Kitten SB major upgrade Beta

Não me gosto de julgar ou fazer actos de contrição com frequência. Cada vez mais readquiro o gosto pelo carpe diem e sei que planear o nosso futuro com demasiados pormenores apenas nos pode proporcionar amargas e longas frustrações. Viver do passado ou de memórias, acaba por ser um mero inexistir.

O passado não devia condicionar em demasia o nosso presente, mas sendo ele tão forte e entranhado por vezes é complexo o enxotar dos nossos pensamentos e acções presentes. Sem ser condicionante, sem ser motivo de remorsos e outras fraquezas, apenas deve servir de biblioteca de consulta e não de lei. Não é que acredite em fazer tábua rasa do que ficou para trás. Isso nunca se consegue fazer, e até é perigoso. Mas viver de face ao futuro e de costas para o passado é a direcção certa. A única a meu ver que nos faz apreciar a vida.
A cada momento e que nos enche. Por isso prefiro deglutir o presente.

E nada como uma festa do Clube Kitten no Sá da Bandeira para festejar o presente, ignorar o passado, e aguardar o futuro sem ânsias. É o prazer de celebrar momento. Apenas isso.
E que presente foi!!! M. parecia o representante da P.J. do meio e pareceu aderir. N. estava imparável apesar de trabalhar às 11, aguentou-se estoicamente até as 5 e 30 dançando freneticamente. Fazemos uma dupla que envergoria qualquer adolesceste. Até o doutor P. veio aguentar-se e pagar uma rodada de Gins. Apesar de me terem dado um toque nos 130 cavalos umas horas foi suberbo e ganhei a noite. Só faltou I., pois tinha que estudar.

As festas do Club Kitten atingiram a celebridade rapidamente. Nunca imaginei que em Março de 2002, quando pela primeira vez fiquei fascinado pela forma como se desenrolavam as noites do Triplex com um DJ portuense, que já marcara presença em Londres.
Eu já o tinha visto um par de vezes na Matéria Prima e J. contara-me que aquelas festas eram de arromba com música electro-eighties e com mulherio do melhor tudo aos pulos.

Experimentei e adorei.

Voltei a repetir e fiquei fã.

À terceira já não podia passar sem aquela noite mensal, apesar das longas horas de dança, muitos Gins e completa euforia. Já me viciara em Kitten, e já queria fazer umas T-shirt alusivas – com inscrições do género DJ Kitten fan club.

Contudo, tudo que é bom não dura sempre, como costumo dizer. O Kitten no tripl3x tornou-se rapidamente vítima do seu próprio sucesso. Para além da fauna e flora residente e incondicional (estilo belas artes, conservatório, audiofilos e esse meio), começaram a chegar os betos, pessoas-carneiros, pistoleiros e pistoleiras e todo esse género de gente que sai a noite para onde estiver a disco mais cheia. Até as meninas da NTV foram entrevistar este movimento não alinhado da noite da minha cidade.
Como resultado de toda esta procura, Kitten limitou-se a explorar a velha fórmula e a cativar sem provocar, mesmo dando de vez em quando temas fantásticos, como se oferecesse pérolas a porcos.

E a casa cada vez mais cheia. Já enchia às 2 e meia, à 1 e meia já não se podia andar, mesmo de Verão, com os jardins à pinha. O colossal acontecimento era já um happening, e quem é habitue não consegue faltar, apesar de saber que esta insuportavelmente cheio de gente até às sete da matina e que as colunas já estão completamente queimadas, após 45 minutos de débito frenético de kitten.
Depois surgiu a melhor fórmula. Está cheio? Muda-se para um sitio maior! Onde? Os idiotas do talho (leia-se Via Rápida) experimentaram mas não gostaram da música… tipicamente de parolos, como é óbvio daqueles bonecos e bonecas todos com muita areia na cabeça e um belo guarda-roupa. Pérolas a porcos? Sem dúvida.

Nada como achar um local descomprometido. O Sá da Bandeira passa filmes Hard Core e de vez em quando, até dá lá para fazer uns concertos: afinal o teatro está todo arrebentado e parece ter parado algures em 1954. Tem passadeiras vermelhas e tudo. Muito underground-trash style. Era a cara do kitten! Remédio santo.
A potência e o espirito brilhante do ímpeto inicial revivem. Kitten Gold!

