Dias

De regresso, repleto de força e cada vez mais apaixonado pela vida. Apesar de estar com um Jet-Lag horrendo estou a trabalhar cheio de energia renovada, sentindo uma enorme e reconfortante força anímica.

Valeu a pena queimar todos os neurónios.

Parte VI – Três mosqueteiros e Iracema

Finalmente as últimas horas estão a seguir inexoráveis. Caminham e desenvolvem. Uma após a outra passam fluidas, já não estão paradas. As preocupações já se desvanecem. Aprumam-se as ultimas despedidas. Mesmo nas três frentes. Excepto na frente Leste onde hoje não vou resistir a uma escaramuça que me pode causar sérias mazelas, uma vitória rápida ou uma esmagadora vitória dentro de semanas. Tudo depende dos ventos de guerra.

O tempo sai fluido e dentro de horas estarei nas férias merecidas, e quais três mosqueteiros, como tudo se encaminha, quer em mentalidade e coragem. N. e Dr.P. estão em plena forma, desesperados como eu em arrebentar tudo que houver para arrebentar e ter zero segundos de aborrecimento.
Descanso, festa, alegria, loucura, descontracção, mulheres e copos são a nossa ementa não programada. Acho que fazemos uma boa equipa, equilibrada, coesa. Se N. diz mata, Dr.P. diz esfola, e eu trago o machado. Se peço um copo, N. pede outro e Dr.P quer pagar os três. Se eu quero ficar até ao fim, Dr.P. quer ser o último a sair e N. ainda voltava a tentar entrar. Sofregos e Cª!
Vai ser bom, e só mesmo um grande selecionador seria capaz de montar um terceto ofensivo como o nosso. Penso que vamos dar muitas goleadas!

E nestas andanças me despeço, uma vez que nem sei se vou voltar. Posso-me perder num grito estridente de cisne, nos braços de Iracema ou Iemanjá, e para sempre ficar sepultado nas terras da Vera Cruz.


Adeus! Até sempre, ou até já!

Fim

ou talvez não

Parte V – Start your engines

Apesar de estar absolutamente derreado, consigo mesmo assim manter o bom humor. Felizmente que a ideia de viajar, apesar de não ser uma obsessão, está a dar algum alento. Este fim de semana de Páscoa saldou-se por um absoluto nó na cabeça às custas de encontros de última hora. Estou frágil demais para avaliar com frieza se todos foram bons, óptimos ou algo semelhante ao Titanic. São mesmo muitas frentes e o envolvimento do inimigo promete romper as minhas linhas.

A Oeste nada de novo, mas na frente Leste dá-se uma batalha sangrenta. Parece que é aí que se pode ganhar a guerra… mas também perder a guerra. Tem é que se aguentar as posições, até todas as divisões de reserva serem para aí transportadas. Só espero que a estratégia resulte, e que não seja uma carnificina, nem que hajam ataques supresa na frente Oeste ou Sul.

Fora estas tácticas, estou decentemente ensonado. Realmente estou cansado, e para cumulo o sono não vem com facilidade. Acho que se só tirasse férias em Maio ia mesmo queimar um fusível. Mas ontem surgiu-me uma dúvidade de uma mente nada lúcida. E se eu fosse só depois de resolver a frente Leste? Creio que fraquejo. Não posso!

Parte IV – Últimos preparativos

As despedidas sucedem-se e os preparativos intensificam-se. Não que eu esteja demasiado ansioso ou histérico em antecipação com estas férias que acalentava há tantos anos. Muito pelo contrário, não estou sequer com planos de estadia. Apenas sei que vou desaguar no Galeão seguindo directo a Búzios e depois logo se vê… Digamos que vou ao sabor do vento, ou melhor das mulatinhas & capirinhas.

Toda a questão prende-se com o serviço que tenho que deixar pronto na velha Europa: não só no campo profissional, como noutros campos. Envergonho-me que na última semana, a minha vontade de trabalhar e atenção está muito próxima da capacidade de uma Amiba.
Três jantares com as mais belas presenças em quatro dias, intercalados por um chá a dois, tem colocado a toda a prova a minha capacidade de endurance física e mental, e isto para não falar em acérrimas noitadas.

