amor

A lua cheia tem a fama de desencadear a maldição da metamorfose do Lobisomem. Algo de místico faz com que os pobres amaldiçoados se transformem em feras aterradoras.

Acho que eu tenho umas moléculas de lupus. Esta lua cheia pouco me faltou para uivar, algo desvairado na noite. Quase como um animal maldito.

Num processo de reestruturação da matriz cerebral, a alma regenera-se lentamente. Possuir a obstinação é quase sempre a forma de seguir a raiva, o lado negro da vida. É um encurtar de caminhos, onde facilmente se cai em ilusões de grandeza, onde o individualismo cego é sentido como se fosse espiritualismo.

Regenero-me lentamente, e apago a feridas dos desgostos ilusórios e da ausência de discernimento. Amadureço nas minhas convicções, mas nunca as tenho como dogmas sagrados, mas sim como um processo de iluminação.A fé é sempre importante, mas da mesma forma, a fé que liberta e dá força, a mesma também pode cegar. Cega, trás o fanatismo acéfalo do mal, como a inquisição, o medo do demo e afins típicos das seitas religiosas, ou até das principais religiões.

Tudo isso também pode ser um caminho que nos leva à perdição, por arrasto num rebanho de crentes que estavam perdidos à espera de serem salvos pelo ”guru” mais próximo.Foi nessa a ilusão onde me vi envolvido, quebrando etapas e subindo degraus inseguros. Acreditando cegamente numa luz brilhante que não era real, mas sim uma malha de mentiras. Hoje tenho plena consciência que não é construindo baralhos de cartas espirituais, que a nossa alma pode conseguir atingir uma evolução ou melhoria.

A força e a devoção não se criam sobre alicerces frágeis. É necessário perseguir o bem e a verdade, não para nós mesmos, como para os outros, passo após passo, tombo após tombo. Só assim veremos um equilíbrio que nos apresenta alguma luz. A nossa dita salvação não reside nos gurus, nem nas crenças ancestrais, meros rituais religiosos, ou produtos prêt-a-porter new wage tipo alivio rápido das dores. Somos nós que temos que descobrir essa salvação, pacientemente, amadurecendo, degrau após degrau na viagem que se chama a Vida e Amor.
Só assim podemos começar a tentar ser felizes: buscando a verdade em nós e não caindo nas ilusões fugazes ou mentiras que desejamos agarrar para que nos salvarem. Salve-se quem puder… ou souber. Parece cruel, mas não deixa de ser uma realidade intrínseca.

Buda apontou um caminho, através da meditação, do entendimento do que nós somos e na luta contra os nossos demónios internos. Jesus apontou outro caminho, salientando a bondade social, mas também evitando os pecados. São caminhos apontados, rumando à eternidade. No cerne da questão está o equilíbrio do espírito – conseguir encontrar um ponto em que não traiamos a nós mesmos, sabendo que é a verdade nos libertará, e que ela é um trilho longo e difícil, que serpenteia ao longo de uma cordilheira que se eleva até aos céus.

Os precipícios são imensos e os montanheiros menos cautelosos nunca conseguirão atingir o cume da montanha mais alta. Não devem pular de obstáculos, sobe pena de se condenarem numa queda sem fim.

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual

E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p’ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

Letra e música de Jorge Palma

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

Letra de Sérgio Godinho

A verdade é que tenho sempre muito medo. Mesmo quando fui um anjo sem asas estava com medo, quase paralizado de receio.

Ter medo não é sinal de fraqueza, antes pelo contrário, é sinal de inteligência e que se tem amor pela vida. Não acredito que alguém não tenha medo, a menos que tenha uma severa deficiência, ou tenha uma elevada tendência suicida. Não é natural caminhar despreocupadamente num precipício e ignorar o abismo, assim como também não é natural viver permanentemente com receio que o céu nos caia em cima.

A questão do medo é importante para percebermos até que ponto ele nos serve de protecção e até que ponto ele constitui um garrote que nos sufoca a mente, e não nos deixa seguir as fantásticas aventuras que a vida nos proporciona.

