ser alegre e fugaz. Têm que se aproveitar pois a Primavera e o Verão, não duram para sempre.
A impaciência é sempre inimiga da sabedoria. Eu diria mesmo que é inimiga de qualquer equilíbrio mental ou emocional.
Sempre fui demasiado ansioso e sôfrego, mas a vida deu-me um par de lições ingratas mas profundas.
Uma em particular rendeu-me uma morte eminente, em que tive consciência plena que não teria grandes possibilidades de sobrevivência. Estava perante a morte certa, mas soube encarar a besta do pânico e não cedi. Na plenitude da aceitação da Inevitabilidade, na serenidade lógica, e na paz que fiz comigo e com o mundo, sem ânsias, deu-se o milagre. Sobrevivi contra todas as hipóteses matemáticas, que envolviam o tempo, a distância, os danos irreversíveis, os estados de choque, que os médicos equacionaram. Mas afinal esqueceram-se das variável fundamentais: a fé e vontade.
Nada desde então me deu mais provas que a nossa vontade pode ser grande, mas não deve ser uma birra de criança mas sim a perseverança de um idoso. O equilíbrio como inimigo da impaciência. A Vontade sobre o Caos. Existir ou Viver
Sei que muitas vezes relaxo a minha guarda e esqueço a minha bóia de salvação. Hoje mais que nunca a impaciência pode ser a minha maior inimiga.
Porque o tempo destrói tudo.
Porque determinados actos são irrevogáveis.
Porque o homem é um animal.
Porque o desejo da vingança é um impulso natural.
Porque a maioria dos crimes remanesce sem castigo.
Porque que a perda do ser amado destrói como um relâmpago.
Porque o amor causa a vida.
Porque num mundo perfeito o túnel vermelho não existiria.
Porque as premonições não mudam o curso das coisas.
Porque é o tempo que revela tudo.
O pior e o melhor.
Irreversível, pretendia ser um filme choque, e como tal acho que foi talvez demasiado bem sucedido. O filme fala do crime e castigo e das consequências e de séries de acontecimentos em cadeia – mas visto de um anglo invertido, alias como o realizador frisa em imagens invertidas e dinâmicas, quase desconexas e enjoativas.
O clímax e desfecho primeiro, e só depois os antecedentes, minoram o ultra realismo e rudeza de uma violência explicita, com o assassínio brutal de Ténia com o crânio esmagado num antro infernal sado-gay. Mas depois (antes) o marido e o ex-namorado de Alex procuram no Rectum Ténia, mas depois forçar um travesti a revelar-lhe onde está Ténia, e depois descobre Alex brutalizada e violada. Os 9 minutos em que Alex é sodomisada por Ténia no túnel vermelho não são passíveis de serem vistos sem horror. O ultra realismo é mórbido e macabro. Só se pode desviar o olhar.
Irréversible peca por rodear-se quase exclusivamente da vingança e dos actos de violência que a antecedem e determinam e o seu desfecho, focando-os como a suas duas cenas fulcrais. Mas o mais impressionante é o facto de na verdade não ser algo muito diferente da realidade crua e brutal de uma violação. Mas depois a vida… a festa, o metro, a gravidez, a cama, a premonição . O Fim-principio.