Finalmente acelero para todo-galope, esporas e chicote incessantes, tentando encabeçar a fila da frente e rezando que ainda sobre estamina para o sprint que ainda muito lá à frente vai ser exigido. Já só sinto o vento sibilando, o ruído ensurdecedor do troar dos cascos e visualizo uma linha imaginária no horizonte bem em frente, essa meta que ainda está longe.
E a todo-galope…

Parte III – Perdendo o Clube Kitten@Lux

Uma das noites mais especiais dos últimos anos, em termos de diversão noctívaga e andamento, foi sem dúvida a minha ida em Março até à grande cidade, qual groupie , para atender a dois conceitos de andamento nocturnos, que me são particularmente ternos: o Lux e o Clube Kitten.

Fiquei triste por saber que dia 25 de Abril o Clube Kitten@Lux volta ao seu esplendor, justamente numa data que eu vou estar a dar uma de búzio, nessa amada terra distante. Será por uma boa causa. Acho que me vou conseguir perdoar.

Ontem, foi mais uma noite de aeroporto. Confesso que estou muito chegado aquela gente, conjunto de alienados e cavalos de corrida. E ainda mais aquelas lindas mulheres. Por momentos preferia ter uma vida mais fútil, como alguém ligado à aviação e aeroportos. É vida dura, mais tem muito glamour e mais-valias interessantes. É a vida… Não se pode ter tudo.

Parte II – Base logística

Naturalmente que eu não gosto de deixar muitos imbróglios pendentes ou assuntos suspensos antes de ir de férias ou viajar. Trata-se de uma questão de leveza de espirito, que nos permite usufruir da nobre sensação, de que se não regressarmos, por algum motivo funesto ou até por opção radical de vida, nada ficaria por dizer ou fazer.

É uma questão de não deixar pontos sem nós, pontas soltas ou pontos nos is. É gratificante poder sentir essa liberdade segura de que deixamos tudo tratado, e as coisas não vão parar na nossa ausência, ou pelo menos nenhuma catástrofe emocional ou pessoal vai estar à nossa espera se voltarmos.

Contudo desta vez a expedição será longa e temo que vou deixar para trás alguns assuntos num limbo nada aconselhável. Estou a tentar, mas não me vejo com muito discernimento ou forças para isso, e os dias que me faltam não seriam suficientes.
Desta vez a ausência será também uma fuga ao meu próprio encontro, num grito de cisne enlouquecido. Retemperando forças e alegrias, abstraindo dos problemas, pausando um pouco. Para depois voltar. Mesmo assim quero deixar uma base logística sólida, ou pelo menos que se aguente de pé…

Como se o forcado se levantasse do chão poeirento da arena, sacudisse o pó e limpasse o sangue da cara e do colete. Ainda atordoado, leva a mão à cabeça e ajeita mais uma vez o barrete verde. A faena segue dentro de momentos e há que tentar mais uma pega daquele touro negro de 550 kg. É essa a honra de pegar de caras o touro. A perseverança e coragem.

“ehhhhhhhhhhh toro! Eh, toro, toro!!!”

A impaciência é sempre inimiga da sabedoria. Eu diria mesmo que é inimiga de qualquer equilíbrio mental ou emocional.
Sempre fui demasiado ansioso e sôfrego, mas a vida deu-me um par de lições ingratas mas profundas.

Uma em particular rendeu-me uma morte eminente, em que tive consciência plena que não teria grandes possibilidades de sobrevivência. Estava perante a morte certa, mas soube encarar a besta do pânico e não cedi. Na plenitude da aceitação da Inevitabilidade, na serenidade lógica, e na paz que fiz comigo e com o mundo, sem ânsias, deu-se o milagre. Sobrevivi contra todas as hipóteses matemáticas, que envolviam o tempo, a distância, os danos irreversíveis, os estados de choque, que os médicos equacionaram. Mas afinal esqueceram-se das variável fundamentais: a fé e vontade.

Nada desde então me deu mais provas que a nossa vontade pode ser grande, mas não deve ser uma birra de criança mas sim a perseverança de um idoso. O equilíbrio como inimigo da impaciência. A Vontade sobre o Caos. Existir ou Viver
Sei que muitas vezes relaxo a minha guarda e esqueço a minha bóia de salvação. Hoje mais que nunca a impaciência pode ser a minha maior inimiga.

Mas mais uma vez não me vou deixar morrer.

