ano

Os anos sucedem-se depressa, ligeiros, imparáveis.
Começa-se.
Primeiro um, depois dois, três, em seguida quatro, e depois cinco.
E chega-se a meia dúzia. Sem saber bem porque, o tempo fluí rapidamente dando a impressão de ser impossível de se lhe seguir o rasto. Fico contente por perceber que numa meia dúzia de anos seguinte um trajecto muito interessante, repleto de erros colossais e vitórias redundantes, de tempestades e bonanzas, de aventuras e devaneios diletantes. Podia ser menos agitado, menos dramático, mas tem sido uma boa lição, aprendida a custo e com resultados impressionantes de crescimento pessoal.
O meliante não é mais o mesmo, nem se dá a pseudo-psicoses, e mais equilibrado e feliz, tenta encontra o seu equilibrio na corda-bamba da vida, questiona-se e não se revolta ao estilo de rebelde em causa.
As águas que passaram no moínho são muitas, cheias de tentativas e erros, e de inumeros galos, à custa de tanto bater na parede com a cabeça. Não digo que não vou errar mais, isso seria não ter apreendido absolutamente nada. Apenas digo que hoje a maturidade me permite estar capaz de errar menos, de equacionar melhor hipoteses e rotas por mares menos revoltos. E isso em seis anos. Nada mau.

A ilha verde foi um destino de fuga fabuloso e inesperado. Eu nunca tinha antecipado os Açores como uma rota de férias, mas fiquei surpreso por muitos motivos.

Antes demais seria a visitação ao maninho no seu constante degredo e auto-ostracismo insular, e por outro lado era mais uma aventura a dois num local de férias distante.
Logo deu para depreender que caíramos em desgraça perante o S.Pedro e que o Sol nunca nos estaria reservado, mas sim um abundante ar húmido e pincelado com bastante nuvens negras e até aguaceiros. Mas isso era o menos importante num cenário tão peculiar, plantado em pleno centro do Oceano Atlântico. Fiquei atónito com a imponência do azul, do verde florescente e pela relatividade do tamanho de S.Miguel.

Logo à chegada fui brindado pelas verdadeiras excitações dionizinas do meu maninho e praxado a rigor com minis a ponto de pensar se não estava a ter um dejá-vu pois a minha chegada à Madeira, há meia dúzia de anos atrás, tinha tido o mesmo inicio rocambolesco. Espantado fiquei por ser acompanhado com semelhante entusiasmo, e companhia de desacatos hepáticos. A factura foi muito pesada mas acompanhada de iguarias culinárias únicas que me valeram uns bons quatro kilitos numa semana.

Logo se seguiram as viagens turísticas exigidas quando se está num cenário tão espantoso. Mesmo ao volante de um boloide conseguimos correr o que eu considero ser uma das belezas naturais mais espantosas que consegui presenciar e apenas sei que nenhuma descrição poderá alguma vez traduzir a maravilha que se desenlaça no olhar.

E aquela invasão na retina de beleza numa verdadeira jangada de pedra fica na minha memória de bons excelentes momentos, de liberdade e consciência da vastidão do planeta terra e do maravilhoso Atlântico.

Este é um dia que me aparece idílico, mas que estou preso nas contingências do quotidiano. A liberdade do espírito porém não é posta em causa, trata-se de circunstâncias iguais a tantas outras que nos limitam no espaço e tempo. No meu caso trata-se de uma secretária cinza, talvez disforme pelas suas dimensões exageradas, onde todos os dias úteis me coloco durante horas. Nada de diferente de tantos outros…

Segunda-feira é um dia que eu nunca apreciei. Tal como se pode ler no manual dos preguiçosos, este é o dia da semana em que os minutos se arrastam de forma mais monótona, e sentir o mercúrio dos termómetros a entrar em níveis apetitosos prova ser uma menos-valia para quem tem o seu ganha-pão afixado a uma secretária extra large. Pode ser enorme mas hoje sinto-a invulgarmente minúscula e claustrofóbica.

Resta-me o consolo de saber que em breve me vou perder nas Arábias na mais perfeita companhia.

Sem vergonha e paciência para fazer sumários descritivos, mas com recordações que não gosto de deixar ficar em branco nas minhas vadiagens, deixo para fins de um cadastro algumas impressões fugidias.

