Dias

Há alturas na nossa vida que tudo se tinge de um cinza pólido. É uma melancolia cortante que nos desencoraja, na moral de perseguir a nossa felicidade. Esquecemo-nos que o arco-íris apenas espera por um pouco de luz para poder abrilhantar e rasgar um céu cinzento na sua magnificência colorida.

Muitas vezes me deixei vencer pelas barreiras que à minha volta deixei crescer e que tomei como muros intransponíveis. Culpabilizei os entraves ao invês de me esforçar por os ultrapassar. Deixei-me prostrar, refugiei-me nos meus handycaps escondi-me numa carapaça de indiferença, por medo de não ser capaz de sonhar mais alto e arranjar forças para saltar e voar para o outro lado da prisão que tenho dentro de meus receios.

Quando fui um anjo sem asas, provei a mim próprio que nada nos proíbe de tentar, ou de conseguir aquilo a que nos propomos. A camisa-de-forças apenas existe em nós, na nossa insatisfação com nós mesmos e na nossa incapacidade em acreditarmos em nos mesmos. É isso que nos derrota.

Vou perseguir até encontrar um arco-íris que sempre me acompanhou e lutar até debelar o cinzento que me encobre e diminui.

Apetece-me gritar após um longo tempo em que a minha garganta não foi capaz de regurgitar num murmúrio ou gemido.
Por isso acho que será bom arrebentar as minhas cordas vocais e vocalizar a insatisfação que sinto.
Talvez assim exorcize todos os pecados pelos quais vou ter que prestar contas e consiga antever um caminho mais beatífico.
Por isso a minha alma enche-se de um Entrudo nada desejado, de uma folia evitada e de uma falta de sentido de equilíbrio enquanto berrar.



Cloudy Day, original de QsySue.

Às vezes o céu azul está cinza e brilha esplendorosamente.

Três anos é um longo tempo para manter um diário online. É uma questão de paciência, perseverança ou será uma questão de teimosia ou mera estupidez?
Quando escrevo sinto que os contornos e as motivações mudaram, assim como o meu corpo e espirito mudaram. Envelheceram e amadureceram. Melhoraram de certa forma, num upgrade que a vida oferece â medida que os anos correm no calendário.
Hoje muitos dos dados adquiridos do período em que estava na grande cidade se tornaram obsoletos e nada me impele a escrever para um grupo de amigos, como dantes o fazia, numa espécie de jornal de parede comunitário onde colocava os meus papeis.

Hoje essa faceta de grafitti de pensamentos, extinguiu-se com um novo despertar, para voos mais elevados, para vivências mais reais. Mas o mais importante foi também, ter tido graças a este espaço, a hipotese de me reencontrar e ver que existia toda uma nova dimensão não programada que em última analise, tranforma a pouco e pouco num novo ser, com uma nova vivência com V graúdo. Foi como se o diário de um meliante me libertasse e me mostrasse um destino que não antecipei e a pouco e pouco me desse aquilo que não tinha sequer atrevido almejar.

Hoje sei que só mantenho este espaço porque é uma espécie de casulo abandonado mas apreciado, que me deixa, decerto recordações de um passado fastidioso, mas também das mudanças que me atraíram para uma subida de divisão, com direito a taça e tudo do desporto que é a Vida.

Talvez o abandone em breve, talvez o reanime de uma comatose intermitente, talvez simplesmente o esqueça parado no tempo, como uma caixa de espelhos feita capsula do tempo.

Mesmo assim parabéns!

Na ressaca futebolística, de um pequeno amargo, que contudo não foi um grande drama coloco-me perante a existência de uma patriotismo capaz de ainda salvar o país. Será que existe de facto um factor de agrupamento na mentalidade de ser português que possa vir ao de cima quando necessário for? Será que é esse o doce que tanto necessitamos?

Sem considerações ao estilo pessimista velhos de Restelo, que a sociedade portuguesa mergulhou na última década, talvez seja possível também evitar o optimismo eufórico estilo adepto do Benfica que banha as nossas banais multidões.

Se conjugássemos estes dois factores, moral de vencer com humildade será com certeza possível que Portugal suba à tona de água e deixe o mergulho no pantanal de frustrações económicas e sociais em que se tem envolvido.

Para ser franco fiquei frustrado pela Selecção ter sido derrotada pelos defensivos gregos. Mas o que interessa é que realmente quer Portugal, quer a Grécia mereceram ganhar pois foram humildes e tentaram dar o seu melhor sempre. É neste desenrolar de ideias que não estou mais desconsolado e muito pelo contrário, sinto que algo de muito positivo surgiu no Domingo à noite: os portugueses apesar de derrotados, festejaram uma vitória – de ter chegado tão longe no campeonato europeu de futebol, e da organização do Euro 2004 ter tido êxito.

