Dias

Esta calor, e felizmente mais um fim-de-semana se aproxima. Não vou refastelar-me ao Sol como seria de esperar, mas vou passar antes um par de dias semi-militaristas de treinamento aborrecido. Mas é por uma boa causa, por um valor mais alto. Se tudo correr como delineado, na próxima segunda-feira terei atingido um pequeno objectivo, que as circunstâncias alheias me têm negado. Diz I. que são os deuses que estão contra, mas eu sinceramente prefiro ser um Ulisses e desafiar as minhas hipóteses contra esses amplos entraves.

Será um sacrifício que valerá a pena, e se não me escafeder em mil bocadinhos terei um sorriso na cara de uma ponta a outra. Vencer os nossos medos mais profundos e encarar de frente o pavor e o pânico e a forma mais saudável de Viver. Vai ser apaixonante de certeza, e terei o gosto doce de realização e coragem. Só espero que o tempo e o veiculo não preguem partidas como no ano passado.
Dizem que é quase tão bom como sexo, mas tenho as minhas dúvidas. A bem das baleias voadoras.

Emerge

Hyper –
Hy, Hyper
Hypermediocrity

You don’t
Need to
Emerge
From nothing

You don’t
Need to
Tear away

Feels good
Looks good
Sounds good
Looks good

Feels good too
Feels good too
Uh-huh that’s right
Feels good too
Uh-huh that’s right

You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away
You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away

You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away
You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away

???????

Uh huh that’s right
Uh huh that’s right

???????

You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away
You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away

You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away
You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away

Look alive!

You don’t
Need to
Emerge
From nothing
You don’t
Need to
Tear away
You don’t need to
Emerge from nothing
You don’t need
To tear away

Seria com certeza o sítio mais inusitado para observar uma avozinha indigente. Estavamos ainda meio ressacados, algo contrariados por uma sexta-feira extenuante e algo insípida. Propus uma ida até Cascais, apanhar algum Sol naquele lugarejo finório, onde nas primeiras fases da minha adolescência me divertir a valer, como só um adolescente imberbe seria capaz.

A inaptidão de poucas horas de sono não abonavam a favor da nossa boa disposição e estava sempre presente um pouco de humor negro a pairar no ar, de diálogos cortados e sem grande lógica. Apenas piadas descoordenadas e algo patéticas que nos faziam rir. Arranjar um restaurantezito para almoçar foi meio complicado, e os nossos óculos de Sol escondiam umas olheiras mais ou menos antipáticas. E ali, mesmo enfrente à amostra de marina, refastelados à mesa enquanto comíamos qualquer coisa sem grande prazer, reparei na velhinha negra, de luto e de caruma ou sujidade.
Aquela imagem bateu-me forte, como sempre as imagens dos alienados sociais. Não por pena, não por esses sentimentos patéticos de desprezo, nojo, ou misericórdia. Fico apenas sentimentalista ao imaginar que aquele ser humano, agora uma imagem esfarrapada, foi algures no tempo e no espaço, alguém capaz de ter um raciocínio lógico e talvez de se expressar e conviver como eu. Mas algures na viagem, ouve um trajecto errado, um atalho perigoso, um desnorte momentâneo que levou a uma espécie de beco sem saída em que se passou a residir.

Na cara as rugas encavalitadas escondiam uma percepção da idade da anciã, que apesar de magra e de movimentos lentos, não aparentava a agonia dolorosa de tantos idosos. Apenas o negrume da sujidade transformava a sua pele, como se fosse um mineiro de carvão coberta de uma folijem de grafite. Adormecia junto aos sempre presentes sacos plásticos, um depositório de bens, um conjunto de sacos de pertences de quem tem o céu como tecto.
Nas suas mãos afagava uma pombinha, ainda mais magra e coberta de negritude quase mais nauseabunda, mostrando um carinho enternecedor por aquela decrépita ave.
Era uma vez uma velhinha e a sua pomba, e pareciam felizes.

salpicos de sangue

Ontem alguém assaltou a loja durante o almoço. Nada de trágico, apenas um postigo partido e uma vidraça. Nada roubado a não ser uns telemóveis que estavam a carregar e foram devidamente palmados, após a constatação que não havia um único cêntimo na caixa fora das horas de expediente. Os larápios seriam concretamente o que eu chamo “pilha-galinhas movidos a ressaca de heroína“. Não se interessaram por equipamentos caros, ou artigos luxuosos: foram apenas atrás de dinheiro vivo e de artigos facilmente convertidos em dinheiro, como são os telemóveis.