Esta minha terceira ida ao Kitten Club prezou-se por uma viagem a esse espirito, com muitas pitadas e revivalismo e gente da minha era a curtir desenfreada até às tantas. Mesmo já com penetras, entusiastas de circunstância e outras coisas indefiníveis, não conseguem destruir a tolerância e festa brava que bombeiam a alegria da festa. G. e os seus guppies, malta da Portucalense anterior a mim e caloiras que praxei, muitos trintões meus conhecidos, amigos e amigas de longa data que já não revia em lugar algum. Dir-se-ia que se mergulha no passado, num presente sem preocupações no futuro. É carpe diem no seu mais belo fulgor e com gente deixando-se viajar nas emoções do momento.

Viva la vita!

Eu não conhecia a culinária indiana e julgava que todos aqueles condimentos seriam demasiadamente exóticos e picantes para que eu pudesse ficar saciado, ou pelo menos não agoniado após uma refeição.
Puro engano! Afinal os pratos indianos não são só picantes, mas também ricos em sabores aromas sem que haja um desequilibra por dar ao nosso paladar 3 ou 4 especiarias em simultâneo.
Ju. convenceu-nos a experimentar, mesmo sabendo que em geral estes restaurantes exibem preços exorbitantes. Tal não foi o caso, e acabou por ser um serão muito agradável, com uma conversa amena enquanto nos deliciávamos com Chicken Kashmir e outras preciosidades gustativas. Fiquei cliente.
A semana que se seguiu foi depressiva e bastantes stressante. Julgo que o meu bio-ritmo deve ter batido num fosso profundo nesses dias.

N. fez como as ”andorinhas”. Ao antecipar a chegada do frio e bateu assas e migrou para um país quente tropical. Nada menos nada mais que o país tropical. Quando cá os termómetros batiam no zero ele aproveitava um Rio 40 graus, com a malta bacana.

Como eu, ele também sentiu a indiscritível alegria de viver na pela, algo de intraduzível por palavras que nos contagia mal pousamos pé na Terra da Vera Cruz. Parece estranho, mas uma espécie de energia positiva envolve qualquer europeu que não seja uma anta, mostrando-lhe algo que nunca sentiu antes.
Acho que li algures que o Brasil estava empregando espiritualidade, sobe a religiosidade católica europeia, misturado com o candomblé de raízes africanas, com pitadas de pajés índios devotos à natureza, e encimados por o espiritismo e muita new age para dar paladar. Não é só o calor, ou a luz que fascinam os turistas, e também a aura do vasto continente da Ordem e Progresso que irradia e contagia força espiritual.
N. veio fascinando, alegre, forte. Deixou, como eu há uns longos anos, de ser um tristonho europeu. É já um bagabundo do mundo. Quer voltar. Como eu…

We saw the light

As suas aventuras fizeram-me lembrar as minhas paixões… as mulatinhas, a euforia, o carpe diem brasuca.
Estou apaixonado de novo e não posso deixar muito tempo até rever esse amor tão lindo.
Necessito de carregar minhas forças,
meus pulmões necessitam de tem bafo de vida,
meus olhos precisam de tua beleza…

Chuva e mais chuva, vento e frio. Frio, com frio vento e chuva.
Este ano, prometi a mim próprio que ia tentar evitar um dos meus defeitos sacramentais: os queixumes. Apesar de não o ter comprido à risca não quer dizer que tenha abandonado essa decisão de passagem de ano. Afinal ortodoxias dão sempre mau resultado. Portanto: Nada de queixumes, lamurias, lamentações doravante!

É bom estimular as nossas células cinzentas, apreciar um pouco de cultura e partilhar conhecimentos. Com I. e Ju isso é sempre um processo garantido e simultâneo usufruir de um gosto pelo bom humor. As nossas referências da tenra idade são muito semelhantes, passamos por fazes da vida muito semelhantes e cria-se uma certa empatia mútua.

Ver “Esquece tudo o que te disse” foi provavelmente a melhor surpresa das últimos anos. Nunca imaginei que um filme português pudesse escapar a mediania e a sentir que apesar dos actores estarem a falar português, não faltava no ecrã as legendas para puder compreender as deixas das cenas. Mas o filme de António Ferreira é forte e os actores brilhantes são bem dirigidos. O filme é solido e é invulgarmente bom – algo de muito estranho para um filme lusitano. E que actriz. Bastante interessante a banda sonora, sobre o auspicio dos Azembla´s Quartet.