Vencer é importante, mas mais importante é tentar vencer com convicção e excelência e mostrando a capacidade de tentar os seus objectivos. E isso é valido, quer no futebol, quer no mundo empresarial, quer politico. Mentalizar-se que é na excelência que está o ganhar.

Foi um jogo meio morto mas a que se seguiu uma festa rija – a Selecção chegou à final, fazendo história num ponto conturbado da história politica portuguesa. Apesar de eu estar meio constrangido, as notícias e o jogo fizeram-me ver que as preocupações e tristezas não podem comandar-nos e que temos que receber os poucos escapes e ópios que estão ao nosso alcance.

A Selecção das quinas motiva um orgulho nacional ferido, tentando adiar para melhores datas as decisões políticas que nos vão cair em cima nos próximos trimestres de forma desastrosa. Mesmo assim de nada vale sofrer por uma tragádia vindoura em vez de saborear a vitória actual.

Pessoalmente sinto-me aprisionado numa redoma aprisionante que não me deixa reflectir nem ser capaz de controlar o meu destino próximo. Tenho a sensação que tudo está fora de eixos e que as balanças estão oscilando desenfreadamente, impedindo para já, qualquer ideia com peso e medida. A ver se me aguento até à final.

Nada como um velório para nos recordar que somos efêmeros e que vivemos segundo um a espécie de arrendamento físico cujas assoalhadas tem um prazo de validade restrito mas desconhecido.

Não temo a morte, mas sofro com ela sempre que ela se aproxima um pouco. Não pelos que vão, mas sim pelas dores de quem fica e chora os seus. Ver pessoas que sempre vi bem-dispostas e alegres, encharcadas em Xanax para se manterem minimamente humanas e se refugiarem da dor e um quadro triste e que me revolta.

Depois todas as tradições do enterro, fazem-me sentir as tripas torcerem-se ao limite: todas aquelas flores, velas, cangalheiros, carros funerários, beatas, choros, gravatas pretas, sussurros sociais, estão longe de o que deveria ser uma despedida.

Quando eu bater as botas, quero uma Jazz Band tipo New Orleans, nada de flores e que eu seja rapidamente cremado e minhas cinzas largadas no curso de água mais próximo. O pó  deve regressar pó.

Por vezes deparamo-nos por diante de grandes decisões e fraquejamos, ou pelo menos não optamos pelas melhores opções. Somos feitos de um barro de qualidade, mas que tem as suas imperfeições, razão de sermos meramente humanos.

Percebo mais profundamente que não de deve dar demasiada importância ao que toca a estar errado ou certo, de saber ou ignorar, quando o que tem mesmo peso é se aprendemos, se vimos uma luz mais forte.

Um ser não pode temer de castigos e sobreviver sobe medos de errar ou falhar, mas sim buscar conhecimentos, aprendendo a melhorar os seus passos e acções para que sejam menos imperfeitos. Trata-se de ganhar experiência, e no final – tentar evoluir rumo ao nosso melhoramento íntimo.

Sinto-me como que uma criança que dá os primeiros passos, sofrega e cambaleante, mas insistente. Dá dois passos e estatela-se no chão, chora ou sorri, conforme o impacto, mais eis que em segundos se endireita, cambaleia e espeta mais seis passos rápidos de alegria e moral. Força de viver na sua versão mais pura, na mesma forma que deve ser quando se procura crescer ser ser em altura, ou nas frugalidades do poder mundano.

Os dias não são mais iguais uns ao outros. Decididamente a minha vida sofreu alterações que permitem um novo desabrochar, uma nova consciência e todo um novo conjunto de objectivos. Nada como um novo dia de Sol brilhando lúcido e esplendoroso.

O tempo esse contínua a escassear, talvez mais do que nunca. Talvez seja só um percepção errada da velocidade com que o mundo faz o seu papel ao nosso redor, e que à medida que as nossas células cinzentas vão amadurecendo, a sua rapidez estagna a uma velocidade de cruzeiro, Além disso mais situações nos impedem de estar parados, e assim nada parece estar parado.

A vida hoje está dinâmica, 100 % de alterações, voltas de 360ºs . Felizmente.

Estou bastante feliz, mas num deficit mental preocupante. Sinto-me a correr contra um cronómetro incomensurável e intolerante perante os pequenos imprevistos e atrasos do dia-a-dia.
Esse estranho tiquetaquear como que me sufoca, muito embora a coragem de repensar e agilizar a minha mente aumentam a cada instante, tornando-se mais fácil estar preparado e mais alerta para essas novas alterações que se avizinham.