Cash para pó. Concretamente os pingos de sangue da acrobacia da passagem pelo postigo de nada valeram, pois em 15 minutos os telefones celulares eram bloqueados pelo fabricante. Nada de Cash! Estranho sentir se tratou de um mero acto falhado, que vai participar nas estatísticas da criminalidade. Para mal de todas as ressacas e salpicos de sangue.

Não vou ser pretensioso e falar de Edward Albee, nem de um filme com Richard Burton e Elisabeth Taylor. Mas algo tem um cheiro fétido na sociedade portuguesa: desde tempos imemoriais que todo o português que se preze tem o triste hábito de tecer comentários e críticas, mesmo quando estes não lhe são pedidos, ou não têm qualquer tipo de cabimento possível.

É um estado de permanente na nossa cultura, funcionar numa atitude de analistas inveterados, de uma clonagem de Nunos Rogeiros, de peritos ultimados à última hora, ou de treinadores de bancada, Misters incompreendidos. Não que me importe, pois também eu sou parte do aculturamento português da maledicência ou do sentido crítico acutilante, justo ou injusto. Mas o busílis da questão é a aceitação das críticas e a sobrevalorização que se dão a estas no nosso país. Parece que a opinião dos outros é o motor de tudo daquilo que fazemos e vive-se por cá como uns meros autómatos que necessitam do feedback do controlo de qualidade para produzir novamente. É ridículo aceitar que não façamos as coisas por prazer, ou por mera vontade ou necessidade, mas sim com o intuito de agradar a alguém.

Quando escrevo este diário de um militante não estou a considerar sequer que alguém vá ler esta porra. Trata-se de um diário de bordo sobre imagens, momentos e pensamentos mais ou menos desinteressantes do meu quotidiano, aborrecido e fastidioso quanto baste. Mas não o escrevo para ninguém, excepto para mim mesmo. Posso eventualmente ter feito isso no passado, em que utilizava esta via para comunicar, mas hoje é só um mero meio de largar vapor e de tentar visualizar-me no intimo num espelho psicótico e destorcido em muitas ilusões e metáforas, factos imaginários, que provavelmente só eu os decifro. Tal vez por isso se chama “Psicótico – o diário de um meliante“!

Quando escrevo aqui não pretendo estender-me a analisar o filme XPTO, ou comentar sobre o estado da nação, da economia, ou da política. Isso são inutilidades que o tempo apaga, opiniões voláteis iguais a tantas outras. Conversa de café ou de autocarro? Isso faz-me lembrar as criancinhas da primária a levantarem a mão excitadas a dizerem a professora : – “Eu sei, eu sei!“. Posso cair na hipocrisia de comentar as minhas saídas fortuitas na nigth life, dando um assaz quadro de futilidade, mas isso provavelmente porque tenho uma vida fútil. Contudo isso dá-me prazer, e porque não deveria descrever o que me dá prazer? Já me basta prescindir de descrever a minha vida intima, (se bem que a ideia até seria curiosa), para ser algo visto como redutor. Não falo aqui da minha dualidade, do meu emprego, nem do meu dia-a-dia simplista ou mais complicado. Falo de algumas emoções que me atormentam ou me fazem feliz. Escrevo sobre banalidades, de filosofia barata, de viagens, esperanças e confusões. Mas não escrevo para ninguém em particular, se e que escrevo…

Provavelmente uma das personagens mais fulgurantes e lúcidas que Portugal teve nas últimas décadas deverá ter sido João César Monteiro, que utilizou o seu desprezo convenientemente, com frases basilares como “Quero é que os críticos se vão …”.