Lazer e Saber – I

Tenho reconquistado o meu gosto pelo bom cinema. Actualmente na minha cidade só praticamente só as salas de cinema com a distribuição da Medeia Filmes, apresentam películas não destinadas a comedores de pipocas.

Na extraordinária companhia da adorável I. e simpatiquíssima Ju. tive o privilegio de atender à Intervenção Divina de Elia Suleiman, um filme palestiniano que muito me surpreendeu pela sua acutilância, não no sentido político, mas sim social e humano, da miséria actual que se vive na Palestina e em Israel. O filme fabrica uma enorme parábola e alguns gags brilhantes, que apesar de não serem hilariantes, focam o tom de comédia da situação surrealista dos territórios ocupados, dos controlos fronteiriços, e da vontade de amar uma nação que não existe. Pictórico, mas não inacessível, chegando a ser envolvente no seu carisma da irrealidade que é a realidade palestina. A cena do balão Arafat, os fumadores nos cuidados intensivos e a óbvia panela de pressão com que o filme se despede, deixam uma mensagem profunda, não de vingança mas de pedido de justiça e hino ao amor. Música brilhante.

Nesse sábado éramos para ir ao kitten no Tripl3x, após uma óptima moqueca de camarão no Óxala, mas a visão dantesca de ter as escadarias da porta com 500.000 pessoas acotovelando-se para entrar. Isso facilmente nos fez mudar de ideias…

O plano B foi uma ida ao chic, um talho 2 versão upgrade, revisto e aumentado. Muito chic de facto, mas péssima música e tudo arranjadinho, tipo “vê mas não mexe”, a abarrotar com milhares de pessoas. Mesmo assim não largamos borboto como aconteceria na festa do kitten no cubículo do TriplEx. Claro que os conhecimentos da Ju., fizeram-nos entrar pela porta VIP, apesar de parecermos rotos ao lado daquela gente chic. A companhia foi muito boa, e já estávamos a ficar com os copos graças a umas quantas unhas oferecidas pela casa… E vai, não vai, até se falou na nossa idade, pouco recomendável para aquelas andanças, claro sinal inequívoco que a nossa circulação alcoólica tinha pouco sangue… e que dentro em breve o sol de domingo iria despontar.

de Londres ao Artes em Partes

Por LUÍS OCTÁVIO COSTA
Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2003

Assim nasceram os fenómenos chamados Club Kitten e Super Cock. A desbunda começou num sítio no meio do nada, em Londres, e instalou-se no Porto. Epicentros: Triplex, Aniki-Bobó ou uma sala que já aplaudiu a revista e que ainda alberga “hard-core”.

London Guildhall University

O “rewind” pára invariavelmente no ano de 1996, no número 2 de Goulston Street. A porta dava para a London Guildhall University, em plena East London. “Um sítio no meio do nada”, garante João Vieira, que aproveitou a extravagância do seu nome para garantir um emprego em part-time. A associação de estudantes estava à mão. Como gastava tudo o que tinha em discos, fez-se dj. “Propus ao responsável pelo espaço um ‘club’ semanal. Disse que era dj. Não era, menti”, confessa. Mas em dois minutos, apontou um “set” de vinte músicas suficientemente interessante para convencer quem tinha que convencer. “Pouco dinheiro, muita imaginação”. E a receita manteve-se no Club. Roupas super-produzidas tipo punk-glam-rock, ainda que compradas quase ao quilo. Daí a etiqueta “charity-shop trash look”, daí o estilo sem regras, a roçar o escandaloso, de um simples bar de associação.

Aniki-Bobó

Farto de pertencer à classe espectador, Rodrigo Affreixo resolveu sacudir há meia dúzia de anos o pó de alguns quilos de discos religiosamente amontoados na sala. Um início “tardio”, admite. A cobaia, o Aniki-Bobó, espaço colocado na margem direita do Douro, cenário do filme de Oliveira. Aí, mágica não era a fórmula que, entre crianças, permite determinar quem é polícia e quem é ladrão, mas os contornos de um bar encoberto com tiques delicados. “Perfeito: tinha um bocadinho do espírito da mistura de coisas actuais com coisa antigas”. O cocktail serviu para cruzar estilos nas festas “Anos 80” e avançar para as combinações de música negra, “Chocolate Preto”. Também foi por aqui que nasceu o embrião das Super Cock: a primeira compilação de música portuguesa aconteceu no dia 25 de Abril de 1998.