Quantas vezes deixamos de seguir os nossos sonhos porque temos medo de falhar e perder? Quantas vezes partimos derrotados porque o medo que sentimos foi demasiado e não nos deixou seguir a nossa aventura?
Creio que a solução é buscar um equilíbrio, onde não sejamos um stunt completamente descerebrado, nem um rato na toca.

O fim nunca é realmente um fim. Alias um fim não existe, o que entendemos como um termino, ou uma espécie de destruição, não passa de um erro cognitivo. Quando algo ou alguém desaparece, no sentido do que entendemos como fim, morte ou extinção, fica pelo menos algum túnue resquício do que foi ou teria sido.
Por isso acredito que numa vida nada realmente termina ou se extingue. Apenas muda e altera-se, restituído de outro formato, num molde diferente. Pode mudar a sua existência, forma e até conteúdo, mas de algum modo permanece, nem que seja num outro aspecto.

Como a nossa visão nem sempre vê além do aparente, e os nossos sentidos e crenças pessoais são algo limitados, interiorizamos o conceito de fim e de termino quando achamos que algo desapareceu. Esfumou-se no ar. Não o vemos mais, não o sentimos mais, logo deixou de existir. Terminou.

Para além das aparências, esquecemos que a essência mude assumir diversas formas, que a lagarta pode tornar-se borboleta, deixar de comer folhas e voar rumo a azul infinito. Terá a lagarta tido um fim?

A extinção da vida, como a morte, pode ser antes vista como uma metamorfose, uma etapa de mudança para outro plano existencial se nisso tivermos fé. Mesmo quando o esquecimento cai as coisas não terminam. Assim como as minhas lembranças que se escorrem nos meus neurónios maltratados, não fazem que o meu passado tenha um fim. Essas lembranças converteram-se, cessaram o ámago de momentos da memória e passaram a existir num agir perpetuado que me constitui e faz de mim quem eu sou.

é triste viver num país sem rei nem roque, onde parece que todos os políticos e eleitores começaram subitamente a desempenhar um estranho papel de órfãos.
Creio que é hipócrita afirmar que se trata de uma crise ou problema de coloração partidária, de falta de postura de cidadania ou ainda de algum deficit de honestidade perante os eleitores.

A política Portuguesa, a meu ver, desde há muito que só tem uma credibilidade equiparada a personagem Carmen Dolóres de uma qualquer telenovela venezuelana de 5ª categoria: chora muito, passa de gata borralheira a princesa depois de muitos desamores e suplicios mas no fim casa-se e fica para sempre feliz. Depois, na próxima novela, basta mudar a fronha à actriz principal e voltamos ao mesmo. Parece-me que na politica portuguesa actual existe esta postura Carmen Dolóres. Mudam-se as caras mas não se muda o enredo. Ao fim de contas o rosa e o laranja são a mesma coisa, apenas com caras diferentes, dado o vazio de líderes, ideologias ou ideias capazes de salvar a nação.

O que me custa mais são os rios de frases demagógicas, os chavões eleitorais, as camisolas partidárias, como se a nossa democracia entorpecida fosse capaz de proporcionar verdadeiras mudanças do comportamento político. Há muito que o desacredito do mundo político português e da lama a que este desceu, tornou o português médio alguém que se limita a preocupar com o próximo carrinho de compras do Continente, de como o Benfica foi roubado e para que destino exótico as suas parcas economias lhe permitem fugir numas semanas de ilusão.

Não censuro o Dr. Barroso por se por a andar para um cargo importante, longe deste barco que está a ir a pique há mais de uma década sem ninguém com coragem ou capacidade para pegar no leme. Também não censuro o Dr. Lopes por querer um cargo que preencha as suas ambições polóticas, apesar de ser um cargo para que nunca esteve preparado.

A única coisa que censuro é que os portugueses só parecem patriotas para agitar cachecóis e bandeiras desde há muito anos e não se interessarem verdadeiramente no que lhes estão a fazer ao país, nem tem verdadeiras convicções politicas: não sabem o que é um programa partidário, nem são capazes de assistir a um debate político na televisão.