Neste fim-de-semana pude constatar a enormidade que é a indústria cosmética e o que ela faz movimentar – eu já sabia o quanto a nossa sociedade valoriza a imagem e o conceito «capa de revista» para o perfil feminino e masculino. No entanto escapava-se-me algo importante para perceber o porque de tão grande interesse, no qual eu também vivo: a imagem na vertente da promessa de beleza e juventude mexem em instintos animais básicos, capazes de nos tornar obcecados na sua persecução.

Não ter gorduras, carnes flácidas, olheiras, pele amarelada dá-nos um aspecto mais atraente, saudável e logo maior capacidade de agradar ao sexo aposto. Assim parecer mais jovem é também um sinal de sobrevivência pois a morte estará mais longe da juventude.

É nestes parâmetros que a vaidade se mistura com o consumo e toda uma engrenagem de produtos mais ou menos milagrosos é uma salvação para as nossas pobres mentes consumidoras. Ser belo é a doce miragem da sobrevivência, da capacidade de vir a ser feliz como nas revistas cor-de-rosa, num sonho que nos arrasta para a fogueira das vaidades. Como num anúncio de perfume ou de baton: a vida passa a ser perfeita graças aquela cor ou odor.

2. A caminhada

Necessito urgentemente de reviver a minha capacidade de escrever como forma de catarse de emoções acumuladas. Em seis meses a minha vida foi revolucionada por inúmeras acções a enredos originais que me fizeram crescer mental e espiritualmente, como nunca antes. Dir-se-ia que em seis meses cresci tanto como em seis anos.

Estou a evoluir categórica e indesmentivelmente para um novo e renovado ser, mais maduro e ponderado, e, sem margem para dúvida, indiscutivelmente mais humilde e sereno. Mesmo assim, ainda subsiste, o refugo e os resíduos de uma alma mais atormentada e perdida, como antes era, e em situações de limite as falhas submergem, para minha insatisfação, mostrando o quão ridículo e mesquinho eu era, e como ainda tenho uma caminhada longa pela frente.

O caminho esta ainda algo por traçar, mas as metas já se vão esboçando, como promessas de uma Terra Prometida, como um paraíso que apesar de estar distante, está apenas a umas quantas léguas de caminhada insistente.

1. O jogador

O ano terminou num enorme alarido, tal como seria suposto numa época de mudança.
Os quilómetros sucediam-se, as diferenças, as interrogações.
O Equinócio de Inverno marcou de forma muito intensa a minha forma de encarar a vida. Descobri que consegui fazer-me infeliz e a quem amo, devido ao facto de complicar o que não é complicado. Não havia necessidade de criar uma divisão na minha alma, nem aspirar a que as dificuldades se desvanecessem como se fossem uma névoa passageira.

Silenciei-me, deixei de escrever talvez por ter demasiado , o que escrever e por temer também a introspecção que o meu diário é capaz de gerar ao fixar para o futuro um presente em que a vida e os acontecimentos giram como num pião desenfreado que gira sem cessar.

corrida de cavalos
Baralhei-me na tontura giratória, da ansiedade, medo, perfumadas pelo mais profundo amar. Um amor de verdade que não queria acreditar e que me arrebatara de forma irreversível. Não mais poderia ser o mesmo homem face ao tumulto e pulsar que uma paixão suprema e profunda pode acarretar. O amor modifica-nos a essência, rouba-nos parte da alma rebelde, para nos dar a virtude do nosso intimo estar completo. Como se a voz de uma mulher pudesse também ecoar na nossa alma, partilhando comigo uma possibilidade de futuro.

Abriram-se novas portas, vislumbram-se novos rumos, mas os cavalos cansaram-se de verdade, e acobardaram-se. Os cavalos de corrida agora espumavam sem parar e sentiam no lombo a aposta. Agora a corrida era a valer, jogava-se a vida num telefonema, num SMS, e como numa roleta a bola saltava caprichosamente entre o preto e o vermelho, na mais alta parada em jogo…
parada alta
Quando o pneu estourou na auto-estrada quando seguia a 160, o meu primeiro pensamento foi para ela, e por segundos percebi naquele frio imenso de segunda de manhã que as soluções não são fáceis nem os riscos são pequenos, para quem quer viver e amar. Segui um caminho mais fraco de tentar correr menos riscos, colocar menos fichas. Jogar só no par? Só no Vermelho? E se sai impar? E se sai preto?