Triplex

Em plena Avenida da Boavista, foi o epicentro do fenómeno. “É como se fosse a casa de alguém. E o ambiente, o de uma festa particular”, resume João Vieira, que chegou a ponderar o Labirintho como primeira hipótese para a primeira residência Kitten no Porto. “Mas já tinha os seus clientes e o Triplex estava mais pobrezinho”, justifica. Ou “demasiado trintão”, completa Affreixo, responsável pela segunda demão no colorido algo acizentado do Triplex. A moda Kitten pegou de estaca. “Não é um ambiente de discoteca, onde, a par do copo de whisky, aparece a top model contratada para dar ar à casa. As idades (dos 18 aos 40) misturam-se e tudo se aceita, nada choca”. A variante militante “São Cravos Senhor” foi retocada – passou a “Super Cock” -, perdeu o ingrediente “revolução” pelo caminho e também causou boa impressão.

Teatro Sá da Bandeira

O Triplex estava a rebentar pelas costuras. Uns queixavam-se, outros preferiam estar lá em pontas de pés. Nem que “o Kitten” tivesse um cubículo de um metro quadrado e os pratos pousados nos joelhos. Faltava “sítio para dançar” e até “espaço para se mexer”; sobrava “barulho para os vizinhos”, apesar de o som do Triplex ser “de bar”. A passagem para o Sá da Bandeira evitou que se perdesse o espírito das “festas dançáveis”, sublinha Rodrigo Affreixo. Foi o dois em um: profissionalizou-se o som e submeteram-se caras novas à apreciação de um público fiel. “É uma oportunidade para divulgar novas bandas que por si só não viriam cá porque não são conhecidas e não enchem salas. Com mil e tal pessoas já se pode arriscar”, explica João Vieira, que também não queria aparecer sozinho. “Seria um pouco arrogante, até”. Encontrou “um espaço vazio, pouco explorado, com um elemento ‘trash'”. Outros requerimentos: “Não queria uma discoteca onde se misturasse o público Nova Era, não queria uma caixa, um armazém”. “Um pouco a reboque do Kitten”, como o próprio admite, Affreixo sentia-se em casa. A decadência de uma sala que já aplaudiu o teatro de revista de Eugénio Salvador, Raúl Solnado e Ivone Silva e que ainda alberga sessões de cinema “hard-core” vinha a calhar.

Artes em Partes

Do rés-do-chão ao segunda andar, duas lojas do edifício Artes em Partes, na singular rua Miguel Bombarda, têm sido as mais recentes fontes de vinil, a par das colecções privadas. Rodrigo e João costumam cruzar-se por lá. O primeiro passa pela Feira da Vandoma, corre lojas caducas e sobe mais degraus do Artes em Partes para vasculhar a Musak e regressar a casa com um ou outro vinil usado. No capítulo da apanha, a tarefa de João Vieira é mais preguiçosa. “Na Matéria Prima só pergunto: ‘O que é que há para mim?’ E passo a tarde a ouvir discos”.

Saltar o ano, não é propriamente um acto feliz em si. Geralmente fazem-se algumas contabilidades, e coloca-se na balança tudo que se abateu de positivo e negativo nas nossas vidas e por vezes o fiel da balança pode tender para o lado que não gostamos tanto.
Mas mais que pesar o ano, e uma altura de selar arquivos e meter um ponto final em muitos imbróglios que nos perseguiram durante os últimos 365 dias. Acho que eu prefiro usar sempre a mentalidade de que cada ano é uma nova etapa da nossa vida e que usamos o marco das 23:59:59 de 31/12 para fazer um pulo mental, e enterrar tristezas passadas. Passado é passado, agora é só para a frente, rumo ao futuro.
Este método de arrancar a folha do calendário e o queimar totalmente ajuda a nossa higiene mental. Nada de ser carpideira choramingona com toda a sujidade levantada, e sem olhar para trás pensar antes na rota a seguir no novo calendário.