Para ser muito honesto a minha vida regula-se agora por novos nortes e interrompi uma cadeia de vícios e de deambulações que se tornam desirmanadas com o meu novo estilo de vida, mais caseiro, mais consciente, mas sem se tornar desinteressante. Apenas mudou o seu ofício, num upgrade há muito desejado.

Para além da parceria divina, conto com um gosto exacerbado pelo hobbie fotográfico, que aos poucos vou aprimorando, muito embora reconheça a minha falta de talento crónica. Mas o gozo é tanto que vou treinando, qual nipónico pronto a flashar tudo em seu redor.

A regularidade das minhas visitas às salas de cinemas aumentou significativamente. Posso dizer que a minha veia de cinéfilo tem estado repleta de guloseimas, e pior parece que a cada dia descubro novos serões caseiros onde dvds me enchem a retina e os tímpanos com obras de arte da sétima arte. Alguns oscarcizados pareceram-me realmente bons. Mas nos clássicos dos mestres é onde me refúgio cada vez mais.

Viajamos em diversas escapadinhas, tipo vá para fora cá dentro e afins. O Douro, a Raia e a minha praia mostram-se cada vez mais territórios meus, zonas de escape da podridão urbana e da rotina.

Marcou-me particularmente uma despedida há muito anunciada. O ritual fúnebre mostrou-se sinistro e funesto, não por acarretar o luto, mas sim por exasperar no ridículo a dor honesta, como se fosse um acontecimento social a que não podemos fugir, com o precioso bónus de inúmeros familiares vindos directamente da quinta dimensão. Coisa para nos fazer duvidar da genética. Mas em suma a morte é per si estranha, mas simultaneamente natural. E isso eu não esqueço.

Desta memória eu quereria dizer…
Tão apagada agora… quase nada resta
porque ficou tão longe, nos meus anos primeiros de ser homem.
Uma pele como de jasmim… Na noite

de Agosto… Era de Agosto?…
Mal relembroos seus olhos…
Eram, suponho, azuis…
Ah sim, azuis. Azuis como safira.

Muitas regalias, mordomias, encantos e festas tiveram e vivi nos últimos meses. Tantos episódios que ficaram por relatar e que mereciam fazer parte das memórias escritas. Por isso início uma pequena série não cronológica e muito imprecisa de memórias mais ou menos esbatidas do trimestre. Alguns momentos foram obviamente censurados por pudor.

Compras natalícias, micro férias e até momentos de deleite, tudo foi tão diferente neste solstício. Foi mais fraterno e alegre e se não fossem os desgostos familiares tudo teria sido como que perfeito. Contudo a doença e a velhice não escolhem época para revelarem os seus inexoráveis pesos de chumbo. Mas na pesagem que temos que fazer a cada instante da nossa vida pude ver um equilíbrio, um balanço no cômputo de vivências… Desde a alegria de dar e partilhar algo com alguém importante, ao conhecer e sentir-se bem-vindo no seio de outras consoadas, houve realmente um cheiro genuíno a Natal como já não conhecia desde criança. E é disso que eu me quero recordar.

É importante perceber o decurso e a cronologia da vida. Nada como uma série de novos nascimentos, para me lembrar a forma como o tempo passa cada vez mais célere. Faz uns bons anos e relatava com prazer o sucesso a ferros do aparecimento do primeiro rebento do inspector P. e eis que um segundo rebento, desta vez varão começa a sua existência. Além dos nascimentos recebi uma grande perda, verdadeiramente irreparável. Há muito que estava anunciada, mas nunca se interioriza a perca de uma presença constante de três décadas. Fica a saudade e a frase feita de que a vida é assim.

Fico a pensar que aconteceu entretanto, e de facto tanto sucedeu e eu pouco apresento para contar, além de umas quantas medalhas de lata ao peito… E com certeza tempo de trabalhar para a medalha de valor…

Estava eu no sossego de uma convalescença dessas gripes invernais, só com a companhia do meu peluche e de um bom livro, quando me dei conta que não escrevo há séculos. Só num espaço sem estar ligado à rede, onde só faltava a lareira para sentir que me encontrava há cinquenta anos atrás é que me deu uma vontade enorme de escrever. Era como se a impossibilidade de termos um bem, aumente o seu desejo, e isso fez me sentir algo estúpido. Ter desperdiçado inúmeras ocasiões para fazer o gostinho à caneta por causa da preguiça e o corre-corre diário e rotineiro: isso são sempre desculpas esfarrapadas.