E a bola saltava caprichosamente entre os vários números, após ter rodado lentamente na roleta, a ponto de fazer suar de impaciência o jogador.

É me difícil imaginar que sou responsável por fazer sofrer alguém, seja lá por que razões forem. Quando sinto que as minhas acções não despoletaram nada de positivo nos meus entes queridos, isso deixa-me no mínimo entristecido.

O pior é quando se sente que as nossas opções apenas trouxeram desilusão e tristeza a quem nunca deveríamos trazer qualquer sentimento a não ser a felicidade. A sensação de se olhar no espelho e ter-se como um Otelo, ou uma Hidra sem coração dá-me um desejo compulsivo de me auto-flagelar, encharcado na vergonha de não estar à altura de decisões difíceis que estupidamente preferi adiar, e que como nestas situações se tornaram numa bomba-relógio com consequências trágicas e fatais.

De nada me serve denegrir-me, ou fazer um acto de contrição, mesmo tendo remorsos sinceros. É necessário arcar com as consequências, sentir o peso da responsabilidade e estar à altura, subir ao banco dos réus e ouvir o juiz a proferir a sentença que o nosso crime exige. Aceitando esse julgamento e respectiva pena, seja ela severa ou branda.

quero me dividirA divisão é um processo que sempre me aterrou. Não pelo rasgar ou cortar, mas sim pela necessidade de transformar em duas partes, ou pelo menos de tentar seguir dois caminhos.

Sinto-me tentado a exercer uma divisão do meu corpo, de forma que a minha alma que será sempre una, esteja em dois locais, em dois pontos distintos em matéria, unida num pensamentos contínuo de amor em duas frentes, pretendendo a felicidade em ambos os sítios, mas apenas arriscando a desgraça em ambos.

Tenho necessidade de escrever nas alturas em que a minha vida se defronta com um ponto de viragem, com uma fasquia mais alta, na nossa novela. Necessariamente hoje estou a passar por um dos marcos da minha vida que mais impacto trarão na minha vivência, mas de alguma forma a caneta tem estado parada e a tinta não quer escorrer.
uma caneta sem tinta
Sinto-me extasiado com emoções que necessito escrever, situar no tempo e espaço e materializar em palavras, mas estou preso por um maléfico torpor de preguiça, de ausência da inspiração que me faz pulsar o coração quando concretizo as palavras que me sobrevoam a mente.

Estou cansado, mas apaixonado, numa viagem que temo não estar à altura de conseguir realizar, mas que desejo arduamente fazer. Preciso reflectir, encontrar bases de suporte, terra firme onde alicerçar os meus pensamentos que borbulham desamparados na febre, fervendo num lume rubro.

É com muito prazer que anuncio que Pete Watson, o astrólogo inglês que tive o prazer de conhecer na minha cidade e de privar da sua amizade, iniciou um site onde se propõe a fazer mapas online.

O site está neste endereço www.starscan.plus.com
Pete, além de ser alguém que considero um amigo, é também uma pessoa sensível, um homem corajoso e um astrólogo eminente mas não muito reconhecido. Actualmente Pete está de volta ao seu país Natal, onde pretende acabar o seu manual de Astrologia.

Confesso que eu era o ser mais céptico em relação à astrologia, mas no dia que Pete me fez o meu mapa astral, tive que me render às evidências de que algo de inexplicável e quase bizarro se movimenta com a influencia dos astros na nossa vida. Não é natural que um desconhecido, para mais um inglês, fosse capaz de descrever com minúcia, todos os aspectos da minha personalidade, assim como me ter descrito com precisão cronológica todos os momentos importantes do meu passado, muitos deles que ninguém teve conhecimento.
Com essa leitura fui capaz de me entender melhor, e mesmo perdoar-me a mim próprio de alguns defeitos e prosseguir numa busca mais lúcida para o meu trajecto.

Thanks Pete! God speed!

Dói-me perceber que o meu ânimo se esbarra numa parede de desgaste físico. É como se o amor e felicidade que me alimentam tão inabaláveis e fortes sejam roídos pela ânsia e o fogo da minha paixão que entorpecem os músculos.
Necessito o equilíbrio da suavidade, da calma, e não de correr sem correr, de viajar sem viajar, de percorrer sofregamente inúmeros quilómetros rumo ao aconchego de quem desejo e amo. Correr sim com a vontade quente mas não em anseio, como se tivesse o pavor que algo me fugisse por entre os dedos levando-me a uma exaustão estúpida sem sentido.
A distância mina-me novamente, tornando-me novamente um pendular, dividindo o meu estado físico em duas longitudes e o meu coração fixo onde encontra o calor.