Mas antes de acabar em grande 2002, o ano de todas as capicuas, nada melhor que uma ida até a triste Vigo, que apesar de pesarosa, revoltada e irada, empunhando o “Nunca Mais” por tudo que é canto. M. estava na grande cidade e não deu para atender à nossa escapadela não programada, com o A. e J..
Mas havia algumas coisas mudadas, em especial o mítico Hostal Categoria, que estava fechado para remodelação(?!?!). Fez-me bem levar um último banho do ano, muito embora J. se tenha furtado à noitada. Coisas de iô-iô… É pena saber que J. está a perder o Norte e não quer ver a bússola. A. já veterano nestas andanças é que me acompanhou. Depois foi uma injecção de Senhor dos Anéis de rajada que soube pela vida.

E 31 lá fui rever o lello-mor à grande cidade para uma passagem de ano singela, mas marcante.

Pouca-terra, Pouca-terra, Pouca-terra… Cantanhede !

Na época natalícia que passou não posso afirmar que foi uma época muito especial e repleta de felicidade. Mas não se trata de finalmente ter descoberto que o Pai Natal é uma grande patranha e que quem o vestiu e promoveu como ícone desta altura do ano tão especial foi a Coca-Cola Company. Provavelmente a MacDonalds, ainda não existia na altura, senão poderíamos ter os palhaço Ronald a descer pelas chaminés dos meninos em todo o mundo para distribuir presentes e os patéticos oh-oh-ohsss.

Mas não odeio o estilizado velhinho barbudo (que pode até estar relacionado com o escandalo da Casa Pia), nem as suas renas amestradas e o resto do freak show que inclui duendes no Circo do Pólo Norte. A tenda é outra e não posso defender que o Equinócio de Inverno não me afecta. Nota-se o calor humano, o reencontro de famílias e amigos, a palavra da paz e esperança transbordam e espalham-se pelo povo católico.
Há sempre uma esperança, mas que é transporcada e estripada pelo consumismo desenfreado e pelos seus apelos circunstanciais, as solicitações de última hora.

As prendas, as prendas, as prendas e mais prendas. Os $ifrões, os $ifrões, os $ifrões e mais $ifrões. As compras, as compras, as compras e mais compras.
Parece que tudo se resumiu a isso. E nada como pensar desta maneira algo lúcida para se mergulhar numa revolta contida numa apatia invernal. Venha o próximo s.f.f. Em Novembro de 2003 temos mais.

Mas a canção do Natal não tinha apenas uma letra que falava de misérias humanas.
Houve um ou outro verso que fugia ao refrão. Deram-se dois grandes jantares da praxe, com amigos que estão muitas vezes perto do coração mas longe da vista. A um deses jantares tive o infortúnio de calhar no mesmo dia que a D.Deolinda faz anos, o que me fez chegar só para a sessão de anedotas. O outro foi uma orgia digna do deus Baco. Dizem as crónicas que ele agora anda disfaçado de menino Jesus e os três Reis Magos são as concorrentes a Miss Playboy Portugal… N. até consegui embater nos 130 cavalos ao sair da garagem da vivenda, que obrigatoriamente o inspector P. e Q. queriam investigar.
Era preciso ver que já tinham sido 6 botelhas e as meninas tinham um bilhete a avisar que chegavam só às 4 da matina. Escusado será dizer que estive mais morto que vivo no dia seguinte no escritório.

Depois o Nokia começou a tocar, a apitar. Parecia parvo, debitando telefonemas e SMS´s a torto e a direito de old friends, alguns deles que até já não tinha contacto. Ví-me a dar cabo do meu saldo também. Era a febre que eu também adiro com facilidade. E também ví o meu irmãozito depois de uma longa ausência sem dizer água vai. Como é costume fez umas borradas e tem as suas crises de consciência, saindo da sua Cuba adoptiva para regressar a República por uns dias. Foi uma boa prenda de Natal! E as mensagens das gajas também! Especialmente de…

E depois, o ano aproxima-se do fim. Mas isso é uma outra história.

Ano novo … vida nova

Ano novo … vida nova e cara lavada. Faz bem mudar sempre que tenhamos uma nesga de tempo!…

Questiono-me se perdi a capacidade de escrever um par de frases interessantes. Na minha adolescência fervilhava de ímpetos que só eram refreados com um caneta de tinta permanente e uma folha de papel nívea e espessa. A caneta deslizava velozmente desenfreada e incólume a qualquer interferência externa. Á luz de um candeeiro, a avançadas horas da noite, o fulgor da alma lançava lufadas de palavras sinceras e íntimas, cheias de secretismo e magia.