Noites em que eu queimei o resto dos meus neurónios

Parte I – Algumas providências cautelares

Foi durante a noite que nasci, foi durante a noite que renasci, e sempre foi durante a noite que me reconheço. Quem me conhece sabe que sempre fui capaz de estar desperto uma noite inteira, muito embora pouco depois, pelo raiar da madrugada e da luz dos primeiros raios de Sol, o espirito fica feliz mas adormece.

Estas últimas noites de fim de semana foram longas e estranhas. Porém muito reveladoras. Foram embebidas em revisões e revivalismos, longos jantares, mas felizmente pouco álcool (ou bem menos do que é costume). S. apesar de trabalhar depois de jantar quis estar comigo, cúmplice.

Justamente porque a vida quase nunca nos oferece nada de bandeja, é vulgar desconfiar de certos presentes. Não que estes possam ser envenenados, mas sim porque como já diz o ditado: “Quando a esmola é muita, o pobre desconfia“. S. seduz, mas não se deixa seduzir facilmente. É como uma selva africana: pode ser explorada, mas nunca domada, senão morre.

Posso estar baralhado e confuso. I. mostra sinais ambíguos, como se num momento quisesse que eu lhe fizesse a corte, como noutro mostrando-se enfastiada. Não necessito desses jogos imberbes de sedução. Não neste momento. Não na minha falta de discernimento actual.

Por isso deixo as portas abertas. Mesmo que a sensibilidade de C. mostre o seu desalento e ciúme. Nada me pode agrilhoar, neste momento. Não o posso deixar. Não posso me dar a esse luxo, mesmo que tenha que sofrer perdas graves. Por isso a minha solução é uma providência cautelar, um time out providencial neste momento.

As malas têm que ser feitas para os 17 dias e noites em que em que eu queimei o resto dos meus neurónios.

A contagem decrescente começou.

Adiar decisões é um defeito que me é apontado muitas vezes. Concordo inteiramente que muitas vezes não sou capaz de bater com o murro na mesa e impor uma vontade ou um desejo, optando e fazendo um escolha.
É sempre mais simples a adiar a decisão e congelar no tempo uma via, um caminho, para mais tarde o seguir.

No culminar de tempestades e bonanças que me rodeiam nestes últimos dois meses, fiquei perante demasiadas encruzilhadas para que o meu espirito indeciso e medroso se pudesse decidir por uma direcção a tomar. É como apanhar um taxi e tentar seguir do ponto A ao ponto B de uma grande metrópole, sem mapa ou indicação do destino.

Agora imaginem que não sei sequer qual o ponto para que me quero dirigir: podia ser também o ponto C, o D e também E.
Perdido é a palavra correcta para identificar onde estou, e para onde não sei se quero ir. Um dilema mórbido, repleto de pontos de interrogação, enquanto o taxista irado deixa o táximetro a contar, olhando-me de esguelha.

Neste momento estou num limbo. Ou talvez o desejasse estar. Sem a ampulheta a contar os grãos de areas que se esgotam, motivo preocupações e decisões apressadas.
Estaria no quarto vermelho, na esfera paralela dos medos de Twin Peaks, expiando as minhas magoas e paixões, soluçando sem parar e apenas aguardando o momento que o Bob Psicótico me libertasse.

– O meu braço direito fazia-me pecar e por isso peguei num machado e o cortei. – dir-me-ia.

Depois o anão segredaria-me ao ouvido:
– Mednerp et sale merdup es. Marepse e It de meir arara a e onacut o. Arap oan eugnas o sam oaratse satrela. Sahlocse sa ut que rarepse oav oan sale.

Num limbo até que tudo entrasse nos eixos e eu regressasse pleno de energia e alegria na alma.

Hoje tive um sonho muito estranho. Sonhei que S. tinha um blog, logo ela que apenas vive da sua pacatez muito espiritualista e misteriosa, longe das teknologias.
No sonho, S. revelava-me o endereço do seu blog, e foi logo visita-lo. Mas por incrível que pareça o meu browser não conseguia reter o bookmark e eu não conseguia decorar a URL.
Lí avidamente as entradas de um site muito minimalista, mas contendo um flash onde dois enxames de minusculos pixels negros em espiral colidiam e se separavam, como se fossem duas galáxias sempre em movimento paralelo. Eu estava demasiado entusiasmado para perceber o que continha, ou talvez estupidificado com o sorriso lindo e matreiro que S. me tentava ao meu lado.
Estava estasiado, mas também nervoso por ter receio de depois não conseguir voltar a ler o seu blog. E assim acabou, com S. sorrindo languidamente para mim.

