eu

Estou num estado lastimoso, em que o prazer mistura-se com um deambular frenetico da mente, bem para lá da memória e do estado da lógica, consumido num carrosel de amor e desejo eternos.

Mente e corpo vibram, vontando eu, um simples meliante, a ser um espírito pendular entre a minha cidade e a grande cidade.

Estou bastante feliz, até mesmo em absoluto êxtase. Infelizmente o tempo, esse fujão, some-se e tenho tido um workload que não me deixa ter muitas escapadelas.
Espero ter em breve o meu lar, doce lar devidamente cablado.

Quero Te Encontrar

Quando você vem pra passar o fim de semana,
eu finjo que tá tudo bem, mesmo duro ou com grana,
você ignora tudo que eu faço
depois vai embora, desatando nosso laços

Quero te encontrar,
quero te amar,
você pra mim é tudo,
minha terra, meu céu, meu mar

Quando você vem pra passar o fim de semana,
eu finjo que tá tudo bem, mesmo duro ou com grana
você ignora tudo o que eu faço
depois vai embora

meu mar, meu mar, meu mar…
Minha terra, meu céu, meu mar…

Meu Mundo Gira Em Torno De Você

A folha ama a árvore
Te amo mais
A estátua grega ama o mármore
Te amo mais
Mais que a casca ama a semente
Mais que o ovo da serpente
A serpente

Porque meu mundo gira em torno de você
Um pouco de amor
Resiste a tudo
O mundo inteiro gira em torno de você

Eu sei que o zero ama o infinito
Te amo mais
Assim como o bolero é bonito
Você é mais
Mais que eu amo a melodia
Mais que o poeta a rima
E a Metonímia

Porque meu mundo gira em torno de você
Um pouco de amor
Resiste a tudo
O mundo inteiro gira em torno de você

Do começo sem começo até o fim sem fim
Cuido de você, meu bem, você cuida de mim

Ampulheta

O meu tempo foi sempre demasiadamente fugidio devido a minha incapacidade de ter um saudável gerir do tempo. Sou sempre um descuidado e acelerado, deixando escapar entre os dedos sempre momentos e unidades de tempo preciosas que no meu espirito deixam a sensação de terem sido perdidas.

Cada vez mais tenho a ansiedade voraz e um apetite ávido por consumir cada segundo naqueles momentos mais importantes, como se houvesse um medo deles não se repetirem, ou não ter a hipótese de os gozar novamente. Esta sensação de não querer esbanjar o meu tempo de vida é também um perigo de na sofreguidão destruir o pleno saborear, castrando a sua essência e valor.

Talvez a vida tenha sido feita para ser desfrutada com temperança, de forma plena e em equilíbrio mas também sem estar languido refastelado ao sol, à espera que nos caia do céu o maná muito generoso para o esforço praticado.

Uma coisa podemos ter como certa: a areia da ampulheta não cessa de cair até ao momento que se esgotar. E é com esse axioma que posso contar, reavaliando alguns dos meus momentos mais sofregos ou mais apáticos.

Afinal é possível aguentar um embate com a ressaca de parar de fumar, desde que estejamos com alguma força de vontade. É certo que estou com os nervos em franja, que todo o corpo parece meio dolorido e que na minha boca há invariavelmente um chiclets ice de canela a libertar algum sabor para disfarçar qualquer vontade.

É estranho sentir aqueles flashes momentâneos de junky, numa espécie de pânico inconsciente de que agora era a altura que eu pegava em mais um cigarro. Hábitos encerrados bem fundo na consciência, mas que não resistem a trinta segundos de introspecção.
Nesta minha tentativa empolgada para deixar de fumar sigo uns princípios simples:

  1. Prometer a mim mesmo que vou chegar ao fim do dia sem tocar sequer em algo que tenha folhas de tabaco (cigarros, cigarrilhas, charutos, charros e beatas)
  2. Evitar rapidamente qualquer local que tenha o odor fétido do tabaco a arder; não olhando sequer para qualquer tabaco, maço, ou até vending machines.
  3. Inventar mil e uma quebras de rotina, desde as mais singelas, até às mais absurdas ocupações, submetendo o corpo e espirito a constantes situações de adaptação. No fundo descompensações constantes.
  4. Exercícios de respiração, desporto, insistência em puxar até ao limite o corpo.
  5. Bebendo água desmesuradamente, evitando o aumento de apetite e outros desconfortos.
  6. Mantendo ocupada a boca (mascando, roendo, mordendo, etc.), com movimentos e sabores, incluindo uma higiene oral capaz de levar à erosão de esmalte.