Hoje, a minha capacidade de escritor desenfreado da noite está quase extinto. Já não ouço a musa, e as veias estão murchas, enquanto matraqueio um teclado gasto. Os ímpetos permanecem, só que esbatidos num nevoeiro serrado de mente cansada, e alma esquecida de como vomitar as ânsias do intimo. As tripas do nosso inconsciente estão amansadas por uma dieta rigorosa, na imagem que seguimos de normalidade.

Se na adolescência alimentava o secreto desejo de produzir poesia ou prosa literária que seria reconhecida, e qui çà, tornar-me um escritor famoso, pelo qual o instinto feminino se derretesse e idolatrasse o chão que eu pisaria. Mas o destino e o fado não o permitiram e condenaram-me ao esquecimento da banalidade dos leigos.

Recordo como se fosse hoje o dia turvo que queimei de impulso todas aquelas folhas já amarelecidas que se esbateram em chamas e fumo. Mais tarde julguei ter sido um mero sonho ou ilusão, e que a “Fênix Renascida” , “Mergulhando no Mar Absurdo”, “Doce terna adormecida”, “Sangue derramado” iam estar ao alcance da minha mão. Erro meu. Estavam mortas, reduzidas a pó e na minha memória só restavam cinzas de um subproduto disforme de noites de vigília.

Foram-se de vez, mas contudo descansam em paz, protegidos do meu revivalismo.
E quem sabe talvez a veia apesar de murcha ainda não secou totalmente. E tal como o mito da Fênix, renasça das suas próprias cinzas, ao contrário dos pelicanos côr-de-fogo.

Há muito anunciado, o fim do Passado, parece que finalmente se está a desenrolar. Digo finalmente, não que desejasse o enterro do Passado, ou o seu fecho, mas sim pelo alivio de ver o fim de uma agonia prolongada e arrastada, que tantas vitimas inocentes fez…

Passado é Passado, e não há necessidade de chorar por tempos idos. Para além de já ter exorcizado há muitos dos meus pesadelos o sapo-boi, (essa Hidra que todos que alguma vez se cruzaram com ela, a odeiam sem excepção por ser um ser vil, interesseiro e mais enganador e traiçoeiro que Judas Iscariotes) a sua morte anunciada há mais de um ano, apenas tarda de tão inexorável que é…

Espero é que a menina dos meus olhos – a d. – sobreviva, em outros moldes e que não seja esquecida ou fique pausada no tempo.

Imagem do  Passado   - R. I. P

Não vale a pena negar.

A vida é uma constante mutação inexorável. O nosso corpo envelhece logo a seguir ao primeiro berro após o parto. A nossa mente e consciência cresçam sempre até ser incapaz de funcionar. É isso. As coisas mudaram bastante na outra semana. O céu não desabou, nem foi preciso lançar os botes salva-vidas, mas a estabilidade quotidiana foi ligeiramente retorcida . Há um par de desvios por motivos de obras no meu dia-a-dia. Os semáforos não estão sincronizados e alguém deixou o carro mal estacionado a dificultar o trânsito. Gasto mais tempo para lá chegar.

Ch. Fazia anos e estive com ele no Sábado. Foi bom rever Ch. e JB. . Apesar de estarem na grande cidade, mantêm uma relação interessante com a minha cidade, e mantêm-se genuínos. Ch. continua a ter uma graça cáustica e a ser um bon vivant e enfant terrible .

E então veio Kitten. – Kitten chegou a uma espécie de estrelato, dominando o underground da cidade. O seu nome bastou para encher o Sá da Bandeira até às 8 da manhã e mesmo não tendo condições nenhumas, a plateia abanava ao ritmo da dança made or inspired in the 80’s. É já uma figura de culto e a produção Hollywoodesca em palco e a sua presença deitaram a casa abaixo. N. ainda teve um cheirinho amargo pois tinha que trabalhar dia seguinte. E Ch. parece ter-se rendido ao Kitten Fan(ky) Club.