É sem duvida um sonho muito neo-Freudiano, e talvez a sua interpretação seja muito simples. Talvez não.

Questionamo-nos sempre sobre os nossos actos. Um sentimento judaico-cristão incutido socialmente, onde a moral e os bons costumes se tornam a base da nossa cultura e civilização.
São conceitos básicos, que tomamos como princípios morais, mas que no fundo fazem parte de um conjunto de crenças religiosas se os autopsiarmos cientificamente.

Os remorsos, a esmola, a partilha, não fazem parte do homem com espécie animal, nem como indivíduo, mas sim como ser que se socializou e como tem que viver em comunidade tem que respeitar um padrão de condutas, senão essa comunidade não é funcional.
Os 10 mandamentos de Moisés, hermeticamente assimilados na Arca da Aliança são um sustentáculo de normas rígidas inflexíveis sem as quais não existiria a sociedade tal como o temos hoje. Escusado será dizer que matar é mau, tratar mal os pais é mau, por os cornos ao vizinho é mau, roubar é mau, mentir é mau, invejar os bens do vizinho é mau. Isso é uma base de comportamento social numa comunidade pacifica.

Mas a degeneração destes princípios simples que todos poderíamos aceitar para viver, sem violência animalesca, foram o longo de milhares de anos revistos e aumentados de forma a reduzir o nosso libre arbítrio.
Espartilham a consciência de forma a condicionar a nossa individualidade. Que bases tem as normativas da maior parte das religiões para catalogarem a Soberba, Avareza, Luxúria, Ira, Gula, Inveja e Preguiça como pecados? Interissincamente todo homem e mulher padece desses ditos males, e porque carga de água não gostaria eu de ser independente (Soberba), ter ambição (Avareza), ter sexo (luxúria), capacidade de me revoltar (Ira), gostar de um bom jantar (Gula) , desejar igualdade na repartição da riqueza ( Inveja) , ir de férias (Preguiça)???
Estarei a pecar? Não terei remorsos? Vou arder no Inferno?
Temos esses dados adquiridos, incutidos como pecados que nos devemos abstrair de fazer… uma vez que assim não seremos tão dependentes da sociedade comunal e por analogia da religião.
O mais estranho é que manifestamente, J.C. esse grande revolucionário, que mete no bolso, qualquer Che, apenas nos terá ditado um único mandamento:

Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

Com edições revistas e aumentadas dos seus ensinamentos, ao longo da Historia conseguiram muitas exagetas a soldo dos ”regimes” recuperar as tais normas socializantes e pseudo-moralisadoras, lendo em entre-linhas inexistentes, e incutindo nos analfabetos leituras que nunca existiram no Novo Testamento, ele próprio recortado e censurado nos temas mais picantes ou incómodos. Assim foi construída a nossa consciência civilizacional, moral e ética, baseada em costumes restritivos e normas de conduta: os pecados…
No Sábado, num jantar pantagruélico que se prolongou por cinco horas em casa de C., com demasiadas garrafas de tinto, rapidamente questionamo-nos se pecar, ou ser socialmente conveniente não seriam opostos. E decidimos que realmente éramos pecadores, ou pelo menos não éramos pessoas-carneiros.
Depois estava demasiadamente ofuscado mentalmente e foi ao Kitten @ Triplex, numa multidão esmagadora. Prometi a mim mesmo que não voltava a repetir a façanha… Afinal era um autentico pecado

É certo que a minha vivência deve parecer algo fútil ou demasiado relaxada para quem lê estes episódios psicóticos. Vulgarmente apenas o uso para desbobinar muitas frames, e takes de uma montagem estranha, de um documentário ainda mais estranho. Quase psicótico.

Se pensar bem, a realização é descontraída e quase vanguardista. Provavelmente o director de fotografia escolheu ângulos estranhos e segue a nova escola de câmaras em permanente movimento, ferindo a vista e enjoando ao assistência da como nos filmes do Lars Von Trier.

Mas o mais funesto é sem dúvida o argumento, baseado numa má adaptação e dum ponto de abordagem temático ziguezaguente, que está a transformar este documentário num intrincado conjunto de imagens amontoadas e desconexas.

Tal como a minha vida.