É caso para dizer:

Salve-nos D.Sebastião!

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
Ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

1. O jogador

O ano terminou num enorme alarido, tal como seria suposto numa época de mudança.
Os quilómetros sucediam-se, as diferenças, as interrogações.
O Equinócio de Inverno marcou de forma muito intensa a minha forma de encarar a vida. Descobri que consegui fazer-me infeliz e a quem amo, devido ao facto de complicar o que não é complicado. Não havia necessidade de criar uma divisão na minha alma, nem aspirar a que as dificuldades se desvanecessem como se fossem uma névoa passageira.

Silenciei-me, deixei de escrever talvez por ter demasiado , o que escrever e por temer também a introspecção que o meu diário é capaz de gerar ao fixar para o futuro um presente em que a vida e os acontecimentos giram como num pião desenfreado que gira sem cessar.

corrida de cavalos
Baralhei-me na tontura giratória, da ansiedade, medo, perfumadas pelo mais profundo amar. Um amor de verdade que não queria acreditar e que me arrebatara de forma irreversível. Não mais poderia ser o mesmo homem face ao tumulto e pulsar que uma paixão suprema e profunda pode acarretar. O amor modifica-nos a essência, rouba-nos parte da alma rebelde, para nos dar a virtude do nosso intimo estar completo. Como se a voz de uma mulher pudesse também ecoar na nossa alma, partilhando comigo uma possibilidade de futuro.

Abriram-se novas portas, vislumbram-se novos rumos, mas os cavalos cansaram-se de verdade, e acobardaram-se. Os cavalos de corrida agora espumavam sem parar e sentiam no lombo a aposta. Agora a corrida era a valer, jogava-se a vida num telefonema, num SMS, e como numa roleta a bola saltava caprichosamente entre o preto e o vermelho, na mais alta parada em jogo…
parada alta
Quando o pneu estourou na auto-estrada quando seguia a 160, o meu primeiro pensamento foi para ela, e por segundos percebi naquele frio imenso de segunda de manhã que as soluções não são fáceis nem os riscos são pequenos, para quem quer viver e amar. Segui um caminho mais fraco de tentar correr menos riscos, colocar menos fichas. Jogar só no par? Só no Vermelho? E se sai impar? E se sai preto?

E a bola saltava caprichosamente entre os vários números, após ter rodado lentamente na roleta, a ponto de fazer suar de impaciência o jogador.

quero me dividirA divisão é um processo que sempre me aterrou. Não pelo rasgar ou cortar, mas sim pela necessidade de transformar em duas partes, ou pelo menos de tentar seguir dois caminhos.

Sinto-me tentado a exercer uma divisão do meu corpo, de forma que a minha alma que será sempre una, esteja em dois locais, em dois pontos distintos em matéria, unida num pensamentos contínuo de amor em duas frentes, pretendendo a felicidade em ambos os sítios, mas apenas arriscando a desgraça em ambos.

  1. Toma em conta que um grande amor, ou uma grande realização, implicam grandes riscos.
  2. Quando perderes, pelo menos não percas a lição.
  3. Segue os três R’s:
    • Respeito por ti
    • Respeito pelos outros e…
    • Responsabilidade por todos os teus actos.
  4. Lembra-te que não ter tudo o que se deseja é, por vezes, um magnífico golpe de sorte.
  5. Aprende bem as regras para saberes como infringi-las correctamente
  6. Não deixes que uma pequena disputa estrague uma grande relação.
  7. Se descobrires que te enganaste, faz logo a correcção.
  8. Todos os dias passa algum tempo sozinho.
  9. Abre os braços à mudança, mas não percas os teus valores.
  10. Lembra-te que o silêncio é, às vezes, a melhor resposta.
  11. Leva uma vida boa e honrada. Quando fores velho, será possível revivê-la uma segunda vez.
  12. Uma atmosfera de amor em tua casa é o alicerce da tua vida.
  13. Em disputas com os teus queridos, trata só do caso corrente. Não vás buscar queixas do passado.
  14. Partilha o teu saber; é uma forma de alcançar a imortalidade.
  15. Sê suave com a terra
  16. Uma vez por ano vai a um sítio aonde nunca tenhas estado.
  17. Lembra-te que a melhor relação é aquela em que o amor excede a necessidade.
  18. Avalia o teu sucesso por tudo a que tiveste de renunciar para o alcançar.
  19. Ao amor e ao cozinhar aborda-os com naturalidade audaciosa.