Para já os pulmões começam apenas a fazer uns queixumes, uma tosse ainda medrosa de alivio, num início de desintoxicação orgânica que leva anos a libertar o alcatrão. Está a valer a pena.
Tenho consciência que o pior periodo é sem dúvida quando se chega às semanas dois e três. O espírito e o empenho começam a quebrar e pecadilhos rumo à recaida são vistos de forma menos grave e surgem uma data de descupabilizações face a diminuição da força de vontade, numa epóca em que ainda não nos libertamos da dependência organica de forma consistente. É dessa fase que tenho mais medo.

Não gosto de me torturar. Não tenho vocação de masoquista, nem de vítima. Mas para superar algumas vicissitudes e entraves é necessário reportar as nossas carências e pecadilhos, o fim e exorcizar os nossos demónios da dependência de tóxicos. A humilhação e a partilha das nossa fraquezas e a melhor forma das enfrentar, como nos AA, construindo uma base sólida, um estofo de humildade reconhecendo os erros e a nossa fragilidade.

Eu sou tabagista. Fumo há 15 anos. Comecei a fumar embebido nas atitudes rebeldes de adolescência, mesmo consciente dos riscos do cigarro. Era um hábito social e melhorava a aceitação num grupo, numa perfeita idiotice de conceitos dos late 80s. Viciei-me. Tornei-me dependente de nicotina muito rapidamente, nessa necessidade de sorver ar queimado, repleto de um cheiro nauseabundo que rasga a garganta e brônquios. Sem esse tossir o corpo revolta-se, chamando por mais veneno, e a cabeça com o tique do hábito de mão faz soar todas as campainhas na ausência daquele tirano, envolvido em papel branco e castanho. Cheguei a levantar-me da cama para fumar, e fumar antes do pequeno almoço.

Já tentei várias vezes parar com este vício, sem muita convicção, apenas por umas frustrantes semanas de profundo nervosismo, catatónico, dopado, ansioso. Ressacado. Humilhado. Frágil.

Hoje torturo-me numa última vez. Só quero chegar ao fim do dia sem ter levado um cigarro à boca. Um dos 20 que levava diariamente à boca e acendia maquinalmente como se fosse um acto tão normal como respirar. Estou já a sentir os primeiros ecoares fisiológicos da abstinência, da privação de um toxico há muito embebido no meu organismo que está por isso debilitado. cancro dos pulmõesDurante semanas a coisa vai piorar. Tenho que me afastar de sítios poluídos e locais cheios de suicidas com cigarros à arder. Tenho que deixar também o café, para reduzir a necessidade desses hábitos de simbiose.

Não foram esses anúncios parvos nos maços que me decidiram a tentar a luta diária para deixar de fumar. Todos os fumadores estão cientes dos riscos, mas não têm uma sapatada nas costas com força, um empurrão, um apoio que os acelere para essa libertação da dependência física e psicológica da droga vendida pelo estado. Eu hoje tenho esse empurrão esse apoio, e acima de tudo essa vontade de me libertar antes que o meu sangue deixe de receber oxigénio.

Já chega de alcatrão e monóxido de carbono nos meus pulmões. Já estou farto de ter um ticket para a lista de espera para um cancro do pulmão, de um AVC, de uma angina de peito ou de uma bronquite crónica, numa morte mais próxima e sofredora. Já estou farto de gastar dinheiro num produto que de facto não necessito e apenas piora a minha vida. Já estou farto do odor nauseabundo na minha casa, no meu carro, na minha roupa. Já estou farto de ter o meu olfacto e paladar obstruídos e dormentes. Já estou farto de não ter fôlego. Já estou farto de ser um jogador da roleta-russa!