Ao sentir o vento a uivar lá fora e o meu nariz a teimar escorrer mucos irritantes, deixei-me levar em meditações febris, que embora fossem algo desconexas eram contudo de uma lucidez alarmante : dei-me conta que estou a chegar à idade de não retorno.

Algures um relógio biológico indica-me que o meu leque de opções encontra-se cada vez mais com menos horizontes, menos cenários, menos enquadramentos. Mas isso não é obrigatoriamente mau, muito pelo contrário, permite que nos foquemos mais no essencial e não no acessório no que toca ao que buscamos da vida. E no meu caso posso dizer que a opção que tenho pela frente é das mais risonhas que alguma vez vislumbrei.

Ano Novo, vida nova é um cliché que gosto de acarinhar, muito pela piada de sentir que devemos sempre almejar que as nossas vidas não se tornem numa rotina sem sabor e sem espírito.

Não creio que a mudança de calendário per si estabelecia um novo ciclo na nossa existência, mas sim na nossa percepção de que desejamos algo de diferente à medida que tradicionalmente se engolem passas ao ritmo das badaladas do Ano Novo. Devo contudo dizer que apesar de não querer fazer balanços sei que as passas de 2006 foram indubitavelmente doces, muito para lá do que eu poderia esperar.
Os lucros brutos excederam em larga parte as expectativas e o resultado líquido depois do apuramento do imposto mostra claramente que a empresa bateu um recorde.

Mas negócios aparte, descobri um tesouro inigualável: um novo projecto de vida que está cada vez mais a dar frutos, uma forma de estar na vida mais serena, mais consciente e acima de tudo mais feliz.

Os seus delicados dedos deslizavam acariciando o teclado do piano, tacteando e antevendo a melodia que em seguida ira tocar. A sua timidez fazia que estivesse corada perante um público novo. E era só eu que me ia deleitar com os acordes suaves da sonata que a encantara durante longuíssimas horas e inúmeras aulas na sua adolescência.
Quando os acordes soaram suaves e fluidos, com uma mestria singular naquele piano castanho sem cauda de que nunca gostará, pressenti o seu nervosismo desvanecer, e deleitando-me com a música senti-me comovido e ávido por beijá-la nos lábios ternamente quando acabasse de tocar para mim.

Sonhos Urbanos

Foi contemplando a Lua ontem que consegui encontrar a minha estrela polar. Estava desorientado numa ausência de norte momentânea, e fui buscar refúgio num retiro frio e chuvoso na minha praia.
Felizmente o céu perdeu o seu tom muito nublado e a chuva cessou. Vi a aura madrepérola envolvendo o circulo prateado irradiante e senti-me compelido de energias novas.

Decidi correr, queimar gorduras e banhas que tenho acumulado nos últimos meses auxiliado pelo nano e cavalguei um bom par de quilómetros até um pontão esquecido entre a minha praia e a praia aguda. Ao som de uma melodia feita à medida percorri um estrado místico que se precipitava pela praia iluminada pelo luar intenso. Só e quente de suor senti a calma que necessitava e amenamente senti um abraço dos elementos e da Lua amistosa numa maré cheia de mar revolto num local deserto – uma sensação única de plenitude – de que algures o meu destino seguia o seu curso e que me assegurava naquele momento belo que seria promissor e ameno como desejo.

E de facto as tempestades são transitórias. São sempre.

O tempo é como a areia que se escapa entre os dedos. Depois das três décadas tudo parece escapulir, tornar-se vertiginoso e perigosamente rápido, num suceder de dias, meses, estações e até anos. Dou por mim a braços com uma memória em que a cronologia começa a ficar confusa – seria há seis ou sete anos? Foi antes ou depois de… ?

Este sinal de que o meu tempo já se escoa faz-me lembrar-me o quanto ele é preciso e o quanto se torna tormentoso saber que ele se estoura em banalidades.

Há alturas da nossa vida em que a escrita não sai fluida ou não faz sentido. A tinta da caneta reflexiva seca quando o momento vale a pena ser apreciado e contemplado sem tirar disso demasiadas elações a quente. Desse modo é salutar esperar alguns dias e deixar as ideias assentarem antes de as tentar esculpir em palavras e frases – deixando assim este pobre diário de molho.

Meditando um pouco, mas sem tentar chegar à essência das coisas que se sentem e também vislumbram na minha vida, tomei consciência que estou a atravessar um Equador existencial e que me dirijo a um novo hemisfério da minha vida. Há muito que o trópico me era evidente, e que pressentia essa linha imaginária que marca uma etapa da vida.

