120 hours and counting
Afinal é possível aguentar um embate com a ressaca de parar de fumar, desde que estejamos com alguma força de vontade. É certo que estou com os nervos em franja, que todo o corpo parece meio dolorido e que na minha boca há invariavelmente um chiclets ice de canela a libertar algum sabor para disfarçar qualquer vontade.
É estranho sentir aqueles flashes momentâneos de junky, numa espécie de pânico inconsciente de que agora era a altura que eu pegava em mais um cigarro. Hábitos encerrados bem fundo na consciência, mas que não resistem a trinta segundos de introspecção.
Nesta minha tentativa empolgada para deixar de fumar sigo uns princípios simples:
- Prometer a mim mesmo que vou chegar ao fim do dia sem tocar sequer em algo que tenha folhas de tabaco (
cigarros, cigarrilhas, charutos, charros e beatas) - Evitar rapidamente qualquer
localque tenha o odor fétido do tabaco a arder; não olhando sequer para qualquer tabaco, maço, ou até vending machines. - Inventar mil e uma quebras de rotina, desde as mais singelas, até às mais absurdas ocupações, submetendo o corpo e espirito a constantes situações de adaptação. No fundo descompensações constantes.
- Exercícios de respiração, desporto, insistência em puxar até ao limite o corpo.
- Bebendo água desmesuradamente, evitando o aumento de apetite e outros desconfortos.
- Mantendo ocupada a boca (mascando, roendo, mordendo, etc.), com movimentos e sabores, incluindo uma higiene oral capaz de levar à erosão de esmalte.
Para já os pulmões começam apenas a fazer uns queixumes, uma tosse ainda medrosa de alivio, num início de desintoxicação orgânica que leva anos a libertar o alcatrão. Está a valer a pena.
Tenho consciência que o pior periodo é sem dúvida quando se chega às semanas dois e três. O espírito e o empenho começam a quebrar e pecadilhos rumo à recaida são vistos de forma menos grave e surgem uma data de descupabilizações face a diminuição da força de vontade, numa epóca em que ainda não nos libertamos da dependência organica de forma consistente. É dessa fase que tenho mais medo.