Mas a chuva carrega melancolia e o frio a apatia. Os últimos dias são mais lentos a passar e não me apetece fazer nada. O Inverno geralmente tem o dom de me aborrecer e deprimir.
Preciso de novos horizontes urgentemente. Quem sabe N. me endromine uma viagem ao Brasil. Faz 5 anos que lá não vou, e fazia-me falta de voltar a estar empregnado naquele espirito e energia forte.
E mulatas! Miham – miham…
Quem sabe…

Estou cada vez mais amante da arte de antever o que vai na alma das pessoas. Dantes era algo que me passava totalmente ao lado: talvez porque não parava para ver com atenção as pessoas que me rodeiam. Ou talvez porque era muito novo e sem a serenidade que ouvir a voz interior dos outros obriga. Ou simplesmente não confiava nas minhas intuições…

Mas no último ano ouço a voz silenciosa e rápida do coração com mais intensidade. A intuição aumenta a cada vez que lhe prestamos atenção e não a questionamos sobe um prisma lógico.

As pessoas, as emoções e as circunstâncias nunca obedecem a equações matemáticas. O que é apenas verdadeiro/falso, sim/não, positivo/negativo nas nossas vidas, sem ter uma zona cinzenta de meia verdade, de nim, de neutro? Logo a lógica é apenas circunstancial e com atenuantes para os mortais…

Sem questionar, percebo melhor as pessoas, quer as suas qualidades menos aparentes, quer os seus pequenos defeitos. Noto mais as suas inocentes mentiras circunstanciais, quer as mais fabricadas e sustentadas novelas.

Mas algo não abdico de fazer: – dou benefício da dúvida, partindo do princípio que não se conhece essa alma. Mas agora as minhas antenas acertam muito mais.

Só é pena o radar se enganar um bocadinho quando aponta a algumas mulheres interessantes. São interferências da libido…

A semana passada começou muito triste. Soube que o Lello ia voltar a ser Lello, que a cunhada de J. morrera, que N. está a atravessar um momento de desamparo e esta sem rumo. A. também não tem muita sorte…

Só desgraças, e para piorar só mesmo os intrincados problemas para resolver no trabalho.

Mas o universo é feito de equilíbrios sóbrios e inexplicáveis. A balança da existência sucede inequivocamente equilibrada se pararmos para pensar. Só que esse equilíbrio surge a outros níveis e na nossa miudeza não as apercebemos. Afinal Lello-mor vai para uma situação melhor, por exemplo. O seu benefício talvez seja muito superior, nalguns aspectos e inferior noutros equilibrando-se.

Eu também abracei a notícia de que a empresa que trabalho e a melhor PME do ramo, segundo a revista Exame. Um prémio salutar.
E G. voltou para dar alguma pimenta à minha existência. Afinal não foram só derrotas. Foram também vitórias.

E o fim-de-semana foi muito melhor… mas isso é outra história…

Fica para mais tarde…

Já tinha sentido que a força centrifugadora e trituradora da grande cidade me ia atormentar. Como num fascínio constante, como algo de irresistível, mas que sabe de muito perverso e perigoso. A grande cidade é um inimigo latente que sorri e seduz a cada instante.

O lello-mor revive o seu karma e decidiu juntar os trapos para seguir viagem à grande cidade, terra de oportunidades que na minha cidade lhe são veladas. Buscar emprego não está fácil neste dias de depressão económica, (se não é que seja estrutural no nosso país) e como é tal um homem tem que sujeitar.

Para ser franco não tem que ser um drama, mas eu sei bem o que custa fazer tábua rasa do nosso território, do nosso circulo e do nosso cantinho em que se tem os pés assentes no chão. É piegas, custa a abandonar, eu sei.
Mas só evoluímos quando tomamos decisões e avançamos, nem que seja a custo, ou a ferro e fogo. A vontade de mudar e abrir novas opções, novos caminhos por percorrer, mas principalmente encontrar novos horizontes abre-nos a consciência. É a passagem do televisor a preto e branco da vida para uma Stereo Nikam. É como levar com Full Stereo Dolby Souround quando se está habituado ao rádio a pilhas do relato. É como um reclame da Old Spice após um filme do Manuel de Oliveira. Há o contraste que alarga os tais horizonte e potência a nossa alma, liberta a nossa consciência de impurezas e que em suma nos faz viver ao contrario das pessoas-carneiros.