E pronto não quero voltar sentir esse clima maligno e negativo. Ao fim de contas gosto muito daquele ditado:

“Vozes de burro não chegam aos céus”

Questiono-me muitas vezes se não li em demasia alguns livros da época do romantismo. Este fim de semana foi como que acusado de ser um romântico. Para espanto meu, isso não me caiu nada bem, pois foi como que se eu fosse comparado a um anacronismo, ainda pior que ser machista ou comunista.

Fiquei de facto estupefacto. Nunca me tinha visto como romântico, mas todos os pequenos sinais de comportamento assim o indicam: um idealismo, uma postura gentlemen em relação ao belo sexo, uma reserva educada. Agora que penso nisso, e apesar de já me terem rotulado de lírico e sonhador (o que concordo inteiramente, para mal dos meus pecados), nunca me tinha identificado como um romântico. Pior que isso é saber que isso até me pareceu pejorativo, como se eu fosse um dinossauro excelentíssimo, um cro-magnon, uma espécie em vias de extinção.

Ser-se romântico, e encaixar nas ideias preconcebidas em torno desse conceito não deixa de ser custoso. Realmente não existe habitat possível nas relações humanas nos dias de hoje para tal tipo de comportamento tão inadaptado, não só emocionalmente como socialmente. Não me considero romântico, mas padeço desse mal estranho e em desuso de mimar as mulheres e ser um perfeito um pinga-amor démodé. Adjectivos como honesto, respeitador, atencioso, amável, prestável, educado, não têm agora grande estima no sexo feminino.

Sinto que a emancipação das mulheres ocidentais ao longo do século XX teve um efeito perturbador na sua idealização de homem: nada de cavaleiros em armaduras brilhantes, mas antes selvagens guerreiros estilo Atila.

Acredito que hoje um homem capta mais facilmente a atenção de uma fêmea humana se se comportar como um verdadeiro cafajeste. Para mim é quase algo contra natura, mas posso afiançar que as raras vezes que optei por tentar ser algo bruto, mesquinho ou maquiavélico numa relação, recebi das mulheres muita mais estima e interesse, do que se me comportasse como um dito romântico.

Como diz o ditado: “Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti…

Glória ou perdição a 300 quilómetros de distancia, numa noite que provavelmente não vai ter tréguas. Saio mais cedo e vou no 130 cavalos (menos alguns, que o raio do turbo-compressor necessita um arranjo caro) com N.. Nos planos queremos ir à grande cidade, recolher a S. e C. que regressam das suas férias africanas, para irmos jantar ao Tia Alice.

Depois é Club Kitten, e já se sabe, quando é Club Kitten tudo vale. A ver se as peripécias não serão demasiadas para uma noite…

consilio et animis

Nada. Não me apetece fazer absolutamente nada. Como se estivesse a tomar uma boa dosagem de Prozac para ficar pacato e preguiçoso. Castrado. Mas não estou a químicos, estou apenas a ressacar das diferenças de andamento e velocidade quotidianas. Espero demasiado das pequenas peripécias do momento, ainda sobre o vício da aventura constante e da adrenalina do desconhecido.

Apesar deste ócio auto-inflingido, da tentativa de descanso físico, esta minha vivência plena de contradições, bate continuamente em teclas desgarradas do navegar com terra a vista. Existem pelo menos dez itens mentais de atitudes e acções urgentes e banais que quero efectuar o mais rapidamente possível. São coisas triviais na sua maioria, mas outras são importantes degraus que se sobem na existência, passos fulcrais da vida. Falta-me contudo aquele fogo de executar a tarefa, de planear o acto, que infelizmente nunca me caracterizou. Por isso estou em conflito entre essa apatia indesejada e a vontade de romper as linhas inimigas para ganhar finalmente esta batalha prolongada.