Hoje estou completamente exausto e o meu cérebro está a queixar-se veementemente. O meu estado e estilo de vida desde Fevereiro não é compatível com o meu emprego, nem com o meu corpo. Estou cansado e não vejo meio de as coisas mostrarem sinais de abrandamento.

As mazelas encontram-se por todo lado e apesar de eu estar a apostar numa dose de tortura diária de 30 minutos de grande intensidade na minha máquina de andas-mas-não-sais-do-sítio para recuperar a forma física.

Mas o problema não é o esforço, mas sim o efeito cavalo de corrida: uma vez deixando de trotar e começando a galopar, não se para. Vai-se em frente a toda a bolina.

Na semana passada N. bateu com o carro às 9 AM depois de nos termos despedido de mais uma noite que acabou no talho antigo. Os remorsos e ao mesmo tempo a sorte que teve de não ser abordado para bufar no balão, confundiram bastante as ideias de N. Acho que a operação Dead or Glory @ Vera Cruz promete. Pelo menos o Dr.P. continua a fazer directas e a atender os clientes no consultório sem ir à cama, após uma noite bem bebida. Como as minhas pilhas Duracell estão a ficar gastas talvez seja altura de pensr em comprar uma dessas recarreveis a ver se acompanho a pedalada…

Eram os anos da C. e tivemos um jantarzinho animado, mas demasiado frugal no Artes em Partes. A seguir fomos ao Triplex e mais uma vez prendi-me e perdi-me com a S. que mais uma vez me deixou de quatro, só me faltando uivar. Não consigo resistir aquele olhar, nem à poderosa excentricidade e fascinante personalidade de S. Creio que tudo mais não existe quando falamos.
No meio da confusão até deu para rever a G. e falar com o DJ Kitten, sempre simpático.

Felizmente, ou talvez infelizmente N. e C. lá me convenceram que era tarde e deixamos o Triplex. Fui imbecil em ir, pois seguiu-se a desgraça do costume até depois amanhecer, com C. a gritar-me perguntas desconfortáveis ao ouvido, que eu tentei esquivar-me gesticulando que não percebia, devido ao volume sonoro do talho. Muito inteligente sem dúvida…

Sábado foi a vez de I. e fomos jantar fora. Mais uma vez, eu, de forma muito coerente e inteligente, me deixei arrastar para longas conversas de lutos, típicos temas de conversa de moscas-mortas, e simultaneamente acompanhados de seduções ambíguas e flirt. Apesar da intimidade, um certo melódrama.

Estou em crer que as mulheres da minha geração, e que agora estão disponíveis, estão a passar por momentos de crise. Em geral há sempre um terrível nó naquelas cabecinhas, cheias de ansiedade, desalento por histórias de contos de fadas que correram mal, príncipes encantados que fugiram ou que se revelaram o verdadeiro lobo mau. Estou algo farto de ouvir estas histórias que apenas mudam de personagens, mas com o mesmo tipo de papeis.
É um erro de uma geração que está sempre a carpir o passado. Por isso eu gosto de ser um homem sem passado. Apenas vivendo o presente. Jantar e noitada anteontem, ontem, amanhã. Triplex hoje e amanhã? Talvez tenha mesmo que procurar outras gerações…

Antevejo um fim de semana brutal, ao estilo cavalo-de-corrida-bofes-de-fora, com uma noite do Clube Kitten @ Triplex sábado, e possivelmente uma secção de malabarismo a três bolas. Assim não me vou divertir muito… Estou perdido.
Talvez apenas apanhar um pifo monumental que me sirva de desculpa cobarde e adolescente.

Estou também perdido financeiramente. O meu Nokia afirma que durante os últimos trinta dias, somente 8:12:34 de Duração de todas as cham. .


Como diz N. “-Muito bom! Muito bom! Muito bom!

M. esse mestre, finalmente baptizou o seu lar na grande cidade com o sugestivo nome de Acampamento dos Lellos. M. e a graciosa K. estão a morar na mesma casa, como se trata-se de um realojamento do ninho familiar sem progenitores.
Mas ser-se Lello tem dessas coisas. Adaptar-se a novos ambientes, mesmo que isso se resuma a ter que partilhar com a sua irmã uma toca já escavada a custo, e em troca receber companhia e carinhos. Fico a agurdar o último episódio d´O acampamento dos Lellos.
Presumo que M. não me receba tão cedo, e muito menos me encaminhe para outros voos, que já há demasiado tempo estão marcados.