Faz um mês que me decidi a final e definitivamente a deixar de fumar. Faz um mês que estou limpo de nicotina e os outros milhares de substâncias viciantes, aromatizantes ou simplesmente tóxicos com que a Tabaqueira presenteia os seus junkies em embalagens de 20.
Estou surpreso com a facilidade com que me libertei neste início de desabituação tabagica. Afinal a ressaca foi curta e o meu auto-controle e meditação deram conta do recado em três tempos.
No Smoking!
Foi francamente simples, com alguma força de vontade, estímulos e umas pastilhas com nicotina de chuto de emergência. Creio que a chave para estar um mês sem fumar depois de 15 anos ininterruptos, a colheradas de alcatrão para os pulmões é mesmo a mentalização de que é ele (o vício), ou Eu. Nos últimos dois anos o meu descontrolo com o tabaco havia se agudizado bastante. O maço diário podia chegar aos três se fosse jantar e sair à noite e era-me inconcebível ir para a cama se não houvesse pelo menos um maço meio vazio. Era tempo de decidir mudar.

Optei por me sentir que não estava a deixar de fumar, mas sim que no dia que começa, eu juro a mim mesmo que durante o dia vou tentar não fumar. Afinal 24 horas não são muito tempo e é possível resistir nesse período cumprindo a promessa. Depois é outro dia e volto a tentar fazer nova promessa. E capaz de ser mais simples resistir emocionalmente, quando sentimos que nada do que nos impomos é definitivo e por conseguinte implica um esforço menos doloroso.

Nada como saber o que sinto hoje, estando já a sentir um corpo mais saudável e menos cansado ao fim do dia. As dores de cabeça estão mais raras apesar do meu consumo de café ter aumentado um pouco, rondando as seis chávenas de café diárias. Embora menos importante que saber que posso estatisticamente vir a viver mais anos de uma existência com mais qualidade, é com algum prazer que vejo que o dinheiro na carteira dura ao estilo das pilhas Duracell. Se as minhas contas estiverem correctas, posso pagar todos os anos uma viagem ao Brasil, e ainda sobrarem uns trocados um voo interno, que antes queimava defronte dos meus olhos.

O único dano colateral terá sido evidenciado pelos meus dentes. Agora estou quase sempre a ruminar uma pastilha elástica, mascando desenfreadamente num hábito de substituição nada estético, mas que é concerteza muito mais saudável. Prefiro ser um ruminante que uma doninha fedorenta morta.

Hoje estou orgulhoso de mim, consegui estar um mês sem fumar. Mas nada disto seria possivel sem o apoio da minha amada V, que sempre me incentivou e me deu tanto apoio. Obrigado.

Tenho pena por não dispor de um tempinho e disposição para aqui escrever.
Muita água passou debaixo da ponte, talvez mesmo um estilo dilúvio capaz de levar a ponte junto e sinto alguma pena por não retratar alguns esboços aqui. A minha vida está bastante diferente, sem dúvida para melhor, como se tivesse emigrado da Sibéria para o algures no trópico de Capricórnio, no intuito de deixar de sentir frio.

Creio que a única coisa que me faria falta agora seria mais uma horita diária de tempos livres para me dedicar a velhos sonhos, e talvez mesmo, sobrar algum tempo para escrever um conjunto de impressões quotidianas diariamente. Talvez as coisas mudem, e eu possa dispor de um enquadramento mais saudável, ou começar a gerir melhor o meu tempo e as minhas tarefas.

Ampulheta

O meu tempo foi sempre demasiadamente fugidio devido a minha incapacidade de ter um saudável gerir do tempo. Sou sempre um descuidado e acelerado, deixando escapar entre os dedos sempre momentos e unidades de tempo preciosas que no meu espirito deixam a sensação de terem sido perdidas.

Cada vez mais tenho a ansiedade voraz e um apetite ávido por consumir cada segundo naqueles momentos mais importantes, como se houvesse um medo deles não se repetirem, ou não ter a hipótese de os gozar novamente. Esta sensação de não querer esbanjar o meu tempo de vida é também um perigo de na sofreguidão destruir o pleno saborear, castrando a sua essência e valor.

Talvez a vida tenha sido feita para ser desfrutada com temperança, de forma plena e em equilíbrio mas também sem estar languido refastelado ao sol, à espera que nos caia do céu o maná muito generoso para o esforço praticado.

Uma coisa podemos ter como certa: a areia da ampulheta não cessa de cair até ao momento que se esgotar. E é com esse axioma que posso contar, reavaliando alguns dos meus momentos mais sofregos ou mais apáticos.