Temo antes demais, que o argumentista desmiolado da minha parca vivência, tenha ficado sem imaginação, reduzido a um aborrecido writers block.
É verdade que desde o inicio deste ano, esse escritor tem-me dado um papel exigente, cheio de cenas rigorosas e tem aperfeiçoado constantemente a minha personagem a ponto de as minhas interpretações melhorarem sensivelmente. Sucederam-se cenas melodramáticas, grandes voltes de face do enredo, grandes momentos cénicos. Será que este argumentista será capaz de manter o seu estilo e manter todo o suspense deste romance policial francês? Ou será que vai entrar num cómodo e medíocre alongamento da estória, para lá de uma banalidade interminável como a horrenda novela do “Anjo Selvagem“?

Prefiro que esta crónica tenha um final à vista, do que se prolongue sem o clímax que se os últimos episódios tiveram.

Não percam as cenas dos próximos capítulos…

Não me posso queixar de aborrecimento ou tédio. Desde quarta-feira que não sei o que é ter um serão calmo, proporcionando uma aprazível longa noite de sono. Em grosso modo estou a sentir que este cavalo de corrida, ainda tem estamina para dar mais uma dezena de voltas ao hipódromo a todo-o-galope, e que afinal a prova pode não ser de velocidade mas sim de resistência.

Positivamente não estou letárgico ou, pelo contrário histérico, para sentir que a minha vida deveria permanecer calma.
Há alturas da vida que temos que nos desgastar, nem que seja por uma causa vã ou demasiado passageira, apenas porque sentimos que há a necessidade de aproveitar os momentos tal qual eles esbarram contra nós.

Quarta-feira, as celebrações com I., quinta-feira estive com P. na Ribeira. Sexta-feira jantei com N. num restaurante a imitar fracamente a gastronomia e restauração da terra da Vera Cruz. Mais tarde, e já com algumas saudosas caipirinhas fomos até ao rio, onde encontramos as J.s num sitio chamado Zoo. I. cortou-se, o que me irritou um pouco, talvez por não ter mais paciência. O resto da noite foi bastante comprida, e acabou no talho a abarrotar de gente, e eu já devidamente encopado.

Sábado foi um dia sisudo, tentando descansar, mas a noite levou-me ao Matrix Reloded com N. J. e I. Para não ser escasso o meu tempo, larguei a brigada do reumático e segui, apesar de exausto, para uma sessão de D´n´B com o Bricolage no H.C. onde dancei e trotei até tarde. Ver a Invicta daquele ponto de vista sobranceiro ao Douro, bem do lado oposto, é um dos quadros mais perfeitos de luz e enredo de formas de uma cidade que sobe uma encosta e se reflecte no Rio. Que parvoíce tentarem colocar umas pseudo-docas lá.
Para carimbar a noite em grande só mesmo vencer as estatísticas e ter que bufar ao balão, algo que eu nunca tinha feito antes. resultado: 0,00! (se fossem 24 horas antes, nem o meu poderosíssimo anjo-da-guarda me valia…)

Last but not leastt, Domingo foi tempo de Sol, e de assistir às contabilidades do Inspector P. sobre a sua viagem à abençoada cidade de Sevilha. À noite, apesar dos abalos sísmicos que as minhas pestanas produziam, foi com todo prazer que me reencontrei com a minha mana, que já não via desde o Natal. Com R., F. e Chi. foi uma conversa de recordação, bastante animada, falando do Passado mas também no Futuro, das pequenas e grandes coisas singelas da vida.

E é assim que eu tenho deixado algumas horas por dormir. Afinal posso dormir tudo o que quiser quando estiver 7 palmos debaixo de terra…

Não sou uma pessoa muito influenciada pela melodias da moda. Aprecio demasiadamente a música para não me sujeitar a histerias melódicas do momento. Contudo de vez em quando alguma canção pode abrir uma memória e uma brecha no espirito a ponto de nos enfeitiçar. Como um canto de sereia divinal que não podemos resistir. Provavelmente fiquei debaixo do seu encanto, quando acordei ao seu som logo após a minha chegada da América do Sol e julguei estar ainda a milhares de quilómetros de distancia.