Hoje estou sereno e muitíssimo feliz, para lá de qualquer tipo de interferência malévola. Voltei a visitar a América do Sol e apaziguei muitas das minhas disputas internas, apaziguei o espírito, tudo num lapso de meio ano. Um milagre…

No ano que se completavam trinta edições, decidi-me a uma aventura política por cores que não são as minhas e ver pelos meus olhos a maior festa politizada em Portugal. Rumo a grande cidade e passando a grande ponte parecida com as notas de quinhentos, ladeado pela
Purpurina
e amigas e pelo fiel companheiro de armas.

Após o reboliço de acertar com o trajecto e arranjar o livre acesso a tenda num extenso aglomerado de cogumelos de pano que dava para perder de vista, eu, vosso excelentíssimo comentador de façanhas mais ou menos banais, dei-me por mim em plena festa da Quinta da Atalaia, qual pára-quedista ou agente infiltrado no covil do lobo. Dez minutos bastaram para perceber que a festa do Jornal do Avante! está revestida de um carisma excepcional, onde parece que uma espécie de bolha revivalista está isolada do resto da realidade. Trata-se de assistir a uma zona livre de fast food e quase todas as formas capitalismo imperialista, e onde velhos e novos se atropelam de forma civilizada perante uma poderosa e bem oleada máquina de militantes voluntários que fazem a festa existir. O proverbial e lendário poder organizativo do PCP, provavelmente o mais poderoso exemplar em vias de extinção na Europa do comunismo marxista-leninista, deixou-me espantado. Como num belo exemplo idílico de socialismo, o proletariado organizava-se de forma a executar problemas complexos de organização com a máxima eficiência.

Mas mais que as questões de desempenho e de coloração militante existia a festa em si: um ambiente de genuína fraternidade como nunca presenciei, e que me senti privilegiado em sentir na pele tal alegria de grupo.

Calor e falta de banhos à parte, assim como um arrufo empolado, a festa do Avante mostrou-me uma miríade de sentimentos diferentes e de que eu não estava a espera, como naquelas experiências que se devem recomendar a gregos e troianos. Foi sexta a domingo em grande, acelerador a fundo, saltando ao som da Carvalhesa, tentando adormecer na tenda debaixo de gritos da Elsa, provando os Mojitos, descansando à sombra, passeando ao Sol e deliciando-me com o Sérgio. Para o ano há mais camaradas! E espero que seja com os mesmos camaradas.

Os seus despertares sempre tinham sido partos diários de constrangimentos rumo a uma inevitável rotina sem esperança. Mas o seu olhar, apesar do silêncio da correria da azáfama dos preparativos para ir para o emprego abria rasgos de esperança.
Mas com ela tudo mudara. Não existia mais a sensação de mais um dia como os outros, e sim a bênção de ter um dia mais a seu lado. Enquanto se vestia apressadamente, já se sentia afortunado por saber que o início do dia já valera a pena por a ter tão perto de si.

Sonhos Urbanos

Meia década é uma medida de tempo demasiado longa para o meu gosto. De todos os projectos que me propus levar a cabo ao longo da vida não duraram tanto. Muitas vezes a volatilidade do meu planeamento não me permite levar a cabo durante tanto tempo os planos de longo curso. Também não é normal antever à distância de 5 anos, que resultados teremos da obra que acabamos de começar, e se vá evoluindo ao longo do percurso. O que ao início podia ser um relato irreverente de vivências para um grupo restrito de amigos passou aos poucos a ser um fiel depositário de momentos intimistas, ou até uma forma de expressão que age como uma válvula de descompressão.

Quem sabe se o gosto ou alguma maior constância da alma, hoje o meu diário atinge um aniversário sugestivo, e que se revela um companheiro e amigo que me tem secundado numa parte já significativa da minha vida. É com algum prazer e às vezes até muita perplexidade que revejo alguns posts passados, revejo algumas fases importantes da minha vida. Desde as dificuldades e abismos emocionais, às façanhas e alegrias que perduram, há de tudo um pouco.