II – Frases que se perpetuam

Esqueço-me que as palavras também se materializam, que passam de um pensamento a um estado visível de transmissão. Quando são ditas, as palavras apenas passam à distancia que o som e o ar as permite transportar e são actos efémeros audíveis, completamente momentâneos e raramente reproduzíveis novamente na sua essência, timbre como são proferidos e conotação com a língua, a boca e os lábios o emitem.

Quando as palavras passam por uma caneta, uma máquina de escrever, um teclado, tomam outra alma, são já um compromisso materializado de um pensamento, ideia ou emoção. Podem ser lidas repetidamente e os seus significados circunscritos dissecados, pondo a nu toda a sua expressão e mensagem.

Mesmo que sejam destruídos o seus suportes, como o papel, ou estas pacatas páginas, essas palavras atingiram uma substância eternizada que se perpetua, sendo eterna mesmo que já não existente, pois ouve uma prova palpável da sua presença.
Essa marca de que as palavras são para todo o sempre fustiga hoje a minha leveza de escrever. Toda a ânsia e escassez de tempo com que matraqueio o teclado, não me dá a lucidez de transportar a clareza do que pretendo enviar numa simples mensagem.

Quando as minhas memórias e emoções são aqui depositadas não estão escritas na areia à espera de uma onda que as apague, nem estão só marcadas a canivete na cortiça do tronco de uma árvore. Essas memórias e emoções serão depositadas transportadas numa capsula do tempo, para sempre incorruptíveis num vácuo temporal. E quando é assim, deixa uma efeito semelhante a uma ponte para a eternidade e que depois de ser lançada não pode mais ser alterada, rectificada ou repensada, como a placa que viaja na sonda Pioneer 10 a 12,5 mil milhões de kilometros da Terra, uma mensagem da humanidade que muito provavelmente sobreviverá a extinção da humanidade e civilização que a concebeu.

I – O peso das palavras

As palavras têm muitas vezes um significado muito peculiar e forte, dependendo em muito do momento e do contexto em que são pronunciadas ou escritas.
Eu infelizmente dou excessivo valor a algumas e menosprezo outras frequentemente, dando-lhes uma relatividade muito própria na minha personalidade muitas vezes sombria. Esqueço-me que as palavras são meros objectos de transporte e significação de actos e imagens, que apenas pesam uma tonelada, ou são leves como uma pluma, em função do que vai na alma de quem as solta ao vento.

As palavras devem ser medidas apenas quando chegaram ao chão, desnudas da emoção da pressa de serem ditas ou escritas, funcionando apenas como um marco momentâneo de circunstancias e alvoroços. Quando tal acontece, a sua beleza ou fealdade sublima-se transportando-nos para significados mais profundos dos pensamentos e emoções, num campo intervalado, sem maquete, luzes, câmara e acção.

Não existindo o barulho nem as falhas de um pensamento irreflectido e contingente, é fácil por de lado aqueles conjuntos de vogais e consoantes, de verbos, pronomes e sujeitos. As palavras são então coadas de sarcasmo momentâneo, dissolvidas do vocabulário impertinente, decantadas de impuseras gramaticais, escoadas de subterfúgios de incompreensões.

Depois da alquimia da purificação das palavras fica a mensagem velada, o seu verdadeiro significado. Onde estava um insulto, pode antes estar um pedido de compreensão; onde estava um impropério estava antes uma chamada de atenção; onde estava um rosnido estava antes um pedido de afecto.

Tenho que começar a fazer uma alquimia às palavras que me ecoam, agarrando a sua essência, não me deixando levar no seu tom áspero, e antever por detrás de um grosseiro véu, o linho, o veludo, o cetim e a seda que transportam. Desejo também que a minha língua e a minha caneta se desprendam, não calculando sempre os quilos, gramas e miligramas que as frases que profiro contenham, de forma a não me prender, nem me conter de soltar gritos e actos falhados ou palavras feridas, pois elas são um podre fruto parido de cuja semente floresce num novo e luxuriante jardim.

À VENDA NA FNAC!!!

Estou muito feliz por M. ter finalmente o seu livro à venda na FNAC e por também ter tido um raio de sol na sua vida profissional. Já chega de ser Lello!
Além do livro que lí quase em primeira mão, é com muito gosto que partilho o Dulcineia no meu servidor, assim como o antigo site D.Quixote.
Tu mereces, amigo poeta!