Dói-me perceber que o meu ânimo se esbarra numa parede de desgaste físico. É como se o amor e felicidade que me alimentam tão inabaláveis e fortes sejam roídos pela ânsia e o fogo da minha paixão que entorpecem os músculos.
Necessito o equilíbrio da suavidade, da calma, e não de correr sem correr, de viajar sem viajar, de percorrer sofregamente inúmeros quilómetros rumo ao aconchego de quem desejo e amo. Correr sim com a vontade quente mas não em anseio, como se tivesse o pavor que algo me fugisse por entre os dedos levando-me a uma exaustão estúpida sem sentido.
A distância mina-me novamente, tornando-me novamente um pendular, dividindo o meu estado físico em duas longitudes e o meu coração fixo onde encontra o calor.

Exagerado

Amor da minha vida daqui até a eternidade
Nossos destinos foram traçados
Na maternidade

Paixão cruel, desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras, minhas mancadas

Exagerado, jogado aos seus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Eu nunca mais vou respirar se você não me notar
Eu posso até morrer de fome se você não me amar
Que por você eu largo tudo
Vou mendigar, matar, roubar
Até nas coisas mais banais
Para mim, tudo ou nunca mais

Exagerado, jogado aos seus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Que por você eu largo tudo
Carreira, dinheiro, canudo
Até as coisas mais banais
Para mim, tudo ou nunca mais

Exagerado, jogado aos seus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Jogado aos seus pés
Com mil rosas roubadas

Exagerado, eu adoro um amor inventado
Jogado aos seus pés, bem melhor
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Estou num estado lastimoso, em que o prazer mistura-se com um deambular frenetico da mente, bem para lá da memória e do estado da lógica, consumido num carrosel de amor e desejo eternos.

Mente e corpo vibram, vontando eu, um simples meliante, a ser um espírito pendular entre a minha cidade e a grande cidade.

Quero Te Encontrar

Quando você vem pra passar o fim de semana,
eu finjo que tá tudo bem, mesmo duro ou com grana,
você ignora tudo que eu faço
depois vai embora, desatando nosso laços

Quero te encontrar,
quero te amar,
você pra mim é tudo,
minha terra, meu céu, meu mar

Quando você vem pra passar o fim de semana,
eu finjo que tá tudo bem, mesmo duro ou com grana
você ignora tudo o que eu faço
depois vai embora

meu mar, meu mar, meu mar…
Minha terra, meu céu, meu mar…

Meu Mundo Gira Em Torno De Você

A folha ama a árvore
Te amo mais
A estátua grega ama o mármore
Te amo mais
Mais que a casca ama a semente
Mais que o ovo da serpente
A serpente

Porque meu mundo gira em torno de você
Um pouco de amor
Resiste a tudo
O mundo inteiro gira em torno de você

Eu sei que o zero ama o infinito
Te amo mais
Assim como o bolero é bonito
Você é mais
Mais que eu amo a melodia
Mais que o poeta a rima
E a Metonímia

Porque meu mundo gira em torno de você
Um pouco de amor
Resiste a tudo
O mundo inteiro gira em torno de você

Do começo sem começo até o fim sem fim
Cuido de você, meu bem, você cuida de mim

Não nos devemos apegar às recordações nas alturas difíceis, mas quando as lembranças são recentes e intensas e nos dão tanta força e coragem acabam por ser um sustento, um escudo contra as intempéries que se abatem sobre nós.