Este tipo melodias podem ser como uma mulher belíssima que toma conta de todos os nossos pensamentos e que desejamos ardentemente conhecer no sentido bíblico, mas que após chegarmos a vias de facto deixa de ter qualquer interesse. Tal aconteceu com o anúncio televisivo da Optimus onde um conjunto de caras sorridentes inundadas de luz de um amanhecer forte, que publicitam os serviços multimédia da chamada 3G de serviços celulares.

Após vários dias de total desespero finalmente descobri os autores da faixa sonora do anúncio. Tratam-se dos dinamarqueses Mew, e a música em causa é um bem baptizado tema, denominado Conforting Sounds. Provavelmente vou ouvi-lo até a exaustão e dentro de dois meses, quando invadir o top ten nacional vou ser submetido à tortura diária de ser bombardeado por um disco já muito riscado na minha mente.

Na semana passada vi finalmente andorinhas a esvoaçar. Nada como essas simples aves para simbolizarem uma nova etapa do retorno anual, da sucessão das estação. As andorinhas são para mim o mais perfeito dos arautos de que a Primavera tomou com força o seu lugar e que vai florir e expandir-se em vida nova em breve.

Todos aqueles voos rápidos e picados, serpenteando em mil direcções, com voos rasantes e abrutos, mostram toda a energia, alegria e ânsia com que a nova renovação anual da vida se faz sentir. Ao observar esses seres tão frágeis, tão felizes, com um piar tão agitado e suave, faz-me sentir uma calma e esperança profundas. Fiquei feliz.

5 – Além da distância, um até breve

Já faz algum tempo que regressei, mas nestas coisas de viajar e saborear novos horizontes, há sempre algo que assimilamos de novo.
O reconforto da luminosidade, calor e vivências, valeu-me belos fotogramas de alta-resolução, gravados na minha memória, algo capaz de alimentar a caldeira das emoções por longos períodos de carência energética. A América do Sol vai permanecer um dos meus destinos favoritos, e vou guardar o seu carisma de terra onde o meu espirito pode chegar esvaziado e faminto e regressa sempre pleno e abundante.

O contacto com outras percepções de vida, relega toda aquela ansiedade de frustrações e sonhos futuros, tão típicas dos europeus para o seu devido lugar. Pode soar a falso, mas ambas as vezes que viajei à terra da Vera Cruz, senti-me mudado e rejuvenescido, quer em moral, quer em capacidade de encaixe face aos problemas que se colocam no nosso quotidiano. Muitas vezes sobrevalorizamos aspectos da vida que se tornam insignificantes, e menosprezamos facetas essenciais da nossa curta existência. Essa miopia é curada quando bebemos estas experiências de desprendiamento numa terra linda e brilhante. A Vida deve ser desfrutada assim que nós é oferecida. Não é para usada e consumida na totalidade para construir e perseguir apenas momentos futuros que julgamos serem melhores.
Carpe diem!

Hoje que a distância geográfica e temporal acumulam-se e fazem essa barreira injusta, entre o meu corpo e o cálido mar salgado do Cumbuco, ao sabor do vento na jangada de mestre Pedro, não sinto uma saudade piegas de retornar, apenas acalento essa sensação de paixão consumada com a Vida. Um até breve a essa grande paixão.

Possivelmente esta será uma das noites mais felizes dos últimos anos, ou uma das mais tristes. Não sou propriamente um adepto fanático do desporto Rei, mas como qualquer cidadão que se preze da minha cidade, um evento destes motiva até quase ao fanatismo qualquer um. A alegria contagiante com que a Invicta se uniu em volta do Glorioso, numa epóca que provavelmente vai ficar na história a letras de ouro e que todos os portistas devem recordar.