Mas o tempo de ser Lello não ajuda.
E todos os Lello são poetas.
Poetas com alma.

É difícil manter a serenidade ou o equilíbrio quando se está perante situações limites ou pelo menos não esperadas. Infelizmente é essa a minha história durante as últimas semanas, que já se acumulam em meses. Dir-se-ia que estava predestinado a ser um fim de Inverno e inicio de Primavera fulgurante e quase cruel para mim.

Tenho de facto perdido a calma e só às custas de algum auto-controle que me resta e de algumas horas de reflexão semanais é possível não ansiar por um Xanax ou um Prozac como forma de acalmar os ânimos. É difícil ser solicitado e solicitar alguém que se gosta, sem que as emoções sejam levadas ao extremo. Mas mais difícil é fazer isso em três frentes, sem saber para qual o nosso interesse vai com mais fulgor.

Mas mais difícil ainda é tentar não cair nas artimanhas do jogo, tentando ganhar tempo para ver para que lado pende o coração e as ideias. Fazer assim um malabarismo muito ao estilo de triplo-salto-mortal sem rede, nunca foi a minha maneira de ser.
Tento jogar limpo e fazer contorcionismos extremos para que nenhuma das três bolas caia ao chão, mas a tarefa é cada vez mais complicada, e sei no fundo que me arrisco a deixar cair as três bolas sem agarrar nenhuma.

Mas o mais difícil de tudo é não pensar nas três, é não tremer quando o telemóvel toca, é imaginar uma agenda algo pesada aos fins-de-semana, que acaba invariavelmente numa ou em duas noites de euforia, com uma pesada divida e cenas de ciúmes no dia seguinte.

Por isso abraço com grande satisfação a ideia que vou conseguir fugir por uns dias rumo à terra da Vera Cruz, só que infelizmente não me parece que consiga manter as bolas no ar até lá.

Estou baralhado e a minha mão está a ficar sem trunfos. Não me lembro se o Ás de copas já saiu e estou com o terno e a manilha de copas… e é a minha vez de jogar!

São tempos estranhos. Afinal de contas cheguei às três décadas, o que faz deste vosso amigo um excelentíssimo trintão. Dantes não me visualizava a completar essa data algo cruel e até demasiado velha, e ao passo que o meu aniversário se aproximava, dei por mim a dar uma espécie de grito dos 20. De forma inconsciente, ou quem sabe consciente, assumi uma postura muito ao estilo quero lá saber, quero é aproveitar.

Decididamente acho que estou numa fase muito positiva, e tal como os gauleses de Asterix só posso recear que o céu me caia na cabeça… Tenho que voltar a afirmar que existe um padrão muito próprio minha fugaz existência:

  • Ou está uma seca que transforma tudo num deserto ;
  • Ou cai um diluvio que mete tudo debaixo de água ;
Por isso deixo-me enredar na grande molha que me cai em cima…

O ritmo desenfreado que mantenho, pode não ser muito saudável, nem a maneira como tenho lidado com os enormes imbróglios e confusões afectivas, ou avalanches de paixões. Mas é um ritmo, é uma batida cardíaca acelerada do gosto de viver e de tentar aproveitar. Sem constrangimentos ou remorsos, responsavelmente mas não sem dúvidas ou erros.

O medo de errar foi sempre o meu maior fantasma, mas neste período coloco esse medo num sótão bafiento e abraço sem pudor todos os erros e asneiras, desde que faça aquilo que o meu coração e consciência me ditaram.

Sem histórias do passado, nem grandes planos para o futuro. Não é revendo o passado e focando os Ses e os não Ses que se pode usufruir do presente nem Viver com V grande. Igualmente, não é planeando uma enorme táctica a meses ou anos de distância que a nossa vida vai mudar ou evoluir. Afinal somos uns bichinhos tão ínfimos e dependentes de tantas variáveis e tantas influências poderosas, que nem sempre podemos tomar as rédeas do caminho que vamos seguir daqui a uns anos. Por isso o ideal é navegar com terra a vista, focando a costa e modificando e adaptando a nossa rota, sempre que o vento muda a sua direcção e o relevo da costa e as ondas nos ameaçam.