Julgo que o destino abriu-me muitas portas nas últimas semanas, e mostrou-me insistentemente sinais de que terei uma caminhada nada solitária, abençoada e repleta de satisfação. Nada que fosse capaz de procurar com esperança de encontrar, mas que se deparou comigo como se eu fosse impelido em seu rumo de forma inevitável.

Agora que a distância atormenta, num desconforto de que parte de nós ter sido retirada, e que não estou em minha casa, nem tenho o meu carro, e todas as coisas que considero minhas, mas que são um mero nada, sofro uma espécie de desterro que me recorda do que me faz pulsar.

Neste exílio de forçado, resta-me, como a todos os exilados, a esperança de voltar a pisar a terra que é nossa, acalentando ferozmente essa saudade forte para que ela ressurja em vontade consumada do retorno.

um amor tão grande é capaz de nos dar a beber essa esperança, esse fulgor de vida, como se estivesse predestinado a existir e abraçar-nos, fazendo que o mundo cesse de ser e acontecer ao seu redor.

Com as chuvas cinzentas de Outono, forçando já ao frio e as folhas que vão cair da árvores, exilado e longe dos confortos, surjo mais forte e pleno, mais intransigente, mais iluminado numa certeza que me aquece.

Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-iris no ar
Depois na praia Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E uma esteira de vime
Beber uma água de côco
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doura
Com uma cacha de rolha
E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
É o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Música de Vinicius de Moraes / Toquinho

A fatalidade nada fatal de sentir que um Destino mais forte me arrebatou para um patamar de luminosidade interna, deixa-me arrebatado, pensando que afinal talvez, tudo esteja escrito, que tudo tivesse um sentido que não nos cabe a nós perceber.

Mesmo quando nada parece estar no seu devido lugar, num amplo caos sem significados, até um bater de asas de uma borboleta, pode desencadear todas as metamorfoses e condicionar um caos que afinal se desmonta num emaranhado de traçados intencionais muito precisos.

Como se eu fosse levado para um sétimo céu abraçado a um anjo que me transporta de amplas asas, transbordando amor, sinto-me leve, quase incrédulo, como se tratasse de um sonho do qual não queremos acordar, rumo à luz. Afinal o Caos tinha a causalidade que escapava a nossa cegueira. Ou talvez a causalidade seja tão complexa que nós assusta pensar que exista uma razão, ou uma lógica por detrás dela, prefirindo acreditar num Caos anárquico.

Sentir que paira sobre mim uma benção muito rara, como que se todo o puzzle existencial se resolvesse quando se encontra aquela peça que faltava, ou que teimava em não encaixar naquele enigma. Por fim as cortinas abrem-se um pouco e deixam antever muitos mistérios, muitas formas escondidas, muitas vontades veladas, que agora à luz podemos olhar e tentar perceber.

3 – Um sorriso da Lua

Sinto que vou ganhando lentamente a liberdade através de um parto difícil e doloroso, mas que mesmo assim me proporciona a maior das felicidades. Por muito que custe, por muito que me seja angustiante, a força que me atraí para ser finalmente livre, encoraja-me e preenche-me.

Sou um ser que viveu nas sombras da noite demasiado tempo, agrilhoado aos mais fúteis e mais isolados conceitos de vivência, ansioso por uma luz, por uma escapatória de um labirinto da banalidade. Enjaulado no medo de ser aquilo que sou, enquadrado em mil formas de camuflagem.

Mas bastou um raio de luz da Lua para que todos os esconderijos e prisões começam a desabar, deixando-me pronto a fugir, ainda preso perante um milagre tão doce. Infelizmente, sou um prisioneiro quase que já esqueceu o que era a liberdade, e imagina que fora da sua prisão que não conseguirá sobreviver num mundo a que não estava habituado.

Mas quando se deseja, quando se vê esse sorriso da Lua, e se sente essa libertação, e se é alvo dessa dádiva imerecida, um prisioneiro pode ser livre. Estarei em breve livre das prisões graças à fé e amor purificador, à luz de uma Lua Cheia que me renova, preenche e sorri para mim.