Ontem despedi-me do Inspector P., que junto com o Q. e R. seguiam de madrugada até a tórrida Sevilha cheios de emoção, ao passo que N. já devia estar a chegar perto da terra Beirã da qual alguns dos meus genes são oriundos. Fiquei entristecido, com esse sabor amargo, por não ter encontrado um bilhete, essa chave mágica para uma alegria imensa ou para uma desilusão que se quererá esquecer o quanto antes. Enquanto o Ibiza alugado já debitava o CD dos Super Dragões, completamente artilhado de cachecóis do FCP e da Nação, dei um abraço sentido ao Inspector P. e Q. . Estava mesmo com saudades deles e senti que tinha perdido uma viagem. Mas isso não interessa. Haverão mais e maiores viagens!

Melhor será a festa se uma taça for exibida pelos azuis e brancos. Será a euforia contagiante e estarei lá no meio de todos aqueles cromos verdadeiramente raros saídos sabe-se lá onde que se amontoam nas praças da Invicta. Será maravilhoso e para compensar todas as pequenas ausências e anemias emocionais dos últimos dias de ressaca pós Sol. Caso contrário mais vale ir dormir cedo. Mas isso é o pessimismo crónico. Será histórico.

A namorada eu deixei
A namorada eu deixei…
E o trabalho abandonei
Para te dizer
Que até morrer
Que até morrer Porto te amarei!
Allezz allez…
Cântico dos SD

Pois é!
Muita poeira ainda está por assentar, as asneiras ainda de refletem, as pieguices ainda me perseguem, encontros, desencontros, dúvidas e destinos, mas ao menos já sinto que posso vir a voar.

Felizmente no dia 30 estarei de novo no LUX para assistir ao desfilar de mais uma noite mágica de excessos e prazeres musicais para lá do que uma alma consegue resistir. Nada como uma festa como o Club Kitten @ LUX para descarrilar sem freios.
Irei com N. esse fiel companheiro de desgraças, e vamos encontrar S. e C. que regressarão de férias. Isso antevê algumas confusões e esquemas a permeio que vão tirar alguma da piada. Dissabores ou seduções? Resta-me procurar diagnoticar em mim uma comatose ou sanidade sóbria nesse percurso para sobreviver a essa pequena tortura. Tudo depende.
Afinal de contas é o meu DJ Kitten e eu falhei o mês passado: NO STRESS que esta vida são três dias.

4 – Breve consideração sobre peregrinações

Hoje acredito cada vez mais na necessidade da nossa cultura ocidental ter alguma forma de escape. Uma das mais em voga nas últimas décadas traduz-se no chamado Turismo, no viajar para destinos longínquos onde a grande maioria dos locais que possam parecer familiares, pura e simplesmente não existem.

Talvez a nossa rotina não seja assim tão infernal, nem o nosso lugarejo seja assim tão desinteressante.
Contudo lá longe (seja lá onde for desde que seja muito longe) existe o Efeito Peregrinação, uma diaspora, onde os nossos laços e raízes são decepados temporariamente, e toda a nossa existência se pode resumir a preocupações perfeitamente mundanas, ao estilo de “onde se vai jantar hoje”, ou “amanha podíamos ir visitar aquilo”. Gostos, cheiros, odores e cores novas violam o nosso cérebro, e turbinam a mente para um estado de consciência alterado, onde o tempo não tem que ser contado ao minuto, nem existe o perigo de sermos triturados pelas máquinas centrípetas da vida nas grandes cidades. Coexistimos e tentamos sobreviver na urbe, numa sociedade de formigueiros de Q.I. elaborados, onde subsiste a ilusão que a nossa individualidade é superior às directivas comportamentais da colónia “humana”. Mas em peregrinação, a urbe está distante e a formiguinha volta a ser um ser com capacidade decisória e em total independência em relação à ditadura do formigueiro.