Chegar ao fim do dia parece uma crimera agonizante após um fim de semana tão envolvente. Sinto-me numa ressaca assustadora após ter viajado ao sabor de um químico perfeito, tomado numa forte dosagem, capaz de ter feito a minha mente relembrar a origem primordial de todos os sonhos.

Meus músculos retorcem-se, mas meu espírito apenas quer uma nova viagem de 860 km, sibilando sem parar as vozes sussurradas que inflamam a minha audição, das recordações do tacto ardente, da embriagues do olfacto, do êxtase do paladar, da visão paradisíaca. Tudo que sinto é que desejo o fluir nas minhas veias repetidamente dessas sensações supremas.

as cores que me ficam marcadas
Olhar o céu azul e observar, no meio de uma pequena nuvem branca, um pequeno ponto de arco-íris onde a refracção da luz se desdobra nessas cores embriagantes pareceu-me um sinal.
Um sinal único, só percebido por nós, nas mentes atentas cujos olhos procuram no céu a sua beleza.
O arco-íris é sinal de aliança e de um pacto eterno.

As coincidências comovem-me. Por isso deixei de acreditar na possibilidade natural de coincidências, em explicar com o auxilio da lógica e da matemática as questões que seriam do âmbito da teoria das probabilidades.

Não vale a pena mergulhar no mundo da estatística para compreender aquilo que não é passível de ser explicado per si. Claro que poderia acontecer, mas o facto é que aconteceu naquele momento, naquela exacta ocasião e não noutra, revelando um impacto diferente, alterando a nossa vida. Não será isso antes um sinal, um encaminhamento para um destino, para um desencadear de acontecimentos que necessitamos agarrar, por nossa opção ou então fechar os olhos e apenas achar o quanto foi estranho.

É como sentir o pêndulo vindo na nossa direcção, sentindo o tiquetaquear do relógio imenso, pressentindo as badaladas estridentes da mudança da hora. Podemos apenas esquecer que o tempo nos chama, e que os ponteiros das horas e minutos apenas tomarão posições diferentes ou podemos optar por começar uma nova hora.

O Sr. G. tirou um mês de férias para visitar a irmã que não via há 24 anos e que vivia no Brasil. Queria surpreende-la voando até seu país sem avisar, tendo comprado o bilhete para dali uns dias, após um par de dias de férias. A sua irmã teve a mesma ideia, e por um dia, apenas um dia de diferença, após 24 anos teriam voado em direcções diferentes desencontrando-se.

O tempo de nada serve para diferenciar positiva ou negativamente o que seria, ou o que deverá ser. Apenas lhe pode dar um significado maior e mais urgente. Hoje sei isso e mais que nunca não acredito em meras coincidências.

Dou-me conta que muito se passou há minha volta nos últimos meses sem que eu tenha aberto os olhos convenientemente. O Verão sempre me deixa algo desatento, absorto no calor, no Sol, na alegria de desfrutar a vida, e esqueço-me das pequenas coisas ao meu redor.

Acabo por reparar menos nos adereços do palco em que nos encontramos durante o estio. Agora que a poeira assenta e se transforma em lama outonal, há mais tons cinza que cegam menos a vista. Por exemplo: só ontem reparei que o meu local de trabalho é paredes meias com um apartamento de meninas universitárias que metem anúncios no JN na secção de lazer, muito embora em ache que nenhuma delas está matriculada em qualquer faculdade ou instituto de ensino…

O facto do pessoal do armazém, dar bastantes sinais de agitação, trocando bastantes comentários entusiastas sobre o nº 49 tinha-me passado totalmente despercebido até agora, apenas achando estranho aquele frenesim de sorrisos malandros.
Como é que posso estar tão desatento nesse campo e em tantos outros campos do que me rodeia, permitindo-me estar algo alheio ao mundo da realidade que me rodeia?

Sinto uma vontade havida de voltar a rever tudo, apurando todos os sentidos para focar a minha atenção no que me rodeia, não permitindo que algo de importante fuja ao meu conhecimento. Quero estar atento e desfrutar como deve ser a minha esfera, agora que tenho a maior razão do mundo para isso. Quero vibrar a todos os momentos, desperto, consciente de cada pequeno pormenor, por mais pequeno que ele seja.