E sendo assim, serei em breve, também um Pedro Álvares Cabral. A ver vamos…

Esta minha fase de cavalo de corrida exige que eu não pare, mesmo que isso signifique que a exaustão me possa ser fatal.
No fim-de-semana passado as coisas tomaram proporções de corrida a galope desalmado, com três noites seguidas. Três jantares soberbos, dois deles nos meus dois restaurantes de eleição, em companhias brilhantes e até sedutoras. N. fez a mesma rota do bacalhau.

Mas a piece de resistence foi mesmo o Kitten no Triplex, ao qual não podia resistir a faltar.

O Clube Kitten permanece inqualificável e sedutor, continuando a ser a melhor noite do Porto, apesar de já estar a dar sinais de pura decadência em termos de ambiente. Há já algumas almas menos nobres que não podem desculpa quando nos pisam ou dão algum encontrão.
Apesar disso a música continua a ser perfeita e i núcleo duro do Clube Kitten encantador, as duas únicas razões porque se atura o sentimento claustrofobico minúsculo do Triplex.

Dividido em três frentes, em três noites o meu coração matraqueia pulsações desincopadas, e galopo desenfreado, pois afinal não posso parar e a meta ainda vem longe.

A poeira que se levanta da corrida é demora a assentar, e nestas condições nada melhor que os cavalos de corrida darem todo a seu galope para meterem o pescoço à frente da poeira. Afinal ninguém gosta de comer pó, ou deixar de ganhar o prémio 10 para 1 apostado anteriormente.

Por sinal, sabia que apesar do carnaval ter sido antes uma altura de deixar cair máscaras, seguido de um jantar russo na quarta-feira de cinzas com dois turbilhões femininos que me tomam de assalto, estava a precisar de uns momentos sem freios ou esporas.
N. que tal como eu está a fazer as duas voltas ao hipódromo, aderiu incondicionalmente a projecto de nos aventurarmos na grande cidade numa sexta, saindo directamente do trabalho.

E assim foi, como se construiu uma noite memorável digna de pertencer aos anais noctívagos dos bon vivants que somos, em termos de grandes momentos históricos.
A viajem começou bem, e rapidamente nos fizemos ao destino de um dos mais memoráveis jantares, um repasto digno de ser identificado como ambrosia de deuses. O arroz de pato do Tia Alice em Fátima era divinal, isto para não falar no Dão e nas sobremesas que deixam enormes saudades.

Depois fomos ao Até ao Fim na Marina da Expo onde o irmão de N. tem o seu estaminé, e nos obrigou a embutir non-stop num ambiente muito agradável e com bastantes conversas com nativos da grande cidade.

Taxí e aqui vamos, para não perder tempo. O DJ Kitten estava no seu posto elevado, algo distante ao que esta habituado, começou a trabalhar a casa lentamente, e os nativos começaram a aderir, muito embora se notasse que e o que mandava era a malta do norte, qual verdadeira escola de samba do Rio a mostrar como é que se samba no carnaval de Ovar.

Seguiram-se 6 horas de um dos mais fortes Club Kitten jamais vistos, tudo graças à excursão montada para o núcleo duro percorrer os 300 km. Dir-se-ia que o Lux foi invadido pelos incondicionais –

  • a menina da cabeleira cor-de-rosa,
  • as três estarolas: a loura, a ruiva (com que eu me passo) e a morena,
  • a namorada do kitten e amigas,
  • Designers muito, muito, muito muito…boas,
  • e claro, a brigada gay – ou o Gays´r´us;

…enfim malta com dress code eletro-trash, fiel desde o momento zero, e aquisições fanáticas como eu e o N. que apesar de não parecermos tão exagerados no fanatismo religioso do catolicismo do gira-discos do DJ Kitten, somos provavelmente os maiores gruppies pára-quedistas.

Gin após Gin a pista foi sempre da Invicta, no que eu considero um dos maiores sets de sempre. O Club Kitten levou ao rubro o Lux as 5, quando encheu e os nativos tentavam acompanhar. E lá para as 7 e muito, desapareceu sem se despedir, deixando logo a sala triste.

E rezam os conhecedores que nunca o staff do Lux parara para ver, de boca aberta o que se ouvia e dançava.

Estes tipos do Norte devem ser tolos…

Bom depois foi o pequeno almoço e recuperar o sono até às 6… Não sem antes N. gritar pelo Cacilheiro para o Barreiro e outras palavras de ordem, como Mouros, seus… .
Afinal um homem não é de ferro.