Mas ao lado dessa perfeita inutilidade e futilidade das férias, o efeito peregrinação dá-nos um entendimento muitas vezes não consciente de que a nossa vida poderia ser muito diferente sem grande esforço. Como se numa viagem tomássemos finalmente conhecimento de que seriamos capazes de mudar e ser algo ou alguém distinto, enfrentando com prazer e sucesso uma aventura completamente desigual, um novo desafio para o qual não estávamos preparados, mas que podemos finalizar com toda a satizfação e resultados brilhantes. Como se fossemos um actor e nos dessem um papel completamente diferente para a mão, e a peça com data de estreia para hoje a noite. O interessante é que provavelmente seria a nossa melhor interpretação de sempre, com direito a ovação de pé de um público rendido ao nosso génio.
Mudar de papel na peça da vida, ou levar a cabo um jornada que nos ilumina de certa forma, não é totalmente imperioso para que sejamos mais felizes, mas pelo menos ajuda.

NO STRESS pós-traumático

3 – Como contabilizar caipirinhas e outros conselhos úteis

Não se devem estabelecer regras quando queremos fugir à rotina. Essa fuga, é para mim extremamente valiosa, pois no intimo do meu ser, sou um perfeito anarquista praticante no degredo capaz de explodir com qualquer ordem imposta.

Desta vez a promessa de explodir com os últimos neurónios ainda capazes de algum pensamento minimamente articulado foi concretizada.
N. e Dr.P. esses fantásticos companheiros de armas encarregaram-se de liderar as hostes revezando-se no comando de operações que eu também capitanei, se bem que de forma não tão frequente.
Devo dizer com franqueza que não poderia desejar melhores companheiros de armas para estas andanças, não só de desfalecimento mental, como também de férias retemperantes.

Foram muitas horas de diversão, muitos jantares que ficam nos anais da história universal gastronómica, muitas caipirinhas, mulatas, etc…

Para calcular o consumo per capita de caipirinhas (ou caipivodkas) tivemos sérias dificuldades.

N. ultrapassou as 100, e a partir daí as contas ficaram mais complicadas. Até esse ponto elaboramos uma base cientifica de calculo:

  • consumo mínimo Jantar – 2 (variável até 5)
  • Resto da noite base média 2
  • Se estiver com uma queimadela solar subtraia 1
  • Dores de garganta, gastroentrite, ou voo no dia seguinte subtraia 3
  • Se houver factor «Oi!» acrescente 3
  • Se na entrada do Club pedirem seu número telefone acrescente 2 (caso consiga dizer meia em vez de 6 subtraia 1)
  • Caso o clube esteja cheio de mais e se alguém conhecido subornou o Barmen acrescente 4
  • Se teve coragem de subornar o Barmen some 2
  • Se está a chover subtraia 2
  • Se esteve a chover todo o dia acrescente 3

Com esta base cientifica atingimos uma média ponderada conjunta per capita de 6.11111 caipirinhas/caipivodkas por noite.

Mas fora estes exageros, que abracei num grito de cisne consciente, nada como um confortável alheiamento e euforia de amizade genuína, sob um cenário de antro do paraíso. Nada de planificações, reservas de hotel, roteiros turisticos.

«-Onde vamos amanhã?», «-Se conseguirmos voo, que tal Salvador?», «-Oi!», «TAM, VASP. VARIG ou GOL?», «-A que pare em menos apeadeiros!» , «-Oi!».

Assim as coisas têm mais graça, mais aventura, adrenalina. Obriga a mente a despertar e estar alerta e a saber horientar-se num território novo e talvez hostil. Mas é isso que nos faz sentir Vivos.

N. praticamente cresceu e se fez homem ao meu lado, conhecendo-o eu há mais de 15 anos, numa amizade que sempre valeu nos bons e maus momentos. Dr.P é compincha de há 8 anos de noites desregradas. Nada como um par de amigos full flavour para tornar as coisas hilariantes e potentes. Nada de lights.
Não vale a pena fazer umas férias assim sem levar um de cada… Antes esquecer a escova de dentes!