Nesta cápsula dinâmica do tempo cabem muitos pensamentos, imagens e poemas que me têm atormentado ou motivado, acabando por me felicitar por ter um confidente tão estranho para um homem de meia-idade. Talvez a juventude da alma, a insensatez do momento ou a necessidade de tratar mal a língua de Camões motivem uma relação tão longa e frutuosa. Um bichinho que me faz companhia nos bons e maus momentos…

Algo de verdadeiramente impressionante na vida é que esta se rege também de acordo com a lei do caos. Mesmo que se consiga idealizar um futuro, determinar as variáveis com mais impacto nesse espaço temporal, um pequeno batimento de asas de uma simples borboleta pode causar um furacão não esperado noutro espaço da nossa vida.

Mesmo quando os parâmetros estão cinzentos, e se faz uma previsão para uma chuva torrencial, pode aparecer a mais doce bonança. Tudo porque pequenas nuances escapam as equações dos modelos de previsão e que podem trazer fortes impactos. Mas é neste espaço de quase incerteza que a tômbola da vida gira e nos vai premiando com grandes jackpots. E isso é o piri-piri da vida.

Toda a minha pequena jornada tem sido disso exemplo: não se fazem planos que não possam ser abandonados logo que o caos no dê uma patada daquelas que doem. É necessário saber que na esquina está a mais profunda incerteza, mas que pode ser o el gordo, como não. Só é necessário comprar a rifa e não perder a esperança.

Eu tenho a noção que algures uma borboleta bateu asas e algo muito surpreendente se deixou abater de repente no meu presente. Viva o caos!

Às vezes apercebemo-nos que amadurecemos e que estamos mudados. A matriz da alma modificou-se sem avisar, alterou-se, melhorou-se sem que tivéssemos consciência da requalificação interna.

O Verão sempre foi um florir de intensas emoções ou um sublimar de esperanças. De mão dada com um Sol cada vez mais intenso, é normal nas minhas recordações, atingir uma espécie de pedrada de estio. Sentir-me livre e vivo. Alegre.

Este ano foge à regra. Todos os hábitos caem por terra, todas as recordações não fazem sentido. Não é o estio que me faz pulsar. Nem são as esperanças que me alegram, ou o sol que me aquece o espírito. É algo mais substancial, menos efémero. É algo de permanente que não desaparece numa ressaca outonal, ou se esfuma numa memória devidamente arquivada no cérebro na zona denominada Verões do passado.

A vivência é outra, a maturidade e equilíbrio são o sustentáculo de um novo paradigma, daquilo que eu sempre desejei e agora está comigo. Um pico de felicidade. Um verdadeiro e absoluto Cloud 9 .

Ao observa-la a dormir, sentia sua serenidade e beleza amena. Não se sentia mais só, e lutava para não a despertar com beijos, fazendo uma vigília de deleite. Ela ali a seu lado, frágil mas protegida, enroscada em seus braços, sentindo a sua respiração quente e profunda, o pulsar do seu coração tão próximo era um quadro petrificante de emoção e êxtase. Talvez não merecesse ser tão feliz naquele momento tão íntimo com uma mulher tão deliciosa.
A sua mente cavalgava pensamentos de ternura e felicidade, trotando sem resquicios de sono na luz do amanhecer que furava através das janelas do quarto. Desejava que a manhã não avançasse até ao momento do acordar em que se separariam rumo a um quotidiano diário que agora significava um ciclo de separação insuportável até à próxima noite. Queria que a noite fosse eterna, uma noite sem fim dos amantes.

Sonhos Urbanos

É bom aprender em qualquer idade. Torna-nos mais jovens e joviais a capacidade de ter lições, repensar a nossa sabedoria ou até por em causa algumas ideias pré-concebidas.

Actualmente abriu-se no meu horizonte mundano, uma miríade de novas lições de vida, de perspectivas inovadoras para abordar velhos problemas, e até a oportunidade de fazer cair por terra velhos dogmas. É uma lufada de ar fresco sentir que os meus neurónios estão capazes de refazerem as suas ligações e abraçarem toda uma nova filosofia.

Pode até parecer um paradoxo, mas muitos episódios na vida actuam como rupturas epistemológicas em que vemos um luz na gruta escura e apercebemo-nos de toda uma nova realidade, que sempre esteve ali ao nosso alcance, mas que não éramos capazes de entender.

Surgiram novos axiomas, graças a um conjunto de novas vivências, em que se questiona e certamente se aceitam novas hipóteses e teses.

Presumo que nunca é tarde … nem para aprender, nem para viver. E isso porque viver é sempre uma constante batalha rumo à vitória e que nunca se perde uma guerra.