Estou ainda embriagado por o mais puro dos néctares. O seu sabor escorre ainda lentamente pela minha boca, prendendo o meu pensamento nesse gosto profundo de prazer, plenitude e felicidade.

Estou a beber o néctar dos deuses num cálice trasbordante, capaz de saciar o insaciável, convicto de que nada mais necessito, além dessa ambrósia divina que me transporta ao Olimpo. Que mais posso desejar?

A vida nunca nos deixará de nos surpreender. Esse é um postulado fundamental da nossa breve passagem por este mundo. As surpresas que a vida nos reserva são tão inusitadas e inesperadas, tão abruptas que não as podemos antecipar. Só as podemos abraçar e sentir que uma nova etapa recomeça, reconhecendo que o destino nos reserva um caminho diferente do que tínhamos antecipado.

É necessário encarar estas mudanças de norte, com um espírito aberto e atento, observando os obstáculos, não com pânico e desespero, mas sim como fasquias a serem ultrapassadas ou contornadas. É fácil esquecer que nenhum parto é sem dor, nem nenhuma transição se faz esforço. Mudar não é um facto calmo, mas sim uma revolução sangrenta que regurgita todos os fantasmas, que faz rolar cabeças e reclama todas as gotas de sangue que pode, para que o que necessitava transmutar-se, mude de facto a sua realidade e essência, nem que estale, ou se quebre em mil minúsculos pedaços.

Faz anos que a minha vida sofreu um volte de face surpreendente. Dou-me conta que foi nesse ponto distante está na precisa bissectriz da minha história, da minha viagem no tempo. Foram duas metades tão diferentes e intensas, com tantas coisas de positivo e de negativo, mas tão equitativas na formação do que sou hoje. Foram duas etapas distintas dilaceradas com mais profunda ruptura física e intelectual, que me alicerçou para a minha caminhada mais entusiasta em que agora me encontro. Numa nova bissectriz, desta vez tão plena, consciente e doce, mesmo que escorra o sangue revolucionário.

3 – Um sorriso da Lua

Sinto que vou ganhando lentamente a liberdade através de um parto difícil e doloroso, mas que mesmo assim me proporciona a maior das felicidades. Por muito que custe, por muito que me seja angustiante, a força que me atraí para ser finalmente livre, encoraja-me e preenche-me.

Sou um ser que viveu nas sombras da noite demasiado tempo, agrilhoado aos mais fúteis e mais isolados conceitos de vivência, ansioso por uma luz, por uma escapatória de um labirinto da banalidade. Enjaulado no medo de ser aquilo que sou, enquadrado em mil formas de camuflagem.

Mas bastou um raio de luz da Lua para que todos os esconderijos e prisões começam a desabar, deixando-me pronto a fugir, ainda preso perante um milagre tão doce. Infelizmente, sou um prisioneiro quase que já esqueceu o que era a liberdade, e imagina que fora da sua prisão que não conseguirá sobreviver num mundo a que não estava habituado.

Mas quando se deseja, quando se vê esse sorriso da Lua, e se sente essa libertação, e se é alvo dessa dádiva imerecida, um prisioneiro pode ser livre. Estarei em breve livre das prisões graças à fé e amor purificador, à luz de uma Lua Cheia que me renova, preenche e sorri para mim.

1 – Marés vivas

Com a chuva miudinha de uma manhã fria, tenho a sensação que o verão recebeu uma estocada mortal e está já ausente num céu de tom cinza que prende a luz, devolvendo apenas a claridade pálida.

Abruptamente no inicio do fim-de-semana meus diques transbordaram num manancial de emoções não esperadas e intensas. Não estava à espera por ser atingido por um relâmpago tão ofuscante, seguido dum terrível ribombar ensurdecedor. Os elementos internos entraram numa arrasadora tempestade, numas vagas encrespadas, num vento uivante.

O mar sacudiu-me e mergulhei na profundidade de um abismo negro, onde o salitre da renuncia enegreceu toda a luz que a custo me sustenta. As vagas de uma maré viva revoltada abalaram todos os diques, todos as barras, todos os portos seguros onde me refugio das tempestades, e para meu desespero, toda a negritude fétida das profundezas, das sombras tomaram conta de mim.