NO STRESS pós-traumático

2 – Realidade redescoberta

Umas boas férias reflectem-se não no tempo em que estivemos ausentes, mas sim nas mudanças que encontramos quando chegamos. Quando digo mudanças não me refiro só ao que se passou na nossa ausência, mas também na forma como encaramos aqueles pequenos pormenores, que dantes podiam passar completamente despercebidos ou originarem grandes dores de cabeça.

Os nossos sentidos estão carentes, sôfregos, alertas, depois de vários dias de estímulos contínuos e não se deixam iludir por situações repetidas. É como um jogo de descubra 10 diferenças, que dantes passaria ao lado e agora a vista vai certeira a todas as pequenas modificações. É esse contexto que me ajuda a recuperar de uma peregrinação inesquecível: recuperar uma realidade que deixamos esquecida, cinzenta de estar tão desgastada e que de repente está de novo com cores garridas.

A redescoberta do nosso quotidiano, o retornar aos locais comuns pode ser feita com prazer, saboreando e usando uma nova perspectiva de uma grande angular que nos permite uma visão nova da nossa parca rotina e reduzido território.

Por isso quero ser um peregrino eterno, para me descobrir, e para redescobrir tudo e todos os que me rodeiam.

1 – America do Sol

Não foi a primeira vez no Brasil e com certeza também não será a última. A verdade é que necessitava assim de umas férias que me permitissem um alheamento total a todos os pequenos e grandes problemas do nosso quotidiano. E estas férias foram isso mesmo: o afastamento físico e mental de todas essas pieguices, para poder ter uma visão mais panorâmica do que tenho em mãos.

A vida é para ser vivida“, “aproveita o momento” e todos esses chavões, lá na América do Sol ganham todo o seu significado e recordam-me do quando e importante aproveitar cada momento em que o nosso coração ainda pulsa. Essa urgência sem ansiedade e importância de viver só pode ser plenamente entendida a quem testemunhou um pôr-do-sol numa praia perdida, ou sentiu a imensidão de um sertão, ou quando se bóia num mar quente e super salgado durante um hora, alturas quando apenas se sente o Criador e um calor aquece o espirito.

Claro que não há só maravilhas. Há o desespero da fome, mesmo ali ao lado da mais sumptuosa riqueza e abundância; o crime violento bota-chumbo-nele mesmo ali ao lado da mais humilde e honesta comunidade; a prostituição bem na esquina de duas igrejas protestantes apinhadas de gente. São estes contrastes que nos dão a mais forte chapada de realidade, que nos remetem para um novo horizonte de pensamento mais pragmático e menos ocidentalizoido-europeu sobre o bem-estar e a moral.
Talvez a pobreza não seja só fonte de desespero, nem a riqueza fonte de alegria. É certo que o anúncio televisivo do 1 de Maio fosse cruel e repugnante por mostrar as enormes desigualdades sociais no Brasil:

“Marcelo consegue apanhar 40 figos num minuto. Para conseguir comprar esses mesmos 40 figos, Marcelo terá de trabalhar 8 horas.”

Contudo vi mais sorrisos, simpatia, carisma e alegria de viver nas gentes mais humildes, do que naqueles bem de vida. É inesquecível sentir as gentes de um lugarejo perdido e a sua filosofia de vida simples e honesta, sem nada a esconder, sem reservas. A frontalidade e esperança com que encaravam a vida era mesmo motivante, e a sua coragem e positivismo embriagantes. Nas grandes cidades, já há mais uma lei da selva, um clima de competição que não combina com o resto, mas que mesmo assim pode ter o ar da sua graça, em particular no Nordeste.

Ainda embebido neste espírito, que por incrível que pareça, nada diferente do que eu trouxe à uns seis anos atrás. Sair do jacto após tantas horas e desaguar num Rio a amanhecer é indiscritível. Mais ainda é sentir logo no ar não só o calor térmico, mas algo mais que não se pode traduzir em palavras: o espírito da América do Sol, da terra da Vera Cruz. E isso não aparece em fotografias…