Abandonamos o rebanho de tempos a tempos para ser raposas errantes em busca da nossa subsistência, nem que para isso tenhamos que atravessar o deserto. Enquanto o rebanho defina, a raposa deambula, come o pão que o diabo amassou, mas cresce e faz-se esperta e autónoma e forte. E é livre.

Ser-se Lello é dificil. A raça gitana é amaldicioda, proscrita e tantas vezes maltratada. Contudo é livre. Livre de fazer, de pensar, de agir. E tudo porque não tem nada a perder. Nem propriedade, nem casa. Apenas respeita os seus iguais. Os outros são os gajos. As pessoas-carneiros.

Coragem Lello-Mor. !

Lello amigo,
o povo está contigo!

Após uma semana de trabalho sem vida própria, esta carcaça velha estava numa de espantar os maus espíritos. Halloween como os anglo-saxónicos lhe chamam…

Por cá a noite das bruxas acaba por ser uma festa recentemente descoberta, com mais carisma wicca que tradição propriamente dita.

Usando um pouco de imaginação, e dando largas à fantasia, eu, M. e A. resolvemos embarcar numa das nossas fantasias preferidas. É verdade!

Feticismo ou não, o imaginário romântico (sec. XVIII) misturado com a sub-cultura vampiresca tem uma estética muito singular de um teor erótico algo estranho mas intenso. E eis-me num bar gótico na festa de Haloween!

Bizarro ou não, os meus olhos deglutiam avidamente aquelas criaturas pálidas, aquelas jovens com ar frágil mas simultaneamente perversamente poderoso e irresistível. O negro largo contrastando com decotes reveladores de zonas níveas. Aqueles pescoços circundados por faixas negras, dois quais nunca consigo desviar o olhar… As sombras negras realçando um olhar penetrante e algo demente…

A libido efervescente numa estética definitivamente fetichista ma non tropo….

A música fazia juiz ao clima e adensava o enredo, passando por alguns locais comuns da minha juventude como Sisters of Mercy, Mission, par citar os mais emblemáticos e kitch dessa vanguarda gótica. Mas havia lugar para sons mais elaborados, chegando mesmo a baixar até ao euro-dance.

Gostei, quero mais!

Vou demorar a recuperar dos exageros festivo-gastronómicos para que fui requisitado durante o fim-de-semana passado

A gula será sem dúvida um pecado muito praticado nos tempos que passam. Acho que a cultura portuguesa sempre foi alicerçada nuns bons comes-e-bebes, tainadas, e vinhaça, mas ultimamente torna-se moda ir mais além… Não que eu me queixe, pois também sou um grande pecador…

MEA CULPA

N. fez anos. Como grande co-mentor do clube gurmet, seria uma irresponsabilidade não fazer um pequeno jantarzinho num dos melhores restaurantes da cidade. A Jo., fofa I., alegre A., loira J. eu, X., e P. tivemos um jantar excepcional, que se não fosse o adiantado da hora e o meu cansaço por uma horrorosa sexta de trabalho duplo, teria ficado nos anais…

Mas a piece de resistence seria o casamento no Sábado do R. e da lisboeta Amelia. J. , M, mais Ma. e a futura, também atenderam à chamada. A boda foi soberba após uma cerimonia bem bonita.

O meu caro amigo “Jonas”, com o qual fiz muitas noitadas estudantis e férias galegas, um louco Don Ruan (nem sempre bem sucedido), era o responsável pelo magnifico copo-de-áqua.

“Jonas” montou um estaminé de catering para bodas. Para ser franco há dois anos atrás, não iria imaginar que aquele complicado louco, muito histérico e amigo de proezas noctívagas indescritíveis, fosse capaz de montar um negócio com tanto sucesso – e diga-se de passagem – com tanta classe. Não que duvidasse da capacidade ou empenho do “Jonas”, mas sim se teria uma oportunidade do destino. E parece que realmente tem uma nova e boa estrelinha!

As estrelinhas do destino somos nós que criamos… As positivas ou negativas. A questão é saber como alcançar aquela que queremos que nos marque a vida.

O M. lá andou a babar-se por uma alfacinha e lá deu uma…
De dom Ruanito, enquanto eu e o J. nos pisgamos da Quinta de S. António para mais umas deambulações…

E o resto foi o cabo dos trabalhos…