O desnorte momentâneo de um marinheiro frágil não se pode repetir como as marés intensas do fim de verão. Ora cheias sugando a terra costeira, ora baixas pondo a nu, o fundo lamacento sempre coberto por mar, essas são as marés de uma tempestade sempre anunciada, sempre natural. E as ondas fortes e intensas chocam com este cristal que se desfaz em mil pedaços logo envoltos em espuma e sugados na corrente.

Esqueci-me momentaneamente que a minha bússola não falha, nem que o meu farol jamais se apagará e por isso as marés são apenas um ponto de passagem de retorno infinito que sempre se repetiram e sempre se repitirão.

juntas

Recordo um texto de um manual escolar. Era ainda criança e o texto apesar de simples motivava alguma subjectividade poética em crescimento.O texto falava na noite escura e da borboleta que encontrou um luz forte irresistível, longínqua e tentadora.

A luz brincava e dançava, hipnótica chama pela borboleta que esvoaçou ao seu encontro, levada pela beleza da luminosidade no meio da escuridão. A borboleta estava confusa pois nunca tinha visto nada de tão belo na sua efémera vida e num impulso seguiu aquilo que de mais belo vislumbrava no negro da noite.

Aproximou-se rapidamente num voo gracioso e à medida que se aproximava, rodopiava feliz, pois aquele branco amarelado subia de intensidade, apagando os resquícios de sobras e de negritude que imperavam na noite. Cada vez mais a luz da chama brilhava mais intensamente e o seu calor fazia-se sentir terno e acolhedor rompendo com o frio nocturno.

A borboleta feliz e ofuscada, já extasiada, não podia deixar de voar em direcção àquela sensação que a enchia de prazer, deslumbrada pelo brilho cintilante e pelo calor que emanava a chama.

O texto terminava, não me recordo concretamente como. Talvez a borboleta queimasse suas delicadas asas nas chamas da vela, talvez louca insistisse em embater no vidro do candeeiro num frenesim de demência. Prefiro pensar que a bolboleta mergulhasse na luz, embebida em prazer, abraçada pelo branco e o calor que emanaria também. A borboleta tornar-se-ia também essa luz, essa chama que a atraiu tanto.

a visão do Hubble sobre Marte

Marte é o arauto da revoluções, ele evidencia a força e a energia possantes e quase inesgotáveis mas sem a cadência positiva de algo construtivo. Marte, tal como na mitologia latina, é o deus da Guerra, fulgurante e impiedoso com seus inimigos num campo de batalha, capaz de um enorme poder.
Infelizmente o seu poder e energia nem sempre são equilibrados, caindo muitas vezes na cegueira e na ansiedade para obter os despejos da batalha. E uma força enorme mas nem sempre lúcida.
Transpiro, cansado mas batalhador. Talvez seja influência de Marte.

Pôr do Sol sobre a igreija de Aldona, Goa

Há já algum tempo que tenho vindo a aproximar-me de uma filosofia oriental, perscrutando o intimo e o espiritual, pressentido mudanças no meu ser e na minha maneira de ser.

Cada vez mais estou atraído pela ideia de ir até ao sub-continente indiano para sentir na pele alguma sensação de espírito mais elevada e menos retorcida pela realidade quotidiana ocidental, no enorme corre-corre instantâneo. Acho que a minha caminhada infrutífera durante muitos anos, da ilusão da vida de deitar foguetes festivos, Life is a cabare, está defenitivamente enterrada e esta num rumo de crescimento emocional e humano.

Depois de rever a América do Sol necessito de dar outro passo, talvez mais brando e profundo para despertar, em mim, a plenitude de um desprendimento maior dos vícios e preconceitos que mancham a nossa existência. Quero abrir ainda mais os meus horizontes, ir até um local da nossa consciência que está velado e adormecido mas apenas deseja ser despertado.
Para não ser demasiado brutal e chocante esta diferença cultural e de valores, antevejo a aportuguesada Goa como destino mais simples para um ocidental não ficar catatónico e sentir toda a força bruta do embate frontal num cérebro ainda acomodado.

Resta-me agora contar os cêntimos, poupando aqui e ali e esperar que as minhas finanças tenham estamina para esta expedição extremamente cara. Falta-me um bilhete para Goa.